O Desejo Depois Da Morte - Capítulo 7
[Segunda tentativa]
Eros flutuava na câmara, aguardando o retorno do jovem. Thanatos permanecia imóvel, empunhando sua espada ainda em pose de oração.
Ela tá vindo!
Num instante súbito, a estátua aterrissou, mergulhando na direção de Hazan com a voracidade de uma tempestade. O jovem, em um ato de desespero, lançou-se para o lado, seu corpo derrapando pelo solo gélido. O vento enfurecido pelo avanço de Eros agitou seus cabelos, o ar sendo rasgado a meros centímetros de distância.
Foi por pouco. Se eu medir a distância e me mover alguns segundos antes, esquivar é totalmente possível!
Aterrissou no chão e, mostrando graciosidade, abriu espaço entre suas pernas. Levantou a arma, preparando-se para um arremesso fatal, mirando no humano à sua frente.
Não posso permitir que isso me acerte!
Um chiado cortante ecoou no ar, a lâmina diminuindo o espaço entre eles.
SWISH! STUCK!
Em um piscar de olhos, um formigamento agudo penetrou o peitoral, causado pelo poder do arremesso. A lança não se deteve no primeiro impacto; atravessou-o por completo e o empalou na parede mais próxima, rachando a estrutura e o deixando pendurado, preso como um espetáculo em exibição.
Subestimei a velocidade dela… Como isso dói…
Uma onda de tontura o envolveu à medida que o sangue jorrava do seu peito e boca, a visão embaçando ao enxergar seu estômago estraçalhado.
[Terceira tentativa]
Se eu quiser aumentar minhas chances de passar dessa provação, farei o que for necessário. E se isso significa sacrificar parte da minha sanidade, que seja!
Compreender isso foi o primeiro passo para começar a usufruir da razão, e não das emoções que lutavam para tomar o controle.
Ainda tenho oito tentativas, mesmo que eu morra diversas vezes, preciso aprender o máximo que puder. Os padrões de movimento, os hábitos, a distância segura para evitar golpes fatais, tudo!
Não aguardou pelo avanço ameaçador da estátua; lançou-se em direção à própria morte encarnada em uma corrida ousada.
Alguns argumentariam que tal decisão era ousada, e, de fato, era arriscada. Mas não havia alternativa melhor. Se ficasse parado, indeciso, logo seria subjugado pelo medo. Naquele instante, se entregou à correnteza de adrenalina que percorria seu corpo, agindo em favor de seus objetivos. Ao enfrentar aquela provação, Hazan reconheceu que a maior ameaça residia em ser consumido por esse medo paralisante.
A estátua ergueu a lança em uma posição defensiva, aguardando a aproximação repentina do jovem.
Essa postura…
Seus olhos analisavam o que estava diante dele.
Será um corte circular!
À medida que se aproximava do raio de alcance da estátua, Hazan observou atentamente Eros balançar a lança maciça, preparando-se para dilacerar seu corpo.
Agora!
No instante em que os olhos da estátua cintilaram em vermelho, moveu-se em uma cambalhota que o afastou da investida. Assim que levantou, a lâmina estava prestes a perfurar seu crânio numa estocada de cima para baixo.
Saltou para o lado, uma situação urgente, mas os golpes não pararam. Um balanço veio atrás do outro, e por mais que os golpes da estatueta fossem lentos, o rapaz não tinha fôlego o suficiente para se manter em combate, e diversos cortes superficiais foram sendo causados ao redor de seu corpo.
Após errar sua ofensiva com a lâmina, Eros girou a haste da lança em um movimento semicircular, acertando-o com a parte de trás do cabo.
BAM!
Seu reflexo foi o suficiente para pôr os braços na frente do rosto e amortecer o impacto pela lateral; contudo, ainda foi jogado a vários metros de distância, capotando pela câmara. Os braços foram fraturados com um simples balançar.
Eu sempre vou acabar ficando cansado, e o menor erro será cobrado… Não posso relaxar nem por um segundo!?
Apoiou os cotovelos no chão e levantou. Eros já estava em sua frente, seu rosto gentil o encarando de cima, a lança apontada para ele.
Vamos, mexa-se!
SCRASH!
Hazan fora empalado pela lança, os espinhos cortando seu estômago de dentro para fora sem piedade. Eros o encarou imóvel, sua expressão gentil pairando sobre o humano em um estado patético. Sangue e mais sangue escapavam de sua boca sem parar.
De novo… isso tá começando a me irritar… que porcaria…
Antes de sua vista ser tomada pelas sombras, enxergou rachaduras no teto da arena, onde luzes de cor violeta tentavam entrar pelas pequenas frestas.
Um alcance absurdo, ataques que podem me matar na mesma hora, e o desgraçado do Thanatos ainda nem se mexeu…
[Quarta tentativa]
Essa maldita estátua mal me dá tempo para pensar, e ainda preciso manter minha guarda alta para caso Thanatos agir de repente!
Correndo pelos confins da arena, suas mãos tateavam as paredes ásperas. Cortes superficiais marcavam seu rosto e corpo, finas trilhas de sangue seco pelo estancamento dos ferimentos. Hematomas e escoriações também faziam parte de seus membros, embora mal sentisse dor por conta do sangue quente.
Olhou para trás, arregalando os olhos ao testemunhar Eros ajustando sua postura. Com uma destreza inumana, a estátua girou a lança demonstrando sua técnica e recuou a mão que empunhava a lança.
Previsível!
Eros lançou a arma num giro mortal em sua direção. Hazan, de frente para a lança e em um lampejo de pura agilidade, inclinou-se para trás, fazendo uma ponte com as mãos e escapando por um fio da lâmina que roçou seu estômago. Suas mãos se apoiaram no solo áspero, permitindo-lhe realizar uma cambalhota fluida para trás e ficar de pé.
O movimento impressionou até mesmo Hazan.
Desde quando sou tão ágil e flexível assim!? Espera! Ataques à distância são traiçoeiros, preciso manter a guarda alta!
A lança continuou girando, cravando em uma rachadura no teto. Embora sua respiração fosse ofegante, a diferença entre esta tentativa e as anteriores era notável. Seu corpo estava resistindo por um tempo maior.
Sempre que estou longe, posso presumir que seus ataques variam entre arremessos de lança ou investidas aéreas, mas não sei do que ela é capaz quando está sem sua arma.
O jovem parou, observando a estátua de longe. Eros hesitou por um momento, ponderando sua próxima ação. Ela inclinou a cabeça para um lado, examinando sua lança presa no teto, e depois, seus olhos piscaram em um vermelho intenso.
Ecos inquietantes de uma risada egocêntrica reverberaram pela sala, vozes distorcidas, mesclando tons graves e agudos, conspirassem juntas para criar um coro de zombaria.
— Hahaha! Tão patético! Tão fraco! Tão ingênuo! — proclamou a estátua, movendo as mãos com a pose presunçosa de uma existência superior. — Acredita, por acaso, que pode superar esta provação, humano?
A expressão gentil na máscara de Eros permanecia intacta, apenas a voz podia transmitir suas emoções.
Uma veia de indignação pulsou na bochecha do jovem. — Você podia falar esse tempo todo?
— Por que eu gastaria minhas palavras com minha presa? Fui cética quando soube que teria que enfrentar o “Arauto do Fim”, o “Precursor da Justiça” e me mantive alerta durante suas tentativas. Mas agora, estou convencida. — Ela apontou para o jovem diante dela. — Você não faz ideia do que está acontecendo! É só um humano comum! Uma existência fraca e patética!
Hazan apertou os punhos em guarda, inseguro do que estava por vir.
— Por que a outra estátua ainda não me atacou?
— Porque você não passa de um inseto! — Eros recolheu as mãos ao próprio rosto, parecendo envolver-se em alguma fantasia interna. — Vou matá-lo mais algumas vezes, acabar com essa maldita provação e retornar para o panteão! Então provarei para meu pai que ele estava errado!
Pra variar, eu não entendi nada…
— Dito isso, que tal voltarmos ao espetáculo principal? Vou me divertir bastante antes de lhe jogar em Malefyr!
A estátua estendeu a mão para o alto. A lança, antes alojada nas rachaduras do teto, obedeceu, retornando à mão de sua mestra.
Puta merda!
Eros lançou sua lança na direção de Hazan, que se jogou em direção ao chão, o coração disparando. Logo após a lâmina passar pelo rapaz, ela retornou novamente para Eros, no qual manteve essa sequência mortal de ataques repetidas vezes.
— Dance para mim, humano! — A voz da estátua carregava um toque sádico, enquanto seu ataque incessante mantinha Hazan em constante movimento.
Os ataques se tornavam cada vez mais velozes, a lança serpenteava pelo ar em giros mortais, ameaçando desmembrá-lo com cada passagem.
Em momentos fugazes, a arma ricocheteava nas paredes, tornando sua trajetória ainda mais difícil de prever.
Apesar disso, seu corpo pela primeira vez agia em sincronia com seus pensamentos, cada músculo reagindo de forma vibrante em explosões de força que exigiam o seu máximo, permitindo a possibilidade de evitar cada ataque.
Tem algo que preciso fazer desde que comecei a enfrentar essa desgraçada.
Assim que a lança retornou para a mão de sua portadora e foi arremessada de novo, Hazan flexionou os joelhos e avançou, sentindo uma onda de adrenalina e força tomar seu corpo.
Cambaleou no chão, recuperando-se de seu movimento anterior, desviando da lâmina letal de Eros por muito pouco. O suor escorria por seu rosto, misturando com o sangue de pequenos cortes que marcavam seu corpo. Seu reflexo aguçado o havia salvado mais uma vez, mas não podia se dar ao luxo de parar.
E isso é…
— Já desistiu, arauto? — a estátua zombou numa voz arrogante.
Eros cerrou o punho de pedra e projetou-o à frente, preparando-se para um golpe mortal. Cada detalhe da postura e do movimento da estátua estava nítido na cabeça de Hazan. Sabia exatamente o que estava por vim.
Um murro muito bem dado!
Agiu com premeditação e, quando o golpe da estátua se aproximou, ele saltou para o lado. Seu pé aterrissou no punho caído de Eros, e ele usou essa alavanca improvisada para se impulsionar, reunindo todas as suas forças e desferindo um soco certeiro diretamente na máscara da estátua.
BAM!
O impacto fez um som poderoso que vibrou o ar, sendo capaz de empurrar o rosto de Eros para trás, deixando-a atordoada. Ofegante, rolou pelo chão e se recuperou no mesmo instante, fitando a estátua caída com um sorriso triunfante estampado em seu rosto.
Eu sabia! Não foi só impressão!
— I-impossível…! — A estátua estava em choque, a mão livre segurando a máscara em seu rosto. O objeto começou a rachar, e ela manteve a máscara bem firme. — Ser humilhada por um mero mortal…! Isso é inadmissível! — Sua voz gritou numa mistura de agudos e graves distorcidos.
Eros se ergueu exalando fúria, estendendo a mão para o alto. A lança retornou a ela, encaixando-se perfeitamente em sua mão de pedra. Rachaduras começaram a aparecer por todo o corpo da estátua, e ela irradiava uma energia vermelha assustadora que envolvia a lâmina da arma.
Isso não é bom!
Antes que Hazan pudesse reagir, o arremesso da estátua veio em um piscar de olhos, assim como em sua primeira tentativa. A arma mortal, agora cercada por uma aura vermelha, atravessou a câmara em direção a ele, sedenta por sangue.
Fechou os olhos, esperando o próprio fim.
STUCK!
Porém, nada aconteceu. Relutante, decidiu observar o que tinha acontecido, deparando-se com a lança fincada na parede atrás dele a poucos centímetros de distância.
Em choque e sem forças para continuar de pé, os joelhos cederam, e Hazan caiu, apoiando as costas na parede.
— Eu quase matei você… — comentou, surpresa consigo mesma, caminhando lentamente em direção a ele. — Quase esqueci que o meu propósito aqui era me divertir!
Preciso me mover…! Vamos, tenho que sair daqui!
A alada se aproximou, retirou a lança com facilidade da parede e apontou para o rapaz. A arma traiçoeira perfurou o estômago, o frio metal penetrando a carne. Desabou no chão, agarrando a lâmina pelas mãos e tentando tirá-la de lá.
Uma explosão de dor irrompeu de seu centro. Seus músculos retraíram, aquela estranha energia percorria cada fibra de seu ser. Uma agonia ardente e latejante estava rasgando suas entranhas.
Era como ser envolvido por labaredas. Uma sensação de queimação, chamas dançando por suas veias, alastrando-se desde a ferida em seu estômago até cada extremidade de seu corpo.
Hazan foi tomado por toda a aura vermelha.
— Aposto que sequer entende o que é Aura, não é? Muito menos sobre pujantes, magos, mana, Ascend, e nem mesmo sobre o motivo de estar aqui! — Eros pisou no ombro de Hazan, esmagando-o com facilidade, os gritos do rapaz ecoavam como uma doce melodia. — Os desígnios que levaram meu pai a escolhê-lo não importam, eu e meu irmão não aprovamos isso!
— F-foda-se… — Retrucou, a voz rouca e fraca. — Se o que quer é desistência, pode apostar que nunca vai ter isso de mim. — Um sorriso debochado se formou. — Sua estátuazinha medíocre!
Forçou a arma ainda mais fundo entre as entranhas. — Vai se arrepender de ter dito isso!
Dali em diante, a passagem de tempo se tornou confusa. Eros, movida pelo orgulho, ódio e sadismo, dedicou-se a transformar cada segundo da existência de Hazan em um verdadeiro campo de tormento.
A lança era o carrasco da dor, perfurando regiões sensíveis do corpo de Hazan. Eros escolhia ferir, infligir dor agonizante. Mas nunca era um ferimento fatal. Na primeira morte, causada pela perda de sangue, Hazan congelou. Diante da imensa porta que se erguia diante dele, questionou-se se deveria tentar mais uma vez.
E assim fez.
Nas tentativas seguintes a morte se manifestava através da perda de sangue ou por não ser capaz de aguentar tanto sofrimento. Os gritos ecoavam, uma sinfonia triste no silêncio da câmara, entrelaçados com os risos sádicos da estátua. Não era uma tentativa, era mais próximo de um suicídio calculado.
De frente para a porta, o mesmo pensamento surgia, toda vez.
Por que continuo fazendo isso comigo mesmo? Por que insisto em atravessar essa maldita porta toda vez que o medo me domina? Como esse lugar está ligado com a minha perda de memória? Não tenho motivos para continuar, e a tentação de simplesmente aceitar meu destino só aumenta a cada tentativa…
A ideia de ceder e tornar-se um errante de Malefyr começou a parecer sedutora diante de tanto sofrimento. Mas a simples contemplação dessa possibilidade fez um nojo profundo surgir. Mesmo em meio à desconexão com sua própria identidade e personalidade, emergiu, pela primeira vez, uma certeza:
Desistir é o caralho… Não existe nada mais patético do que isso!
A morte traz consigo o medo, uma sombra que muitos evitam encarar. O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. Aqueles que não se curvam diante do temor da morte, erguem-se como senhores de tudo, pois, é na aceitação da própria mortalidade que se encontra a posse plena de todas as coisas.
[…]
[Última tentativa]
— Devo aplaudir sua notável perseverança. Quanto tempo acredita que durará desta vez, arauto?
Hazan estava de pé, punhos cerrados e olhos expressando uma estranha serenidade. Abriu um espaço entre as pernas, adotando uma postura defensiva.
Eros balançou a cabeça com desdém. — Ainda acredita que pode fazer alguma coisa? Não percebe a disparidade gritante entre nós? Hehe, está silencioso para alguém que há pouco desfrutava tanto de seus próprios gritos. — Apontou a lança para ele. — Enfim, pouco importa. Já me diverti o suficiente; é hora de encerrar sua existência patética!
O avanço de Eros produziu um estrondo no ar, e a lança, estendida à frente, delineava uma sentença definitiva para Hazan.
Em uma sequência frenética de movimentos, lançou uma torrente de ataques, misturando cortes ágeis, estocadas precisas e balanços sinuosos, confiante de que o lutador seria destruído por cada movimento.
Mas seus golpes falharam.
Deslizando pelo ar vazio, nenhum daqueles cortes eram capazes de roçar a sombra de Hazan.
O jovem observou, estudou e enfrentou aquela técnica inúmeras vezes, até que se tornara previsível. Chegou a conclusão que se esquivar não seria mais o bastante.
BAM! CLANG!
Um som seco, seguido de um tinir metálico. Seus braços tremiam diante da estocada que foi interceptada pelo ser patético que subestimava.
Perplexa, observou a mão desarmada de Hazan segurar a ponta da lança, que ameaçava perfurar sua testa. Ele lentamente desviou a lança para o lado, cerrou o punho e encarou a estátua de baixo para cima.
Eros fechou suas asas o mais rápido que conseguiu.
BAM! CRACK!
Capotou não uma ou duas, mas várias vezes, colidindo com a parede da arena com violência. Os vitrais vermelhos que circundavam a parede foram despedaçados pela vibração do impacto, espalhando estilhaços de vidro por todo o ar.
Enquanto os estilhaços caíam, a alada apoiou a mão no joelho ao se levantar, suas asas quase despedaçadas com o último golpe. Aura vermelha se acumulou por toda a extensão da lança, ampliando o tamanho e a densidade da arma.
Apertou o punho ao redor da lança e a arremessou em direção ao rapaz, que girou na horizontal para cortá-lo no meio.
Hazan agarrou a arma bem no meio da haste, fazendo-a parar de girar na mesma hora.
A estátua ainda processava tudo que estava acontecendo tão rápido.
Ele encarou a arma de perto. A enorme haste, enegrecida, estava coberta por símbolos prateados de significado misterioso. A lâmina, ampla e rodeado de espinhos, trazia manchas de sangue seco, como lembranças sombrias de conflitos anteriores.
Observou a estátua de longe, se atentando aos detalhes.
Como pensei, ela continua cheia de rachaduras e suja de sangue. Seu estado continua o mesmo, independente de quantas tentativas se passem. Você ficou desgastada, Eros.
— Como você…! —Balançou a cabeça, não deixando as dúvidas tomarem conta. — Devolva, seu inseto!
Acenando com a cabeça, um sorriso satisfatório surgiu dos lábios secos do rapaz. — Como quiser, Eros.
Estendeu as pernas, contraiu o ombro e girou a cintura o mais forte que conseguiu, lançando a arma de volta para sua dona.
VOOSH! STUCK! CRACK!
Lançada em uma velocidade aterrorizante, a lâmina cortou o ar como um raio, perfurando o centro de Eros e cravando-se na parede. O impacto fez a parede estalar e rachar de maneiras diferentes, mantendo a estátua presa na parede.
O que é essa força monstruosa!? Ele não era só um humano!?
A ruptura na parede continuou a subir, se conectando com aquelas que já existiam no teto e crescendo sem parecer que tinham intenção de parar, mas por algum milagre, elas pararam. E então, cederam.
SCRASH! CRACK!
O teto, com uma boa parte exposta, revelou um cenário impressionante. Não havia nuvens no céu, apenas um panorama pintado numa fusão rústica de vermelho e roxo. Prédios de diversos tipos e tamanhos, pedras colossais e até mesmo uma grande torre de relógio flutuavam pelo espaço, quase petrificados.
A arena foi iluminada por essas luzes, Eros estava esmagada por entre os destroços, apenas metade do seu corpo exposto.
O Éter ao nosso redor está sendo atraído e absorvido por aquele humano…? Ele já deveria estar morto!
— Como é possível? — indagou, a voz perturbada. — O que você fez!? Éter não é algo que um humano medíocre como você possa usar!
Do que ela tá falando?
Hazan apenas sorriu ao se aproximar. — Fique aí por enquanto, ainda temos muito o que resolver.
Maldição… Não consigo me mover! Usei mais aura demais enquanto brincava com ele, estou sem forças, tudo isso é culpa desse receptáculo inútil! Se eu apenas estivesse em meu corpo original…!
BAM!
Um poderoso impacto atingiu o rapaz, um escudo escuro que, com uma força esmagadora, o lançou para o ar. Ele colocou os braços na frente, se defendendo do impacto, mas o dano não foi ignorado. Seu braço estava levemente inchado e dolorido.
Ainda no ar, recuperou o equilíbrio e pousou no chão, sorrindo ao se deparar com que estava diante dele. O lutador ignorou Eros, virando na direção da nova ameaça. — Então agora é a sua vez?
— I-irmão…!? — Eros indagou, atônita. — Você não precisa me proteger, eu já ia ser capaz de acabar com ele!
Thanatos não é capaz de usar aura, preciso que ele ganhe tempo o suficiente para eu me recuperar!
[…]
Eu só preciso tentar mais uma vez…
Sentado no chão e encarando a pintura no teto do salão, isso era tudo o que conseguia pensar.
Já se foram tantas tentativas, estou cansado… não aguento mais.
Bem na frente de seus olhos, a mesma notificação que já estava enjoado de ver.
[Passe pela provação dos últimos devotos da justiça: Eros, a fugitiva da luz e Thanatos, o perseguidor da escuridão].
Tentativas: 9/10
Recompensas:
– Fragmento de Memória
– Coração de Ehdoton
– Desbloqueio temporário do “Sistema”
Falha: Se tornar um errante de Malefyr
[Atenção! Esta é sua última chance!]
[A provação inicia em breve!]
[Tempo restante: 02h:58m:55s]
Agora tem até um tempo limite…
Durante todas as inúmeras tentativas dedicadas à sobrevivência, sua única opção era resistir. Corria em frenesi, buscando informações sobre sua impiedosa oponente, mas cada esforço desmoronava quando ela o capturava. Suas pernas eram arrancadas em arremessos de lança, os braços decepados por puro capricho, e, nos momentos de captura, horas de tortura começavam até que ele morresse por falência dos órgãos ou choque.
Ansiava ter algo para se apegar. Quando afundamos na desesperança, buscamos uma âncora. Uma esperança. Um anseio. Um desejo.
Cerrou punhos e dentes, sentindo uma onda crescente de frustração percorrer por toda a cabeça.
Quem eram as pessoas que eu mais amava? Como era a minha rotina antes de eu vir parar nesse maldito lugar?
Suportava o sofrimento alimentado pela expectativa de sobrevivência. Continuava a lutar contra Eros, e da frustração, crescia o ódio.
Como foram as risadas que já ecoaram ao seu redor? O que mais gostava de fazer? Que tipo de pessoa era? Como foi o último suspiro antes de esquecer tudo?
Eu quero saber!
Socou o chão com toda sua força, os olhos fechados, e um estrondo que fez tremer o solo do templo. Sendo um lugar de anormal quietude, o som ecoou por todos os recantos.
Se deparou com o chão exibindo cicatrizes, rachaduras que refletiam seu eu fragmentado.
Confuso, Hazan levantou. Encarou as próprias mãos, abrindo e fechando os punhos.
Essa força… é como daquela vez… quando soquei o rosto dela!
Olhou o portal luminescente emitindo poucas quantidades de neblina, e se lembrou de todas as vezes em que nunca tinha parado para fazer qualquer tipo de plano.
Sempre que eu acabava de ser morto, acordava neste lugar e partia imediatamente pra próxima tentativa. Eu não queria pensar sobre isso, agi de forma impulsiva.
Andou até a parede mais próxima, encarou-a por alguns segundos e engoliu seco. E então, a socou.
Outro estrondo seco, outra ruptura. Seu punho saiu ileso.
Senti que ficava mais forte a cada tentativa, mas estava ocupado lidando com a tortura de Eros para testar algo. Não foi só impressão minha… Era real.
Sentou e cruzou os braços, relaxando os ombros, buscando clareza em meio a tempestade em sua mente. A decisão que tomaria seria definitiva.
Então, abriu os olhos, dessa vez, esbanjando determinação.
— Sem dúvida alguma, existe uma chance para vencer. Tenho algumas horas para pensar num plano.
Levantou-se, apontando o punho cerrado para a porta que conduzia ao início da provação.
— Quero viver e descobrir quem sou. Falhar aqui não é uma opção! — Anunciou, firmando um compromisso consigo mesmo.