O Monarca do Céu - Capítulo 261
Companheiro de viagem.
Brighid, envolta por roupas pesadas de inverno, caminhou cautelosamente pela neve que cobria a rua deserta. Seu rosto estava quase completamente oculto por um capuz que lhe sombreava a testa, enquanto um cachecol envolvia seu nariz e boca, protegendo-a do vento gélido.
A taverna, iluminada por um tênue brilho de velas, parecia um oásis em meio ao frio implacável.
A taverna em questão era um lugar escuro e sujo, cheio de fumaça e cheiro de bebida alcoólica. As mesas estavam rachadas e os bancos estavam em mau estado, com partes faltando ou com as pernas quebradas.
A iluminação era precária, com algumas velas tremeluzindo em suportes de ferro presos às paredes de pedra.
Havia vários bêbados espalhados pelo local, com olhares vazios e desfocados, muitos deles com os rostos enrugados e sujos, exibindo uma expressão de derrota e miséria.
Alguns deles cambaleavam pelos corredores, rindo alto ou falando sozinhos. O taverneiro estava atrás do balcão, com um avental sujo e uma expressão cansada.
— Oi… — Brighid foi até a bancada. — Pode me dar algumas informações?
Com a carranca carregada, ele olhou os olhos de Brighid, pegou um copo, escarrou nele e começou a limpá-lo com o pano que antes estava em seu ombro.
— Depende, você tem dinheiro? — Ela enfiou a mão no bolso da calça, apoiando duas moedas de bronze no balcão. — Certo, o que quer saber?
— Para que lado fica o Anoitecer Florido?
Ele parou imediatamente de limpar o copo.
— Pegue suas moedas e dê o fora daqui.
— Es-espera, por qu-
— Quer que eu te coloque para fora?
Brighid imediatamente apoiou a mão sobre as moedas, devolvendo-as ao bolso. Ajeitou a mochila no ombro e deixou a taverna.
Sempre que falava sobre o Anoitecer florido, a recepção era a mesma. Todos eles pareciam conhecer, mas ninguém queria se envolver.
Visitou ao menos sete tavernas, e nenhum dos taverneiros estava disposto a falar.
Ela estava começando a se perguntar se Elhad havia a enganado.
[…]
Não tardou para que Brighid chegasse a outro vilarejo, um vilarejo que chamava atenção por seu estado peculiar. Todas as vilas que visitou estavam em bom estado, mas aquela parecia ter sido atacada recentemente.
As casas estavam em ruínas, muitas delas com telhados desabados e paredes quebradas.
Os poucos moradores que ainda permaneciam ali viviam em meio aos escombros, tentando sobreviver em um lugar que havia se tornado horrível.
As ruas estavam vazias, exceto pelos poucos moradores que se arrastavam por ali, parecendo ter perdido toda a esperança.
Havia uma sensação de desolação e desespero no ar, como se a vila tivesse sido abandonada pelos Deuses.
A taverna da vila era um dos poucos lugares que ainda estava aberto.
No entanto, era um lugar decrépito e malcuidado, cheio de bêbados com olhares vazios.
O ar era espesso com o cheiro de fumaça e álcool. As mesas estavam sujas e as paredes estavam cobertas de teias de aranha e mofo.
Brighid sentou-se no banco da bancada, apoiou duas moedas de bronze e disse:
— Preciso de informações sobre o Anoitecer Florido.
— Dê o fora daqui!
“Outra vez?”
— Senhor, só quero saber ond-
— Já disse para você sair!
Brighid ficou quieta por alguns segundos, ponderando nas próximas palavras que iriam sair da sua boca.
— Poderia me dar seu melhor vinho?
O taverneiro a escarrou de cima a baixo. Apanhou um dos copos, abriu um dos vinhos da adega atrás dele e o encheu até o topo.
Ela tirou o cachecol da boca e levou a taça até os lábios, sentindo o aroma suave da bebida.
Brighid inclinou a cabeça para trás e permitiu que o vinho escorresse pela garganta, sentindo seu sabor delicioso se espalhar por sua boca.
Seus olhos se fecharam momentaneamente, apreciando a textura suave e o sabor adocicado.
Quando abriu novamente os olhos, ela soltou um suspiro e colocou o copo vazio na mesa, sentindo o leve calor da bebida descendo por seu corpo.
Desde que descobriu que estava grávida, ela não havia bebido nada assim.
O sabor adocicado do vinho transportou-a de volta para os tempos em que ela e Colin frequentavam festas juntos. A sensação de calor que se espalhou pelo seu corpo também trouxe à tona lembranças de momentos íntimos a dois, e um sorriso inesperado se formou em seus lábios.
— Senhorita! — Ela virou para o lado, vendo um garoto a encarando enquanto devorava um prato com um pouco de arroz e pato assado. — Tudo bem com a senhorita?
— Sim… — Estranhou o garoto se aproximando tão inesperadamente. — E você?
Ele assentiu com um sorriso.
— Quer um pouco de pato assado? Senhor Alden já fez melhores, mas é o bastante para me deixar satisfeito.
Brighid continuou sem entender nada.
— Ah! Esqueci de me apresentar, sou Eden Zahar, muito prazer!
— Brighid…
— É um nome diferente, gostei! — Ele levou um pedaço do pato a boca. — Tem algum significado?
— Sim… — Ela não queria continuar uma conversa com um estranho. — O que você quer?
O garoto parou de comer e ergueu as sobrancelhas.
— Bem… não é comum mulheres beberem sozinhas, então… achei que precisava conversar com alguém…
Ela assentiu.
— Entendi. Não devia estar com seus pais ao invés de estar em uma taverna?
Os olhos dele entristeceram, mas seu sorriso não se desfez.
— Eles estão morando com os Deuses agora.
— … sinto muito…
— Tudo bem! — Abanou uma das mãos. — Está indo para Runyra? — Apontou com o queixo para a mochila nas costas dela. — É uma viajante, né? Buscar Runyra se tornou bem comum. Há caravanas inteiras que prometem te levar até lá, mas é um caminho tortuoso. Há várias facções de bandidos que ocupam as fronteiras, só para pegar esses viajantes que querem uma vida melhor.
“Então é isso… Elhad deve ter me mandado buscar o Anoitecer Florido para que eu tivesse uma viagem segura, mas é difícil demais encontrá-los.”
— Sim! — Brighid assentiu com um sorriso. — Estou indo para Runyra. Sabe de alguma caravana até lá?
Eden ergueu as sobrancelhas.
— Depois de tudo que eu disse, a senhorita ainda quer ir até lá?
— Sei me cuidar.
Ele mastigou o último pedaço de pato.
— Posso acompanhá-la? — Desviou o olhar. — Be-Bem… estou atrás de uma pessoa… como todo mundo está indo para lá, então é comum que ela esteja lá, né? E não precisa se preocupar, sei usar magia! — Ele abaixou a voz. — Árvore do vácuo nível 5!
Brighid fingiu surpresa.
— Você é forte para uma criança — disse ela. — Por que não se juntou a algum exército? Iria ganhar bastante dinheiro.
— Be-Bem… não me dou bem com soldados… — um sorriso simpático desabrochou em seu rosto cheio de vida. — Minha especialidade mesmo é com a comida! Se a senhorita me deixar acompanhá-la, não vai passar fome, eu prometo! E-e-e eu sei o caminho até a fronteira, já estive lá antes uns meses atrás — ele crispou os dedos, fazendo garras com as mãos. — A senhorita não vai acreditar, mas apareceram dois dragões no céu! Eles estavam brigando, foi assustador!
Ela meneou a cabeça. Usando a análise avaliou o garoto Eden. Ele não estava mentindo, sua Árvore primária do vácuo era realmente nível cinco e tinha cerca de 38 pontos em força.
Não era grande coisa, mas era o suficiente para que ele não a atrasasse.
— Tudo bem, pode vir comigo.
Eden assentiu com empolgação.
— A senhorita não vai se arrepender, gosta de ouvir histórias? Tenho um monte!
Brighid continuou ouvindo o garoto por longos minutos. Ele a fez lembrar de si mesma quando conheceu Colin e Safira. Ficou tanto tempo sem conversar com alguém que quando encontrou companhia ficou falando por horas a fio.
Não repreenderia o garoto, apenas o deixaria se expressar da maneira que achasse melhor.
Seria uma longa viagem.
[…]
De cima de uma árvore, escondido entre os galhos, um garoto ruivo trajava uma capa escura que parecia flutuar com o açoite do vento que farfalhava as árvores.
Ataduras cobriam seu nariz, boca e seu braço esquerdo que estava apoiado no arco em suas costas.
Era um arco magnífico, adornado com belos entalhes de ouro e prata. O arco parecia ter sido feito à mão, o arqueiro tomou cuidado e deu a devida atenção aos detalhes.
Ao lado dele estava uma Pandoriana cabra.
A garota cabra possuía olhos grandes e expressivos, com pupilas verticais semelhantes às dos felinos.
Seus chifres curvavam-se suavemente para trás, adornados com enfeites de metal. O rosto e o corpo eram uma combinação de traços humanos e animais, com pele clara e pelos suaves nas orelhas. Seu cabelo era escuro e longo, passando das nádegas.
Ela usava uma túnica escura, amarrada na cintura por um cinto de couro.
Em sua mão, ela segurava um cajado longo, que parecia ser feito de madeira e adornado com pedras brilhantes.
— Me-Mestre Kurth, não vamos atacar? — indagou a garota com uma voz doce.
— Ainda não, Silvana.
À sua frente, um grupo de fanáticos enlouquecidos realizava um ritual de sacrifício, seus gritos ecoando pelo local e o cântico gutural percorria parte daquela densa floresta.
Em cima de um altar de pedra, uma mulher estava prestes a ter sua garganta cortada por um dos cultistas vestindo túnicas escuras, misturando-se ao breu da noite.
— Me-Mestre!
— Eu sei!
Os dedos habilidosos de Kurth seguravam o arco com firmeza, enquanto o braço esquerdo, também coberto por ataduras, sustentava a tensão da corda.
Uma flecha de vácuo formou-se.
Era como se o próprio ar desse a forma da flecha.
Zium!
Das árvores, a flecha foi em direção à garota. Antes de atingi-la, a flecha pareceu expandir-se criando a forma de uma redoma de ar entorno da mulher no altar.
Apavorados, os cultistas começaram a olhar em todas as direções e prepararam tanto suas armas quanto suas magias.
— Quem está aí? — berrou um dos cultistas. — Apareça, covarde!
— Silvana, agora!
Mexendo o cajado em forma circular, a pandoriana sussurrou algumas palavras em uma língua antiga.
O céu escureceu ainda mais e um círculo mágico de luz brilhante começou a se formar, abrindo um portal no ar.
Uma energia mágica pulsava e girava em torno do círculo, enquanto os cultistas na floresta olhavam para o céu, tão confusos quanto temerosos.
De repente, uma gigantesca bola de fogo desceu do portal, explodindo no centro do grupo de cultistas.
Boom!
A explosão foi tão forte que as árvores em volta tremiam e se quebravam, lançando galhos e folhas para todos os lados.
A bola de fogo se dissipou lentamente, revelando o cenário de destruição que ela havia causado.
Os cultistas, agora em chamas e gritando de dor, tentavam escapar da cena. O cheiro de queimado e a fumaça preta se misturavam no ar enquanto a floresta começava a pegar fogo.
A mulher no altar continuava bem, a redoma de vácuo de Kurth a protegeu.
Confusa, ela olhou ao redor, vendo tudo queimar, desviou o olhar e viu um garoto ruivo coberto por uma capa escura. Ainda presa, começou a agitar-se pensando ser outro cultista.
Bam!
Kurth a golpeou no ombro, fazendo-a desmaiar. Colocou a garota nos ombros, concentrou mana abaixo dos pés e a pressão do ar o jogou para longe, bem na árvore onde estava.
— Certo, Silvana, vamos voltar antes que mais cultistas apareçam!