Sua Alma Amada - Capítulo 7
Tudo acaba voltando para o momento em que Kyron passa pelos guardas, quando novamente faz o sinal de reverência para eles e continua a caminhar na direção contrária a dos quatros vigias.
Os guardas que mais uma vez sobem a escadaria, no entanto, nada aconteceu dessa vez, ao sair da escada, eles vão para o leste e chegam a sala da reitora. Eles então abrem a porta da reitoria e dentro da sala vemos que além da diretora, há outros professores, sendo três no total.
A sala está um pouco diferente, umas vinhas cresceram no meio e formaram uma mesa muito densa e com algumas flores azuis nas laterais. Também é possível ver alguns espíritos de luz sobrevoando aquele local.
— Reitora Flora, é para colocar o caixote em cima dessas vinhas? — diz o chefe dos guardas.
— Pode colocar sim, agradeço o trabalho feito e peço mais uma coisa, gostaria que vocês fossem até o pátio averiguar um relato de uma brisa muito forte.
— Iremos sim, precisará de mais alguma coisa? Quer que deixe alguns de meus homens em guarda na porta da reitoria?
— Grata, porém não vamos precisar não. Creio que se algo acontecer, iremos lidar muito bem muito bem. Ademais, peço que ao sair tranque a porta por favor.
Dois guardas deixam o caixote de madeira, que não possuía muito adorno, apenas um único trinco simples e duas fivelas de couro que auxiliam na hora fechar.
Os vigias abrem a porta da diretoria e saem da sala, quando de repente um professor que parecia ter acabado de correr, aparece bem na frente deles e entra na sala. Com uma respiração ofegante ele passa fazendo o mesmo sinal de reverência.
— Ainda bem que você veio Kyron, creio que a peculiaridade de sua alma será de grande ajuda, visto que não temos tantas magias de selamento.
— Desculpa chegar agora Flora, é que eu tive um probleminha fisiológico e acabei me atrasando. Fico muito feliz em poder ajudar.
No meio da sala vemos aquela vinha, onde estava o caixote e ao redor da vinha é possível ver cinco silhuetas. Duas são conhecidas, sendo elas do Professor Kyron e da reitora Flora, já as outras três, só sabemos que são possíveis professores.
Entre esses três, uma mulher de cabelo vermelho com um rabo de cavalo e que usa uma roupa bem semelhante a do Kyron porém mais feminina e decotada. Já o outro professor tem a maior estatura dentro os cinco e também possui uma musculatura bem avantajada, dispõe de um grande vigor físico, além de ter um cabelo curto e na coloração castanha, o mesmo vestia uma roupa bem diferente da maioria, pois usava uma camisa de manga comprida na cor branca e com alguns detalhes em dourado e azul, porém parecia que ele rasgou a outra manga e o seu braço direito estava pra fora. E por último, um professor que usa a mesma roupa que o kyron e possui um cabelo liso de estatura média, cabelo esse que parece bem cuidado e possui uma coloração verde escuro.
Os cinco em volta daquela mesa provisória, quando de repente, a reitora olha para todos que estão na sala e com um sorriso no rosto pergunta:
— Estão preparados? Quando eu fiz o chamado, eu coloquei para que a grande maioria só ouvisse que precisávamos de alguém para selar. Porém vocês sabem que não foi isso que eu falei, eu chamei vocês quatro e cada um ouviu seu nome respectivamente. Pois eu sei que o trabalho de vocês será necessário. Então peço a colaboração dos mesmos.
— Então vamos lá, não sei o que vamos encontrar dentro desse baú, porém estou sentindo que está mais tranquilo do que eu imaginei e isso me preocupa bastante. — diz a reitora Flora
— Certo Flora, só gostaria de saber em que eu poderia ajudar, visto que meus poderes não parecem ser de grande uso nessa situação. — respondeu a professora de cabelos vermelhos.
— Você sempre é de grande ajuda Lydia, sua alma possui algo muito diferente e muito bonito ao mesmo tempo. Sua alma tem afinidade com o fogo, porém não é um fogo que queima e sim um fogo que purifica. O seu papel aqui será de purificar esses livros, fico muito alegre em ver uma jovem que tem tanta fé.
— Muito Obrigado Flora.
— E aos demais, vou explicando o papel de cada um durante o processo, não podemos perder muito tempo. Pois eu neutralizei aquela mana negativa usando alguns pólens, porém pelo tempo eles já devem ter sido consumidos e pode acontecer daquela mana voltar a se dissipar.
— Vamos lá, eu pedi para o Arion fazer essa mesa usando algumas vinhas, para que a magia não tocasse o chão e que se necessário fosse, a mana negativa seria transportada pelo floema e viraria açúcar. Graças ao trabalho impecável do Arion, podemos começar os trabalhos.
A reitora fecha os olhos e seu semblante muda. Ela então coloca uma de suas mãos na frente de um de seus olhos e outra vez mais vemos aquele símbolo aparecendo em sua mão. Com sua outra mão, ela fica fazendo um movimento circular e termina dando um pequeno sopro na direção da caixa.
Nesse mesmo instante, nos é mostrado o lado externo na academia e podemos ver que aquela imensa árvore está liberando uma magia muito intensa. Os espíritos que estavam vagando por perto, começam ser puxados para dentro da árvore, no tronco, surge um símbolo semelhante ao que está na mão da Flora.
As folhas das árvores começam a se movimentar rapidamente, gerando uma brisa que vai se juntando até formar um túnel de vento. Esse túnel vai se condensando em um funil. e dentro dele é possível ver que o vento está em uma rotação muito alta e que cada segundo que passa essa rotação aumenta.
Esse funil vai ganhando tamanho ao mesmo tempo que vai cercando toda academia, dentro do funil também vemos alguns pólens que estão girando em uma velocidade totalmente diferente, pois parece que há uma força interna que os aproxima.
Em questão de segundos, um círculo feito de ar e pólen rodeia a academia. Ele vai aumentando gradativamente até cercar toda a academia e formar um domo de ar.
Logo em seguida ela distancia um pouco sua mão, que estava tampando seu olho, e conseguimos ver que o símbolo ainda continua desenhado.
— Potiphar abra esse caixote, Kyron e Arion fiquem atentos para agir.
O professor de grande musculatura vai em direção ao caixote, ele cria uma pequena camada de mana em suas mãos e retira as duas fivelas. Com muito cuidado ele vai abrindo aquele caixote, de dentro do caixote sai uma fumaça verde que é mais pesada que o ar e vai se dissipando no chão.
O Arion joga duas sementes em direção à fumaça e sem falar nenhuma palavra, toda aquela fumaça vai sendo puxada para dentro das sementes e antes mesmo de cair, elas mudam de formato e se tornam duas bolas de carne que pulsam.
Nesse mesmo momento podemos ver o Kyron com seus olhos fechados e seus lábios estão se movendo bem lentamente. Porém não é possível identificar oque ele está falando.
— Demorei para fazer a pele de mana e acabou que essa coisa chegou a encostar na minha pele, agora estou sentindo como se tivesse algo queimando. Que sensação estranha, minha pele está se repuxando e meus mastócitos estão sendo ativados. Então tomem cuidado, pois se não tivesse ativado minha mana, não sei o que seria de mim. — Potifha termina sua análise enquanto coça todo seu corpo.
Devido a semente, a caixa já não possui mais nenhuma fumaça. Dentro dela há dez livros de capa preta. O Potifha se afasta da caixa e continua a se coçar.
Flora chega perto e percebe que alguns pólens ainda estão ali, ela acha muito estranho pois com todo esse tempo já era para aquela magia ter os consumido. Ela pega um dos pólens e coloca sobre o símbolo que está em sua mão, quando de repente todos os pólens começam a brilhar, porém é algo que apenas ela consegue ver. Entretanto, para seu espanto, a mão de Kyron começa a brilhar.
A feição da Flora muda rapidamente, uma mistura de raiva e tristeza surgem em seu rosto. Ela assopra o pólen que está em sua mão, fazendo com que todos na sala caiam no sono, ficando acordado apenas a Flora e o Kyron que ainda está com seus olhos fechados.
Flora vai na direção de Kyron e encosta em seu ombro, no momento que ela o toca, o cenário começa a mudar. Os dois vão para uma sala branca, vazia e onde não podemos ver nada além da cor branca, embarcamos na visão de flora e vemos o professor Kyron que está parado em sua frente.
Porém sua íris está na coloração branca, sua pupila numa coloração dourada e com dois ponteiros saindo dela, uma numeração em romano aparece na parte externa de sua íris. Agora seus olhos se assemelham a um relógio.
— Kyron, o que está acontecendo? Por que sua mão está suja de pólen?
Kyron? Porque seu olho está assim? Aonde estamos?
Enquanto isso, uma lágrima percorre o rosto de Kyron, sem expressar nenhum sentimento ele pisca duas vezes.
— Kyron me responda, eu te acolhi neste lugar e confio muito em você, porém não estou entendendo o que está acontecendo.
— Me desculpa Flora, porém isso está fora de seu entendimento. Um dia você vai entender tudo, pois não se pode esconder nada do tempo, ele vê, ele escuta e ele revela tudo.
Ao fundo é possível ouvir um barulho de porta batendo e novamente o som de gaita ecoa, porém todos os sons estão meio abafados e muito distantes para os dois.
De repente voltamos para a reitoria, vemos os três professores caídos no chão e aquela fumaça verde que tinha cessado, volta como se fosse mágica.
Kyron abre seus olhos e logo em seguida vai em direção à flora. Com seu dedo indicador ele encosta na testa dela. Depois ele vai em direção ao caixote e coloca suas mãos dentro.
— FLORA !! A magia está saindo de controle, por favor acorde. — Grita o Kyron de forma desesperada.
Os olhos da reitora vão abrindo aos poucos, ela então vê a cena dos três professores caídos no chão, uma fumaça verde que sai da caixa e cobre todo o chão da sala.
Impactada com a cena ela se escora na sua mesa principal e começa a pensar no que fazer.
— Flora eu vou tentar usar minha magia para impedir que a fumaça continue aumentando. Tente fazer algo para acordar os outros.
— Irei fazer sim, creio que as plantas que o Arion usou podem servir novamente. Só quero saber o que está acontecendo, pois a última coisa que lembro é de encostar no caixote e depois disso tudo ficou Branco.
— Eu também não sei o que aconteceu, quando você falou para ficarmos atentos, comecei a conjurar um feitiço e quando abro meus olhos vejo que eles estão caídos, você está parada e a sala sendo inundada por essa fumaça verde.
Ela percebe que eles estão caídos no chão devido a uma magia que ela mesmo usou. Sem entender muita coisa, ela apenas desfaz sua magia e eles começam a levantar.
— Kyron, cuidado, pois essa fumaça pode estar causando algum tipo de reação alérgica que está ativando nossas habilidades. — No momento que ela termina de falar, ela percebe que todos os presentes naquela sala estão cobertos por uma fina camada de mana branca.