Trupe Elemental - Capítulo 37
— E então? O que achou da vista? — Matt perguntou. — Ha. É muito bonita, mas você não conseguiu me impressionar, pois eu já estive aqui antes. — John respondeu.
— O quê?! Quando você veio até aqui? E eu aqui achando que havia feito uma grande descoberta, para ouvir isso… — Disse Matt. — Haha, eu passei por aqui quando estava vindo para a cidade, até parei um pouco para apreciar a vista, é ainda mais incrível durante o dia. — John respondeu.
— Ok, me ajude com a fogueira, procure algumas lascas e gravetos, deve ter alguns espalhados por aqui perto. — Disse Matt. — Por que precisamos de uma fogueira se você pode simplesmente fazer uma com seu fogo? — John perguntou.
— Ei! Não estrague o clima, John! Anda, vá fazer o que eu pedi! — Matt respondeu.
Sem opções, John deu um leve suspiro e foi em busca das coisas que Matt havia lhe pedido para procurar. Não demorou muito tempo para que ele achasse tudo que precisava, retornando ao ponto inicial Matt estava colocando alguns pedaços de carne em gravetos para os cozinhar na fogueira que os dois iriam montar.
— Que demora, ein?! Ah, brincadeira! Vamos logo com essa fogueira, estou louco para comer essa carne! — Disse Matt, pegando os materiais com John e começando a montar a fogueira.
Com a fogueira montada, John e Matt se sentam no gramado, observando o vasto céu noturno repleto de estrelas enquanto comem as carnes que Matt havia ganho. Para eles era um momento de paz em que podiam ser eles mesmos.
— Está bem animado, o que deu em você? — John perguntou.
— Hehe… sabe, eu fiquei muito feliz quando você me encontrou naquela cela. Eu não consegui acreditar no que estava vendo, achei que depois de todos aqueles experimentos do Philip, eu estava realmente começando a ficar louco, que meus olhos já estavam enxergando o impossível. Mas aparentemente não era o caso, você estava lá, em carne e osso. Eu achei que tinha te perdido, não, não só eu, todos nós achamos naquele dia. — Matt respondeu.
— Mas, olha só para você! Vivo! — Disse Matt. — Eu sei que já disse isso antes, me desculpe pelo que fizemos com você e com ela naquele dia. Eu não sei o que se passou em nossas cabeças para termos feito aquilo, não há um dia em que eu não me lembre e não me arrependa amargamente. Se nós não tivéssemos agido sem pensar, talvez ela ainda estaria conosco. — Completou.
— Não fique assim, o que passou passou. Não há como voltar atrás, são águas passadas. Não estou bravo contigo nem com os outros, se aconteceu dessa forma é porque o destino já havia determinado. — Disse John, tentando consolar Matt.
— Quando nós achamos que você e ela tinham morrido, nosso chão desabou e nós não sabíamos o que fazer. De um lado as pessoas gritavam nosso nome e nos chamavam de heróis, e do outro, a verdade por trás de tudo, um fardo que teríamos que carregar para o resto de nossas vidas. — Disse Matt.
— A Mary se trancou no quarto dela por dias, tudo que eu consegui ouvir quando passava em frente a porta era seu choro. Eu não queria chorar na frente deles, pensei que se eu fizesse isso, poderia mostrar que ainda sim podíamos continuar sendo o mesmo grupo de sempre! Mas não durou muito, um dia quando acordei, ele disse que eu e Mary podíamos ficar com todo o dinheiro dado pelo império como recompensa, ele pegou aquela lança idiota e saiu pela porta, disse para não o segui-lo, e desde então nós nunca mais tivemos contato ou notícia sobre ele. — Matt explicou.
— Depois disso, a Mary também foi embora e só restou a mim. Lembra do motivo de eu ter me juntado ao grupo? — Matt perguntou.
— “Não tenho muitas habilidades, mas só não quero ficar sozinho.” — Disse John.
— Exato, você ainda se lembra… — Matt respondeu. — Depois que todos foram embora, aquela solidão retornou. Heh, engraçado não é? Eu tinha uma enorme quantidade de dinheiro para gastar com o que eu quisesse, mas não havia ninguém com quem gastar. Eu passei a beber com mais frequência, achando que isso poderia me fazer esquecer desses eventos, mas de nada adiantou. Foi quando Philip se aproveitou disso para me sequestrar e utilizar como cobaia dos experimentos dele, foi horrível no começo, mas quanto mais o tempo ia passando, comecei a acreditar que aquilo era meu castigo pelo que fiz. — Disse Matt.
— Eu só queria conversar um pouco a sós com você, foi por isso que te chamei aqui. Você é um grande amigo, e uma pessoa que eu admiro muito. Obrigado John, obrigado por estar vivo! — Disse Matt, abraçando John.
— Ah… haha, é bem diferente quando você mostra esse outro lado seu, até acho que parece outra pessoa falando comigo. — John respondeu. — Ugh… não se pode ficar nem mais um pouco sentimental que você já me trata assim?! — Disse Matt.
John e Matt continuam a conversar sobre o passado e às vezes, sobre coisas triviais do cotidiano, até que Matt se levanta e fica em sua frente e diz:
— Certo! Eu tenho uma pergunta para você, digo… para você marionete e não o John verdadeiro. Acha que consegue respondê-la? — Matt perguntou. — Hã? Eu? Hum, se for algo que eu possa responder, então sim. — John respondeu.
— Ok, lá vai então. Essas pessoas que você conheceu, o que elas representam para você? Estranhos? Companheiros? Uma ajuda temporária? Arriscaria sua vida por elas, ou… estaria disposto a sacrificar uma delas para alcançar algo? Por exemplo… você mataria Sarah para ter “ela” de volta? — Matt perguntou, encarando John.
Relutante para responder a pergunta, John olha para os lados por alguns segundos, antes de finalmente responder, ele olha profundamente para Matt e diz:
— Não. Eu não mataria nenhum deles. Primeiro que eu jurei que não faria mais isso, não era o que John iria querer. Segundo que eles são pessoas que eu posso confiar, eles já me ajudaram bastante, devo muitas coisas a eles. Se chegasse em um ponto como você falou, eu não saberia o que fazer, provavelmente eu não conseguiria tomar uma decisão por mim mesmo, e caberia ao John decidir. — John respondeu.
— Oh… foi uma resposta mais do que eu estava esperando. Ótimo, era mais ou menos isso que eu queria ouvir, vamos voltar agora? — Matt perguntou, estendendo sua mão para ajudar John a se levantar.
— Vamos, foi uma boa conversa. Consegui tirar da mente alguns pensamentos negativos, obrigado. — John respondeu.
Após a longa conversa, ambos decidem que é hora de retornar para a Cidadela para passarem a noite e terem um bom descanso, eles apagam a fogueira e deixam a colina, indo em direção aos portões da cidade. Caminhando já pelo lado de dentro, eles avistam Hector saindo da biblioteca.
— Aquele não é o Hector? O que será que ele estava fazendo na biblioteca a essa hora da noite? — Matt se perguntou. — Não faço ideia, você precisa falar algo com ele? — John perguntou. — Hum… é bom, vamos lá ver. — Matt respondeu.
Se aproximando de Hector, Matt o comprimenta. Ele subitamente se assusta ao ser chamado, mas logo recupera a calma ao ver que é apenas Matt e John e não quem ele tinha em mente.
— Ah… são vocês rapazes, o que precisam? — Perguntou. — Essa é a minha pergunta. O que você está fazendo aqui? — Disse Matt. — Ah é verdade, eu não cheguei a falar sobre isso, mas o mestre Tayson me encarregou de alguns serviços comunitários como punição, cuidar da biblioteca na ausência do bibliotecário oficial é o primeiro deles, hehe. — Hector respondeu.
— Entendi… então está tudo bem, nós vamos indo agora! — Disse Matt. — Ei, espera! Para onde vocês vão? — Hector perguntou. — Estamos indo de volta para a guilda, vamos passar a noite na estalagem. — John respondeu. — Se não se importarem, eu tenho uma casa aqui na cidade, se quiserem passar a noite por lá, eu ainda tenho algumas coisas para resolver hoje. — Disse Hector.
— Você tem certeza disso? — John perguntou. — Haha, é claro, podem passar a noite lá, já faz um tempo que eu não vou até ela, há três quartos lá, creio que não haverá nenhum grande problema. O único probleminha que terão é um pouco de poeira acumulada, mas nada que uma limpeza rápida não resolva. — Hector explicou.
— Quanta generosidade! É claro que nós vamos! Bem melhor do que ficar pagando taxas para me hospedar na estalagem! — Disse Matt, contente com a ideia.
— Certo, aqui estão as chaves, fiquem a vontade. — Hector respondeu, entregando as chaves nas mãos de John. — Obrigado, eu vou garantir que ele não cause nenhum problema. — Disse John para Hector. — Ei! Eu estou bem aqui, sabe? — Disse Matt.
— É uma casa de dois andares laranja no distrito residencial, terceira rua. Vai ser fácil achá-la, há uma placa com uma poção na porta. — Hector explicou.
Com as chaves da casa em mãos, John e Matt se dirigem para o endereço que Hector lhes disse. Hector permanece parado no mesmo lugar acenando para eles até que John e Matt não o consigam ver de longe. E então ele segue seu rumo pelas ruas noturnas da Cidadela em direção contrária.