Se Eu Pudesse Fazer um Pedido - Capítulo 1
Depois de passar uma noite acordado, Satoru é incomodado pelo sol alaranjado vindo da janela. Ele acorda em sua cabeceira com um papel colado em seu rosto. Não se incomoda e decide levantar.
Com os olhos cheios de remela e ainda meio tonto, observa seu quarto, um quarto um tanto bagunçado. Algumas latas, o cobertor no chão e alguns papéis. Nada que uma meia hora de faxina não resolva.
— Hmm…que dia é hoje? — procura o calendário, e o acha debaixo da mesa — ok dia 9, 10 ,11 e… 12/06/2015… AAA! Hoje é dia 12!
Ele vê a data, pula da sua cadeira e corre pra fora do quarto, no corredor tromba em sua irmã.
— Ei! Presta atenção maltrapilho! — ela derruba alguns cadernos.
— Da um tempo Hikaru eu tô atraso! — ele praticamente se joga no banheiro
Lá ele toma um banho, passa perfume até enjoar, penteia o cabelo de trinta maneiras diferentes, escova os dentes, checa a gravata várias e várias vezes. E pronto, um belo exemplar de um adolescente de 16 anos perfumado e arrumado para mais um perfeito dia de aula. Finalmente radiante ele desce as escadas até a cozinha. Sua irmã está preparando algo na frigideira.
— Bom dia! — ela o encara sem entender
— Bateu a cabeça na privada foi? — ela coloca ovos mexidos em dois pratos
— Não é nada, só sinto que hoje o dia vai ser marcante! — pega um dos pratos
— A é? Marcante vai ser meu chinelo na sua cara se você me derrubar de novo — seus olhos parecem emanar ódio
— Err… acho que estou satisfeito estou indo! — ele corre com medo da aurea dela
— Ei, não se esqueça de alugar o filme que vamos assistir hoje! — ela grita, mas parece que ele não escuta.
Faltando apenas vinte e três minutos para sua aula, caminha calmamente na rua até uma avenida bem enfeitada, cheia de cores e muitos rostos felizes, preocupados e alguns poucos tristes. Vira à esquerda do lado oposto da sua escola para se encontrar com seu grupo de amigos.
Ele os vê os quatro ao lado de um poste…
— Eae galera — cumprimenta cada um com uma batida de mãos
— Então Satoru hoje finalmente vai sair da seca? — Ryan bate em suas costas
— Sair da seca? O Satoru não pega ninguém desde o fundamental, oque ele tem é pior que seca — Kevin ajeita os óculos enquanto zoa Satoru
— Ah! Deixem de conversa e vamos logo — eles começam a andar
— Mas agora é sério Satoru, vai se declarar para sua garota misteriosa hoje afinal? — Eric joga os braços em cima de Satoru
— ele desvia o olhar — Não sei… talvez, um grande talvez!
— Assim que eu gosto! — Dylan bate em seu braço
— A droga, vamos logo já está quase na hora — todos começam a rir
Caminham por alguns minutos e já estão na escola, conversam por um tempo e vão para sala de aula.
— Vocês me zoaram tanto, mas vão passar o dia dos namorados sozinhos também — Satoru fala e todos desviam o olhar — oque? Sério? Todos vocês arranjaram namoradas?
— Bom… eu vou sair com uma garota hoje — Dylan coça a cabeça
— Irei estudar depois da escola na casa de uma garota mais tarde — Kevin pega um lápis
— É eu queria falar também, estou namorando com uma garota faz uns dias — Eric pega o celular e mostra a garota.
— Eu tenho um encontro às cegas hoje a noite — Ryan se senta em uma das cadeiras.
— Então eu o solteirão do milênio ficarei mais esse dia dos namorados sozinho? — Satoru bate a cabeça na parede, essa situação só o faz ter mais certeza do que pretende fazer hoje.
— Muito bem alunos da classe 2-C todos sentados — o professor chega
Se passam duas aulas e o sinal do intervalo toca, Satoru e seus amigos vão até o pátio ao ar-livre para comerem seus lanches como fazem diariamente.
— Vocês conseguiram fazer a última questão? — Ryan pergunta
— Nem… não consegui fazer nem a primeira — diz Dylan
— Claro que não consegui-o, acha que ficar secando as garotas da nota? — diz Kevin com um tom esnobe ajeitando os óculos
— E você Satoru fez quantas? — Eric pergunta e é ignorado completamente
Satoru sem perceber observa a presidenta do conselho estudantil , uma das garotas mais bonitas da escola, todos gostariam de namorar com ela, mas ninguém nunca conseguiu se declarar. Ela caminha deslumbrante no pátio com suas serv… quer dizer amigas, que a acompanham feitas cachorros abandonados.
Além de ser a mais popular, a presidenta do conselho, a garota com os pais mais ricos do estado, também é a paixão de Satoru.
— Depois eu que seco as garotas né? — Dylan bate na cabeça de Satoru
— An? Sobre oque estávamos falando? — Responde confuso
— Cara desiste, ela é inalcançável — aconselhou Eric
— É eu sei… eu sei… — Satoru vai abaixando seu tom
Aulas se passam e Satoru não para de pensar no que Eric disse. Ela realmente é inalcançável? Apesar de não nos falarmos muito, nos conhecemos desde o sexto ano. Talvez isso me dê alguns pontos com ela, certo?
Quando percebe já está tocando o sinal de fim de aula, todos se arrumam sobrando apenas Satoru que ainda está vagando em seus pensamentos. Ele arruma suas coisas e vai embora, quando está no portão da escola vê a presidenta indo para atrás da casa ferramentas da escola.
— Estranho, todos já não deviam ter saído — uma lâmpada acende em sua cabeça — será? Agora seria o momento perfeito não é? Sim, é agora ou nunca
Satoru caminha devagar até os fundos, Emiko Kaneko a presidenta, está sentada em um tronco com a cabeça encostada na parede. Pelo jeito a vida de famosa cansa.
— Arrr… oi Emiko… podemos conversar? — Satoru fala e ela leva um susto
— Nossa, claro — se levanta — sobre oque quer falar?
— Na verdade estou com isso engasgado na garganta faz algum tempo — ela claramente não sabe oque esta acontecendo — eu e você nos conhecemos desde o sexto anos certo? — ela acena com a cabeça e Satoru começa a tremer — então… desde aquela época eu te admiro… e bom não podia passar mais tempo sem te perguntar uma coisa…
— oque? — ela vira cabeça parecendo a garota mais fofa do mundo!
— Você quer namorar comigo?! — Satoru grita bem alto, se a escola estivesse cheia todos ouviriam em alto e bom tom.
— ela pensa um pouco — Me desculpe, mas eu realmente ando muito ocupada esses dias, e infelizmente não estou interessada no momento — ela diz com uma voz tão pacífica que Satoru nem se sente triste.
— A.. entend… — ele é cortado
— Isso é oque a falsa Emiko diria — seu semblante muda completamente.
— Oque? — Satoru não consegue entender
— Agora falarei oque a Emiko de verdade realmente sente — Satoru engole seco e ela joga sua bolsa no chão — oque eu realmente sinto por você é… NOJO! Desde que te conheci no sexto ano te odeio! Por algum motivo você não parava de me olhar! Sempre quieto no seu canto como um pervertido mirim! — ela segura Satoru pela gravata — Um plebeu abandonado pelos pais quer vir a mim! A rainha dessa escola! Você não passa de um escrúpulo da natureza! Só de estar perto de você sinto que serei infectada por essa sua áurea de pervertido!
Satoru recebe todas aquelas palavras em choque, nunca em sua vida acharia que a bela e gentil Emiko achava isso tudo dele. Ele não consegue entender então se solta das mãos dela e corre o mais rápido que pode, chega a trombar em algumas garotas que estavam no caminho e enquanto corre escuta um enorme grito de Emiko.
Com lágrimas nos olhos procura milhares de motivos para aquilo ter acontecido, ele agora só quer ficar sozinho em algum lugar calmo que não o lembre o dia dos namorados, se lembra do seu lugar favorito, a floresta.
Corre tão rápido esbarrando nas pessoas que em minutos já está na ponta da floresta, sem pensar duas vez corre pra lá, não consegue nem mais enxergar direito oque está na sua frente então tropeça em um galho e cai em um lamaçal.
Insistente rasteja até uma árvore, lá encosta sua cabeça e chora por horas, quando finalmente suas lágrimas se esgotam, os céus a substituem com uma chuva gentil em cima dele.
Quase sem conseguir abrir os olhos, abre sua mochila a procura do celular que liga apenas por 5 segundos e desliga por causa que está encharcado, Nesse meio tempo ele consegue ver somente o horário.
— Já são 10h00 horas? — com dificuldade se levanta
Rastejando o corpo caminha bem devagar e em vinte minutos consegue chegar na cidade, lá observa bem devagar cada uma das decorações, se impressiona como uma coisa que significava muito pra ele agora podia ser apenas alguns papéis preto e branco.
Finalmente quase clamando por ajuda chega em sua rua, o vento gelado tenta derrubá-lo, se mantém firme caminhando devagar até sua casa. Por algum motivo infeliz ele volta a enxergar as cores, mas somente duas, vermelho e azul…
— Oque esta acontecendo? — ele observa uma multidão
Vendo ambulâncias e carros da polícia apressa os passos quando vê que é na frente de sua casa começa a correr.
— Ei Satoru não entre! — uma vizinha tenta o impedir.
— Satoru pula a fita e a polícia tenta barrá-lo — Eu moro ali! — empurra os braços dos policiais que não insistem em segura-lo
Os vizinhos gritam para Satoru se afastar, mas são simplesmente ignorados, ele procura por algo e encontra um par de lonas bem no meio da rua, a elevação nelas o deixa perturbado, caminha tão devagar em direção a menor que seus lábios começam a tremer.
Com a pequena lona em seus pés se abaixa bem devagar, todos os seus movimentos são lentos e trêmulos. Então arranja coragem e retira à lona, naquele exato momento o tempo parou, todas as cores desapareceram deixando apenas um vermelho mais forte que os da sirene da policia. Ali se arrependeu de não ter lágrimas suficientes, ali o sentimento pior que a morte se estabeleceu em seu coração. O sentimento de perda.
Dois dias se passaram e o enterro de sua irmã foi realizado, nesse tempo nem pensou em voltar para casa, ficou em um quarto na casa de sua avó sem falar com ninguém.
Já há dois dias sem comer sai do quarto, seu semblante está totalmente diferente…
— Vou dar uma saída — Satoru diz a sua avó que está sentada no sofá
— Meu neto tem certeza? — ela pergunta
— Se eu não avisar a escola terei problemas — Nem a deixa responder e já sai
Caminha na rua fria com um moletom e uma calça jeans bem devagar. Em alguns minutos já está na escola, todos estão no meio da segunda aula. Faltando apenas dois corredores para diretoria, o sinal do intervalo toca e em segundos os corredores estão cheios de alunos.
Mas algo não está certo, por algum motivo todas as garotas estão o encarando, olhares de nojo, repulsa, como se o quisesse morto, enquanto os garotos estão totalmente enfurecidos, alguns até tentam ir para cima de Satoru, mas seus amigos o seguravam. Sem entender, começa a correr enquanto é vaiado por uma chuva de xingamentos.
— O que está fazendo aqui?! — um grita
— Morra seu nojento! — uma garota no canto grita.
Ele sofre xingamentos até a porta da diretora onde entra rapidamente…
— O que está acontecendo?! — a diretora o adverte por causa do jeito brusco que entrou. — ah você… achei que viria mesmo.
— Satoru não entende — Você soube?
— É o’que todos os alunos andam comentando, não é mesmo? — ela aponta para cadeira
— Satoru se senta — Ah certo… eu só queria avisar porque não queria problemas com os professores.
— Tudo bem, já que não há provas você só precisa pedir desculpas e estará tudo resolvido — ela coloca os cotovelos sobre a mesa.
— Espera oque? Sobre oque você está falando? — indignado levanta
— Sobre a Emiko é claro. — ela se levanta também
— Emiko? oque ela tem haver com a morte da minha irmã!? — pergunta
— Sua irmã? Estamos falando sobre a denúncia da Emiko. — ela se senta
— Oque? Que denúncia? Eu vim aqui só para avisar que ficaria um tempo sem vir à escola — ele se assusta com a cara da diretora
— Você realmente não sabe? — ela ajeita os óculos
— Acho que dá pra perceber não!? — inquieto se senta
— Bom… dois dias atrás Emiko veio até minha sala acompanhada com algumas alunas dizendo que sofreu uma tentativa de estupro — deu para ver claramente no rosto de Satoru que ele desconhecia daquilo.
— Você só pode estar de brincadeira né!? — ele bate suas mãos na mesa e a diretora não move um músculo.
— Como disse é só pedir desculpas que estará tudo resolvido — ela se levanta e vai até a porta — agora não é o momento ideal para discutirmos isso, tenho que fazer uma apresentação na quadra, volte amanhã com seus pais para ver oque faremos — ela se retira
— O… que? — desacreditado ele se levanta e sai.
Sem conseguir acreditar, Satoru caminha pelos corredores agora vazios, simplesmente não quer acreditar que isso realmente está acontecendo. No portão da escola da uma ultima olhada pra escola.
— Não tem nada que eu possa fazer? — se pergunta em pensamentos.
Paralisado no portão, se lembra do que a diretora disse, hoje acontecerá um comunicado aos alunos para explicar sobre o próximo trimestre. Não posso deixar isso impune, ele pensa.
Então rapidamente corre até a quadra e escondido pelos fundos observa a diretora explicando as coisas. Sem pensar duas vezes pula no palco e arranca o microfone da diretora…
— Escuta aqui sua vaca da Emiko! Acha mesmo que vai espalhar um boato desses e eu não vou saber!? Eu quero que você saiba que pagará muito caro por isso! — Na mesma hora que vê Satoru, Emiko finge estar com medo e se esconde atrás das amigas, Dylan e Kevin evitam contato visual com Satoru enquanto Eric e Ryan pedem pra ele sair do palco. Enfurecido joga o microfone no chão, o mesmo se quebra em vários pedaços.
— Saia daqui agora Satoru! Você está expulso! — a diretora enfurecida o manda embora.
Sem rodeio ele sai correndo, seus dentes rangem de tanta raiva que está naquele momento, ele xinga a diretora e Emiko até a sua rua. Na frente de sua casa revive várias e várias vezes a cena. Quando recupera a consciência vai até a porta, fica na dúvida se deve entrar, e com as mãos trêmulas coloca a chave e entra.
Na porta retira seus sapatos, por reflexo quase avisa que chegou. Com a cabeça doendo de tanta raiva vai pegar um copo d’água na cozinha, abre a porta da geladeira e quando retira a garrafa bate em um prato com um papel com algo escrito.
— Oque é isso? — ele se abaixa e pega o papel para ver oque esta escrito
“Satoru, sai para procurá-lo, se chegar me liga! Obs: E não coma todo o pudim!”
Ao ler Satoru fica com as pernas trêmulas e cai no chão chorando rios de lágrimas…
— Realmente Hikaru… foi um dia marcante… — Suas lágrimas caem e marcam o papel até encharcá-lo…
“Se eu pudesse fazer um pedido.
Pediria para voltar”