Trupe Elemental - Capítulo 70
A poeira estava abaixando, com praticamente todas as crias da Tuneladora mortas, não havia mais nada que ela pudesse fazer contra o grupo. Mesmo estando em desvantagem numérica, ainda que sozinha, era absurdamente forte, um golpe certeiro poderia matar uma pessoa. Mas algo estava diferente dos demais monstros.
Mary, usando sua magia, evocou um cajado sem um catalisador mágico. No lugar vazio ela pôs o minério que segurava em suas mãos, o que fez o cajado sem imbuído com uma aura carmesim. Ela não perdeu tempo e atacou o grande verme da areia com a arma, desta vez o ataque foi mais do que efetivo, destruindo por completo uma das cabeças do monstro, enquanto as outras duas tentavam contra-atacar.
O restante do grupo queria ajudá-la para que pudessem sair dali o mais rápido possível, já que o lugar aparentava estar colapsando, mesmo assim Mary os repreendia e ordenava que ficassem o mais longe possível, aquela não era a luta deles, apenas dela contra o terrível monstro. Todos queriam ajudar, mas ninguém se atrevia a contrariar ela, e até mesmo pelo fato de já estarem de certa forma, desgastados das pequenas e incontáveis batalhas que tiveram ali. Principalmente John e Tay que batalharam na linha de frente. Eles permaneceram de longe observando como Mary lutava contra aquele monstro enorme com tanta maestria e habilidade, ela era tão poderosa que era quase que impossível acertá-la de longe.
Quando Mary se preparava para lançar outra de suas magias, ela apontou seu cajado energizado pelo minério para a Tuneladora, ela imediatamente reagiu e antecipou as ações de Mary, em segredo ela a atacou com uma habilidade até então desconhecida por ela. Quando Mary percebeu, já era tarde para reagir, ao seu redor, do chão, emergiram milhares de espinhos que convergiram na sua direção, o que ela não esperava era que, John mesmo que de longe assistindo a batalha, havia prestado atenção nas ações da criatura e num piscar de olhos correu e pulou até ela para salvá-la, a tirando do alvo dos espinhos nos últimos segundos do ataque.
— O que você fez, John?! — Disse Mary, irritada por sua interferência.
— Acabei de te salvar, o que mais poderia ser? — Ele respondeu.
A Tuneladora, vendo que sua tentativa de ataque surpresa havia falhado, enfurecida, porém sem alternativas, optou por seu último e desesperado ato, fugir. E assim ela o fez, mas antes, rugiu de uma maneira diferente, na verdade, não era um rugido ou grito, e sim uma habilidade disfarçada. Uma habilidade com capacidades paralisantes e ensurdecedoras. Quando foram atingidos, os ouvidos de todos ao redor da Tuneladora pareciam que iam explodir devido ao barulho, ao menos era o que parecia, Mary não estava sendo afetada por aquele ataque.
— Que barulho é esse… — Todos diziam, tentando se manter de pé.
Olhando de longe, Matt estranhou o porquê de Mary não estar sendo afetada.
Aproveitando a abertura para fugir, a Tuneladora foi recuando e começou a se enterrar no chão. Enquanto John e os outros agonizavam de tanta dor que estavam sofrendo com seus ouvidos, Mary conjurou uma magia em si e na Tuneladora ao mesmo tempo, chamada de Grilhões Infernais por ela, permitia criar uma ligação entre o usuário e o alvo,, fazendo com que nunca se perdessem de fato.
Mesmo com a má situação do grupo, para Mary, aquela era uma chance única, e poderia ser sua última chance de enfrentar de fato a Tuneladora. Ela estava decidida, convicta de suas ações, antes de partir, ela ergueu uma poderosa barreira sobre o grupo para que ficassem salvos dos destroços que caíam e de qualquer monstro que pudesse aparecer na ausência dela.
Sem que os outros percebessem, Mary os deixou e foi atrás da Tuneladora que estava escapando por um grande buraco no chão feito por ela mesmo. Um tempo se passou e quando todos recobraram a consciência do que havia ocorrido, Mary e a Tuneladora já estavam longes, somente eles haviam ficado.
— Ah, escuta só. Eu queria muito entender o por que de toda vez que eu resolvo sair junto com você e aquela lunática sempre acaba em problema! — Matt perguntou.
— E eu também tenho algumas perguntas, mas duvido que você vá conseguir me responder de fato. — Completou.
— É verdade, Matt. Desde que nos conhecemos você continua a fazer as mesmas perguntas sobre a Mary para mim, por que não tenta perguntar para ela invés de mim? Acho que faz mais sentido, não concorda? Eu estou acabado, vamos dar um tempinho por agora. — John respondeu.
— Não faz sentido perguntar para ela. Você mesmo viu! É culpa dela toda essa merda ter acontecido com a gente hoje! Aquele minério brilhante, a minhoca gigante, sei lá o que era aquela coisa! Sempre que a Rosemary está envolvida, pode ter certeza que vem problema pela frente, você sabe disso! — Disse Matt, irritado.
— Ei, ei. Não adianta de nada reclamar agora, já aconteceu, são águas passadas, pelo menos conseguimos vencer, apesar de todas as adversidades. — Tay respondeu.
— Tay tem razão, foi uma batalha feroz, mas no fim conseguimos. Nós lutamos bem, e sobrevivemos, é o que importa agora. — Disse Sarah.
Dentro da barreira, o grupo tirava um pequeno tempo para recuperar suas forças. Os terremotos haviam parado, e não parecia que mais do lugar iria desabar, um pouco mais tranquilos, discutiam o que iriam fazer agora com toda essa reviravolta que havia acontecido com eles.
— E então? Como vai ser? Aquela louca sumiu, deve ter ido atrás daquela coisa. E não, eu me recuso ir atrás dela! Nem a pau que eu vou pular naquele buraco ali. Nem sabemos se ela ainda está viva! — Disse Matt, apontando pro buraco da Tuneladora.
— A barreira ainda está de pé, significa que ela não morreu, ou pelo menos não foi derrotada ainda. Podemos achá-la, mas antes precisamos nos recompor. As Selvas Ardilosas estão praticamente na nossa frente, vamos montar um acampamento lá em cima e depois procurar pela Mary, afinal, sem ela não vamos conseguir avançar na nossa expedição. — Sugeriu Tay.
Após se recuperarem um pouco, o grupo seguiu em frente, subindo e chegando ao final do túnel no Despenhadeiro, aos poucos eles conseguiram ver novamente o céu avermelhado. Estava escurecendo, o Sol ia se pondo, estava para a noite finalmente começar naquele dia agitado.
Saindo do Despenhadeiro, mais a frente estava uma placa meio quebrada e com a escrita apagada, com um desenho de uma caveira dizendo “Selvas Ardilosas” marcando o início do lugar. Eles finalmente haviam chegado no destino, mas ainda faltava chegar até o seu destino principal, o coração da selva. Onde planejam abrir um portal até o Mundo Espiritual.
— Certo pessoal. A noite já vai chegar, todos estão acabados, eu sei. Só aguentem mais um pouco, vamos montar um pequeno acampamento mais a frente, e assim que o dia começar nós partimos para encontrar a Mary. — Disse Tay.
— Hmph, isso considerando que ela esteja aqui, não é? Ela pode muito bem estar ainda lá embaixo, no Despenhadeiro. Aquela… minhoca? Uh, acha que encontramos ela aqui em cima? Hum… — Disse Matt, pensativo.
— Vamos com calma, sim? Por ora, descansemos. — Tay respondeu.
Eles caminharam mais um pouco até chegarem em um lugar mais aberto dentro da selva, era ótimo para um pequeno acampamento, um lugar para a fogueira e para se dormir ao ar livre. Com a ajuda de todos foi fácil arrumar tudo. A noite escura tomou conta daquele céu avermelhado, e a Lua estava alta. Eles se agruparam em volta da fogueira para se esquentarem e desfrutarem um pouco de uma refeição. Todos precisavam estar prontos para o dia seguinte. Enquanto alguns conversavam sobre o que havia acontecido, outros de coisas banais, Matt se aproximou de John e sentou ao seu lado para conversar com ele.
— Escuta, John. Lá atrás, eu percebi uma coisa. Uma coisa bem estranha, acredito que você também tenha percebido. — Disse Matt.
— Huh, está falando da Mary, e de todo aquele comportamento diferente dela? E de como ela não parecia estar sendo afetada por nada daquele monstro? Eu também percebi isso logo de cara, mas não comentei com ninguém na hora. Aliás, Matt, ela estava plena e sabia de tudo que estava acontecendo, parece até que tudo aquilo foi meticulosamente planejado para acontecer… não sei dizer. — John respondeu.
Matt olhou para John com um olhar de entusiasmo e ao mesmo tempo preocupado com o que ele havia dito, e logo disse em seguida o que pensava.
— Tudo bem, agora isso ficou um pouco empolgante, estou interessado. Olha, esse pessoal que tá andando com a gente, faz pouco tempo que nos conhecemos, mas acho que seria melhor compartilhar com eles o que nós dois sabemos da Mary, é bom criar confiança com os outros, deixar a jornada menos tensa! — Disse Matt.
— Ei vocês! Venham cá, eu e John precisamos falar algumas coisas que temos em mente com vocês, é importante. — Disse Matt, chamando o restante do grupo.
Os outros se aproximaram e se sentaram ao longo deles dois na fogueira, tirando do fogo um espeto, Matt deu uma boa mordida na comida e disse: “Podemos começar?”