Passos Arcanos - Capítulo 99
— Eu estou aqui — Rob atravessou a porta acenando para os outros membros do Tomo sem dar muita importância. Estavam todos sentados em suas cadeiras, esperando por ele. Assim que sentou, deu uma boa olhada ao redor. — Estão todos aqui?
Aroldo, Wallace, Tito, Truman, Sind, Kadu, Mina e Orion. Fazin Myag e Saiss, Milan e Abominável lado a lado. Ele travou o olhar em Orion, e fez uma menção de cabeça, sendo devolvida.
— Hoje vamos tratar sobre assuntos relacionados as últimas notícias e também sobre os eventos direcionados aos Krasios. Ante a isso, deixarei que nosso estimado Orion Baker explique a situação já que ele está bem a par.
Os rostos mudaram de direção e Orion se pôs de pé.
— Primeiro, peço desculpas por não ter dito a todos sobre minha ida a Amplidão Governamental. Meu intuito era treinar e acabei por ter sido catalisador em um dos problemas que São Burgo sofreu nas últimas semanas.
Ele descreveu o encontro com Green Shay, sobre sua luta contra ele e também com o encontro do Palácio das Baleias. Lá, encontrou o Tritão Homero, e descreveu como todas as partes se ligavam na história. Falou sobre o grupo que entrou e como ele selou a montanha usando a magia do próprio palácio.
Ao sair de lá, retornou a São Burgo, mas seu contato com Bujat o levou a ser vice-líder dos mercenários ao Terceiro Campo, onde o Forte Drax dava suporte com magia. E teve que encurtar como ganhou a luta usando diversos pergaminhos mágicos.
Ocultou, por grande necessidade, seu uso de magia e também como tinha ganhado do Batalhão de Lumos. O que muitos tinham ouvido era sobre o Professor, e ali dentro, eles souberam que Orion Baker era o responsável por muitas das notícias que circulavam.
Ele era uma das pessoas mais procuradas pelo Clero e pela Ordem, no continente Hunos.
Terminou num suspiro, e olhou para os rostos surpresos, alguns calmos. Fazin era o único calmo, e Aroldo tinha uma expressão complexa.
— Então, você é o Professor. Achei que ele deveria bem velho já que toda a Academia de Magnus fala que as magia que você cria são todas complexas demais. — Ele coçou o queixo, ainda um pouco perdido. — E achar que estaria aqui do meu lado esse tempo todo.
— Não precisa ficar tão preocupado — alertou Rob. — Orion fez o necessário para colocar todos os nossos planos nos eixos desde que chegou, além de que também é responsável pelo Tomo de Ferro ter ganho uma enorme solidez entre os grupos de Cavaleiros.
— E o empréstimo — Kadu falou. — Foi doado muita coisa para reconstruir a cidade.
— Existe um mundo onde São Burgo não existe sem a ajuda de todos nós — completou a Criança Comerciante. — O que importa agora é o fato de que todos nós temos e fazemos o necessário para manter tudo isso de pé. E pelo fato de que hoje recebemos mais pessoas sempre, temos que manter a complexidade de que há o risco de termos espiões. Isso é um ato que já estamos vendo há tempos, mas ainda é uma chance. E os Krasios tem sido espremidos para fora da nossa cidade aos poucos, para um acampamento onde o Clero atua.
— Esse é o acampamento que estava procurando nos mapas? — perguntou Fazin do outro lado da mesa, ao lado de Orion. — Porque é um dos lugares mais bem vigiados que tem na região das cidades neutras.
Rob bateu o dedo na mesa algumas vezes.
— A situação corresponde a ação. As terras que estão daquele lado são muito melhores do que as nossas, isso porque eles também estão na melhor área de caça e captura, onde as guildas atuam. Diferente da nossas missões, eles possuem uma renda de moedas bem melhor do que as Torres Mágicas. — Olhou para Aroldo. — Se quisermos manter São Burgo protegida, temos que criar nossos próprios batalhões.
Aroldo era um dos poucos Cavaleiros da velha guarda, vinda de um declínio gigante de fama e dinheiro. Ele quem tinha se tornado viajante atrás de um milagre acabou tendo os Baker como seus salvadores, e não tinha nada a reclamar.
Pelo contrário, o que ele fez foi dar um aval generoso aos outros.
— Rob decidiu que é hora de se mexer, porém, alguns de vocês se mantém. Apenas Cavaleiros seguem, como de costume, mas para controlar o fluxo de pessoas, alguns ficarão. E tenho que avisar que a forma de ganhar dinheiro lá é bem peculiar.
— O que quer dizer com isso?— Wallace questionou com uma maça em mãos.
— Lá, as guildas tomam conta. Caçadores de recompensa, a Academia de Magnus, os Mercenários, Caçadores de Bestas, e os Vendedores. Todos eles dão dinheiro, mas é preciso muita força pra chegar lá em cima, no topo. É o que queremos, já solicitamos quem irá, e também como queremos que atuem, mas podem conversar entre si para tomarem medidas preventivas.
O dedo de Rob se elevou, apontando.
— Tito, Wallace e Orion. — Fez uma pausa olhando para o papel na mesa. — Eu gostaria que fizessem parte dos Caçadores de Recompensa, de Bestas e Vendedores. Os Mercenários e a Academia de Magnus tem muitas variantes por causa da notícia do Professor e também das missões longas.
Truman suspirou pesadamente e sorriu. Dava para ver que não iria querer ir muito longe se Sind ficasse. E Aroldo aprovava a sua estadia. Ele era o único a nível dos três em conflito físico.
Fazin não tinha motivos para deixar a cidade. Kadu e Mina tinham suas funções bem singulares também.
— Eu quero Caçador de Recompensa — Orion disse. — Acho que vai ser bem mais divertido.
— Se inscrevam nas três, é possível — disse Rob. — Porém, quando estiverem lá, mandem as notícias também sobre Krasios e as movimentações da Ordem. Tivemos uma informação recente que o Batalhão de Lumos foi todo capturado e algumas localidades foram descobertas.
— São Templos — Fazin mencionou aos outros. — Eles são lugares extremamente poderosos. Os Sacerdotes ganham muita força porque estão mais perto da benção dos seus deuses.
Ele era o único que até então tinha encontrado esses templos.
— E o que devemos fazer quando encontramos um? — perguntou Wallace. — Estamos indo para lá por causa de dinheiro, ocupação, conflito? Ainda estou Meio perdido.
— O mais importante é começarmos a criar nossa própria estadia em outros pontos, assim como os Krasios fazem. Só que diferente deles, temos que ser sólidos e capazes. — Rob percorreu os olhos por cima dos três. — E não vejo motivo para acreditar que vão falhar.
Houve mais dois tópicos importantes naquela reunião. O primeiro foi o fato de que o conflito territorial estava sendo vencido aos poucos e novas remessas de Cavaleiros e grupos se uniam ao Tomo de Ferro. O segundo era o que dinheiro tinha se tornado o menor das dificuldades.
A antiga crise desapareceu. Rob pagou as dívidas, criou ligações e fez com que os lojistas retornassem aos seus trabalhos.
O lado sul de São Burgo prosperava bem, e isso chamava atenção dos que viviam no norte. A parte nobre, as famílias mais ricas, criavam boatos da nova fundação da cidade, e também de como o Banco Central tinha feito o empréstimo de milhares de moedas para um único grupo a recompor.
Rob não era só a Criança Comerciante. Naquele mês, era mais conhecido como Gigante Industrial, apelido dado pelo Economia.
I
— Acho que vamos começar uma nova etapa.
Wallace passou por Orion. Estavam no novo quarto dado a Orion, era duas vezes maior do que o seu último, com uma cama larga e colchões confortáveis. Porém, o que ele tinha pedido para ser instalado era uma mesa larga para estudos.
Tinha quase dois metros, um pouco inclinada e com ganchos onde ele prendia peças de equipamentos e livros na borda que foi torcida para fora. Assim, podia trabalhar facilmente.
— Uma nova etapa? — O pincel em sua mão rinçava o papel levemente, no Meio do esboço de uma runa. — O que quer dizer?
Wallace se jogou na cama, e deitou de costas.
— Saímos de Caldeiras para cá, e agora vamos embora. O fardo que temos que carregar de ganhar uma guerra, de sermos Cavaleiros, tudo isso vai levar a gente sempre a ficar em movimento. Seremos nômades.
— E acha isso ruim?
— Acho que não. Não sei dizer. — Ele ergueu o braço para o teto, abriu e fechou a mão. — Aos poucos, penso sobre a possibilidade de viver aqui sem essas amarras. O problema é…
— Que somos Baker. — Orion balançava a cabeça ao abaixar o pincel. — Nossa missão é garantir a segurança dos outros. Ninguém segue isso. — Ele se virou ainda sentado no banco. — A chance que você quer está bem na sua frente.
Wallace ainda o fitava.
— Desenvolva.
— É simples. Nós temos a chance de ir para um lugar novo sem sermos conhecidos por ninguém. Seremos enviados pelo Tomo de Ferro, com um propósito de fazer dinheiro, ganhar fama e atrair novos Cavaleiros e Magos para o nosso lado.
Orion mostrou um sorriso.
— Como fazer isso, nós vamos decidir. Eu tenho minhas próprias visões daqui pra frente, do que realmente quero fazer, do que quero concretizar. E mesmo que todas elas sejam diferentes do que o Tomo de Ferro deseja ou que as outras pessoas esperam, meu objetivo é ainda o mesmo.
Wallace deu uma risada fraca, lembrando bem da promessa de Orion feita há anos atrás.
— O mais alto, não é? Sabe que isso pode acabar te matando.
— Se me matar, ótimo. Se não, fico mais forte. É assim que vivemos hoje, meu amigo.
O grandalhão se levantou e foi até ele, esticando a mão.
— O mais alto, então.
Orion apertou seu antebraço, como sempre faziam.
— O mais alto.