Sua Alma Amada - Capítulo 5
— Estou bem, só fiquei mal por você, aliás, por toda aquela cena feita pelo seu irmão. Lacer nunca aprende né? Ahhh e pode ficar tranquilo tá, que eu sei que você é uma pessoa maravilhosa. E outra coisa, você poderia me fazer um favor? Não me chama de Clarice não, é que eu mudei faz um tempo e agora sou conhecida como Clara.
— Muito obrigado pelo apoio, é que como você sabe, ele nunca me aceitou do jeito que eu sou. Sobre o seu nome, pode deixar que vou te chamar de Clara.
— Então, o que vocês dois estão fazendo aqui? Precisam de ajuda em algo?
— Bom eu e meu amigo Zac, estamos querendo saber um pouco mais sobre as aulas extracurriculares. Ele está meio perdido, acaba que tudo é meio novo para ele.
— Prazer Zac, me chamo Clara. Seja muito bem recebido na nossa academia, achei um pouco estranho como você surgir hoje no meio do nada. Ainda mais porque não tinha te visto, não lembro de você nas apresentações feitas no dia de ontem e nem nas atividades de hoje pela manhã.
— Pode deixar eu fui bem recebido, podemos falar que seu irmão fez isso muito bem. E sobre a apresentação eu falei com Dionísio que não queria perder tempo.
Dioniso dá um tapa no ombro de Zac.
— Então Clara, o Zac, ele é meio novo em Urano e não conhece o país muito bem. Ele está na academia por recomendação minha, ele faltou ontem e falei para ele que se fosse necessário ia atrás dele.
— Tudo certo, ainda bem que ontem foi só apresentação e hoje pela manhã só teve um café entre os alunos. Você não perdeu muita coisa não,eu só não entendi a questão do meu irmão te receber, como assim?
— Não é nada não, Clara, é que encontramos seu irmão e podemos dizer que ele foi tão receptivo que entramos de cabeça na academia.
Zac bufa e balança a cabeça negativamente.
— Ahhh sim, fico mais aliviada então. Vocês estão precisando de ajuda na questão das aulas extracurriculares, certo? Creio que eu posso acompanhar vocês, pois todas as salas ficam no mesmo corredor.
Dionísio olha para Clarice e com um olhar singelo fala:
— Não queremos te atrapalhar não, se você tiver uma folha com todos os cursos ou até mesmo nos dizer onde ficam as salas, já seria de grande ajuda.
— Vocês não atrapalham, esse é meu papel como presidente e, aliás, eu já estava indo para lá mesmo.
Clara antes de fechar a porta, olha para dentro da sala.
— Arthur, por favor cuide de tudo enquanto eu não estiver.
Uma voz de dentro da sala do conselho responde dizendo:
— Pode deixar Clara, farei o possível sem a sua ilustre presença.
Eles saem da sala do conselho e passam novamente pelo pátio. Zac fica encantado olhando para uma moça de cabelo preto que estava dançando junto com alguns espíritos de luz, Clara olha para Zac e comenta.
— Encantador não é? Desde criança eu sou fascinada por eles, tanto que busquei todas as formas que tinha para aprender e me aprofundar mais sobre.
— Eu lembro Clari… Desculpa Clara, você sempre falava que eles se comunicavam com você e desde criança você ficava brincando com eles.
— Verdade, até hoje não consegui identificar o que eles falam, porém creio que um dia vou conseguir.
Zac olhando para aquela menina de cabelo preto, pergunta para clara:
— Eu sempre vi essas bolinhas brancas voando e nunca entendi muito bem o que eles são, seria um tipo de fada?
Clara aponta para a árvore e diz :
— Sabe aquela árvore? Todo organismo vivo possui uma alma, essa alma está em conflito entre o bem e mal, e esses espíritos são resultados de uma alma que tem como vencedor o bem. Eles são pequenas almas que ficam vagando e que na sua grande maioria vivem em volta do seu local original. Porém muitos acham que é apenas uma bolinha branca voando.
— Me desculpa, agora consigo compreender melhor o que elas são. A propósito, pode deixar que não vou mais chamar de bolinhas brancas que voam.
— Agradeço Zac.
Dionísio fica com um pouco de ciúmes por causa da aproximação de Clarice com Zac.
Zac acaba ficando um pouco mais para trás, enquanto os outros dois que estão mais na frente. Ele então lembra que há muito tempo atrás, na árvore central da praça de Uranos, já ouviu uma bola branca chamando-o de Zac. Essa lembrança o deixa um pouco confuso, porém guarda esse pensamento para si.
Eles chegam ao corredor que estava ao leste do pátio e Clara faz um movimento com suas mãos mostrando que haviam chegado.
— Esse é o corredor dos cursos que vocês vão fazer, é aqui que vocês vão fazer suas atividades
— Até que não é tão longe né? — diz Dio olhando para Clarice, enquanto aguarda uma resposta.
— Essa primeira sala aqui, que está à nossa direita é a sala do teatro.
As portas desse corredor são feitas da madeira de acácia, uma madeira bem clara e numa tonalidade branca quase amarelada. Cada porta possui uma placa feita de ouro, e nelas há uma inscrição que diz qual atividade é feita, também possui um pequeno quadrado na parte superior da porta, que é feito de um vidro laminado e que reflete pouquíssima luz.
Zac bota cara para ver o que tem dentro da sala e se entristece ao ver absolutamente nada.
Pobre Zac, esqueceu que as aulas tinham acabado de começar. Quem manda ser tão desatento.
Zac então bota a mão em seu rosto e com um olhar de deboche diz:
— Para que fazer aula de teatro? Não somos futuros guerreiros? Precisa ter DRT ( conhecido pela sigla DRT, originário da Delegacia Regional de Trabalho, o documento é uma espécie de registro profissional, o que significa que a pessoa está capacitada e tem autorização legal para trabalhar como ator profissional.) para virar guerreiro?
Clara suspira e com um olhar de incredulidade responde:
— Não precisa de DRT não Zac, porém é sempre bom estarmos preparados para todas as situações, quando você atua você incorpora diversos personagens e isso te ajuda a encarar missões difíceis.
Dio dá um tapa na cabeça do Zac e sussurra: — Você é muito mané, pede para levar fora.
— Desculpe o meu amigo, pode por gentileza continuar?
— Continuando, a próxima sala é de dança — ela então olha para o Zac — Mais alguma pergunta?
Ele olha com ar de desaprovação e continua andando sem os dois.
Clarice diz para Dio que nas aulas de dança eles criam flexibilidade, o que acaba ajudando na movimentação e muitos até assemelham a luta como um tipo de dança. Porém é mais usado por guerreiros do tipo físico.
Eles chegam na sala de música, Dio abre um pequeno sorriso, que em questão de segundos dá lugar a um olhar triste e desolado.
Clara, aponta para sala e diz:
— Essa é a sala de música, e é uma boa para melhorar as aptidões de pessoas que usam instrumentos musicais na batalha, como por exemplo o bardo, né Dio?
Ele ri sem graça e movimenta sua cabeça fazendo um sinal de afirmação.
Zac vai andando na frente e começa a se distanciar dos outros dois, quando de repente ele sente algo diferente vindo de uma das salas
Dio pergunta para Clara:
— Tem algo sobre cozinhar Clara, tipo uma aula de culinária? Aprender a fazer bolo e essas coisas.
— Sim, é logo ali na frente. Perto da Biblioteca, é bem naquela sala ali — ela faz usa seu dedo indicador para apontar a sala.
— Eu fiquei bastante curiosa Dio, me explica o porquê da culinária? Pensei que por ser um bardo, você faria aulas de música para melhorar ainda mais.
— É porque estou meio enjoado da música e eu soube que é possível fazer alimentos que recuperam saúde ou até mesmo buffam aqueles que comem. Passei um bom tempo estudando sobre uvas e posso até me arriscar a fazer iguarias com elas.
Clarice fica surpresa, porém ao mesmo tempo ela sente que tem algo que ele não quer contar, mesmo respeitando a opção do Dionísio, ela não entende a escolha de seu amigo.
— Estranho Dio, porém quando estiver fazendo as suas iguarias vou querer também.
— Pode deixar Clara, você será a primeira a experimentar.
— Vamos continuar? Falando nisso, cadê o seu amigo?
— Verdade, ele sumiu — Dionísio olha para o corredor e percebe que seu amigo está viajando enquanto olha as salas — Ele está lá na frente, qualquer coisa pode me falar que passo para ele.
Mas a frente, Zac começa a ouvir um barulho de um coração batendo muito forte em seu ouvido. O barulho vem de uma porta ao lado da biblioteca, então ele decide se aproximar da sala, porém quanto mais se aproxima mais alto o som vai ficando.
Levado pelo pulsar do coração, sua mente começa seguir as batidas, seu coração começa a bombear muito mais sangue, seu corpo acelera e sua respiração fica ofegante. Tudo isso devido a quantidade de sangue que o seu pulmão está recebendo.
Sua visão começa a latejar, ficando meio turva, sua mão começa transpirar e ele grita no meio do corredor dizendo:
— O QUE TEM NAQUELA SALA?
Dionísio e Clara assustados não conseguem entender o que estava acontecendo.
— Zac, porque está gritando, o que está acontec… Antes mesmo de Dionísio terminar a frase, Zac grita novamente.
— O QUE TEM ALI DENTRO?
Clara em choque olha para Zac.
— Dentro dessa sala estão alguns livros que foram retirados da biblioteca, ninguém os usa e por isso foram separados e colocados nessa sala. Por favor Zac se acalme, são apenas livros velhos e que não possuem valor algum dentro deles.
Dionísio fica meio desconfortável com toda aquela cena.
Zac vai se aproximando e o som que outrora era só um barulho em seus ouvidos, agora se torna um ruído ensurdecedor em sua cabeça. Ele prende sua respiração, tentando aliviar um pouco. Calmamente, ele puxa o ar pela boca e solta pelo nariz.
Enquanto isso Dionísio preocupado se aproxima do Zac, ainda assustado ele tenta acalmar seu amigo.
— Zac, o que houve, eu nunca te vi assim antes. Você está conseguindo me ouvir? Sou eu Dionísio, Zac? Zac?
Zac não consegue ouvir nada, sua visão vai ficando cada vez mais turva, ele consegue alcançar a maçaneta da porta e se apoiar por alguns segundos nela. Seu corpo se encontra desorientado e o barulho ensurdecedor continua em sua cabeça. Ele gira a maçaneta e consegue abrir a porta.
Na sua frente há um armário de madeira bem velho e que destoa de todo ambiente, o som em sua cabeça diminui, porém ele consegue sentir que o coração está dentro daquela local. Com suas mãos trêmulas, ele usa toda sua força para abrir a porta de madeira que guarda os livros. Logo em seguida, ele coloca sua mão em um dos 10 livros que estão guardados naquele recipiente.
Ao abrir o livro, ele observa que as páginas que antes estavam vazias começam a ser escritas. Zac demora alguns segundos para entender a escrita e automaticamente começa a assimilar, antes o que eram apenas desenhos e formas aleatórias, começam a fazer sentido em sua cabeça.