33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 175
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- Capítulo 175 - Trigésima Quinta Página do Diário – Parte 2
Trigésima Quinta Página do Diário – Parte 2
A visita de Zita tinha me deixado muito abalado. Mas não o suficiente para desistir dos meus planos, é claro, na verdade eu estava ainda mais focado em botar aquele castelo todo à baixo.
Eu sentia que aquilo tudo tinha sido orquestrado por alguém, não era possível que toda a merda estivesse acontecendo ao mesmo tempo por pura coincidência. Não havia forma de me convencer que não tinha ninguém querendo ganhar algo me ferrando.
Faltavam apenas algumas poucas horas para a festa, eu estava ansioso, os outros presos estavam eufóricos, e Bepo me levou um mapa do castelo, feito por ele mesmo. Não era a melhor das plantas baixas, principalmente porque a maior parte foi feito com base no relato de outras pessoas.
Aparentemente, ele conseguiu informações de servos do castelo que estavam chateados por não participarem do banquete de noivado do príncipe herdeiro. Pode parecer burrice querer trabalhar em uma festa tão grande sem ganhar nada a mais, no entanto, como sobrava muita comida, eles poderiam levar as sobras para casa.
Bepo também me informou que apenas os cavaleiros e seus escudeiros ficariam com a segurança dentro do castelo. Guardas sem patente nobre ficariam com a parte da cidade e da muralha.
Obviamente, era para que os nobres participassem das festas enquanto os comuns serviriam de escudo caso alguém resolvesse atacar a cidade durante a festa. Bem pensado, eu admito, só não levaram em consideração a possibilidade de um ataque iniciado de dentro.
E tinha a notícia ruim.
Como eu nunca conseguia fazer nada com cem por cento de vantagem, uns quinze dos trinta e dois heróis haviam confirmado a presença no evento.
— Eles conseguiram enviar convites para todos os heróis em apenas uma semana? — questionei Bepo.
— Uma semana? — Ele me devolveu um olhar estranho — Você está preso aqui tem quase três meses.
Quê?
— Como é? Não, pera… Me explica direito.
— De onde você tirou essa ideia de que tinha sido uma semana? — Bepo coçou o queixo.
— O cara da cela ali comentou que ninguém aguenta uma semana aqui nessa…
— Ah. — Ele sorriu — Essa é a cela especial, chamada de “última parada”. É aqui que os criminosos imperdoáveis são mandados e ficam sem água nem comida até morrerem.
— Belo buraco que me enfiaram…
— E o senhor deve saber que uma pessoa morre em menos de uma semana se não tomar água.
Então era isso.
Eles haviam me condenado à morte, mas não podiam me matar por causa do compromisso de Zita, e ao mesmo tempo, não precisavam garantir a minha vida. Se eu morresse de sede, poderiam apenas dizer que fiz greve de fome e sede ou que morri de alguma doença.
Meus inimigos eram espertos, mas não eram o suficiente. Eles subestimavam duas características especiais minhas: eu não morro fácil e também sou esperto o suficiente para entender o que eles planejavam.
Bepo não demorou muito, já que ele era um dos que não estariam no castelo durante a festa. Era melhor ele não estar mesmo, seria perigoso demais para alguém como ele.
Podia deixar que eu e os outros caras cuidaríamos de tudo.
O único problema era saber a hora certa de atacar. Estávamos no fundo de uma prisão subterrânea onde a luz do sol não alcançava, nem tínhamos relógios. Meio que tinha que ser na sorte, ou poderíamos pôr tudo a perder.
Considerando que o pessoal estava mais preocupado com a festa do que com um bando de criminosos presos em um porão onde a magia era selada, isso me dava mais um por cento de vantagem.
Esperei um tempo, o suficiente para que os servos comuns do castelo saíssem, então destranquei minha cela e me esgueirei pelos corredores da prisão. Não havia guardas no andar inferior, onde eu estava preso, então subi as escadas e vi outro corredor ladeado de celas.
Lá no final tinham dois guardas que conversavam sobre alguma coisa que não me importei em ouvir enquanto avançava em direção a eles. Na penumbra da prisão iluminada por meras tochas, eles nem me viram chegar.
Após nocautear os dois, fui para o próximo andar.
Aquele devia ser o primeiro dos corredores, já que era mais bem iluminado e as celas tinham um mínimo de conforto. Entenda-se por conforto: Um local para deitar/sentar e um espaço reservado para as necessidades pessoais.
Não havia presos, então entendi que era um local para punir algum nobre desobediente. Ver a disparidade como nobres e comuns eram tratados me deu mais ódio ainda.
Para minha sorte, cinco guardas estavam jogando cartas no final do corredor, ou no começo dependendo do ponto de vista, e me viram. Outros poderiam achar ruim ser visto por cinco guardas, mas eu queria bater em alguém.
Sentindo meu corpo totalmente recuperado, eu corri em direção aos cinco. Criei uma manopla com garras em cada mão, já que em um espaço tão apertado não seria útil usar uma espada.
Quando cheguei perto o suficiente para atacar, percebi que eles não haviam se movido. Não… Eu que estava tão rápido que eles nem tiveram tempo de se mover. Parecia até que o tempo tinha parado.
Duas cabeças voaram enquanto eu acertei um dos guardas com um chute no tórax. Em apenas uma investida eu tinha finalizado três inimigos, e os dois que sobraram me olhavam espantados.
Eles nem sabiam o que tinha acontecido. E antes que soubessem, enfiei minhas garras no peito de um deles e, girando no ar, desferi um chute na cara do outro. Três mortos e dois atordoados, mas não por muito tempo. Decapitei as vítimas dos chutes antes que eles pudessem acordar.
É claro que fui esperto o suficiente para roubar as roupas de um dos guardas, preferindo a do que pegou o chute na cara, já que estava limpa. A roupa dos outros sujou de sangue…
Subi o lance de escadas e encontrei um conjunto de grades trancadas. Aquele era o acesso ao castelo, mas é claro que ainda tinha uma distância até chegar ao salão de festas. Pelo menos eu tinha garantido a passagem até a saída.
De lá dava para ver uma janela, bem longe, no final de um longo corredor com paredes de pedras escuras. Pela luminosidade que vinha da janela eu pude concluir que ainda era dia.
Destranquei os portões de ferro e saí. O local dava acesso aos fundos do palácio, onde ficavam os estábulos e pomares. Achei o poço e tomei banho, não queria estar fedendo quando eu fizesse minha entrada triunfal.
Também aproveitei para “ir banheiro”, ou melhor, ir à latrina. O conceito de banheiro nesse mundo é meio estranho.
De banho tomado e vestido com a farda do guarda, fiquei de vigília no portão da masmorra, só por garantia. Quando finalmente a noite caiu, ouvi sons de orquestra vindo de dentro do castelo, aquele era o sinal que eu precisava.
Voltei para dentro e desci as escadas até o último piso. Fui até o final do corredor, onde ficava a última cela. Todos os prisioneiros me encaravam ansiosos, o que me fez sorrir. Usando meu poder, fiz as celas se abrirem e armas aparecerem flutuando no corredor.
Foi um momento de êxtase!
Os prisioneiros saindo de suas celas, pegando as armas e correndo para fora. A algazarra e gritos de ódio. A multidão enfurecida que serviria de distração para o meu momento.
Enquanto eles corriam se espremendo pelos corredores estreitos da prisão, eu caminhava lentamente, com toda calma. Chegando no próximo andar, abri as celas para os prisioneiros que nem sabiam quem era eu.
Quando eles viram as celas abertas e as armas flutuando, não precisei de nenhuma palavra. A multidão enfurecida carregando armas escuras como a noite já tinha passado a mensagem perfeitamente.
Continuei caminhando lentamente atrás dos prisioneiros em fuga, naquela noite eu não tinha pressa alguma. Ao sair novamente da masmorra, percebi que alguns prisioneiros tinham debandado e corrido para os estábulos e estavam tentando roubar os cavalos para fugir.
Sorte deles se conseguissem.
Boa parte dos presos tinha ido em direção ao salão de festas, de onde eu já podia ouvir gritos de pavor e sons de armas colidindo. Era maravilhoso, eu queria estar logo ali no meio de tudo, mas precisava esperar o momento certo.
E qual era esse momento?
Pensei e cheguei a uma conclusão: Eu sempre estive em desvantagem porque saía de uma luta para entrar em outra, então se eu chegasse na porradaria sem estar cansado, poderia peitar qualquer um dos heroizinhos de merda.
Então esperei. E foi muito entediante, eu confesso, mas era necessário.
Quando os sons de luta começaram a diminuir, eu sorri e corri em direção ao salão de festas. Minha chegada não foi percebida por muitas pessoas, já que maioria ali estava tentando fugir. Apenas alguns escudeiros tentaram me atacar.
Pobres almas.
Mandei os escudeiros voando até o outro lado do salão e continuei caminhando com destino à mesa do banquete. Passei no meio dos cavaleiros que destroçavam os prisioneiros como se fossem bonecos de treino e percebi que metade dos fugitivos estavam mortos.
Não me importava com a vida deles mesmo. A maioria era de criminosos, eu apenas os dei a chance de morrer lutando. Quanto aos cavaleiros, seus treinamentos haviam sido bons, mas suas armaduras pesadas não eram páreo para minha velocidade e precisão.
Todos que tentaram me atacar caíram mortos.
Eu já havia me tornado o centro das atenções sem dizer uma palavra que fosse, o que exigia que minha escolha de enunciado fosse boa para causar impacto à primeira vista.
Chegando à mesa, peguei uma coxa de um porco assado e pus em um prato. Sentei-me com toda pompa e educação, e comi. Depois olhei para os convidados que me encaravam assustados lá do outro lado do salão e disse:
— Desculpem chegar atrasados, sabem como é o trânsito. — Enchi uma taça com vinho e ergui, enquanto procurava Zita pelo local — Posso propor um brinde ao casal?