O Monarca do Céu - Capítulo 12
Treinamento.
Debaixo do sol fraco da manhã, Colin aguardava suas companheiras próximo ao pasto esverdeado onde uma leve brisa soprava serena. Seu cabelo longo e bagunçado que ia até seu ombro balançava frente a seus olhos enquanto ele fixava seu olhar na relva agitada pelo vento.
Muitas coisas passavam por sua cabeça no momento, mas a principal era que ele estava em paz, pelo menos por hora. Olhou para trás e viu pessoas ajeitando cavalos para buscar suprimentos na vila mais próxima. As crianças ajudavam as mães a estender roupas no varal e alguns velhos ligavam a forja para trabalhar em suas espadas.
— Ahh! — Safira bocejou enquanto coçava o olho.
Brighid estava logo atrás, voejando na altura de Safira.
— Por que acordar tão cedo? — perguntou Brighid com a voz sonolenta.
Colin cruzou os braços e esperou as duas se aproximarem.
Ele não fazia ideia de como seria o treinamento, mas ele aconteceria de uma forma ou de outra.
Com um olhar firme, ele encarou Safira e ela retribuiu com aquele olhar tímido de sempre.
Ela estava curvada e seus indicadores iam ao encontro do outro cadenciadamente. Seus joelhos quase estavam se encontrando e ela não conseguia encarar Colin por muito tempo sem desviar o olhar.
— Safira! — chamou Colin aproximando-se para perto dela. — Me dê um soco.
Aquilo foi um pedido inesperado, até mesmo a fada ficou confusa.
— E-Eu?
— Tem outra Safira aqui?
— Não…
— Então ande logo com isso. — Colin se abaixou e virou o rosto, deixando-o a mostra.
Receosa, Safira mexeu timidamente em seus dedos e engoliu o seco.
Ela ameaçou caminhar para perto de Colin, mas seu pé direito recuou.
Colin havia entendido que ela não agiria se não fosse pressionada. Erguendo-se, ele encarou Safira com desdém.
Ela não poderia ser útil se continuasse sendo uma garota com medo da própria sombra.
— Fada! — chamou Colin. — Você consegue aumentar nossos atributos físicos através da sua magia?
Ela fez que sim.
— Consigo aumentar temporariamente, mas no estado atual de vocês, seus corpos seriam destruídos. Primeiro, precisam fortalecer seus corpos e depois suas mentes para só assim suportarem o incremento de atributos realizados por euzinha aqui.
— E se algum de nós acabar ferido, você conseguiria nos curar, certo?
Ela fez que sim novamente.
— Consigo, Colinzinho.
Colin balançou a cabeça em concordância. Cerrou um dos punhos e de surpresa socou Safira no rosto com tudo.
Bam!
A garota fora jogada para trás, caindo toda destrambelhada na grama.
Os aldeões observaram aquilo horrorizados. Eles já julgavam que Colin era um monstro, mas bater em uma criança daquele jeito era demais, ainda por cima na frente de todo mundo.
— Ei! — chamou uma mulher de feições robustas. — O que pensa que está fazendo batendo nessa criança?
Colin apontou o indicador para a mulher que se aproximava em fúria.
— Melhor ficar fora disso, ou você será a próxima!
— Onde está seu cavalheirismo? — perguntou um dos homens ao longe. — Bater em uma mulher desse jeito, só podia ser um Elfo, um verdadeiro covarde!
Colin esboçou um sorriso de canto e encarou o homem que estava quase escondido dentro de sua casa.
— Quer vir apanhar no lugar dela? — perguntou Colin em tom de deboche.
O homem engoliu em seco e deu alguns passos para trás, indo para dentro de sua casa.
— Pois é! — disse Colin. — Foi o que pensei. Vocês querem o demônio morto, certo? O próximo que der palpite sobre meus métodos ou como trato minhas companheiras será o próximo a ter todos os dentes da boca arrancados.
A mulher cerrou os dentes, mas parou de se mover. O homem assustado fechou a porta de sua casa e passou a chave na fechadura. As palavras de Colin soaram ameaçadoras o suficiente para que ninguém ousasse interferir.
Até mesmo Brighid ficou assustada.
Ela o viu agir com brutalidade nos últimos dias, mas bater em Safira daquele jeito a pegou de surpresa.
Colin se aproximou de Safira e a encarou no chão. Ela estava mordendo o lábio inferior, segurando o choro enquanto seu nariz sangrava.
— Ei! — disse Brighid. — Tenha modos, não se trata uma dama assim, sabia?
— Eu não preciso de uma dama — respondeu Colin. — Preciso de uma guerreira. Se Safira quer ser uma dama e ser tratada como uma, então é melhor seguir seu próprio caminho longe de mim. Ela só seria um fardo. Não posso correr o risco de seus poderes se manifestarem novamente em uma situação complicada, matando a mim e você, Fada, e isso pode acontecer se ela continuar essa fedelha fraca — Colin olhou no fundo dos olhos de Safira. — É isso que você quer?
Safira engoliu o choro e se ergueu, ainda mordendo o lábio.
Colin estava começando a moldar sua mente para enxergar suas companheiras somente como ferramentas, e aquele soco foi só o começo, mas ele queria que elas fossem ferramentas úteis para que ele usasse quando bem entender. Então, para se salvar e salvar Safira, ele a lapidaria para se tornar a ferramenta forte que ele queria que ela fosse.
— Agora, repito, me dê um soco! — disse Colin se agachando e deixando seu rosto a mostra.
Safira cerrou os punhos com força e correu até Colin atingindo seu rosto. Aquele soco que ela recebeu a deixou com raiva. Seus passos ficaram mais rápidos e ela socou Colin no rosto com toda sua força.
Bam!
Colin não sentiu absolutamente nada.
Safira se afastou lentamente, enquanto tremia de medo de Colin reagir, mas ela continuou com os punhos erguidos frente ao rosto, se preparando para lutar.
Vendo-a tremer feito um cão assustado, Colin se sentiu um pouco culpado de tê-la socado antes. Ele se ergueu e coçou a nuca depois de um suspiro.
— Olha, eu não tenho muita noção de briga, mas vou te ensinar o básico, então vamos lá.
— Ei! — chamou Brighid — Isso é claramente uma desvantagem, você não pode enfrentar ela assim! Você é muito mais forte, afinal, você é um usuário da Árvore da Pujança, isso significa que você é naturalmente mais forte que outras pessoas, é mais forte até mesmo entre os magos mais experientes que usam magias de incrementos físicos.
— Então o que sugere? — Colin cruzou os braços.
Brighid sorriu de orelha a orelha, ela estava esperando por essa pergunta.
— Primeiro, vocês precisam sim treinar, mas com exercícios físicos. Só assim despertarão o primeiro nível de suas árvores primárias. Mesclaremos isso com treinos de combate diários e vocês poderão notar a diferença. Ao final do dia caçaremos animais selvagens para que vocês ganhem experiência.
Colin franziu o cenho e encarou Brighid, que portava sua pose confiante de sempre.
— Não se preocupe, Colinzinho, eu tenho a bateria de treinos perfeita para vocês. Vamos começar!
A bateria de treinos de Brighid consistia em levar seus corpos ao limite, superar a fadiga convencional e ir além, quase ao ponto de lesionar seriamente um músculo. Isso incluía diversos exercícios variados como flexões, agachamentos, corridas e quaisquer exercícios que tenham uma forte explosão muscular.
— Você quer me matar? — Colin franziu as sobrancelhas. — Não tem como fazer tudo isso sem lesionar um músculo.
— Você confia em mim ou não, Colinzinho? Sou muuuuito mais velha que você, eu sei o que estou fazendo.
Colin fez beicinho e virou o rosto.
Ele odiava ser reprimido por ser mais novo que alguém, era algo que acontecia sempre quando ele ia passar o fim de semana na casa dos amigos de seu pai.
Brighid continuou.
— O começo pode ser difícil, eu sei, mas vocês são seres mágicos, com o tempo a resistência física de vocês aumentará drasticamente. Garanto que em sete dias o treino de vocês irá valer por um ano.
Mesmo relutante, Colin concordou. A proposta era boa demais para ser ignorada.
— Então tudo bem! — ele sorriu. — Vamos logo com isso!
[…]
Os primeiros minutos foram tranquilos, mas logo depois o cansaço bateu. Colin era um adulto que estava acostumado a jogar vídeo game o dia todo, saindo de casa somente para caminhar.
Para ele aquilo era uma tortura.
Seu corpo estava encharcado de suor e logo após completar a sessão de 100 flexões e 100 abdominais, ele caiu no chão completamente fatigado. Safira não conseguiu nem ao menos completar as 100 flexões e caiu quase desmaiada.
— Vergonhoso! — desdenhou Brighid. — Vocês dois estão piores que imaginei, não conseguem completar uma sessão simples dessa, quem dirá lutar contra um demônio?
Colin retrucaria se pudesse, mas continuou deitado, tentando recuperar o fôlego. Brighid apontou com o indicador para os dois, e eles foram abraçados por uma luz amarelada. Suas dores lentamente sumiram e eles estavam inteiros de novo.
Colin sentou-se coçando a nuca.
— Então você pode curar até mesmo isso…
— É claro que posso, agora levantem e comessem tudo de novo!
— Tudo de novo? — disseram os dois em simultâneo.
— Sim, e sem reclamar! Após curados, é como se vocês tivessem um descanso longo. Podemos fazer isso o dia todo, então nada de vadiar. Temos que alcançar o primeiro nível de suas árvores primarias logo, isso que estamos realizando não é nem o treinamento de verdade ainda.
[…]
Eles continuaram até o anoitecer.
Após falhar no treino mais de 300 vezes, Colin e Safira enfim conseguiram completar uma sessão de cada. O processo de cura e fadiga enrijeceu o corpo de ambos. As fibras de seus músculos estavam mais firmes, e ambos haviam conseguido um pouco de músculos.
A fada não estava mentindo, aquele treino de algumas horas valeu por algumas semanas, talvez por meses.
— Agora proponho caçarmos para ganharmos experiência! — disse Brighid que brilhava como uma vela na escuridão. — Vamos! O que estão esperando?
Colin sentia todo seu corpo inchado, mas não sentia dor alguma. Ele apoiou as mãos nos joelhos e se ergueu, olhou para o lado e viu Safira encharcada de suor.
Ela respirava pesado enquanto seu rosto estava todo ruborizado.
Os cabelos de Colin pingavam suor e seus olhos estavam pesados. Ele se aproximou de Safira e estendeu sua mão. Ainda arfando, ela olhou para a mão de Colin e depois olhou para ele. Safira se sentou e pegou na mão de Colin, então ele a puxou para cima.
— Melhor não relaxarem! — disse Brighid voejando para longe. — Proponho pegarmos algumas espadas e partir rumo a floresta.
[…]
Eles se trocaram, apanharam duas espadas emprestadas com o ferreiro e partiram rumo a floresta.
O cheiro de suor deles atraiu lobos ferozes.
Safira ficou receosa em matar animais, mas ela já tinha feito aquilo antes, e seu corpo estava diferente, ela teria que suportar aquilo, ou seria abandonada por Colin se não fosse útil.
Viu-se sozinha de frente para um lobo enquanto segurava sua espada com as duas mãos.
Ela não sabia lutar, mas sabia que para matar uma pessoa ou animal, teria que atingi-los no pescoço ou coração.
Um enorme lobo cinza rosnava para ela, enquanto ela mantinha os olhos concentrados na criatura.
O lobo disparou.
Ela deu um passo para o lado, esvidando-se da abocanhada e movendo a espada em forma de arco, cortando as costas do lobo que ficou ainda mais furioso.
“Na-Não foi forte o suficiente?”
Ver o lobo sangrando deixou-a com as mãos trêmulas e o coração acelerado.
Safira não estava com medo, mas a sensação da adrenalina fez todo seu corpo tremer.
“Tá! Tenho que fazer como senhor Colin me ensinou, uma estocada direto no peito!”
Ela mudou seu jogo de pés e o tremor do seu corpo desapareceu. Segurou a espada na altura do peito, dobrou os joelhos assim como os cotovelos, preparando-se para uma estocada.
“Tenho que usar mais força, tá! Acho que consigo!”
As enormes patas do lobo moveram-se, e ele disparou na direção da garota, saltando sobre ela para abocanhá-la com aqueles dentes enormes.
Crash!
Antes d lobo alcança-la, ela abaixou-se mais um pouco, pegou impulso e saltou, cravando a espada no coração da fera. O lobo ganiu e debateu-se por instantes, até que não mais se mexeu.
Safira o jogou de lado, olhou o animal e golfou o almoço.
— Muito bem! — disse Colin orgulhoso encostado no canto. — Tem mais lobos vindo, se prepare.
— T-tá! — limpou o canto dos lábios.
[…]
Safira acabou se acostumando após fazer isso repetidas vezes ao longo da noite.
Colin a encarava de canto enquanto ela estava coberta de sangue e ofegante.
Safira parecia evoluir mais rápido que ele.
Ao longo da noite cuidaram de várias matilhas que eram atraídas pelo cheiro de sangue, fazendo com que a batalha durasse horas a fio.
Seus corpos já estavam acostumados à fadiga, então não foi problema seguir com aquilo por várias e várias horas.
Com o corpo encharcado de sangue, Colin se sentou na pedra e moveu seu anel, vendo seu status atual.
Nome: Colin
Idade: 23
Árvore primária: Céu. Nível: 00
Árvore secundária: Pujança. Nível: 01
Árvore secundária: Caos. Nível: Bloqueada.
HP: 1110
MP: 280
Habilidades:
Força: 22
Destreza: 25
Agilidade: 21
Inteligência: 17
Estamina: 23
56 pontos em pujança. Pontos necessários para o nível 2: 112 pontos.
21 pontos em céu. Pontos necessários para o nível 1: 29 pontos.
“Finalmente, evoluí um ponto em Pujança, mas isso ainda é muito pouco…”
— O que é isso? — indagou Brighid ao lado dele. — Um anel de análise?
O status de Colin desapareceu.
— Como sabe o que é?
— Essa não foi uma pergunta muito inteligente, Colinzinho, sou uma Monarca de duas Árvore, tem poucas coisas que não sei.
Colin continuou em silêncio e Brighid se aproximou para perto do rosto dele.
— Depois que você aprender magia não irá precisar mais do anel. Conseguirá observar os atributos de uma pessoa com os olhos.
Ele assentiu.
— Consegue ver meus atributos?
Brighid abriu um sorriso convencido, colocou as mãos para trás e fez que sim com a cabeça.
— Você atualmente tem os atributos de dez homens adultos sem magia.
— E isso é muito ou pouco?
Ela apoiou o indicador na bochecha.
— Depende, para uma briga em uma taverna é muito, mas para enfrentar um demônio é pouco. Não se preocupe, Colinzinho, com uma semana eu te deixo com força de pelo menos trinta homens! — ela encarou Safira. — Safira! Vamos voltar! Amanhã de manhã a gente continua.
Colin se ergueu da pedra.
— Tomarei um banho.
Brighid desviou o olhar envergonhada e começou a brincar com os dedos.
— Se quiser, eu posso ir com você… a gente treinou duro hoje, acredito que merecemos um banho…
Colin ergueu uma sobrancelha.
“Qual é a da fada?”
— Consigo tomar banho sozinho, a gente se vê.
— Ah… então tudo bem…
Colin sumiu na escuridão, deixando as duas ali no meio da floresta.