O Monarca do Céu - Capítulo 13
Árvores e o outro plano.
Tanto Colin quanto Safira treinaram por dias a fio com o mínimo de descanso possível.
Mataram tantos lobos, panteras e ursos que seus atributos subiram consideravelmente.
O corpo de ambos havia atingido a excelência para pessoas que não eram, sequer, grau um em suas Árvores Primárias.
O processo de fadiga e recuperação constante havia dado alguns músculos para os dois, principalmente para Colin que estava com um corpo bem atlético.
Safira até mesmo parecia ter crescido alguns centímetros e seu cabelo estava maior, passando dos ombros.
Eles estavam dentro de uma choupana completamente deserta.
Não havia nem mesmo um único móvel para servir de decoração.
A Fada havia dito que seus corpos já haviam atingido o limite para o nível atual deles.
Agora era hora de prepararem suas mentes para atingirem finalmente o primeiro nível de suas Árvores Primárias.
Colin e Safira aguardavam sentados no canto enquanto Brighid desenhava seu círculo mágico manualmente, usando as mãos e um giz.
Depois de quase uma hora a Fada suspirou. — Terminei! — disse ela limpando o suor da testa. — Agora é torcer para que eu não tenha errado nada!
— E se tiver errado? — indagou Colin. — O que acontece?
— O corpo de vocês será destruído.
Era chocante ouvir aquilo, mas ambos confiavam 100% em Brighid.
Talvez por ela ter passado uma credibilidade absurda nos últimos dias, e mesmo enxergando-o como ferramenta, Colin tinha a absoluta ciência que ela era necessária para sua evolução naquele mundo.
Mesmo sabendo dos riscos, Colin deu de ombros.
— O que a gente está esperando? — disse ele erguendo-se.
Safira ainda estava um pouco receosa, mas se Colin confiava em Brighid, então ela também confiava.
A fada se sentou no centro do círculo e juntou a palma das mãos. Colin se sentou na parte sul e Safira na parte norte.
— Façam a posição de lótus! — disse a fada.
— O que exatamente faremos aqui? — perguntou Colin após fazer a posição de lótus.
— Bem, vocês têm ligações com suas Árvores Primárias, mas a semente de suas árvores ainda não germinou. O que farei aqui é como se eu regasse as sementes de vocês. Basicamente, alcançaremos o nível um desta forma. Normalmente isso precisa de um perfeito alinhamento de constelações para funcionar, mas o círculo mágico que fiz vai “forçar” isso, criando um alinhamento falso de constelações dentro deste círculo.
Colin engoliu em seco.
Brighid era mais que uma mera fada ou até mesmo uma ferramenta. Ele não entendia muito bem tudo aquilo, mas ele entendeu que Brighid era uma enciclopédia viva, afinal, aquele ser minúsculo tinha mais de 1300 anos.
— Prestem atenção! — disse Brighid em um tom sério. — O que acontecerá depois é com vocês. Provavelmente encontrarão com a essência das divindades que regem suas árvores, e se tiverem sorte, elas presentearão vocês com habilidades especiais valiosas, que poderão ser usadas conforme vocês sobem de nível em suas árvores. Vamos nessa!
Os dois aprendizes engoliram em seco, quase como se estivessem engolindo uma pedra. Aquele processo era forçado, porém, valioso o bastante para tirarem algum proveito disso.
Safira estava apavorada, já que a essência que ela detinha era uma das 7 essências especiais dos Caídos. Ela não tinha ideia do que tinha do outro lado.
O chão começou a brilhar em uma forte luz branca que os cegou, iluminando toda aquela choupana.
Brighid estava de olhos fechados e com as mãos juntas. As veias saltavam de sua testa e ela suava demasiadamente.
Mesmo sendo experiente, aquele processo exigia muito dela.
Tudo em volta do círculo parecia girar como se estivessem dentro de um tornado galáctico. Viam estrelas, planetas, constelações, galáxias, tudo se envolvendo em um redemoinho de eventos.
Até mesmo Colin sentia uma enorme pressão por seu corpo, como se estivesse pouco a pouco afogando no oceano.
Por um momento, tudo ficou preto e uma pequena luz surgiu na frente de Colin. Ao se dar conta, ele não estava mais na presença de Safira, muito menos na de Brighid.
Ele estava sozinho na escuridão que era timidamente iluminada por um orbe de luz a sua frente.
Colin estava ofegante, e suava como se tivesse corrido uma maratona. Ele se ergueu lentamente e caminhou até aquela pequena luz. Atraído pela luz como se fosse uma mariposa, ergueu o braço tocando-a.
Assim que piscou os olhos, tudo ao seu redor pareceu se transformar.
Ele estava no centro de um jardim com diversas espécies de plantas diferentes, e a sua frente, estava uma árvore azul que crescia até onde os olhos de Colin podiam chegar.
“Isso… é foda pra caralho!”.
A árvore estava repleta de runas que pareciam brilhar neon, um neon azul que a cercava por completo. Erguendo a mão, Colin tocou no tronco da árvore, e se sentiu como se viajasse na velocidade da luz.
[…]
Safira se encontrava dentro de um mar de fogo.
Tudo queimava ao redor dela e vulcões entravam em erupção ao longe. Ela não sentia calor naquele lugar, sentia um tremendo bem-estar num misto de sensações prazerosas que ela nunca sentiu antes.
Frente a ela estava uma enorme árvore vermelha onde o topo queimava como uma colossal pira.
A árvore parecia chamar-lhe, sussurrando o seu nome.
Safira caminhou lentamente em direção a árvore e um sorriso caricato cínico se abriu naquele rosto gentil.
Ao tocar a árvore, ela se sentiu viajando na velocidade da luz.
Tanto Colin quanto Safira abriram os olhos de imediato, encarando aquela choupana e Brighid que ainda estava na frente de ambos, concentrada e com o nariz sangrando.
O círculo mágico parecia inconstante, então Brighid tossiu sangue, fazendo o círculo parar de brilhar por um instante.
Booom!
Tudo explodiu de uma única vez, jogando todos os três para longe.
Foi como se tivesse detonado dinamite naquele local.
As casas próximas foram abaladas e todo o vilarejo havia acordado com o barulho e o tremor sem precedentes.
Colin havia sido lançado metros de distância, quase desaparecendo no mato.
Ao se erguer, percebeu que todo seu corpo estava envolto por faíscas azuis. Suas roupas haviam sido destruídas e ele encarou a choupana em que estava, agora em chamas.
“Brighid!”
Ele se ergueu, mas não conseguiu se mover. Ao erguer a cabeça, observou todo aquele fogo se extinguir rapidamente, como se tivesse sido sugado por algo. Quando se deu conta, observou Safira com a mão erguida, fazendo o fogo ser sugado pelo círculo mágico na palma de sua mão.
Esforçando-se mais que o normal, Colin caminhou em passos lentos, quase arrastados para perto de Safira, observando-a com algum tipo de admiração e temor.
Olhou para o lado e viu a Fada deitada respirando pesado e com o nariz e boca sangrando.
— Fada! — berrou Colin se jogando no chão para perto de Brighid. — Que merda fada, o que aconteceu?
Ela não conseguia falar, parecia engasgada com o próprio sangue.
Pela primeira vez naquele mundo, Colin ficou desesperado. Safira estava logo atrás de Colin. A garota estava tão desesperada quanto.
— Fada! Que merda! O que posso fazer para te ajudar?
Brighid ergueu o braço para que Colin se afastasse, então, ela pareceu desenhar pequenas runas na testa com seu próprio sangue.
As feridas de Brighid começaram a desaparecer e ela se sentou, tossindo abruptamente, quase como se quisesse cuspir um rim.
Depois de quase um minuto, ela começou a respirar normalmente.
— Que caras são essas? — perguntou a Fada mantendo um sorriso de canto de boca enquanto suava frio. — Estou bem, mas e vocês, como estão?
Colin olhou para trás encarando Safira. Ele sentia um poder absurdo emanar da garota, um poder mais forte do que o que ele tinha. Mesmo não sabendo magia, ela conseguiu fazer com o que todo aquele fogo desaparecesse em um instante.
“Melhor ficar de olho na pirralha.” Pensou Colin.
— A gente tá bem… — respondeu ele. — Mas o que aconteceu aqui?
Brighid coçou a nuca e deu um sorriso envergonhado.
— Subestimei vocês… não pensei que a magia de vocês fosse tão latente assim. Ninguém nunca forçou o despertar de duas árvores diferentes em simultâneo… e acredito que ninguém nunca forçou o despertar de um Caído, né?
— O que significa isso, senhor Elfo? — perguntou o ancião junto aos aldeões que seguravam enxadas e machados.
Colin se ergueu, pondo-se na frente de Brighid e Safira.
— Estávamos treinando e algo saiu do controle, mas já foi resolvido.
— Já foi resolvido? — perguntou o ancião furioso. — Olhe ao redor!
Não havia baixas, mas havia alguns feridos.
Pessoas ajudavam outras a saírem debaixo das madeiras, pais ajudavam filhos e as crianças ajudavam os idosos.
Colin franziu o sobrolho.
Ele punia quem merecia, mas aquelas pessoas não mereceram isso. Mesmo estando ali por um serviço, havia limites que até ele mesmo se recusava a ultrapassar.
Colin curvou seu corpo.
— Sinto muito por isso… assumo total responsabilidade do que aconteceu aqui.
As pessoas diriam algo se tivessem coragem, no mais, elas apenas encararam os três aventureiros com repulsa. Brighid se sentiu culpada, se ela não tivesse fraquejado, nada disso teria acontecido.
— Colin, eu sinto-
— Não foi culpa sua. Quem aceitou o contrato do demônio fui eu. Se tiver que culpar algo ou alguém, culpe a mim.
— Senhor Elfo… o povo está cansado de sofrer, espero que o que aconteceu aqui não seja em vão — disse o ancião.
— Não será, mataremos o seu demônio, eu prometo.
Faltava dois dias para o confronto contra o demônio.
O que lhes restava agora era o treino de combate mesclando o uso básico de suas árvores.
O tempo não era favorável, e eles teriam que dar o melhor de si com o pouco que tinham.