Trupe Elemental - Capítulo 38
Chegando no endereço indicado, eles encontram a casa de Hector mencionada pelo mesmo anteriormente. John então usa a chave para abrir a porta. Entrando na casa, logo no primeiro andar eles percebem que se trata de uma pequena loja que pertence a Hector e sua família.
— Uau, que casa hein! Ele é rico ou o que? — Disse Matt, surpreso. — Escuta aqui Matt, trate o que encontrar aqui com respeito! Hector nos deixou passar a noite em sua casa, então você deve ser grato por isso, entendeu? — Disse John.
— Vai com calma, o que você acha que eu sou? Um ladrão? — Matt perguntou. — Não sei. Mas espero que tenha bom senso em relação a isso. Eu vou ver onde ficam os quartos, me espere aqui — John respondeu, subindo as escadas.
Matt esperou que John terminasse de subir as escadas para continuar observando as coisas presentes no primeiro andar da casa de Hector. Olhando as prateleiras atrás do balcão, Matt percebe um pequeno brilho vindo de trás de algumas caixas, logo ele vai até elas e as tira do caminho para descobrir que o brilho vinha de um isqueiro dourado, escondido atrás das caixas.
— “Que belo isqueiro!” — Matt pensou. — Hum… pode ser que John esteja certo, talvez eu seja um ladrão. — Sussurrou, pegando o isqueiro para si.
Sem que Matt percebesse, John já havia retornado, porém não disse nada até que Matt guardou o isqueiro em um de seus bolsos.
— Os quartos ficam no final do corredor no segundo andar. E aliás, o que você está fazendo aí, Matt? — John perguntou. — Hã?! Ah! Eu só estava vendo alguns desses itens… me chamaram um pouco a atenção! — Matt respondeu, assustado.
— Eu realmente espero que você tenha levado em consideração tudo que eu disse antes. — Disse John. — Hehehehe, claro, claro. Ugh… — Matt respondeu.
Eles sobem as escadas para o segundo andar da casa, passando pelo corredor John diz para Matt escolher o quarto da esquerda ou direita, porém ele diz que o quarto do meio está fora de cogitação pois era o quarto da irmã de Hector. E que eles não deveriam nem abrir a porta.
— Tanto faz, eu vou ficar com o da esquerda, boa noite. E não me acorde, se não irei ficar muito chateado. — Disse Matt, entrando no quarto e fechando a porta.
— Boa noite, para você também. — John respondeu.
Em seu quarto, John senta-se na cama. Mesmo estando um pouco desconfortável por estar na casa de outra pessoa sem a mesma presente ele tenta se acalmar.
— Sylas, está por aí? Se quiser conversar, essa é a hora. — Disse John. — Eu estou com sono, se quer falar algo, melhor que seja agora, se não irei dormir. — Completou.
John chama por Sylas algumas vezes, porém não obtém resposta, então ele decide deitar para dormir. Logo John pega no sono e adormece, e mais uma vez ele se encontra naquele vasto campo de flores brancas.
“Ah não… de novo isso.” — Pensei.
— Sente-se. Vamos conversar um pouco. — Uma voz disse.
Quando eu ouvi aquela voz, logo me virei e lá estava ela, aquela estranha figura com a mesma aparência que a minha. Bem, não acho que seja mais estranha agora, pois eu sei o que ela é agora, sou eu.
— Já faz um bom tempo, não acha? — Ela perguntou. — O que você quer? Qual o motivo de ter me chamado até aqui de novo? — Perguntei.
— Hum? Eu não lhe chamei, muito pelo contrário, você resolveu vir até aqui, é por isso que estou aqui. — Ela respondeu. — Hã? Está brincando comigo? Eu só queria dormir, mas ao invés disso estou falando com você. — Disse para ela.
— Você está dormindo, só não parece, mas está, acredite em mim. — Ela respondeu.
Ela sempre foi tão calma assim? Tudo que eu me lembro dela é como se fosse um monstro querendo me consumir, roubar o controle de tudo para si, uma besta. E olhando agora, ela parece tão calma quanto uma planta aguardando seu fruto.
— Vamos direto ao que interessa, John. Você revelou para Sarah quem realmente é, o que será que ela pensa sobre você agora? — Ela disse. — Uma pessoa que é e não é ela ao mesmo tempo, é bastante curioso. — Completou.
— Humph, foi você quem fez tudo isso, se esqueceu? Eu sou apenas uma criação sua! Feita exatamente para pensar e agir extremamente parecido com você. Mesmo sendo diferente, eu ainda possuo minha própria consciência e não acho que eu esteja errado em divergir em algumas coisas. — Respondi.
— Talvez tenha razão. Talvez não, quem sabe. — Ela disse.
— O que eu quero dizer é que, mesmo que você seja “outra” pessoa, ainda sim você sou eu. Eu só estou aqui por escolha própria, eu poderia muito bem sair daqui se eu quisesse. Afinal eu sou o dono deste corpo. — Ela disse. — Hã? Até parece que eu irei permitir que isso aconteça! — Respondi.
— O problema é que, você sendo eu, nossas memórias são as mesmas, o que pode trazer alguns contratempos, como aconteceu quando Philip mencionou parte do nosso passado. — Ela disse. — Você entende o que eu quero dizer, não é? Você pode ouví-las assim como eu posso, não é verdade? — Perguntou.
— Ouví-las? Ouvir quem? Do que você está falando! Eu não estou entendendo nada do que você está dizendo! — Eu disse.
Eu realmente não entendi o que ela quis dizer. Na verdade, eu achei que ela só estava dizendo coisas sem sentido para tentar mexer com a minha cabeça ou algo do tipo, mas eu estava enganado no momento em que eu as realmente ouvi.
“É culpa sua!” “Assassino!” “Monstro!” “Você nos abandonou.” “Você nos deixou para morrer!” “Por que foi embora?” Eu consegui ouvir todas aquelas vozes falando comigo. E elas não paravam.
— Heh, eu sabia que conseguia. — Ela disse. — Hã?! O que é isso?! O que são essas vozes?! Façam elas pararem! — Gritei. — Eu gostaria de poder fazer isso, mas elas continuam voltando, elas estão nos assombrando. — Ela respondeu.
Elas não param de falar comigo! Continuam vindo sem parar, como se eu estivesse em uma grande multidão e todos quisessem falar comigo, essa sensação é horrível. Se ele também as escuta, como consegue ficar tão calmo nessa situação?! Estou ficando maluco com todas essas vozes falando na minha cabeça!
— Deixa eu te perguntar, você sabe de quem são essas vozes? Se não sabe, pode deixar que eu vou te responder de quem são. — Ela disse.
Ela se levantou e sem que eu percebesse, ela já estava do meu lado sussurrando próximo ao meu ouvido: “São das pessoas que nós matamos.”
— SAIA DE PERTO DE MIM! — Gritei, empurrando ela para longe.
— O que foi, John? Está tão assustado assim? Você não tem medo de tirar a vida de uma pessoa, mas tem medo de escutar sua voz depois de morta, é isso mesmo que estou vendo? — Ela perguntou. — Bem, nem todas as vozes são de pessoas que matamos, algumas são de… conhecidos. Eu achei que você as fosse reconhecer, mas pelo visto não. Você não se lembra de cada voz e creio que nem do rosto de cada um deles… — Completou.
— Você é um psicopata! Assassino! Eu nunca mataria uma pessoa, jamais faria algo tão hediondo como isso! — Eu disse.
— Mas, eu sou você, John. Então nós dois somos assassinos! Nós dois somos iguais em essência! — Respondeu. — Não! Eu nunca vou ser igual a você! Você vai continuar preso aqui dentro e eu irei me tornar o verdadeiro. — Eu disse. — Quanta bravura, John. — Ela respondeu.
As flores em torno de mim começaram a morrer cada uma, gradualmente. O campo branco se tornou cinza, e quando eu pisquei, outra figura com a mesma aparência que a minha apareceu ao lado daquela que já estava ali.
— Será mesmo que ele vai conseguir? — Ela perguntou. — Eu não sei, acho muito difícil que uma simples marionete consiga esse feito. — Respondeu, outra figura que havia aparecido. — Haha, você não pode fugir do seu passado. — Outra disse.
— Todos somos culpados pelo que aconteceu, não se engane, John. — Outra nova figura disse.
Elas não paravam de aparecer, cada vez que eu olhava ao meu redor outras iam aparecendo e dizendo mais coisas sem sentido. Minha cabeça começou a doar cada vez mais conforme elas iam aparecendo até eu que eu não conseguia aguentar mais, então eu fechei meus olhos.
— SUMAM DAQUI! VOCÊS SÃO APENAS ILUSÕES MINHAS! — Gritei.
Quando abri meus olhos, ela estava lá. Praticamente colada com meu rosto, olhando diretamente para mim, olhando para a minha alma, com um enorme sorriso, parecendo estar rindo de mim, e então ela disse:
“Somente um monstro pode matar outro monstro.” E tudo escureceu.