Knight Of Chaos - Capítulo 342
Após saírem de Belai, Fernando levou o Batalhão Zero em direção ao Sul. A primeira ordem que Dimitri havia dado a ele era para garantir o perímetro antes das tropas principais deixarem a cidade.
Era uma tarefa árdua e perigosa, se os Orcs estivessem nas redondezas eles seriam os primeiros a confrontá-los.
Apesar disso, o jovem Tenente estava tranquilo, ainda era uma área próxima a Belai, onde já houve vários conflitos e os humanos expulsaram os Orcs após a derrubada do cerco. Desde então, os mesmos haviam se tornado mais cautelosos nesta região.
Devido a isso, não havia motivos para se manter em alerta, sua real preocupação era quando saíssem dos arredores da cidade, pois seria uma área inexplorada e considerada território inimigo.
Após marcharem por cerca de 3km, Fernando ordenou que parassem e montassem o perímetro. Até que o exército principal deixasse Belai, eles não poderiam avançar mais.
Nesse ponto, ele convocou Theodora, Ilgner, Tom, Gabriel, Noah, Kelly, Trayan e Archie para uma área mais reservada. Argos estava ao seu lado em silêncio.
“Eu os chamei aqui para informá-los que Argos estará partindo em uma missão.” disse, com um rosto calmo.
Quando os outros ouviram isso ficaram surpresos, em especial Theodora, já que Fernando não costumava tomar decisões como essa sem informá-la com antecedência.
“Líder, o que significa isso?” A mulher disse, com os olhos fixados em Argos.
Por mais que o sujeito tivesse conquistado alguma confiança e estivesse sob efeito do contrato do Beholder, ela ainda ficava inquieta sempre que ele agia. Não era como se houvesse alguma motivação específica, mas sentia que ele era como ela própria, já que ambos trabalharam como infiltrados.
No fim, os dois traíram seus antigos mestres e se aliaram a quem deveriam espionar. A diferença é que ela havia se curvado a Fernando por vontade própria, enquanto ele havia sido obrigado.
Argos sorriu ao ouvir a mulher, por mais que ambos trabalhassem bem juntos, a Subtenente sempre mantinha um pé atrás consigo.
“É uma missão secreta que o Tenente me incubiu, não acho que você precise saber disso.” disse, com um semblante provocativo.
“É mesmo?” Theodora respondeu, com um sorriso estranho que fez muitos no local sentirem um arrepio na espinha.
Vendo isso, Fernando suspirou.
“Não temos tempo pra essa bobagem. Todos vocês são membros essenciais para o funcionamento do Batalhão Zero, os chamei aqui pois é algo que diz respeito ao batalhão como um todo.” disse com uma voz calma, mas firme.
Todos ficaram em silêncio. Se o jovem Tenente dava tanta importância, então não era algo simples.
“O objetivo da missão de Argos é criar uma rede de inteligência para o Batalhão Zero. Acredito que vocês também já perceberam, mas a situação interna dos Leões Dourados não é estável. As informações que recebemos não são confiáveis.”
Quando Fernando falou até aí, muitos franziram a testa, seja com raiva ou preocupação. Até esse ponto, já era notório que o General Supremo Dimas estava de forma deliberada dificultando a vida das tropas oriundas de Vento Amarelo.
Não só isso, com algumas informações que Argos havia reunido junto ao aviso de Raul antes de partir, eles tinham indícios que algo grande estava ocorrendo dentro da Legião.
“Um exemplo disso é a informação a respeito da declaração de guerra no norte por parte dos Elfos Negros. O Salão de Belai só foi informado na noite de ontem, mas pelo que consegui de algumas fontes e empresas de notícias, essa declaração aconteceu há uma semana atrás, todas as outras cidades já haviam recebido informes a respeito.” Argos disse, com um rosto calmo.
Ao ouvirem essa informação, vários ficaram surpresos. Desde que a barreira comercial em Belai ocorreu, todos suspeitavam que havia algo de estranho acontecendo, mas não sabiam exatamente a extensão ou gravidade disso. Mas para uma cidade inteira ser isolada de informações tão críticas era algo realmente sério.
O rosto de Fernando estava frio ao ouvir a respeito da guerra no norte e todos perceberam isso. No entanto, ninguém tocou no assunto diretamente.
“O que sabemos até agora é que duas facções formaram-se dentro do alto comando dos Leões Dourados. Uma liderada pelo General Supremo, Dimas Ortega, e outra liderada pelo General Wayne. Atualmente, tanto o General Dimitri quanto Telles fazem parte dessa segunda.”
Quando Argos disse isso, o clima que já estava ruim ficou ainda pior. O humor de todos despencou.
“Então é isso.” Ilgner falou, com um rosto franzido. “Não é à toa que as tropas do nosso lado são muito menores que as que irão sair de Estrona.”
Todos sabiam que o exército principal dos Leões Dourados iria partir de Estrona. Nele havia cerca de 160.000 homens, reunindo grande parte da força militar disponível da legião. Por outro lado, as tropas lideradas pelo General Wayne, a qual eles fariam parte, totalizavam apenas cerca de 35.000 homens.
Ou seja, as tropas nas mãos de Dimas eram quase cinco vezes maiores que as de Wayne. No entanto, ambos os exércitos tinham a mesma missão, cada um deveria retomar uma cidade da posse dos Orcs.
Inicialmente muitos do grupo pensaram que se tratava de alguma estratagema do alto comando da Legião. Mas somando isso ao que Argos havia descoberto, a situação parecia ser apenas devido a conflitos internos. Saber sobre isso não era nada animador.
“Levando tudo isso em consideração, a rede de inteligência é fundamental. Não podemos confiar nos superiores” Fernando disse, com um rosto calmo.
O belo Sargento tinha uma expressão complexa ao ouvir o jovem. Mesmo que parecesse que a ideia de montar uma rede de inteligência fosse algo motivado devido a fatores emocionais após saber sobre a queda de Vento Amarelo, ele percebeu que havia muito mais por trás das ações de seu líder.
Todos concordaram com o seu Tenente. Levando em conta tudo que estava acontecendo, não era sensato contar com as informações que o alto comando dos Leões Dourados enviava.
Se isso fosse dito em qualquer outro batalhão, as implicações a Fernando seriam severas, a chance dos subordinados vazarem suas declarações e ele ser denunciado por rebelião eram altas.
No entanto, no Batalhão Zero as coisas eram diferentes. Para começar, pessoas como Theodora, Argos, Ilgner e Trayan, que originalmente não eram membros da Legião, não tinham qualquer apego por ela. Principalmente ao descobrirem que estavam no meio do fogo cruzado entre duas facções.
“Eu entendo que é algo importante, mas se Argos irá partir, quem assumirá suas funções?” Trayan perguntou.
Todos olharam para o sujeito de longos cabelos negros. Por mais que não parecesse, ele fazia um trabalho fundamental dentro do Batalhão.
“Quanto a isso, não há com o que se preocupar, meu braço direito, o Cabo Bianco, ficará a cargo do que for necessário.” Argos disse, nomeando umas das pessoas que o seguiu por alguns anos.
Com o sujeito garantindo que um de seus homens era capaz de administrar a parte de inteligência do batalhão na sua ausência, ninguém mais o questionou.
No final, com tudo decidido, o Sargento e mais meia dúzia de homens partiram antes do sol se levantar completamente. Seu objetivo era se estabelecer em Garras do Sul, que ficava próxima a Belai, assim conseguiria se manter próximo ao fronte, ao mesmo tempo que ficaria fora do radar.
Tum! Tum! Tum!
Cerca de duas horas depois, as cornetas de Belai tocaram alto, indicando a saída do exército.
Fernando observou ao longe, num monte alto. Não era possível contar com precisão, mas parecia haver mais de 20.000 homens saindo da cidade. Cerca de dez a quinze mil deveriam ser tropas dos Leões Dourados, o restante eram de Guildas e outras legiões menores que aproveitaram a incursão.
“Estamos partindo!” o jovem Tenente falou em seu Cubo Comunicador. Fazendo com que os Cabos levassem seus homens a marchar.
Até que se encontrassem com as tropas do General Wayne, seu Batalhão não poderia se afastar muito.
Olhando para as planícies cinzentas ao longe, ele sabia que seria uma viagem difícil e perigosa.