33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 192
Dia dos Heróis – parte 4
O Guardião parecia estar brincando com eles.
Se ele podia ficar intangível, por que não fez isso antes? Era para mostrar que não precisava usar toda sua força? Ou para mostrar que não adiantava atacar? Já que não importava se os ataques acertavam ou não, nada seria capaz de detê-lo.
Bruno havia acabado de descobrir uma nova forma de medo. Um sentimento que o impedia de respirar. Era como se até mesmo o som de seus batimentos cardíacos pudesse servir para atrair a morte para si.
Segundos atrás ele estava se divertindo com aquilo tudo, e agora, tudo que desejava era não morrer. Uma pressão esmagadora o impedia de, ao menos, correr por sua vida.
De repente, um jato de água emergiu do solo, bem na frente de Bruno. No meio daquela água toda havia uma pessoa, era Mirian, a sacerdotisa da água, que havia usado seus poderes para sugar a água do lençol freático do subsolo e lançá-la para cima em uma pressão cortante.
A água começou a girar em torno de Mirian, formando uma tromba d’água, assim ela poderia atacar e se defender ao mesmo tempo. Assim ela se tornou o próximo alvo das lanças de gelo, enquanto o deus da força tentava acertar o Guardião, arremessando coisas com o braço que havia sobrado.
Sendo o único ali que não tinha poderes, Bruno se sentiu impotente. Seu corpo reagia a cada som, tentando criar caminhos de destruição, mas nada acontecia. Era apenas um reflexo, como a dor em um membro amputado.
Fugir era a única opção.
Correr em meio a lanças de gelo, explosões e rochas sendo arremessadas, enquanto uma tromba d’água girava e chicoteava tudo em um raio de uns cem metros, e golens de pedra corriam para um lado e outro.
Bruno percebeu que nem todas as lanças eram de gelo, algumas eram de vidro, o que indicava que Amanda havia retornado. Ele tinha deixado elas em segurança poucos minutos antes, agora elas voltaram com tudo.
Não que achasse ruim.
Se não fosse pela intromissão delas, Bruno estaria morto. E quase morria atingido por água fervente, uma novidade para ele. Parecia que ao girar a água, Mirian conseguia aumentar a temperatura até o ponto de ebulição, só que mantinha o estado líquido à força.
Seria muito doloroso se aquilo o atingisse.
O cansaço dominou o corpo de Bruno. Suas pernas não tinham mais forças para continuar correndo de um lado para outro enquanto evitava ser atingido. Ele se jogou atrás de uma pilha de rochas, que parecia ser os restos de um golem.
Nos últimos minutos, ele não teve como acompanhar o que estava acontecendo, já que estava mais preocupado em ficar vivo. Enquanto tentava recuperar o fôlego, Bruno viu duas figuras em meio à poeira, parecendo estar tentando matar uma à outra.
Pela forma como arremessavam projéteis longos de ambas as direções e mantinham distância, Bruno concluiu que deveriam ser Amanda e o deus do gelo. Devido à poeira e fumaça, não tinha como saber quem era qual.
Nem adiantaria que ele soubesse, não era capaz de ajudar. Pelo menos, a mesma poeira que impedia de ver, escondia sua presença. E por ter perdido seus poderes, ninguém ali poderia senti-lo.
O estado de tranquilidade de Bruno foi rompido por um grito agudo. Um som de dor extrema. Saindo temporariamente de seu abrigo, Bruno viu o deus da força no chão, sem cabeça, e o Guardião com o braço atravessado no tórax de Mirian.
A água que girava, começou a cair, como uma chuva fervente. Metade do corpo do guardião estava derretida, possivelmente efeito da água fervente. Ele estava fraco agora, talvez fosse possível vencê-lo, se Bruno ainda tivesse seus poderes…
Não.
Que pensamento idiota. Achar que poderia ser capaz de vencer o Guardião do Mundo. Se nem mesmo os deuses, todos eles juntos, foram capazes de vencer o Guardião, nenhum herói seria.
Arlene parecia não pensar igual.
Ela avançou em direção ao Guardião, que ainda segurava o corpo de Mirian. Um exército de golens seguia atrás da garota. Uma cena incrível, até o chão estava tremendo.
Uma heroína com armadura de pedra, um exército de monstros de pedras contra um deus de verdade. Poderia ser uma luta incrível, se não tivesse acabado em um instante. Com apenas um soco.
Mesmo os monstros de pedra ainda precisavam de alguém para os controlar. O guardião mirou então em Arlene, atravessando ela e a rocha que deveria protegê-la, e dizimando tudo ao redor apenas com a pressão do ar.
É claro que o Guardião estava brincando com eles. O tempo todo ele estava se fortalecendo, não se importando com os ataques que sofria, sem contar que ele parecia absorver os poderes dos que morriam.
O que fazia bastante sentido, se pensasse que aquela força toda usada contra Arlene fosse absorvida após a morte do deus da força. Sem contar que Catarina deveria estar sem poderes a essa altura.
Se ela ainda estivesse viva, é claro.
Então ele estava lá na sua frente. Bruno apenas piscou os olhos e o Guardião apareceu diante de si, carregando Catariana nos ombros, desacordada. Contrariando as expectativas de Bruno, o Guardião apenas jogou a garota em cima do herói sem poderes e sumiu.
Apenas desapareceu.
Ah, claro. Igual Josiley. Ele não estava desaparecendo, apenas se movendo tão rápido que se tornava impossível de acompanhar. Ou melhor, estava fazendo o tempo se mover mais rápido em volta de si mesmo.
O incrível poder do tempo, se fosse usado da forma certa, Josiley seria um dos melhores. Mas o Cavaleiro de Prata sempre o fez acreditar que seu poder era apenas correr rápido.
Mais uma vez, Bruno piscou e o Guardião estava à sua frente. Dessa vez, segurando um cadáver pelo pé e com Amanda no ombro, igual a um saco de batatas. Amanda foi jogada no chão a seguir, sem nenhum respeito.
— Pronto. Acabou a brincadeirinha! — O guardião falou — O garoto e a loirinha perderam seus deuses, portanto estão sem poderes. A morena ainda é bem poderosa, mas não poderia me vencer nem se eu deixasse. — Ele suspirou e continuou — E como eu falei, quero apenas o que é meu de volta.
— O lance de nos deixar vivos ainda está de pé? — Amanda questionou, entre dois gemidos de dor.
— Suas existências são tão ínfimas, que não me preocupa nenhum pouco. — O Guardião estendeu a mão — Me dê o poder e poderá ir.
— Amanda, não… — Catarina tentou parar a última pessoa com poderes ali.
— Se eu não entregar, ele nos mata. Vou confiar na palavra dele. — Amanda imitou o gesto do Guardião.
Um brilho forte foi emitido obrigando todos a fecharem os olhos. Uma risada foi ouvida, deveria ser o Guardião se sentindo feliz em recuperar seu poder aos poucos. Mas isso não importava mais para Bruno.
Ele só queria sobreviver.
Ao abrir os olhos, Bruno percebeu que tudo ao seu redor havia mudado. Pessoas e carros circulavam ao redor, prédios gigantes se destacavam, e o barulho era bem diferente do som de destruição de segundos antes.
Sentindo uma mão tocar seu ombro, Bruno olhou para trás e viu Amanda e Catarina. Ambas estavam com expressões cansadas e cobertas de sujeira. Só então ele reparou que Catarina possuía algumas perfurações pelo corpo, era a primeira vez que Bruno via ela ferida.
— Acabou… — disse Catarina, olhando para seus ferimentos.
— Não. Ainda não acabou! — Amanda retrucou — Mirian e Arlene morreram! Precisamos fazer algo para que a morte delas não tenha sido em vão.
— Acabou para nós. Tudo que fizemos foi em vão. Tudo que vivemos. Todas as mortes… — Bruno reclamou, com o uma mistura de raiva e tristeza em sua voz, depois tirou o excesso de poeira da calça e pôs as mãos nos bolsos — Desde o começo, éramos apenas figurantes nessa guerra, ao menos fizemos nossa parte, perdemos nossos poderes e voltamos para o nosso mundo. Agora é com os outros… os personagens principais.