Knight Of Chaos - Capítulo 296
Tac! Tac! Tac!
Em uma sala escura, um homem branco com cabelo bagunçado segurava uma espécie de caneta. A cada poucos segundos tocava a ponta na superfície do papel, causando um tique rítmico, quase como o Tic Tac de um relógio.
Clink!
A porta foi aberta, então uma linda mulher com longos cabelos prateados entrou. Seu rosto estava pálido e sua expressão abatida, mas mesmo assim no fundo de seus olhos havia um fio de selvageria fria e obstinada.
Tac! Tac! Tac!
O homem se manteve inerte, mesmo com a presença da mulher ali. Então, de repente parou, olhando para a parede vazia a frente.
“Começou?” perguntou, de forma calma.
A expressão da mulher era de extremo cansaço, mas sua voz mantinha um tom frio e indiferente ao seu estado.
“O General Kalfas convocou o restante das forças de todas as guarnições da cidade. O senhor deve ir ao Salão da Recepção para a última reunião estratégica, nós já… Estamos cercados, Capitão Viktor.” A mulher em questão era Gallia, Tenente da Décima Terceira Guarnição de Vento Amarelo, enquanto o homem à sua frente era Viktor Yujin, Capitão da guarnição.
Viktor Yujin levantou seu rosto, olhando para Gallia.
“A Cidade Dourada, ou mesmo o Conselho Superior, alguém respondeu ao nosso chamado?”
Em resposta a sua pergunta, Gallia apenas fez o sinal de negação.
Vendo isso, um sorriso surgiu no rosto de Viktor.
“Hahaha, que novidade, não é mesmo?”
Após algumas risadas, o sorriso no rosto do homem diminuiu, até que sua expressão ficasse endurecida.
“Hora de derramar sangue.” disse, levantando-se. Então caminhou lentamente até a porta, parando próximo a saída. “Alguma notícia de Raul ou do seu protegido?”
Ouvindo a pergunta, os cílios de Gallia tremeram levemente, mas sua expressão permaneceu calma.
“As comunicações com o exterior permanecem cortadas. Só conseguimos enviar mensagens à Cidade Dourada e à sede do Conselho Superior. Ambos permanecem em silêncio.”
“Tsc! Tanto faz.” Viktor disse, saindo.
Após o Capitão sair, Gallia suspirou levemente, uma expressão incomum tomando conta de sua face.
“Viva bem, meu querido aluno.” disse, olhando para o nada. Após isso, sua habitual expressão gelada retornou ao rosto. Então caminhou para fora.
Assim que saiu, duas sombras surgiram à sua direita e à esquerda. Era Dakota e Dave, seus dois Subtenentes.
“As tropas estão prontas, mestra.” Dakota disse, em tom de reverência.
“As preparações estão completas, ao seu comando, Tenente.” Dave falou, de forma calma.
Gallia não olhou para nenhum dos dois, mas seus olhos brilharam num tom azul.
“Vamos à guerra.”
…
Belai, um dia após a festa de casamento do Tenente do Batalhão Zero.
A maioria dos membros do batalhão havia comido e bebido à vontade no dia anterior, divertindo-se, mas agora a rotina diária deveria ser retomada, assim como o treinamento.
Os Cabos marchavam de um lado ao outro, levando seus esquadrões a realizar manobras de ataque e defesa. A maior dificuldade de lidar com tropas novatas era trazer um ‘ritmo’ ao esquadrão, dificuldade encontrada pela maioria dos líderes.
“Seus fracotes! Corram mais rápido, quem ficar para trás vai ser punido!” Emily gritou, com um rosto tão vermelho quanto seu cabelo.
As tropas atrás dela tinham rostos cheios de medo, olhando para a ‘pimentinha’ como muitos apelidaram dentro do Batalhão. Para outros esquadrões a pequena ruiva esquentada era tema de piadas e brincadeiras, mas para os membros daquele esquadrão, suas ordens eram como se fossem decretos, ninguém ousava desobedecer.
Com um rosto suado, Emily correu, enquanto dava ordens e fazia pausas repentinas para posições defensivas. Os arqueiros deveriam se posicionar na retaguarda e se proteger, enquanto as tropas de curto alcance tomavam a iniciativa de abrir espaço e formar um perímetro defensivo.
“Vocês dois, três metros para a direita, abram distância dos atacantes, como vão atirar daí? São idiotas por acaso?”
Depois de lutar tantas batalhas como arqueira, ela conseguia identificar quase que instantaneamente o lugar mais seguro e adequado para disparar, assim como o momento correto de se movimentar.
Mesmo recebendo insultos e gritos a todo momento, os arqueiros tinham rostos admirados ao receberem suas instruções.
A poucos metros dali, no pátio do segundo andar, Lance e Noah observavam com os braços cruzados.
“Quem diria, aquela cabeça de vento até que é boa hahaha.” Lance falou, rindo.
“Ela pode falar muita abobrinha, mas sabe o que está fazendo.” Noah disse, com um leve sorriso. Então olhou para Lance. “Você já não deveria estar com seu esquadrão? Tá fazendo corpo mole, é?”
Ouvindo isso, Lance congelou por um segundo.
“Claro que não, apenas deixei eles fazendo um treinamento especial.”
Noah virou o rosto para ele.
“Que tipo de treinamento? Fale mais.”
“Ahem, você sabe… Coisas de soldado…” Lance falou, com um rosto tenso.
Noah permaneceu o encarando, sem dizer nada.
O rosto de Lance começou a suar levemente, os olhos de Noah eram como dois faróis.
“Ah! Tá bom! Eu to fazendo corpo mole, satisfeito? Caramba, só de ver a Emily correndo já tô cansado.”
Ouvindo isso, Noah balançou a cabeça.
“Você sabe que vamos sair em dois dias, volta pra lá e põe seu pessoal em linha! Como eles vão respeitar um Cabo que não acompanha seu treinamento?”
“Tá, tá, já entendi. Você é tão certinho, ‘Oficial Noah’.” Lance falou, com uma falsa cordialidade. “Droga, o poder muda as pessoas mesmo… Onde está aquele meu amigo mauricinho que amava falar sobre garotas?”
Ouvindo isso, Noah deu de ombro.
“Isso é passado, não temos tempo pra isso agora. Temos que ajudar o Fernando o máximo que pudermos.”
“Passado, sei, não faz tanto tempo assim que a gente tava tentando adivinhar a cor da calcinha da K-”
Bang!
Antes que Lance pudesse terminar, um soco o atingiu no estômago, então uma mão o segurou pelo pescoço.
“Esse segredo, você deve levar contigo para o túmulo.”
Lance segurou o braço, então gritou.
“Maldito, as gerações futuras saberão o que você fez!”
Nesse momento Ronald apareceu com um rosto suado na entrada.
“O que vocês estão fazendo?”
Tanto Lance, quanto Noah se soltaram assim que o viram, disfarçando.
“Treinando, não é evidente?” Lance disse.
“Sim, treinando.” Noah concordou ao lado.
“Hm, entendi.” Ronald disse, tirando uma garrafa com água e bebendo alguns goles. “Por sinal, sobre a calcinha de quem vocês estavam falando?”
“…”
…
Deitado na cama macia, Fernando olhou para o teto por alguns segundos. Era um costume que adquiriu ao longo do tempo, por algum motivo isso acalmava sua mente.
Depois de um tempo olhou para o lado. Karol estava dormindo num sono profundo, envolvida em lençois. Vendo-a enrolada como um filhotinho com frio, Fernando não conseguiu evitar de sorrir.
Na noite anterior todos haviam comemorado seu casamento, Fernando sentia-se tonto, como se tudo não fosse real.
Olhando para seu dedo, uma aliança com as iniciais K.F. Como foi algo repentino, não teve tempo de preparar um presente adequado para Karol, então mandou um ferreiro fazer alianças simples de metal comum com sua inicial e a dela.
Mesmo sem adornos, joias ou metais caros, Karol havia gostado, isso tranquilizou seu coração.
Levantando-se, começou a vestir sua armadura. Após terminar, olhou para a mulher com quem acabou de se casar.
Fernando sentiu-se mal consigo mesmo, se pudesse ficaria ao seu lado, mas suas obrigações tocavam em sua mente como unhas arranhando uma lousa negra. Não conseguia descansar ou dormir sabendo que o tempo estava contra ele.
“Me desculpe, prometo que vou compensá-la.” Fernando disse, beijando-a suavemente na bochecha, tomando cuidado para não acordá-la. Após uma última olhada, saiu.
Quando Fernando saiu, os olhos de Karol abriram devagar.
“Seu bobo, não preciso de compensação, só de você.”
Quando Fernando chegou ao centro do campo de treinamento, todos os olhos se voltaram imediatamente para ele.
Por onde passava os soldados o cumprimentavam, ele sempre respondia de volta ou acenaria com a cabeça. Então foi em direção a entrada da Residência, passando pelo corredor interno.
“Líder, onde você vai?” Uma voz soou não muito longe.
Olhando para trás, Fernando viu Theodora. O fato da mulher surgir sem que ele percebesse não o surpreendia mais.
“Vou ao Salão de Belai, tenho algo a fazer.”
Theodora que ouviu isso, tinha um sorriso.
“Líder, você é o Tenente do Batalhão Zero e mesmo assim está tentando sair sozinho de fininho?” disse, caminhando até ele.
Fernando coçou levemente o queixo, não é como se ele quisesse sair de fininho.
“Se você sair, leve alguém com você. Kelly!”
Assim que Theodora disse isso, Kelly apareceu, de trás da porta do corredor lateral.
Dessa vez Fernando ficou realmente surpreso, afinal, apenas Theodora conseguia chegar tão perto dele sem que sentisse.
“Líder, eu farei sua segurança.” Kelly falou, a antiga timidez dela não era mais tão visível como antigamente.
Fernando pensou em negar, mas vendo o olhar cheio de expectativa da garota, apenas assentiu.