Trupe Elemental - Capítulo 60
— Antes que diga alguma coisa, eu realmente lhe devolvi suas habilidades, John, acredite em mim! — Disse Mary.— Não só isso, como também despertou algo dentro de mim. — John respondeu.
— Olhe, eu sei que está bravo, mas eu posso explicar! — Disse Mary.
— Então ME DIGA, MARY! Me diga o que fizeste!? Aquelas coisas que saíram do seu grimório, o que eram aquelas coisas Mary?! — Disse John, enfurecido e ao mesmo tempo preocupado.
— Eram… eram as almas das pessoas que você matou. Eu só queria te ajudar, John. Achei que se elas te perdoassem, você também se perdoaria pelo que fez. Achei que estaria te livrando de um fardo, mas acho que só piorei as coisas. — Mary explicou.
— O quê…?! — John sussurrou.
Incrédulo com o que ouviu, John sentiu um frio agonizante em seu corpo, ele se afastou lentamente de Mary e a encarou com uma expressão de alguém que presenciou algo pior que a morte. Fora algo mais pesado do que ele conseguia aguentar naquele momento.
— Por que? Por que fez isso, Mary? — John questionou.
— Sabe que isso é algo extremamente doloroso e complicado para mim, e mesmo assim… mesmo assim você trouxe isso à tona de novo! — Disse John.
— Eu só queria que você voltasse a ser quem era…! — Mary respondeu.
Em um momento de fúria, John segurou Mary pelas golas de sua roupa e a colocou contra a parede. Ela por sua vez, nem tentou resistir.
— Você não sabe… não sabe o quão difícil é tomar uma vida! Eu me lembro do rosto de cada um deles, suas expressões finais antes de partirem… — Disse John.
— Hã? O que é tudo isso, John? Não venha com essas suas “lições de moral”. Você as matou por pura e espontânea vontade… — Mary respondeu.
— NÃO É COMO SE EU QUISESSE TER FEITO ISSO! EU NUNCA QUIS SER UM ASSASSINO, MARY! — Disse John, enfurecido.
— Você nunca entenderia… — John completou, a largando.
John novamente se afasta de Mary e se senta em uma das cadeiras próximas da mesa, colocando suas mãos na cabeça. Mary se levanta do chão, ainda dolorida pela força que John havia a segurado, ela o observa em silêncio.
— As pessoas que você matou… por que fez isso? Eu sei que não as matou sem motivo. — Mary perguntou.
— As vozes. Elas nunca pararam, sempre dizendo para ir atrás deles. Eu os matei achando que as vozes iriam embora, mas nunca foram. — John respondeu.
— Eu nunca matei ninguém inocente. Minhas vítimas, todas eram criminosos, e ainda assim, eram pessoas. — Completou.
— Me desculpe. Eu agi sem pensar nas consequências, não consigo imaginar o quão problemático isso pode ser para você. — Mary respondeu.
— Eu só queria que voltasse a ser o John que conheci um dia. Aquele que todos nós conhecemos, sinto falta daquela época, todos nós sorrindo ao redor da fogueira, sinto falta do calor aconchegante que tínhamos. Nunca quis que o nosso grupo fosse separado da maneira que foi, você sabe disso! — Completou.
— Eu imagino, então por que tudo isso aconteceu conosco? — John perguntou.
Mary então pega uma das cadeiras que estava tombada no chão e se senta do lado oposto na mesa em que John estava, e com uma expressão de culpa em seu rosto ela começa a falar para ele.
— Você pode duvidar do que irei falar agora, e é provável que irá querer confirmar isso com ele invés de mim, mas peço que escute. — Disse Mary.
— Ele me disse que viu você saindo da base no meio da madrugada algumas vezes, de primeira ele ignorou, mas logo depois começou a te vigiar. Isso foi logo depois que os rumores de que um assassino em série estava agindo na cidade, tudo foi ficando mais “claro” para ele. E em uma noite… — Explicava Mary, até ser interrompida.
— E em uma noite ele me seguiu, correto? — John perguntou.
— Isso. Foi assim que ele descobriu que o assassino em série era na verdade você. Ele manteve isso em segredo dos outros, porém acabou me contando. — Disse Mary.
— Hmph. Eu me lembro desse dia, eu já sabia que estava sendo seguido, mas não me importei, contanto que a pessoa não se aproximasse de mais. — John respondeu.
— Ugh… continuando. Quando descobrimos isso, a tensão aumentou entre nós, nossa confiança decaiu, entretanto Matt e ela ainda não sabia disso até o dia em que vocês dois quase se mataram naquela luta sem sentido, eu mesmo achei que teria de intervir, mas você foi completamente derrotado por ele. — Mary explicou.
— Felizmente ou infelizmente, tivemos um pouco de tempo quando soubemos da crise com o Devorador. A princípio nós ignoramos, mas ele insistiu que deveríamos fazer alguma coisa, afinal ninguém estava disposto a lutar contra aquele monstro, a não ser por nós, em nossa maior ignorância. — Disse Mary.
— Heh, está me dizendo que isso tudo foi planejado por você e por ele? Tudo o que a gente passou por causa do Devorador, foi puro egoísmo? Espero que não tenha se esquecido quantas vidas foram perdidas por causa disso, inclusive… — Dizia John.
— Chega. Não consigo mais falar sobre esse assunto! Se quer realmente saber a verdade, vai ter que perguntar diretamente ao Leon! Eu nunca mais quero passar por algo assim novamente, John! — Mary respondeu, com lágrimas em seus olhos.
Ambos ficaram em silêncio por um longo período, olhando um para o outro. Enquanto Mary chorava, John sequer mudou sua expressão.
— Sabe de uma coisa Mary, depois de ouvir tudo isso de você, depois do que fez nesse maldito ritual seu… a minha vontade era de te matar aqui e agora, mas eu não vou fazer isso, e nem sei se iria conseguir. Pois eu ainda te considero uma amiga, e espero poder confiar em você novamente, apesar do que aconteceu. — Disse John.
— Estou indo embora, tudo que aconteceu aqui, tudo que conversamos morreu aqui, espero que mantenha isso em mente, Mary. — Disse John.
— Antes de você ir, preciso te dizer uma coisa. — Disse Mary, segurando sua mão.
— Tenha cuidado a partir de agora. O selo foi desfeito, e provavelmente seu outro eu também tenha se libertado. Não faça nada imprudente. — Mary explicou.
Olhando para Mary sem dizer nada, John a encara por alguns segundos antes de se virar e ir embora do lugar. Seu semblante estava destruído após os acontecimentos daquela noite. O mesmo valia para Mary, que logo após John partir, ficou se questionando se tinha feito a coisa certa por ele e por ela mesma.
Caminhando pelas ruas da cidade, Sylas retorna a aparecer para conversar com John, depois de muito tempo.
— Uush… o que foi aquilo tudo, ein? Vocês dois, deixaram sair tudo mesmo. Foi um bom desabafo, eu diria. — Disse Sylas.
— O que você quer? Você sumiu por todo esse tempo, voltando a aparecer agora e ainda quer me questionar das coisas? Dá um tempo. — John respondeu.
— Não… nada disso. Só fiz um breve comentário. Aliás John, você teve sua maior oportunidade até agora, ficou sozinho com ela, não havia ninguém por perto, por que não a matou? Espero que não tenha se esquecido da nossa causa. — Disse Sylas.
— Você…! Você poderia não falar comigo agora? Eu não estou com cabeça para conversar no momento, outra hora a gente fala sobre isso. — Disse John.
— Hum? Então é assim? Você quem sabe, só não venha até mim mais tarde, dizendo que eu não te avisei. — Sylas respondeu.
Ainda nas ruas da cidade, Sylas ainda permanece, um tanto irritado com a resposta que John lhe deu, e então ele tenta atiçá-lo novamente.
— Até quando pretende continuar com essa sua identidade de bom homem? Lembre-se do que fizeram conosco, eles nos traíram uma vez, o que os impede de fazer novamente? — Disse Sylas.
— Não me esquecerei de quem sou. Eu pretendo confiar neles até o último momento, já não tenho mais nada a perder. — John respondeu.
— Ha ha, sua ignorância vai acabar nos matando, John. — Disse Sylas.
Parando para pensar agora, eu não cheguei a perguntar onde era o lugar que o governador nos disse que poderíamos passar a noite. Não faço ideia como vou resolver esse pequeno empecilho… Dormir aqui fora está fora de cogitação, está muito frio. Também não pretendo retornar para os aposentos da Mary, então o que me resta é voltar para o acampamento dos refugiados, e pela manhã me encontro com eles novamente.
Enquanto John caminhava, pensando ao mesmo tempo, no meio da rua ele avistou uma silhueta de uma pessoa parada. Ao se aproximar, ele percebeu que esta carregava uma espada, idêntica a dele. Naquela hora John entendeu o que estava acontecendo, e no mesmo momento, sacou sua espada.
— O tempo se esvai. — Ela disse.