Sua Alma Amada - Capítulo 14
Zac ainda está um pouco sonolento, após ouvir a resposta de seu amigo, ele fica imaginando aquele ambiente cheio de enfermeiros. No meio de sua imaginação ele começa a se perguntar se alguém o viu sem roupa, então ele sutilmente levanta o lençol e percebe que sua roupa ainda está em seu corpo. Um semblante de tranquilidade paira sobre seu rosto.
— Zac vamos logo, levanta ae. A parte de cima do seu uniforme está na sua bolsa, vou te aguardar lá fora. Não demora não, tô cheio de fome. — Enquanto fala, o Dionísio se levanta da poltrona e sai da ala médica.
— Valeu Dio.
Zac se levanta da cama, e percebe que seu corpo está estranhamente bem. Nem parecia que a pouco ele estava caído no chão, cheio de dor. O jovem apenas sente um incômodo em seu punho e uma leve dor em seu olho direito. Então ele pega sua bolsa e lança na cama, de dentro dela ele tira a parte superior do seu uniforme e a coloca da forma mais desleixada possível, sem abotoar nada. Ele olha para dentro de sua mochila e percebe que seu grimório ainda está lá, porém tem algo de diferente.
Ele passa a mão em seu pescoço e não sente nada, um desconforto surge em seu coração, ele começa a procurar o seu cordão desesperadamente. Porém ele não estava nem no seu uniforme e nem na sua bolsa, ao olhar ao seu redor, Zac também não consegue encontrar.
— Dioooooooo — súplica o jovem garoto — Você viu o meu cordão? Ele tem que estar em algum lugar.
— O que houve? — Dionísio entra no quarto.
— O meu cordão, Dio , você viu em algum lugar? Foi você que arrumou minha mochila né?
— Eu não vi não, a única coisa que estava caído no chão era o seu livro. Não se desespere não, vamos na diretoria, com toda certeza a flora vai saber nos ajudar. Caso ele não consiga, vamos procurar por toda academia, te dou minha palavra. — Dionísio estende sua mão em direção ao seu amigo.
Zac tenta puxar um aperto de mão diferente, fazendo alguns movimentos que ela acha maneiro. Porém falha miseravelmente, pois Dionísio já saiu da sala, o deixando para trás. Porém ele não desiste e mentaliza o aperto de mão, uma sequência simples onde ambos batem a palma de suas mãos, logo em seguida recuam e voltam com um pequeno soco. Com os punhos cerrados, eles os giram em um movimento de 90° graus e mais uma vez distanciam suas mãos, porém desta vez ambos abrem a mão e com movimentos uniformes movimentam seus dedos enquanto inclinam levemente a postura. E finalizam com um aperto de mão na altura do peito, fazendo o corpo projetar para frente e com a outra mão eles dão tapinhas nas costas. Formando uma espécie de abraço.
— Zac, tô indo hein. Me alcança no corredor, tô cansado de te esperar.
Com um sorriso no rosto, Zac pega seus pertences e sai da sala. Ao sair, ele entra em um corredor repleto de alas médicas, mas ao longe ele vê Dionísio indo em direção à saída. Então ele aperta um pouco os seus passos e dá uma acelerada, alcançando o seu amigo bem rapidamente, Zac se aproxima dando um leve tapa nas costas de Dio.
— Se liga, precisamos fazer algum tipo de aperto de mãos especial.
— Para que isso? Tu tem cada ideia, não vou fazer nada disso não. Ahhh e sem necessidade chegar batendo nas costas dos outros desse jeito. — Ao terminar sua fala, Dionísio solta um bocejo
— Foi mal, tinha esquecido que você estava cansado. Aliás, muito obrigado por passar todo esse tempo lá.
— Relaxa, vamos falar logo com a diretora. Tô precisando dormir. Não sei se tu sabe, devido ao ocorrido lá na arena. Tiveram que parar todas as aulas por tempo indeterminado.
— Como assim? — questiona Zac.
— A Flora não me falou muito bem o motivo, porém tem algo relacionado com o animal que você invocou e com alguns acontecimentos que aconteceram na Academia.
— Que louco, chegando lá vou perguntar a ela. Se liga, não falei com ninguém isso. Até porque estava dormindo né hehehe. Porém eu senti muito medo lá, toda vez que a fenrir uivava minha alma se desprendia do meu corpo e já não era mais eu que estava no controle. Eu só queria gritar, fui consumido por uma raiva, por um ódio, porém no meio de todo esse caos. Eu ouvi dos latidos que me trouxeram de volta, foi como se eu tivesse revivido o momento em que os encontrei, foi tudo muito louco. — Zac se emociona ao falar enquanto algumas lágrimas escorrem pelo seu rosto.
— Eu também senti muito medo. Porém não podemos falar sobre isso agora, pois a Flora pediu para falarmos com ela primeiro.
— Beleza Dionísio.
Os jovens passam pela porta da enfermaria e vão em direção ao pátio central da academia.
— Zac tem mais uma coisa para te falar.
— Então me fala.
— Ela pediu para irmos por um caminho não convencional. Eu já fiz esse trajeto uma vez e é meio louco.
— Como assim não convencional? Aliás, você está falando da diretora de uma forma bem casual. Tô achando muito estranho isso hein. Não conhecia esses seus gostos.
— Sai para lá moleque. Ela só é uma conhecida da família. Ela é uma antiga amiga do meu irmão.
— Você tem mais algum irmão? Qual nome desse? Porque só conheço o Lacer até agora.
— Tenho alguns, mas nem todos possuem laços de irmão, somos apenas filhos do mesmo pai, porém alguns agem como se isso não tivesse nenhuma relação. Tem uma hierarquia e uma competição bizarra. Apolo é um exemplo, ele que é um antigo amigo da Flora.
— Calma? Peraí, não me diga que esse Apolo é o mesmo Apolo que é pai da Clara? Porque lembro muito bem do guarda falando que ela é filha do Apolo.
— É esse mesmo.
— Dionísio, você só me surpreende. Agora pouco conversando casualmente sobre a diretora — Dionísio dá um tapa no pescoço de Zac — tá eu tava brincando sobre a diretora. Mas agora falando sério, você é tio da Clara?
— Sim e não, pois eu sou um filho temporão de Zeus. Quando nasci a família já tinha um vínculo meio fechado. Aliás, ninguém liga muito para essa questão de sangue em Uranos, somos todos uma grande família. Minha relação com Apolo não é das melhores também, então não tenho vínculo de irmão ou tio. Sou apenas mais um lá em casa.
— Isso é muito doido e não faz nenhum sentido.
— Falando de família, eu já te perguntei. Porém nunca me respondeu sobre a sua família.
Um silêncio surge enquanto os dois andam pela academia, além do ambiente vazio, Zac e Dionísio não falam mais nenhuma palavra até chegarem no pátio central.
— Então eu não sei muito bem Dio, como já te falei, tenho algumas memórias meio turbulentas. Porém eu realmente não sei de quem ou de onde eu vim, é uma pergunta que mexe muito comigo.
— Tudo bem relaxa, se liga o que vamos fazer agora é meio maluco. Quando a Flora me mostrou pela primeira vez, achei muito doido. Ela me explicou, porém não entendi nada, ela falou algumas coisas como lamela média, floema e xilema.
— Cada nome maluco, como tu lembra desses nomes?
— Não sei não, fiquei tão chocado com o que aconteceu que acabei prestando atenção em tudo, mesmo não entendendo nada. Quando chegar ela deve te explicar.
— Beleza, tô meio ansioso com isso.
Os dois jovens entram no pátio, um local que tem possui uma flora muito bela, algumas árvores formam meio que uma clareira, por onde entra a luz do sol. Mais ao centro uma fonte de água doce onde alguns passarinhos tomam banho e bebem água, também a presença de alguns espíritos de luz que passeiam entre os galhos das árvores e vão em direção aos dois jovens.
Zac se encanta e fica brincando com alguns espíritos de luz, que passam pelo seu corpo. Enquanto Dionísio parte em direção à uma das árvores que formam a clareira, e com a sua mão esquerda toca no tronco da árvore. E ao tocar na casca externa, surge uma fissura na parte inferior da árvore que sobe até a copa. Essa fissura gera uma espécie de porta, composta pela parte interna da árvore, apresentando uma coloração alaranjada e com alguns veios pulsando.
— Não falei que era louco? Só está começando.
— O que é isso Dio?— Zac está visualmente embasbacado com tudo que está acontecendo.
— Como já disse, eu não sei o que é. Apenas tô fazendo o que ela me instruiu para fazer, aliás, você precisa tocar na fonte de água ali do lado. — Dionísio retira sua mão da árvore e vai em direção a fonte de água.
— Ela falou que ao tocar a fonte, uma camada de água surgirá em nossa volta. Criando uma espécie de película de água, porém sua alma precisa convergir e ressoar com água. É bem tranquilo, ainda mais porque nesta água já corre uma alma que facilita essa convergência, pelo menos foi isso que ela me falou.
— Entendo, porém para que tudo isso? Não era mais fácil só ir até a sala dela?
— Também achei isso, porém ela me falou que depois de todo acontecimento. Ela precisava ter certeza de uma coisa antes de voltar tudo normal, então ela falou para irmos até um local especial. Depois de me levar até lá, ela me mostrou como fazer e me pediu para te aguardar.
— Ahhhh sim, beleza. E como fazer essa parada da água?
— Tu lembra de quando o professor Kyron concentrou a energia na sala de aula? Precisamos fazer algo parecido com isso. Basicamente é só tocar na água, não pensar em nada e seguir o comando da voz.
— Que voz?
— Uma voz feminina vai te guiar e você só segue o que ela for falando. Presta atenção em mim.
Dionísio fecha os olhos e estende a sua mão em direção a fonte. A água da fonte começa a percorrer toda a mão de Dionísio, até criar uma camada fina por toda extensão do seu corpo.
Zac observa que o seu amigo está falando algo com ele, porém ele não consegue ouvir nada. Ele só vê algumas bolhas saindo da boca de Dionísio.
— Bora tentar isso.
Zac fecha os olhos e encosta sua mão direita na fonte de água. Uma voz feminina bem suave surge em sua cabeça.
— Olá garoto, já entrei em contato com sua voraz alma por algumas vezes. Porém dessa vez é diferente, você com toda certeza é um rapaz extremamente forte. Porém não é uma força enaltecida pela sociedade, entretanto é algo que eu acho muito belo. Ela com toda certeza vai gostar de te ensinar.
— Como assim algumas vezes? força? Ela quem?
— Apenas flua nesta vasta correnteza.
Zac sente uma pressão vindo de sua mão, como se todos os oceanos do mundo estivessem percorrendo pelo seu corpo. Diversas ondas vêm em sua direção, chocando contra seu rosto, contra seu corpo. Até que ele ouve o barulho de uma única gota caindo naquele vasto oceano, fazendo com que toda turbulência sumisse. Gerando em seu coração um sentimento de paz e tranquilidade.
Quando Zac abre seus olhos, percebe que seu corpo está coberto por uma fina camada de água.
— Tá me ouvindo Zac, vamos logo. Ela está nos esperando.
Zac sente um leve djavú por mais uma vez abrir os olhos e ouvir o seu amigo recitando a mesma frase.