Knight Of Chaos - Capítulo 425
Após assegurar alguns detalhes, Fernando optou por mover o Quartel de lugar. Como ele não poderia se afastar muito das Balistas, decidiu, por fim, tornar aquela área o novo local de comando da Divisão.
O jovem Tenente estava parado diante de uma mesa com várias peças representando as tropas aliadas e inimigas da Quinta Divisão, enquanto, ao seu redor, várias pessoas estavam preparando relatórios e mapas.
“Um pedido de reforço foi relatado vindo do Quarto Batalhão da Sexta Brigada.”
“Uma solicitação de retirada foi feita pelo Segundo Pelotão da Sétima Brigada. Eles dizem que não conseguirão resistir por muito tempo!”
Vários membros do Quartel falaram em voz alta, um após o outro, os relatórios que chegavam a todo momento.
Fernando tinha uma expressão calma, mas suas sobrancelhas arquearam-se levemente, conforme mais e mais pedidos de apoio e retirada chegavam de forma contínua. Nesse ponto estava mais que claro que a Sexta e Sétima Brigadas seriam aniquiladas se ele não fizesse nada.
“O que vocês acham de tudo isso?” O jovem Tenente perguntou, num tom frio, enquanto olhava para as pessoas a sua frente.
Ele havia reunido algumas das principais pessoas presentes na Nona Brigada e Quartel, dentre eles, estava Theodora, Ilgner, Thom, o Tenente Bemir e o Capitão Combatente que estava cuidando do Quartel anteriormente.
“Podemos mover parte das tropas da Nona Brigada para apoiá-los, enquanto esperamos que as Balistas causem danos, mas isso não será suficiente para parar uma Horda desse tamanho.” Ilgner disse, com os braços cruzados.
Todos ficaram em silêncio ao ouvirem as palavras do bárbaro loiro. Até um leigo em estratégia militar poderia ver que o Subtenente tinha razão. Mesmo se movesse a totalidade da Nona Brigada para se unir a Sexta e Sétima, seria apenas como jogar mais lenha nas chamas.
O Tenente Bemir, apesar de não estar acostumado a participar de uma reunião desta magnitude, foi a frente, apontando no mapa e movendo algumas peças.
“Talvez possamos separar as tropas em blocos defensivos, usar Magos de Terra para cavar trincheiras e tentar retardar o avanço inimigo. Não conseguiríamos para-los, mas ganharíamos algum tempo.”
Ouvindo isso, Fernando ficou levemente surpreso. Apesar de não ser uma tática que os levasse a vitória, parecia melhor do que ficar de braços cruzados.
“E o senhor, tem alguma outra ideia?”
Após ouvir as sugestões de Bemir e Ilgner, o jovem Tenente olhou para o Capitão Combatente, seu nome era Marco Mendes, um homem de aparência comum na casa dos trinta. Apesar da aparência simplória, como a pessoa de maior patente no local, ele queria ouvir sua opinião.
“I-isso… Bem, eu acho que talvez devêssemos recuar as tropas aos poucos, pelo ritmo da batalha, não vamos conseguir segurar o fronte por muito tempo.” O homem disse, com alguma incerteza.
Suspira!
Quando Fernando ouviu a sugestão do sujeito, um misto de decepção e entendimento o atingiram. Agora ele conseguia compreender porque tudo estava em um estado tão precário enquanto o homem estava coordenando o Quartel.
Por mais que ele fosse um Capitão, sua noção de estratégia não era das melhores, mesmo um novato como ele conseguia perceber isso.
A diferença de um Capitão Comandante e um Combatente é tão grande? pensou, questionando-se. Por mais que ambas as posições tivessem a mesma força, os Combatentes pareciam imensamente menos preparados para situações de liderança.
Apesar de não ser um especialista, após liderar tropas por mais de um ano em Avalon, Fernando havia conseguido adquirir alguma experiência e noções básicas, mesmo sem receber algum tipo de treinamento específico.
“Recuar não é uma opção, se fizermos isso eles irão nos pressionar ainda mais, até abrirem um caminho para as Balistas. Caso isso aconteça, vai ser o fim dessa batalha.” Ilgner comentou e todos os outros concordaram.
Ao ouvir isso, o rosto do Capitão Combatente ficou levemente vermelho de vergonha. Mesmo tendo uma patente superior, ele sabia que não tinha as qualificações para esse tipo de tarefa. Afinal, sua experiência nisso era escassa e não havia tido qualquer treinamento nesse sentido.
“Mais alguma ideia?”
Vendo que mais ninguém, incluindo Thom e Theodora, tinha algo a dizer, Fernando assentiu e tomou a frente.
“Eu só queria ver o ponto de vista de vocês, para ver novas perspectivas e talvez agregar mais algumas coisas, mas já havia decido qual estratégia usaríamos.”
Todos ficaram surpresos com as palavras do jovem Tenente, principalmente Bemir e o Capitão Mendes, afinal, ambos mal haviam ouvido falar do jovem antes. Até então, sua nomeação para comandar a Quinta Divisão pelo General ainda era uma incógnita em suas mentes.
“O que vamos fazer é…” Fernando disse, aproximando-se da mesa, então pousou sua mão bem no meio das Sexta e Sétima Brigadas, o local em que Johnathan havia estabelecido um ponto de comando entre as duas tropas e arrastou as peças, abrindo um enorme caminho. “Deixá-los vir até nós.”
Quando o grupo viu o enorme caminho aberto entre as duas Brigadas, vindo diretamente até as Balistas, todos ficaram completamente perplexos e sem palavras. Até mesmo os membros do Quartel que estavam recebendo as comunicações e organizando-as, pararam o que estavam fazendo. Um longo e estarrecedor silêncio seguiu-se após isso, até que foi interrompido:
“Isso é loucura!” O Capitão Mendes gritou, batendo fortemente na mesa, mesmo que ele fosse péssimo em estratégias militares, sabia que aquilo era algo insano, nenhum Comandante normal faria algo assim. “Se fizermos isso eles irão ignorar completamente a Sexta e Sétima Brigadas e virão diretamente até nós, não vamos conseguir pará-los!”
“Não tem como algo assim dar certo…” Bemir disse, com uma expressão assustada, enquanto olhava para o jovem Tenente, perguntando-se se havia alguns parafusos soltos em sua cabeça.
O que o General fez? Ele deixou o comando da Divisão inteira nas mãos de um maluco? pensou, estarrecido.
Theodora, Thom e Ilgner também tinham expressões complexas e confusas, mas, diferente dos demais, não havia dúvidas em seus olhos.
“Quando começamos?” Ilgner perguntou, com um rosto calmo.
“Basta dar a ordem, líder.” Theodora falou, logo em seguida, com um leve sorriso.
“Estamos ao seu comando, chefe.” Thom disse, com um rosto sério e confiante.
Quando Bemir e o Capitão Mendes ouviram isso, olharam para os três horrorizados.
Batalhão Zero… Que tipo de Batalhão é esse? Por acaso é formado por psicopatas? Bemir pensou, assustado.
Ele já havia visto muitas pessoas insanas ao longo dos anos, mas não a esse ponto.
“S-senhor, isso…” Bemir falou, de forma respeitosa, porém, antes de terminar sua frase, sentiu uma lâmina fria encostar em sua pele, quando a mulher de longos cabelos negros ao seu lado pressionou uma adaga contra sua garganta.
Ao sentir isso, o homem engoliu rapidamente o que tinha a dizer, enquanto suor frio escorria de suas costas. Ele não estava com medo pela adaga, mas pelo fato de sequer ter visto a mulher se mover!
“Descumprir com as ordens do líder é o mesmo que desafiar as ordens do próprio General Dimitri. Você está pronto para assumir as consequências por isso?” Theodora falou, lançando um olhar gelado e brincalhão para o sujeito.
“N-não, eu só estou o aconselhando.” retrucou, com um gosto amargo na boca.
Do outro lado, o Capitão Combatente, Mendes, tinha uma expressão franzida ao ver a situação. Principalmente ao ver como os subordinados do jovem Tenente não pareciam temê-lo ou respeitá-lo, mesmo sendo um Capitão! Mesmo que tivessem ameaçado apenas Bemir, as palavras da mulher também eram claramente dirigidas a ele.
Apesar de irritado com isso, o homem não disse nada. Como um Combatente, seu dever era seguir ordens e nada mais. Apenas por uma infelicidade ele havia assumido uma posição de liderança nesse dia e sabia que não era seu devido lugar.
“Faça como quiser, eu seguirei as ordens dadas, senhor.” O homem disse, com uma expressão calma, então levou o punho ao peito, prestando continência ao seu ‘comandante’.
Vendo isso, o Tenente Bemir, apesar de hesitante, não insistiu. Quando Theodora notou isso, sorriu de forma brincalhona, movendo o pulso e guardando a adaga.
Fernando, que observava tudo em silêncio, assentiu.
“Eu entendo suas preocupações, mas peço que confiem em mim, não só em mim, como em meu Batalhão Zero.” O jovem Tenente disse, com uma expressão calma e impassível. “No final de hoje, no final desse dia, nossas tropas viverão, enquanto o inimigo… será destruído!” disse, erguendo a palma aberta e fechando-a logo em seguida.
Ambos o Tenente Bemir e o Capitão Mendes se entreolharam, eles não sabiam se as palavras do rapaz baseavam-se em confiança absoluta, ou numa loucura desenfreada.
Ainda que estivessem cheios de hesitação, não tinham escolha senão aceitar a estratégia maluca do rapaz. Essa era a sina do exército, das Legiões, nela a cadeia de comando era absoluta!
Após ver que ambos os homens concordaram e que Theodora, Ilgner e Thom o apoiavam de forma absoluta, Fernando fechou os olhos por um segundo, inspirando fundo. Atualmente a vida de milhares de pessoas estavam em suas mãos, dependendo de suas escolhas e decisões, apesar disso, apesar de tanta responsabilidade, ele se sentia estranhamente calmo e sereno.
“Então vamos começar, é hora de fazer guerra!”