Trupe Elemental - Capítulo 40
— Você tem alguém que gosta, John? — Sarah perguntou, um pouco envergonhada.
John que estava treinando golpeando um pequeno tronco de árvore, no momento em que ouviu a pergunta de Sarah o cortou no meio com todas suas forças. Logo depois, calmamente ele olhou para ela sem dizer nada.
— Ah… perdão! Isso foi um pouco estranho, não é? — Ela disse.
— Eu não tenho. Já tive… uma vez. — John respondeu, desviando o olhar. — O nome dela era Lyla. A mulher mais bela que já conheci, simpática e gentil, infelizmente devido às circunstâncias do destino nós não podemos nos ver mais. — Completou.
— Lyla? Você diz a Lyla da Trupe Elemental? — Sarah perguntou. — É, é ela mesmo, eu gostava dela, de certa forma… — John respondeu.
— Oh, mas o que aconteceu entre vocês para isso acontecer? — Perguntou.
— Ela está morta. — John respondeu, olhando seriamente para Sarah. — Nossa… me desculpe, John, eu realmente não… — Disse Sarah, tentando se explicar.
— Sem problemas. Não havia como você saber. — Respondeu, voltando a treinar.
John continuou seu treinamento, enquanto isso Sarah fica o observando e ocasionalmente fazia algumas perguntas, até que depois de um tempo John deu uma pausa para descansar e lhe perguntou:
— Chega de perguntas sobre mim, e quanto você? — Disse John.
— Hã? Eu? Ah… hehe, eu meio que fiquei sem jeito agora que você disse isso, mas o que você quer saber exatamente? — Sarah perguntou. — Que tal você me dizer as mesmas coisas que perguntou a mim? Justo não? Precisamos de um pouco de equilíbrio aqui. — John respondeu. — Oh, tudo bem. — Sarah disse.
— Bem, eu já disse antes que infelizmente fazia parte do clã Ignis. — Diz Sarah.
— Por que você diz “infelizmente”? — John perguntou. — Heh… isso, é porque eles sempre me viram como uma pessoa indesejada enquanto eu morava lá. Tudo por causa do meu elemento. — Sarah respondeu.
— Acontece que minha mãe é uma pessoa normal, ela não possui nenhum elemento, diferente de meu pai. Mesmo assim ele me disse que gostava muito dela e por isso eles se casaram, indo contra o líder do clã, e até mesmo a família por parte dele. Foi dessa união que eu nasci. Só que, o que meus pais não esperavam era que eu fosse nascer com a capacidade de manipular o elemento água ao invés do fogo.
— Então desde sempre nunca foi fácil para nossa família conviver naquela aldeia miserável. Nós éramos tratados diferente das outras pessoas, mas não ligamos muito, meus pais tinham ciência do que haviam feito e aceitaram tudo isso, mas eu não. Nunca aceitei. — Sarah explicou.
— Isso é terrível. Ninguém deveria ser julgado por um motivo tolo como este. Mas infelizmente ainda há pessoas com essa mentalidade. — Disse John.
— Sabe, o clã Ignis é bastante orgulhoso, e eles dão muita importância para as crianças, acho que é por isso que eles nunca nos trataram bem, pelo simples fato do meu elemento ser o contrário deles. Eles tinham uma tradição que dizia que a cada geração nascia uma criança especial que o poder elemental seria capaz de acordar “O Protetor” de seu profundo sono. — Disse Sarah. — E no caso da minha geração, não nasceram muitas crianças, então a esperança de acordá-lo era mais baixa do que o normal, ainda mais quando uma das crianças possuía um elemento diferente das outras demais. — Completou.
— O Protetor… e quem seria esse? — John perguntou. — Oh? Mas você já o conheceu antes, John! — Sarah respondeu. — Não, espera… talvez você o conheça, mas por outro nome. — Completou.
As correntes de Sarah brilharam e se quebraram, e ao seu lado uma figura se manifestou.
— O Protetor sou eu. — Disse Ignus. — Hahaha, aí está. — Disse Sarah.
— Hum… então você é ele. É, eu já deveria saber. — John respondeu. — Então, isso quer dizer que a criança com poderes elementais que seria capaz de acordá-lo era você, Sarah. — Disse John. — Sim, bem… quase isso. — Ela respondeu. — Eu acredito que seria melhor Ignus te explicar como exatamente aconteceu, pois nem mesmo eu tenho certeza, haha. — Disse Sarah. — Poderia fazer essa gentileza por mim, Ignus? — Sarah perguntou. — Como desejar, majestade. — Ignus respondeu.
— Se permitem então. Como a senhorita Sarah mencionou anteriormente, em nosso clã é dito que a cada geração nasce uma criança com capacidades elementares incomuns da maioria. E que a mesma seria capaz, com seu poder, de me acordar do meu profundo sono. Porém, isso é o que eles pensam. — Disse Ignus.
— Na verdade não é exatamente assim que funciona. O meu criador original, me fez com o único intuito de proteger aqueles que fossem dignos ao meu ver. Sarah não foi a primeira que conseguiu esse feito, muitas outras pessoas dignas vieram antes dela, entretanto, certo tempo se passou sem ninguém se provar digno de mim. Por isso as pessoas do clã dizem que é a cada geração. Eu sempre cumpri meu dever com êxito, protegendo aqueles que mereciam até o fim de nosso contrato, até que a morte nos separasse, e eu retornasse ao estado de sono profundo. — Ignus explicou.
— Hum, então seu “contrato” com Sarah dura até um de vocês morrer? Nenhuma outra coisa pode mudar isso, correto? — John perguntou.
— Está certíssimo, senhor John. — Ignus respondeu. — Eu protegerei e seguirei as ordens de sua majestade, Sarah, até que um de nós não esteja mais neste mundo. Foi para isso que eu fui criado, e assim será até o fim. — Completou.
— Heh… falando assim me deixou um pouco com medo! — Disse Sarah.
— O que exatamente você viu nela, que poderia chamar de digna? — John perguntou.
— Sua ambição. — Ignus respondeu. — Tudo se trata de sua ambição. Essa é a parte que ninguém do clã sabia. É por isso que houve um longo tempo em que ninguém conseguiu me tirar do sono profundo. Suas ambições eram fracas demais, algumas vezes, inexistentes. — Completou. — Mas com Sarah, isso foi diferente. Sua ambição era extremamente forte, diferente das outras crianças. — Disse Ignus.
— Na noite em que eles comemoravam a tradição, todas as pessoas se reuniram em frente a mim. Os anciões do clã iniciaram seu discurso que se repetia a cada geração que se passava, eu estava dormindo, mas podia escutar tudo ao meu redor. As crianças se aproximaram, enquanto os anciões continuavam falando para as outras pessoas. E como eu disse, suas ambições eram fracas. Nenhuma delas era digna. — Disse Ignus.
— Foi quando a família de Sarah chegou e se sentou no fundo. Eu imediatamente pude sentir. Aquela ambição estrondosa, em chamas. Fazia muito tempo que não sentia uma tão forte como a dela em anos. Eu finalmente havia acordado, e já sabia quem era digno de minha proteção. — Completou.
— Os anciões do clã ficaram surpresos e alegres pois achavam que as crianças que haviam apostado tinham conseguido aquele feito. Nenhum deles esperava jamais que a criança “defeituosa” do clã seria a digna de minha proteção. Ninguém acreditou, nem mesmo Sarah ou sua família, mas essa era a mais pura verdade. — Disse Ignus.
— Os anciões discordaram e disseram que havia algo errado, que eu não sabia o que estava fazendo, e que eu tinha escolhido a pessoa errada. Mas eu não escolhi, eu sabia exatamente quem era a pessoa que havia escolhido. Eu já vivi muito mais anos que todos os humanos juntos do clã. Meu conhecimento é infinitamente superior ao deles, e mesmo assim eles me questionaram. Queriam saber o motivo de eu ter escolhido uma criança cujo elemento é água e não fogo, um tabu dentro do clã. Talvez o dia que eles forem menos arrogantes e orgulhosos eles aprendam, até lá, ficarão sem minha proteção. — Completou.
— Mesmo Sarah desacreditada, ela me aceitou, e nós formamos nosso contrato. As correntes em seu pescoço e braços representam ele. Se engana você que pensa que Sarah está presa comigo, muito pelo contrário, eu estou preso com Sarah. Ela é quem determina minhas ações, até o fim de nosso contrato. — Disse Ignus.
— Sarah me disse que gostaria de deixar o clã e começar uma nova etapa de sua vida, longe do lugar que sempre lhe tratou mal. Um desejo tão puro, inegável. Foi o que fizemos. Com certa ajuda de sua família, nós deixamos a aldeia e partirmos. Passamos por muitos lugares, até chegarmos aqui na Cidadela. Tivemos sorte de conhecer o senhor Tayson, ele nos ajudou muito. — Completou.
— Uau, isso é uma história de vida e tanto. Eu devo admitir que não estava esperando algo tão grandioso assim. Vocês dois são incríveis. — Disse John.
— Haha, que nada. Se Ignus não tivesse me escolhido naquele dia, eu provavelmente ainda estaria naquele lugar, e nunca teria tido a chance de conhecer nenhum de vocês, devo muitas coisas a ele, apesar dele nunca concordar comigo em ter que retribuí-lo. — Sarah respondeu,
— Você nunca vai precisar, majestade. Sou eu que preciso lhe retribuir por me mostrar que ainda existem pessoas dignas neste mundo. É o meu dever servi-la, e creio que era o que meu criador iria querer também. Ele era uma pessoa incrível como você é. — Disse Ignus. — Obrigada Ignus, você é um grande companheiro para mim. — Sarah respondeu.
— Ok, está escurecendo. E isso me fez lembrar, quase esqueci na verdade. Tay me disse para chamar você e os outros para encontrá-lo na guilda. Ele quer discutir as preparações finais para nossa expedição de amanhã. — Disse Sarah.
— Humph, parece que finalmente chegou a hora de agirmos. Vamos encontrar os outros integrantes e impedir que Philip cause a mesma calamidade de cinco anos atrás! — Disse John. — Nós iremos, com certeza! — Sarah respondeu.