33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 191
Dia dos Heróis – parte 3
— Agora virou bagunça! — Mirian reclamou.
— Como conseguiram nos achar? — Arlene estava atônita — Se fosse só o Guardião, beleza, mas até a Aliança Internacional?
— Acho que a Aliança tinha um projeto de rastreamento de energia, lembra? — Bruno comentou.
— Mas eles trouxeram aviões de combate para um mundo paralelo! — Mirian continuou reclamando — Isso é exagerado!
O avião que liderava a esquadrilha disparou.
Primeiro uma rajada, em seguida dois mísseis. Os caças que o seguiam fizeram o mesmo, mantendo sempre um intervalo ritmado, intercalando rajadas e mísseis. Todos que estavam no chão eram alvos em potencial.
O primeiro impacto foi com a cúpula de golens e vidro derretido. Seria morte certa aos heróis se Bruno não fosse rápido em abrir um túnel para eles se protegerem. Foi uma medida segura, mas no subsolo eles perdiam a visibilidade e a mobilidade.
— Fiquem aqui, eu vou voltar lá para cima! — Bruno falou, indo em direção à saída do abrigo subterrâneo — Se o deus da destruição tem uma ligação comigo, ficar junto com vocês só vai entregar a posição de todos.
— É perigoso! — Mirian tentou parar Bruno.
— Eu rio na cara do perigo… — Bruno continuou em direção ao ataque.
. . .
No lado de fora, dois aviões haviam sido derrubados. Pela quantidade de material faltando na fuselagem, era certamente obra do deus da destruição. Bruno conseguia sentir a localização do deus de quem recebeu seu poder, o problema era saber quem seriam os outros que o acompanhavam.
Um zunido indicou o risco que Bruno corria.
Com um caminho de destruição, Bruno conseguiu anular o ataque. Ele não sabia se era possível, mas reagiu no instinto. Nem mesmo depois de quase treze anos, Bruno conseguia entender como funcionava seu poder. Tudo que sabia era que poderia destruir coisas que tocava ou lançar “ondas” de destruição em uma direção linear.
Não era o mais versátil dos poderes, mas era um dos mais perigosos.
Algo passou voando perto de sua cabeça, mas Bruno nem tinha tempo de se importar com o que era. Desde que ele não fosse alvo iminente, não interessava. As garotas estavam seguras, e se não estivessem, elas tinham poderes.
É claro que ter poderes e saber o que fazer com eles são duas coisas bem diferentes. Bruno sabia disso, contudo, a sua vida também estava em jogo, e ele não ia jogá-la fora para proteger ninguém.
Um zumbido veio novamente. Outro ataque do deus da destruição que se escondia no meio de tanta poeira e destroços. Bruno achou melhor não tentar parar esse ataque, e esquivou, se jogando para trás de uma pilha de metal retorcido e coberto de chamas.
Uma escolha acertada.
Assim que a destruição passou por onde Bruno estava, uma estaca de gelo atingiu a exata posição em que deveria estar o corpo do herói. Um frio passou em sua barriga, se não preferisse poupar a sua energia, estaria espetado em uma lança de gelo.
Pelo menos ele sabia agora quem era outro dos inimigos. O deus do gelo, esse era perigoso também. Bruno lembrava que a heroína do gelo, Fabiane, conseguia congelar praticamente qualquer coisa com o toque, além de criar armaduras de gelo e ser imune ao frio extremo.
Se Fabiane já era perigosa, o deus do gelo deveria ser bem mais forte.
Outra coisa passou voando próximo a Bruno, e dessa vez ele teve a impressão de que havia reconhecido o formato. Era uma pessoa. Para ser mais exato, era o deus da super força, o mesmo que tinha chegado junto com Catarina.
Isso significava que o Guardião tinha derrotado o deus com maior capacidade física. Olhando para o lado, Bruno viu o Guardião parado, o encarando com uma expressão tão neutra que mais parecia que estava apenas apreciando a paisagem.
O deus da força havia resistido bem ao ataque, e já estava de pé novamente. Bruno percebeu que faltava um braço nele, o que poderia ser um problema. Ou não, se considerasse o quão destruído parecia estar o Guardião.
Uma armadura prateada surgiu ao lado do Guardião, atacando-o com uma espada longa. O Guardião foi rápido em desviar e segurar a armadura pelo pescoço, mas sua expressão foi de apática para confusa no momento que suas mãos se fecharam.
Uma onda de destruição arrancou as duas mãos do Guardião.
— Ainda cai em ilusões? — disse uma voz no meio da poeira.
— Maldito! — O Guardião parecia um pouco irritado, mas não demonstrava incômodo algum por ter perdido as mãos.
O que parecia ser a armadura do Cavaleiro de Prata não passou de uma ilusão criada por mais um dos deuses. Bruno sentiu que aquilo estava ficando cada vez pior, principalmente por causa do bombardeio aéreo.
Uma onda de espinhos de gelo apareceu em direção ao Guardião, pelo sentido, ia levar Bruno junto, mas uma das bombas destruiu o ataque antes. O impacto da explosão atordoou o herói, que começou a lançar ataques em qualquer direção na qual houvesse movimento aparente.
Cristais de gelo começaram a cair do céu, pareciam vir de várias direções, o que impedia que ele localizasse o deus do gelo. Quando achava que tinha acertado um alvo, era apenas mais uma das ilusões. Nem mesmo as explosões eram todas reais.
O guardião e o deus da força também estavam atacando aleatoriamente tudo que se movia. Mais dois aviões haviam sido derrubados, mas Bruno achava que poderia ser mais uma ilusão.
Várias cópias de cada um ali começaram a aparecer, inclusive de Bruno. Ele atacou suas cópias, apenas para confirmar que também eram ilusões. Um som agudo veio do seu lado, a poucos metros.
Por puro instinto, Bruno moveu suas mãos em direção ao som.
Um caminho de destruição eliminou a rocha ilusória entre ele e o som, evidenciando um corpo faltando uma parte. Ou melhor, metade de um corpo, a outra metade havia acabado de ser desintegrada por Bruno.
No mesmo instante, o herói sentiu seu poder se esvaindo.
Ele havia matado o deus da destruição, e junto com isso, perdeu seus poderes. Uma péssima hora para ficar sem poderes, ele percebeu. Também percebeu que as ilusões sumiram de repente.
O guardião, mesmo coberto de sangue e cheio de ferimentos, segurava um corpo sem vida pelo que parecia ser a cabeça. Deveria ser o deus das ilusões, o que era bom. Dois a menos.
Bruno sentiu os olhos do guardião sobre si, o medo o dominou de vez. Não bastava ter ficado sem poderes, agora seria o próximo alvo?
O guardião arremessou o corpo do deus das ilusões para cima, acertando em cheio um dos aviões de ataque. Aquilo foi um recado sem palavras, mostrar que se poderia derrubar uma daquelas coisas com um cadáver era uma ameaça bem direta do que ele ainda poderia fazer.
O último dos aviões pareceu recuar após ficar sem parceiros.
Bruno nem entendia o motivo de terem se metido ali, para começo de conversa. Mas achava que foi divertido. Mesmo que os ataques tivessem parado…
Não.
Não tinham.
Lanças de gelo continuavam indo em várias direções. Rochas eram arremessadas pelo deus da força, agora sem um braço. Enquanto o Guardião ficava translúcido e passava através dos projéteis como se fosse um fantasma. Ou um espírito.
Um poder semelhante ao que Jaiane havia possuído.