Trupe Elemental - Capítulo 71
Ao terminar de comer, Matt não perdeu mais tempo e começou a contar alguns fatos sobre Mary para o restante do grupo.
— Bem, como eu devo começar? A Mary é… vocês mesmos viram, ela é uma completa louca, não tem outro jeito de descrever. Quando ela quer alguma coisa, ela consegue, mesmo que isso signifique sacrificar algo em troca. — Disse Matt.
— Aquele monstro, como era mesmo o nome daquilo? — Perguntou.
— O verme da areia gigante? Tuneladora, esse era o nome. — Ryutisuji respondeu.
— É, isso mesmo! Aquele monstro tem algo que ela quer muito. Não me restam dúvidas, visto que até mesmo nos abandonar ela fez! O que eu quero dizer é que, ela tem esse comportamento obsessivo, ela sempre foi assim. — Matt explicou.
— Desde que nos conhecemos, ela tende a fazer coisas absurdas. Não é atoa que ela detém o título de Mestra Elemental. A primeira pessoa a conseguir dominar todos os sete dos nove elementos conhecidos, esse é o semblante que ela carrega. Essa obsessão dela já quase nos custou a vida em jornadas passadas! — Completou.
— Que ela é extremamente poderosa, isso é inegável. Todos estudiosos e entusiastas da energia elemental a conhecem. Na minha época de estudante, eu já ouvia falar sobre ela pelos corredores da academia, ela é como uma lenda viva! Seu legado só se expandiu ainda mais com a derrota do Devorador! — Comentou Jesse, entusiada.
— Não o levem a mal, o que o Matt quis dizer é que, mesmo que ela seja nossa companheira de equipe, temos que ser cautelosos quanto a algumas coisas. A Mary não é uma má pessoa, só tem um comportamento um tanto anormal. — Disse John.
— Heh, como se alguém do nosso antigo grupinho de amigos fosse completamente normal, cada um era louco do seu próprio jeito, hahaha! — Matt respondeu.
— Veja bem, a Mary por exemplo. Ela e o nosso líder ficam a maior parte do tempo no laboratório da nossa antiga base. Conduziam inúmeros experimentos estranhos e malucos lá! Se entrássemos sem permissão deles, era praticamente pedir para ser morto ali mesmo. Se me lembro bem, a última coisa que estavam fazendo juntos era algo sobre aprisionar, hum, acho que era algo assim. — Disse Matt.
— Nas batalhas, ela e John sempre ficavam encarregados de lidar com os inimigos mais problemáticos. Ela também tinha o costume de pegar restos para estudá-los, particularmente eu acho isso bizarro demais. — Completou.
O restante do grupo estava bastante entretido com as explicações de Matt, Ryutisuji e Sarah mal haviam tocado em sua comida, sua concentração estava toda centrada em Matt enquanto ele contava sobre suas experiências.
— Ha… vocês falando assim, parece que nós nos conhecemos há muito tempo. Nem parece que estou tendo uma conversa com lendas vivas. Eu não vou mentir, antes eu tinha uma visão diferente da Trupe. Mas tendo convivido com vocês por algum tempo, eu percebi que não são tão diferentes, haha. — Disse Tay.
— Lendas? Do que está falando? Olha, eu não sei o que as pessoas comentam sobre nós exatamente. Na verdade, eu já até mesmo ouvi alguns rumores e tal. Mas nosso grupo não era tudo isso que dizem por aí, acho que as pessoas exageram na hora de contar nossa história. — Matt respondeu, com a mão atrás da cabeça.
— Matt e John, eu tenho uma perguntinha! Já havia percebido há algum tempo, mas vocês parecem ter alguns problemas internos entre vocês, isso eu incluo a Mary e os outros membros do seu antigo grupo. Se importam de dizer mais? Eu entendo se não quiserem falar sobre isso agora. — Sarah perguntou.
— O John pode fazer isso enquanto eu saboreio minha comida! — Ele disse.
— Huh, claro, por que não? Eu devo vocês afinal. — John respondeu.
— É como o Matt disse. As pessoas acabaram distorcendo um pouco a história do nosso grupo. Eles falam como se fossemos um grupo perfeito, sem nenhum problema aparente, o que na verdade é muito pelo contrário. — Explicou.
— No início éramos apenas mais um grupo de aventureiros qualquer em busca de riqueza, faríamos todo o tipo de comissão pela recompensa certa. Chegamos a ter um pouco de reconhecimento na cidade em que atuavamos, mas nada demais. Afinal éramos um grupo pequeno, não tinha como competir com as grandes guildas, então só pegávamos o trabalho que sobrava. Quando a Mary se juntou para o grupo, nossa reputação deu uma alavancada, quem diria que uma pessoa tão conhecida com ela acabaria por se juntar a um grupo de completos estranhos. — Disse John.
— Bem, nossa reputação continuava a crescer a cada missão bem-sucedida. Com o passar do tempo já não era mais novidade para ninguém. Quer que um trabalho seja feito? Chame a Trupe, não tem erro. Por um tempo ficamos conhecidos por aceitar “Missões de alto risco, alta recompensa” era o que diziam, estávamos pelo dinheiro, não irei mentir. — Completou.
— Hum, eu admito que não sabia sobre essa parte, na verdade só ouvi falar de vocês depois de todos aqueles eventos que o reino promoveu em suas homenagens. Eu só conhecia a Mary por causa da academia. — Jesse comentou.
— Tem razão. Eu também conhecia pouco sobre vocês. Sabe, ser mestre de guilda é complicado, você quase não ouve falar de outras coisas a não ser de comissões chegando, planos com outras guildas e não sei o que mais. — Disse Tay.
— Continuando, já que praticamente ninguém sabia que eu fazia parte do grupo, já naquela época eu podia andar pelas ruas sem que ninguém me incomodasse, diferente do Matt que toda hora era interrompido por alguém pedindo ajuda ou oferecendo algum tipo de trabalho duvidoso. — Disse John.
— Ei! Não era como se eu quisesse ter tido essa fama toda! — Matt respondeu.
— Enfim, eu vejo que hoje em dia, depois de toda a comoção com o Devorador anos atrás, a reputação do nosso grupo só cresceu ainda mais. É como o Tay disse, viramos lendas. Bem, eu não, eles. Todos tentam passar uma visão perfeita de nós, o que não é verdade, por isso estou contando tudo isso para vocês. Não quero que pensem da mesma forma que os outros, tudo bem eles continuarem achando que somos tudo aquilo que dizem, é melhor assim. — John explicou.
— Nós éramos apenas mais um grupo, assim como vocês e sua guilda. Nunca passou pelas nossas cabeças nos tornar “heróis” mas infelizmente foi o que aconteceu. — Completou.
— John, sempre que você ou o Matt começam a falar do passado acabam ficando tristes. Eu sei que deve ser um assunto pesado para vocês, não precisa se forçar a nos contar o que não quer. Há coisas que não precisamos dizer se não quisermos, não se preocupe, não vamos insistir. — Disse Sarah.
— Imaginei que você já havia percebido, muito obrigado, Sarah. É um pouco difícil falar sobre algumas coisas que aconteceram no passado. — John respondeu.
— Se eu pudesse voltar no tempo, faria que nunca tivéssemos aceitado aquela comissão… aquela maldita comissão! — Disse Matt.
— Se não tivéssemos aceitado, os Arquimagos teriam feito algo em nosso lugar, não fique se culpando por algo do passado. — John respondeu.
— Hã? Aqueles velhos gaga? Até parece! Não estão nem aí para o povo, sequer movem um dedo para ajudar a população! Eles só são assim pois tem apoio de ambos os reinos do Norte e do Sul, conselho mágico uma ova, não eram eles que estavam morrendo quando o Devorador atacou. — Disse Matt, furioso.
— Matt, já chega. Não vamos lamentar pelo passado agora. — John respondeu.
Com tudo aquilo dito por John e Matt, a conversa parecia estar encerrada. O tempo havia passado, e com ele o fogo também. A fogueira estava quase apagando, e não havia mais o que jogar no fogo.
— Ahh… parece que está acabando a lenha. Eu vou ver se consigo achar mais para colocar na fogueira. Não se preocupem, não vou muito longe. — Disse Matt, saindo.
Com a saída de Matt para conseguir mais recursos para a fogueira e manter o fogo alto, o restante se preparava para passar a noite que estava ficando mais fria conforme a lua aparecia no céu estrelado.
— É… está bem escuro agora, e parece que a temperatura está baixando. Com certeza vamos precisar aumentar esse fogo! — Tay comentou.
— Ugh… você só percebeu isso agora, velhote? Esse frio vai acabar comigo pela manhã, estou até vendo! É muita vantagem dominar o gelo, não sentir frio parece ser uma habilidade e tanto… — Ryutisuji respondeu, tremendo.
— Hum? Mas eu ainda sinto frio. Porém, bem mais reduzido que você. Não é porque tenho afinidade com o gelo. Você se esqueceu, Ryutisuji? Eu nasci e cresci nas Montanhas Gélidas. Esse friozinho é apenas uma brisa de vento. — Disse Tay.
O grupo preparou um abrigo com o pouco de recurso que tinham, o bastante para passarem apenas uma noite ali, apenas esperavam pelo retorno de Matt com os materiais para aumentar o fogo. Porém nada de seu retorno, ele estava demorando até demais. Algo podia ter acontecido com ele, pensaram.
— Maldição… Ei, Sarah, por favor, peça ao Ignus para aumentar esse fogo para nós, eu estou morrendo de frio aqui! — Disse Ryutisuji.
— É uma opção. Mas convocá-lo requer muita energia elemental, eu posso fazer isso mas não acho que seria uma boa ideia logo agora. — Sarah respondeu.
— Eu vou atrás dele. Vocês ficam aqui e resguardem o acampamento. — John se voluntariou.
— Se algo acontecer… não vou ter como avisar vocês diretamente, mas garanto que vou pensar em algo para vocês ficarem sabendo. Não saiam daqui, eu voltarei. — Disse John, saindo do acampamento.