Sua Alma Amada - Capítulo 15
Ser envolto por uma fina camada de água causa um sentimento de estranheza no Zac que imediatamente prende a respiração achando que morrerá afogado. Desesperado, ele tenta de todas as formas retirar a fina camada que está cobrindo sua boca, ele puxa, coça, tenta puxar, arrancar mas nada dá certo. Enquanto isso é possível ver Dionísio coberto pela mesma camada de água, só que a quantidade de bolinhas saindo da água e estourando no ar só aumenta.
Dio não conseguia se conter e sua única reação era rir da cena patética que seu amigo estava fazendo. Dionísio não sabe se espera um pouco para que seu amigo perceba que ele não está se afogando ou se tenta ir na direção dele para ajudar.
Mas logo lembrou-se da diretora Flora pedindo para não demorarem pois esse não era um caminho normal e que poucas pessoas sabiam dele.
Zac não para nem um pouco de se debater e ao olhar para Dionísio que claramente não está aguentando ficar de pé, de tanto rir de seu amigo, entretanto Zac não sabe dessa informação e acha que ambos irão morrer afogados.
Dionísio parte em direção de seu amigo e ao tocar nele, as finas camadas de águas se juntaram e formaram uma única camada. No momento em que ele tocou, foi possível ver que as correntes que antes seguiam caminhos diferentes passaram a seguir uma única correnteza.
— Zac tá me ouvindo? — falou o Dionísio, porém o Zac não conseguiu ouvir com tanta perfeição, era como se ele estivesse debaixo d’água.
— Oh mané, tu me ouviu né? Então para com essa bobeira aí, ninguém vai morrer afogado. Tu não tá vendo que estou falando com você?
Zac raciocina e percebe que estava pagando um mico e rapidamente tenta disfarçar, mas acaba falhando miseravelmente, ficando com uma cara de sem graça. Logo em seguida dá um sorriso de conformado para seu amigo.
Zac toma dianteira e passa pela porta que é formada pelo lenho da árvore, ele então toca na estrutura interna que aparentemente parece bastante viscosa, mas mesmo com toda a viscosidade, o jovem Zac sente-se como se estivesse tocando em uma cortina de linho bem fino.
E mais uma vez o Zac sente a sensação de uma gota de água caindo, mas dessa vez é diferente, pois a gota cai em cima de uma folha e vai escorrendo e quanto mais ela escorre mais ela vai sendo absorvida pela planta. E da mesma forma que ocorre com a gota de água, também ocorre com o Zac que vai sendo absorvido pela árvore, fazendo com que sua alma escorregue até que totalmente seja absorvida.
Dionísio se espanta com a rapidez de seu amigo, pois ele tentou algumas vezes e mesmo com o ensino de Flora ele acabou demorando. Ele então ouve alguns passos à sua direita e percebendo então que algumas pessoas estavam se aproximando, corre rapidamente e assim como seu amigo eles são absorvidos por completo.
Nesse mesmo instante os galhos e os lenhos da árvore se entrelaçam de uma forma fluida, encurtando cada vez o espaço até fechar por completo a abertura. E no momento que ela é fechada aparecem dois seguranças que estavam fazendo a ronda devido aos últimos acontecimentos.
Um deles percebe que o chão perto da árvore está coberto por uma fina camada de água e questiona o outro guarda.
— Choveu hoje? Pois aqui está um pouco molhado, nessa correria toda acabei não saindo. Fiquei esse tempo todo trancado aqui dentro.
— Que eu me lembre não, aliás faz bastante tempo que não chove, provavelmente seja só orvalho — o guarda enquanto finaliza sua fala solta um bocejo. — Apolo vai ter que nos compensar por ter que ficarmos fazendo essa ronda.
— Verdade, vamos dar uma acelerada, aproveitar que estamos perto dos dormitórios para tirar um cochilo.
— Ótima ideia, a escola tá bem tranquila. Não teremos mais problemas.
Os guardas caminham em direção ao dormitório e entre alguns bocejos acabam deixando de lado a questão da grama molhada em uma única parte.
Enquanto isso, Zac e Dionísio estão em uma espécie de tobogã, ambos conseguem ver o que está acontecendo e parece que estão sendo puxados por tubos. Mas que ver, eles conseguem sentir, é possível saber que três pessoas percorrem por aquele caminho. Zac acha muito interessante que mesmo por mais que a aparência seja viscosa a textura é mais macia do que todos os tecidos que ele já usou em sua vida. Mas mesmo assim ele sente algo familiar nisso tudo, não saber dizer o que é, mas essa textura o lembra de algo.
— Zac tá curtindo? — pergunta o Dionísio
— Isso é muito louco, que sensação boa e estranha. É como se eu fosse um só com essa planta, consigo saber exatamente onde você está.
— Sim, ela falou que estamos correndo por um tubo que se chama de xilema, não sei o que é isso. Só sei que ele nos leva para cima e quando descemos vamos pelo floema.
— Xi o quê? Nome estranho, o outro até vai porque parece com flor.
— Verdade hehehe, ah e outra coisa, como você foi tão rápido na hora de entrar? Pensei que você teria mais dificuldade.
— Pai é chato né, pior que não sei, só vi uma gota caindo numa folha e quando vi tava aqui dentro.
Enquanto falavam, o canal começa se estreitar e uma voz suave aparece para os dois dizendo:
— Vocês estão chegando e a Flora está aguardando vocês.
Ambos se olham e por se conhecerem trocam olhares pensativos de quem poderia ser essa mulher. Já que Flora está aguardando, porém eles são interrompidos novamente pela mesma você que diz:
— Jovem, seja apenas quem você é. Não tenha medo, ela é durona porém ela só quer o bem de Urano. Tenha cuidado, eu vi tudo o que aconteceu, mas tem coisas que ainda não posso falar.
Zac olha para Dionísio e percebe claramente que o que acabou de ouvir foi única e diretamente para ele.
O seu semblante muda um pouco, um olhar de seriedade é estampado em seu rosto. Alguns pensamentos do que poderá acontecer acabam passando pela sua cabeça.
O canal se estreita um pouco mais e eles sentem um pequeno solavanco, Zac e Dionísio sentem os galhos se movimentando, percorrendo por toda extensão lenhosa, eles sentem e ouvem toda vez que um pequeno galho se entrelaça. Mas na frente é possível ver uma luz sendo formada enquanto os galhos vão se retorcendo, a luz vai aumentando gradativamente.
Um leve zumbido surge no ouvido de Zac e Dionísio, eles ficam atentos que a viagem já está para acabar.
Todo esse passeio ocorreu em menos de 2 minutos, acabou se estendendo um pouco mais do que deveria. Porém foi o tempo necessário para que algo acontecesse, pois enquanto Zac e Dionísio estavam na enfermaria, uma outra conversa estava acontecendo na diretoria.
— Potifha, quantas vezes preciso dizer que você não é mais um guerreiro? Você precisa agir como um professor, quer que te lembre o porquê você foi mandado para essa instituição?
— Peço desculpas Flora, acabei me excedendo com o garoto. Fazia tempos que não me sentia assim, uma sede de sangue tomou aquele espaço.
— Sua didática é muito discutida, eu sei que você acha interessante eles aprenderem como funciona o sistema de morte. Mas temos que repensar isso.
— Entendo Flora, vou mudar para o próximo semestre. Mas uma coisa que não tô entendendo é como aquela besta estava ali, sei que meus métodos não são adequados, mas aquela aberração não poderia estar ali. Algo preciso ser feito em relação aquele garoto, eu soube que desde que ele chegou só tem causado problema. Aquele garoto é um monstr… Potifha é interrompido por um brado.
— Foi por isso que me trouxe aqui Flora — exclamou Kyron ao ouvir o discurso feito por Potifha — para ouvir essas baboseiras? Aquele jovem foi o único que viu alguém sendo assassinado e sem nem pensar duas vezes se lançou lá embaixo. O único monstro que vi foi um professor estrangulando um animal.
Potifha se levanta da cadeira e parte em direção do Kyron, que nem se move, apenas encara face a face, com um olhar de deboche e superioridade.
Nesse mesmo momento surge uma uma enorme flor azul bem no meio dos dois, o chão fica coberto de raízes e espinhos.
— Parem os dois, Potifha sente-se agora e Kyron peço que fique quieto. Lhe trouxe aqui pois te conheço e sei que você será a melhor pessoa para a missão que vou deixar.
Ambos se acalmam, pois enquanto Flora falava a planta que surgiu no meio da sala liberou alguns hormônios no ar, hormônios esses com a capacidade de induzir o sono.
— Pois bem, com vocês calmos podemos prosseguir. Potifha para que sua situação não piore, peço que envie uma carta para Apolo informando o que aconteceu, porém não conte nada sobre o poder do garoto, muito menos da besta que você viu.
— Mas como assim? — questionou Potifha
— Se quiser permanecer aqui deverá fazer o que estou mandando e outra coisa. Na carta fale sobre possíveis ataques do submundo e peça que redobre a segurança.
— Mas e as crianças que estavam lá? Eles viram tudo o que aconteceu, os boatos correram por Uranos.
— Eu sei o que estou fazendo. Enquanto estava acontecendo aquele desastre eu lancei esporos soníferos sobre eles. Apenas três pessoas não foram afetadas, sendo elas: você, Zac e Dionísio. Para todos, não passou de um ataque feito pelo submundo.
— Mas isso poderá criar uma ruptura entre Uranos e Gaia, podemos começar uma guerra por causa disso.
— Estou trabalhando nisso e é aí que o Kyron entra, trabalharemos juntos para evitar uma possível guerra. Mas para isso precisamos proteger esse garoto, então peço que faça o que estou lhe ordenando
— Certo, diretora Flora. Como não faço mais parte da guarda não terá problema algum em mentir para o meu superior. Parece ironia, mas depois do que aconteceu lá atrás, parece que a traição me cerca. Tenho um pedido para lhe fazer, aquela criança precisa ser observada o tempo todo, vocês não entendem o poder que ele possui, se com uma fera o estrago no passado foi gigantesco, imagina então três delas.
— Como falei, estaremos protegendo aquele garoto. Mas o assunto por agora está acabado, pois o jovem rapaz está acordando. Então envie logo a carta para Apolo, muito obrigado pela compreensão, está liberado Potifha.
Voltando para o presente, Zac e Dionísio são lançados para fora do canal e nesse mesmo momento a película de água que os cobria estoura, gerando uma leve pressão no ouvido do Zac, fazendo um barulho familiar. Ela lembra de uma vez que estava deitado na praça, bem debaixo da árvore e uma gota de água escorreu entre as folhas caiu sobre sua testa.