Knight Of Chaos - Capítulo 341
A declaração pegou todos de surpresa.
“Unidade de Logística? O que é isso?”
“Eu não faço ideia, mas se o Tenente disse…”
A maioria dos soldados não entendiam qual era a intenção de Fernando por trás dessa ação, mas alguns veteranos mais experientes rapidamente captaram algo disso.
“A Unidade de Logística será responsável pela montagem e desmontagem dos acampamentos. Também ficará a cargo deles o recolhimento de plantas valiosas, a retirada de partes valiosas de monstros e outros trabalhos manuais.” disse, para o grupo de cinquenta pessoas.
Quando as pessoas ouviram isso, ficaram surpresas. Normalmente esse tipo de trabalho era delegado para os soldados novatos ou menos experientes.
Uma guerra não se trata apenas de matar ou ser morto, há vários fatores que podem influenciar a vitória ou derrota. Um deles era a logística.
Desde que partiram de Vento Amarelo, Fernando sempre ficou incomodado com algumas coisas, e dentre elas, era o fato de terem de se preocupar com a coleta de materiais após as lutas. Muitas vezes alguns espólios eram abandonados por desatenção dos soldados, afinal, depois de uma luta de vida ou morte, era normal ter uma perda de foco.
Não só isso, além de batalhar e ter que ficar de vigia a todo momento, revezando-se, muita mão de obra por parte dos soldados era utilizada na montagem de acampamentos e limpeza dos animais mortos, sobrecarregando às tropas.
Por causa disso, o jovem Tenente vinha pensando em formas de contornar essa situação e melhorar o desempenho das tropas. A criação da Unidade de Logística iria diminuir grande parte dos problemas.
Entre a multidão, Fernando viu Kelly, que acompanhava tudo de longe. Então tirou seu Cubo Comunicador, e focando seu mente nele, mandou uma mensagem para ela..
‘Forneça equipamentos e ferramentas leves a essas pessoas e também consiga próteses para os que precisarem. Além disso, dê algumas Poções Fauser, preciso que todos tenham ao menos 7 pontos de Físico para acompanhar as tropas.’
Ao ler a mensagem de seu Tenente, os olhos de Kelly tremeram levemente. Deve-se saber que as Poções Fauser eram normalmente dadas como premiação para os soldados que tivessem grandes contribuições. No entanto, agora seu líder havia pedido que distribuísse algumas a pessoas que mal entraram no Batalhão.
Ela logo entendeu porque ele mandou uma mensagem e não falou diretamente. Isso deveria ser feito de forma discreta.
Com um rosto calmo, Kelly assentiu, saindo para fazer as preparações necessárias.
O jovem Tenente também mandou mensagens para o alto escalão, informando sobre a criação da Unidade de Logística e sua função dentro do Batalhão.
Depois de resolver tudo, Fernando saiu, indo ao seu quarto para descansar antes da partida. Seu rosto cansado mostrava o quanto estava psicologicamente afetado com tudo que vinha acontecendo. Qualquer pessoa normal já teria quebrado sob tanta pressão.
Ao chegar no cômodo, parou em frente a cama e sentou-se. Enquanto tirava sua armadura, olhou seus Status.
Nome: Fernando Nobrega
Idade: 19 anos
Status: Tenente, Guerreiro 1 Estrela, Mago Intermediário
Nível: 6
Atributos:
Físico: 18
Inteligência: 15
Agilidade: 17
Magia: 16 (mana 110/160) (+25% de regeneração natural)
Mana até o próximo Nível: 1.085.300/2.048.000
Compatibilidade: nível 6
Quando viu as informações, seus olhos se arregalaram de surpresa.
“Querido, está aqui?” A voz de Karol soou, entrando. “Ah, você tá aí…”
Vendo o rapaz sentado no escuro, enquanto olhava para o nada, percebeu sua expressão.
“Ei, o que foi?.”
Ouvindo sua amada, Fernando voltou a si mesmo e a encarou.
“Nada, apenas percebi que estou um ano mais velho.” disse, sorrindo ironicamente.
Karol ficou surpresa ao ouvir isso, mas logo sorriu.
“Sério? Parabéns! Você tem que fazer vinte logo, senão vão dizer que eu estou casada com uma criança.” disse, rindo.
O rapaz riu junto, pensando no passado.
Quando chegou em Avalon, ele havia acabado de completar dezoito anos, então isso significava que logo faria um ano que ele havia chegado neste mundo. Era apenas um ano, mas sentiu que uma eternidade havia se passado.
Lembrando de quando chegou, de como era fraco e ingênuo, não sabia o que pensar. Por mais que não gostasse de admitir, sabia que estava aos poucos sendo moldado pelo ambiente, dia após dia. Sentiu que ele não era mais o mesmo, mas uma outra pessoa.
No fim, eu não sou ele, eu sou uma cópia. Vivemos em mundos diferentes e passamos por situações diferentes, é normal que não sejamos iguais. Fernando pensou, lembrando dos momentos em que viu brevemente seu ‘eu’ da Terra em situações que quase morreu.
Também se recordou de quando conheceu Raul e Gallia. Ele sabia que sem eles, já estaria morto há muito tempo.
Professora… Lembrando-se da sua mentora, o jovem não conseguiu evitar de pensar sobre o que aconteceu com Vento Amarelo.
A dúvida era algo cruel, ao mesmo tempo que criava um misto de esperança e expectativa, também remoia seus pensamentos com horríveis possibilidades.
Karol, que estava pegando algumas coisas e guardando na Pulseira de Armazenamento, viu o olhar apático de Fernando e imediatamente soube o que estava pensando.
Por mais que o jovem tentasse parecer forte e inabalável, era alguém muito emotivo e de coração mole.
Caminhando lentamente, a mulher subiu na cama, de joelhos, ficando atrás de seu marido. Então deslizou suas mãos sobre seus ombros, abraçando-o.
“Está tudo bem, sei que sua Professora e os outros estão vivos. Não pense muito sobre isso, precisamos focar no que está a nossa frente.” disse, com uma voz carinhosa.
Fernando suspirou. Movendo a mão, segurou o braço de sua amada, apertando-o levemente. Logo após fechou os olhos e sentiu o calor de seu toque. Ambos ficaram ali, em silêncio, aproveitando aquele momento.
Depois de um tempo, Karol puxou os braços, despertando o rapaz de seu estado. Então moveu suas mãos em direção ao cabelo dele, tateando entre as mechas com seus dedos.
“Você está começando a ficar cabeludo, que tal me deixar cortá-lo para você? Vou fazer um corte bacana, vai ser seu presente de aniversário.” Karol disse, em tom de brincadeira.
Fernando se virou e olhou para sua esposa, que o encarava com um largo sorriso, então olhou para o espelho que estava na parede ao lado da cama. Assim como ela disse, seus cabelos eram uma bagunça, estavam aos poucos ficando tão compridos que logo chegariam nos seus olhos.
Como alguém que nunca se importou com sua aparência, o jovem não se preocupava muito com coisas assim, sempre cortando um pouco o cabelo, de qualquer jeito, quando o incomodava.
“Tudo bem.” disse, olhando para ela e sorrindo. Ele havia concordado apenas para atender os caprichos dela.
Bem, tanto faz. No pior dos casos eu só raspo tudo depois. pensou, imaginando algum corte exótico que sua esposa poderia fazer.
“Ei, por que sinto que estou sendo subestimada?” disse, olhando para ele com olhos semicerrados.
“Não sei do que você está falando.”
O casal olhou um para o outro, então começaram a rir.
Movendo-se até o criado-mudo ao lado da cama, ela pegou uma tesoura e um pente.
“Então vou começar, nada de bisbilhotar.” disse, virando Fernando para o outro lado, para que não se olhasse no espelho.
O jovem apenas sorriu levemente com as brincadeiras de sua mulher e fechou os olhos.
Clack! Clack!
Uhumhum! Humhu!
O som da tesoura soou no quarto, enquanto se misturava com o cantarolar de Karol.
Fernando apenas manteve os olhos fechados, aproveitando o momento enquanto aguardava o resultado. No entanto, algo o distraiu por um segundo.
“Eh… Acho que não era pra ser assim. Talvez assim…”
Clack! Clack!
“Ugh…”
Mesmo que não se importasse tanto com a aparência, começou a ficar ansioso ao ouvir isso, pensando se ele ficaria muito estranho careca.
Depois de alguns minutos, Karol moveu o pente uma vez e outra, então finalmente parou, descendo da cama.
“Ok, pode abrir os olhos.”
Quando Fernando abriu, olhou-se no espelho que sua mulher segurava. Sua expressão mudou por um segundo.
A parte de trás e as laterais do seu cabelo estavam bem rebaixadas, enquanto a parte de cima estava curta, penteada para trás. O penteado era como se fosse um corte estilo degradê. Isso o surpreendeu completamente.
“E então, o que achou?” Karol perguntou, com um sorriso. “Eu errei algumas coisas no começo, então tive que alterar um pouco, hahaha.”
Fernando levantou-se, pegando o espelho e conferindo, com um rosto ainda surpreso.
“Ficou muito bom.”
Inicialmente ele não esperava nada demais, mas ao ver o resultado final, achou que era algo realmente agradável de se olhar e mais do que isso, prático de manter.
“Eu sabia que ia gostar.” Sua esposa respondeu, com uma expressão satisfeita.
Enquanto ambos conversavam e se divertiam, duas batidas soaram na porta.
“Líder, está na hora.” Era a voz de Theodora.
“Já estou saindo.” respondeu, pegando sua armadura e colocando-a.
Karol também terminou de se preparar. Logo ambos saíram do quarto.
Assim que o jovem Tenente colocou os pés para fora, a Subtenente se surpreendeu ao olhar para sua mudança de aparência. O visual desleixado de seu Tenente havia sumido e um novo Fernando tinha surgido.
“Hm, o Líder está mais saboroso que o normal.” Theodora falou, sorrindo de orelha a orelha. “Muito mais… Másculo.”
Karol franziu a testa com as palavras ousadas da mulher, mas nesse ponto isso já não a afetava tanto como antes.
Fernando suspirou levemente com o comentário.
“Como estão as tropas?” perguntou.
“Aguardando suas ordens.”
Ouvindo isso, assentiu. Então o trio seguiu em direção ao salão de guerra.
Quando chegou ao local, todas as tropas já estavam enfileiradas, com exceção de Karol, que havia acabado de chegar e correu para seu posto. Todos os esquadrões estavam ordenados com seus Cabos a frente, e a frente de cada Pelotão seus Oficiais.
Não muito atrás, as pessoas da recém criada Unidade de Logística pareciam levemente deslocados do restante das tropas, mas o velho sujeito chamado Damon parecia alguém perspicaz e rapidamente os colocou em ordem.
Vendo isso, o jovem Tenente assentiu. Inicialmente, ele pensou em designar algum Cabo para liderar a Unidade de Logística, mas rapidamente mudou de ideia. Alterar as coisas nesse ponto seria problemático e o velho homem, como um ex-Sargento, parecia ser mais do que adequado.
Subindo no pequeno palanque com Theodora, onde Ilgner, Tom e Argos aguardavam, Fernando varreu seus olhos sobre a multidão observando calmamente seus homens. Então olhou para Ilgner, que estava ao seu lado esquerdo.
O mesmo entendeu, então pôs-se à frente.
“Estamos partindo!” falou, utilizando um amplificador de voz.
O jovem Tenente saltou e caminhou calmamente para frente, adentrando em meio às tropas, seguido por Theodora, Ilgner, Tom e Argos. Quando eles atravessaram todo o Batalhão, o Primeiro Pelotão, liderado por Noah, começou a se mover.
“Vamos, vamos!” Noah gritou, incitando os soldados.
Logo depois, o Segundo Pelotão, liderado por Trayan, o Terceiro por Gabriel, o quarto por Archie e o último por Kelly, se moveram. Após as tropas avançarem em direção à saída, Damon levou a Unidade de Logística logo atrás.
No final da madrugada, o Batalhão Zero avançou pelas ruas de Belai, rumando em direção ao portão do Sul.
Apesar do sol mal ter começado a aparecer, muitas pessoas estavam nas ruas mal iluminadas, presenciando a partida das primeiras tropas.
A marcha das tropas chamou a atenção de algumas pessoas que estavam num bar, logo todos saíram curiosos e observaram em silêncio a passagem dos soldados.
Um homem jovem, que viu aquela cena, não pensou muito a respeito, vendo aqueles soldados marchando com o símbolo da Legião dos Leões Dourados no lado direito do seu peitoral. No entanto, ao ver a insígnia ‘Zero’ pintada na braçadeira que estava no braço esquerdo de alguns homens, não conseguiu evitar de tremer.
Com seu coração batendo fortemente, o homem levantou seu braço com o punho fechado, então urrou com todas as suas forças.
“VIVA O BATALHÃO ZERO! VIVA!”
Foi só quando o rapaz gritou isso, que todos entenderam que aquelas eram as tropas do Batalhão Zero, que haviam sido designadas para as Tropas Exploratórias.
A verdade é que apesar do caso com a Guilda Fúria ter feito muitos criticarem eles, a quantidade de apoiadores ainda era enorme. Muitos sabiam dos feitos do Tenente e dos demais na vitória ao cerco de Belai, e sabiam que eram graças a essas pessoas que estavam vivos.
“Viva ao Batalhão Zero!” Outro homem gritou.
“VIVA!”
“VIVA!”
Os gritos das pessoas espalharam-se, acordando muitos dos que ainda dormiam. Por onde as tropas do Batalhão passavam, mais e mais pessoas começaram a gritar.
Muitos dos que acordaram por causa da comoção saíram de suas casas. A cidade prestes a amanhecer, que outrora estava num escuro silencioso, despertou.
Com o rosto erguido e os clamores do povo, Fernando e os demais membros do Batalhão Zero partiram, deixando a Cidade de Belai.