Se Eu Pudesse Fazer um Pedido - Capítulo 0
Primeiro. Um coração partido.
A sensação pior que a morte que me fez correr tanto que quando percebi já havia saído da escola, na rua olhares de dó se perguntando o motivo das minhas lágrimas. Casais apaixonados em encontros que ficarão em suas memórias até em seus túmulos. Corações, cartazes, anúncios e perfumes por todos os lados.
O dia dos namorados que até alguns minutos atrás poderia se tornar o melhor dia da minha vida. O dia em que um pedaço de mim poderia ser colado novamente em meu coração.
Diferente do que eu esperava, o contrário aconteceu. Ao invés de colar a parte que me faltava, destruíram o restante que tinha, sobrando apenas um pequeno e deformado pedacinho. A alegria absurda que me deixaria com sorriso no rosto por mais de uma semana não veio, e sim uma tristeza que me fazia sentir vontade de arrancar meu coração para fora, uma tristeza tão grande que me fez pensar que nunca iria acabar, assim eu me deparei com um vazio tão profundo que se eu me jogasse nunca conseguiria subir novamente.
Segundo. O cheiro da chuva.
Corri tanto que cheguei à floresta. Queria correr mais, mas quando percebi estava caído no chão com o corpo sujo de terra. Rastejo até uma árvore, nunca achei algo tão acolhedor antes igual a isso.
Quando finalmente parei de chorar, minhas lágrimas foram substituídas pela chuva que agora está caindo do céu. Da terra saía um cheiro forte inconfundível, quando uma memória é marcante sempre vai existir algo que pode desencadeá-las mais tarde, com alguns acontece com cores, sons, até sabores e outros com um simples perfume de uma flor pode-se cair um rio de lágrimas.
Olhando pra cima nada além de pequenas gotas de água acertando meu rosto como balas gentis.
Terceiro. Se eu pudesse fazer um pedido.
Cansado e destruído caminho agora no escuro. Espero o apoio de alguém, mas apenas ganhei um sussurro do vento me dizendo para desistir.
Sinto cheiro de rosas das ruas enfeitadas, achei que enxergaria cores fortes, mas só recebo cores vazias que me dão medo, as cores que infelizmente voltam azuis e vermelhas, mas porque?
Ergo a cabeça e minha vista embaçada vê que minha rua que deveria estar vazia, pois está muito tarde agora está lotada. Um acidente? Uma briga? Um motim? Ou um assassinato?
Me aproximo e é na frente da minha casa, corro em um ritmo devagar mas o mais rápido que posso. Um corpo! Meus lábios começaram a tremer, uma força que não vem de mim me faz pular a fita da polícia que até alguns segundos atrás me protegia do pior sentimento, da minha pior memória, o motivo que faria cair no maior desespero que um ser humano conseguiria suportar.
Eu retiro a lona enquanto ouço os gritos das pessoas dizendo pra eu não fazer isso, esses mesmos gritos, para mim, não passam de sussurros que me incomodam, finalmente o cheiro, o cheiro que nunca mais esqueceria, o cheiro que me faria ficar noites chorando, o cheiro que me daria o pior sentimento humano, o cheiro do sangue nas pétalas de rosas.
Rosas que agora estavam vermelhas, um vermelho tão intenso quanto o da sirene, um vermelho que eu passaria a odiar, um vermelho que era sua cor favorita agora se tornou o seu fim.
Naquele instante, o tempo parou para mim, todos à minha volta simplesmente sumiram me deixando sozinho naquela escuridão, sentia que aquilo era apenas um pesadelo, e na verdade era, só que esse pesado virou minha realidade.
“Se eu pudesse fazer um pedido.
Pediria memórias”