Insaydra - Capítulo 1
Em eras ancestrais, conforme descrito nos antigos livros, deuses travavam intensas batalhas pela supremacia do planeta, criando seres mágicos colossais à sua imagem para servirem de guerreiros em suas batalhas. Estes seres, moldados pela essência dos deuses, personificavam o poder e a grandiosidade dos criadores.
Eles nutridos pelo mana emanado de seus criadores, detinham poderes capazes de desencadear tempestades monumentais, abalar o solo com terremotos devastadores, provocar erupções vulcânicas imensas e até mesmo fragmentar montanhas inteiras num piscar de olhos.
Contudo, exaustos de serem apenas peões descartáveis nas disputas dos deuses, tais criaturas uniram-se em um pacto sagrado para desafiar diretamente seus criadores divinos, relegando-os ao esquecimento e assumindo para si mesmos o domínio da terra que outrora fora palco de inimagináveis massacres.
Com a ausência gradual do mana liberado por seus criadores, esses seres começaram a enfraquecer, perdendo seu tamanho e poder ao longo do tempo. Um por um, eles foram desaparecendo, dando lugar às primeiras civilizações que surgiram sobre os resquícios dessas criaturas antigas.
Mil e quinhentos anos se passam desde então.
Nação de Arcanos:
Um vasto continente, repleto de uma ampla diversidade de criaturas mágicas.
Suas terras são pontilhadas por pequenos grupos de aldeias, cada uma com sua própria cultura e modo de vida.
Alguns desses grupos coexistem pacificamente, enquanto outros vivem por meio de conflitos.
No extremo oeste de Arcanos, ergue-se a modesta Aldeia do Sol, batizada em homenagem aos campos dourados de trigo que compõem seu território e constituem sua principal fonte de riqueza.
Nesta aldeia, a presença dos insectas é proeminente. Indivíduos desta espécie possuem olhos escuros e antenas que se assemelham às dos insetos em suas cabeças.
Com uma população de aproximadamente 300 habitantes, esta comunidade habita casas singelas feitas de madeira e musgo, dispostas em torno da residência da matriarca Celestia, a respeitada líder local.
A pedido de Lady Celestia, um pequeno orfanato foi estabelecido para acolher as crianças que perderam seus entes queridos durante a Guerra de Dracora.
Entre elas reside um garoto draconid de 10 anos chamado Den. Desde o nascimento, Den enfrentou a rejeição de todos os outros moradores da aldeia devido aos feitos de seus antepassados.
Com olhos alaranjados, cabelos negros, orelhas pontudas e imponentes chifres avermelhados que se erguem de sua cabeça, Den nunca teve o privilégio de conhecer outro de sua espécie, sendo deixado na aldeia logo após seu nascimento.
Ele carrega consigo uma valiosa joia que mantém em segredo de todos, a única lembrança deixada para ele antes de ser abandonado no nascimento.
A joia era um objeto oval, reluzente, com um símbolo de um dragão gravado em sua superfície.
Os draconids, outrora numerosos, eram temidos por todas as nações, sendo responsáveis pela grande guerra no passado, aniquilando indiscriminadamente qualquer um em seu caminho. Homens, mulheres e até mesmo crianças de outras espécies eram considerados nada mais do que descartáveis diante deles.
Durante esse período sombrio, inúmeras vidas e civilizações sucumbiram à destruição.
Porém com a morte do Rei Dracora e consequentemente a derrota de seu reino, os draconids sobreviventes começaram a ser caçados, a ponto de serem considerados extintos.
Deslizando descalço pela grama, vestindo uma simples camisa e shorts puídos, Den segue seu caminho habitual pela aldeia, em direção ao seu esconderijo secreto, o único refúgio onde pode encontrar um lampejo de felicidade.
— Olha só, é aquele garoto esquisito — sussurra uma criança ao avistar Den — Meu pai disse para não nos aproximarmos dele.
Den acostumado com esses comentários continua seu trajeto em silêncio com seu olhar vazio e desprovido de expressão.
Em um pequeno bosque distante da aldeia, Den se aventura em um esconderijo improvisado, camuflado por folhas e galhos, cuidadosamente oculto entre a vegetação.
Apanhando sua joia cuidadosamente guardada dentro de uma pequena caixa de madeira enterrada na terra, Den a segura com firmeza enquanto a contempla intensamente, até que uma lágrima solitária escorre de seu rosto.
— Por quê? — murmura Den, enquanto lentamente as lágrimas começam a rolar.
— Eu não…
Ele aperta a joia contra o peito, como se estivesse abraçando alguém.
Den segurou seus sentimentos por tanto tempo que finalmente desaba em lágrimas.
Cada gota de lágrima reflete seu desejo ardente de ser aceito, de não ser julgado pelo passado atroz de seus antepassados.
Den cuidadosamente enterra novamente a joia, preparando-se para retornar à aldeia, enquanto uma leve brisa acaricia seu rosto, ele gentilmente enxuga as lágrimas na camiseta.
Agora, fazendo o caminho de volta, Den percebendo o pôr do sol, começa a correr, consciente de que seria punido caso estivesse fora do orfanato após o anoitecer.
Ao chegar à porta, Den se depara com a cuidadora de braços cruzados, encarando-o seriamente.
— Novamente você? — diz ela, dirigindo-se a Den.
Ela se vira para as outras crianças órfãs, chamando a atenção de todos.
— Escutem! — Como punição, todos ficarão sem jantar hoje!
— Mas isso não é justo — interrompe uma das crianças — Deixe só ele sem jantar.
— Silêncio! — repreende a cuidadora — Talvez assim ele aprenda a obedecer às regras.
Den abaixa a cabeça, olhando suavemente para baixo enquanto segura as mãos apreensivo diante da situação.
No silêncio da noite, após todos irem para a cama sem jantar, Den é surpreendido por um soco que atinge seu estômago, fazendo-o se contorcer de dor.
Rapidamente, ele se levanta da cama, segurando sua barriga dolorida.
— Você achou que ia sair ileso? — diz um dos meninos, em tom ameaçador, intimidando Den.
Todos se unem, desferindo socos e chutes nele. Den tenta se proteger, colocando os braços em volta do rosto enquanto se ajoelha. Na penumbra do quarto, apenas as sombras das silhuetas das crianças são visíveis.
— Tudo isso é por sua culpa!
— Tome isso!
A violência só cessa quando a cuidadora bate na parede entre os quartos.
— Silêncio!
Sem proferir uma palavra, Den agora no chão do quarto se encolhe em posição fetal, lágrimas rolando por seu rosto durante o resto da noite.
Ao amanhecer, Den ainda estava deitado no chão, adormecido, quando é despertado por um empurrão de um dos garotos do quarto.
— Acorde, não nos faça ser punidos de novo.
Den se levanta rapidamente e se arruma para a chamada matinal, conduzida pela cuidadora, como de costume todas as manhãs.
— Atenção, em fila! — Ordena a cuidadora, erguendo a voz para que todos ouçam — Vou começar a chamada.
Após concluir a chamada, a cuidadora indica que precisa fazer um anúncio importante e pede a atenção de todos.
— Hoje, receberemos a visita de alguém muito importante — ela continua — Lord Celes e sua sobrinha, Lady Charlotte, desejam visitar o orfanato.
Ela fixa um olhar sério em cada criança.
— Qualquer tipo de desrespeito será severamente punido, entenderam?!
— Sim, Sra. Odelia! — respondem as crianças em uníssono.
— Agora, todos podem ir para o refeitório — anuncia a cuidadora, liberando as crianças para o café da manhã.
Enquanto as crianças se dirigem ao refeitório, a cuidadora Odelia coloca a mão em cima do ombro direito de Den, olhando seriamente para ele.
— Ei, garoto, não quero surpresas suas hoje — adverte ela — E vá lavar esse rosto inchado.
Den baixa sua cabeça em silêncio enquanto segue para o refeitório.
Como de costume todas as manhãs, as crianças comiam juntas, brincando e se divertindo. No entanto, Den sempre se sentava sozinho em um canto da mesa, com apenas a visão da floresta através da janela em sua frente, onde o ar fresco se infiltrava, refletindo uma sensação de curiosidade sobre o mundo lá fora.
*O que será que existe além daquela floresta?*
Den se perguntava todas as manhãs, nutrindo inúmeras fantasias sobre o mundo exterior.
Desde que foi deixado na aldeia, ele nunca pôde explorar além de seus limites, alimentando sua imaginação com todo tipo de sonhos.
— Crianças, juntem-se aqui — chama a cuidadora Odelia.
Após o café da manhã, ela ordena que se alinhem em frente ao orfanato, aguardando a chegada de Lady Charlotte e Lord Celes.
Após pouco tempo, uma imponente carruagem puxada por grandes besouros vermelhos para em frente ao orfanato.
Descendo da carruagem, Lord Celes, um homem alto de cabelos loiros longos, olhos negros e duas antenas distintivas em sua cabeça, características típicas de sua espécie, está elegantemente vestido com um terno preto, evidenciando sua opulência.
Em resposta à sua presença, Odelia e as crianças se curvam respeitosamente diante dele.
— Me desculpe pela aparição repentina, Sra. Odelia, mas minha sobrinha não parava de insistir para vir — diz Lord Celes para a cuidadora, cumprimentando-a com gentileza.
— Esta é sua casa, meu senhor, é livre para visitá-la quando desejar — responde Odelia cordialmente.
— Mas que demora, tio — exclamou Lady Charlotte, abrindo lentamente a porta da carruagem enquanto desce.
Seus lindos cabelos dourados dançavam suavemente ao vento, realçando ainda mais sua beleza ao lado de seus olhos e antenas escuras.
Ela está vestida em um elegante vestido branco bordado com fios de teia de aranhas mágicas, enquanto um laço preto complementa sua sofisticação.
Diferentemente de todos os outros insectas da aldeia, Charlotte tinha quatro braços e não dois, como de costume da espécie.
— Charlotte, o que eu te ensinei? — diz Lord Celes, olhando para ela enquanto cruza os braços.
— É um imenso prazer conhecê-los — responde Lady Charlotte, curvando-se elegantemente.
— Crianças, por que vocês não mostram o orfanato para a jovem lady? — Diz a cuidadora enquanto discute alguns assuntos com Lord Celes.
Algum tempo se passa, enquanto os órfãos conduzem Charlotte em uma visita pelas diversas salas do orfanato, todos encantados com sua presença, bajulando-a calorosamente.
No entanto, diferente dos demais, Den opta por se afastar, permanecendo do lado de fora, sentado na grama, acompanhado apenas pelos seus próprios pensamentos.
Enquanto estava sentado, Den sente um toque suave em sua cabeça, acariciando gentilmente sua cabeça.
— O que você está fazendo aqui fora sozinho? — pergunta uma voz suave.
Assustado, Den se vira rapidamente, encontrando Charlotte parada em pé atrás dele enquanto mantém seu sorriso.
— Lady, você não deveria falar com ele — diz um dos órfãos, preocupado.
Ignorando o comentário, Charlotte se senta ao lado de Den, oferecendo-lhe companhia.
— Será que vocês poderiam nos deixar a sós? — Charlotte pede gentilmente para os órfãos.
— Mas, minha lady, esse garoto…
— Vocês se lembram do que a Srta. Odelia nos disse? — Os órfãos começam a discutir entre si e, finalmente, acatam o pedido de Lady Charlotte.
— Seu nome deve ser Den, certo? — pergunta Charlotte, gentilmente.
Den apenas assente com a cabeça, mantendo o olhar baixo, incapaz de encontrar seus olhos.
— Minha mãe falou muito sobre você, sabia?
— Ela disse que você foi deixado aqui há muito tempo atrás.
Enquanto Charlotte tenta conversar com Den, os órfãos, embora tenham dado espaço para os dois, ainda os observam de longe com inveja, pois Den está recebendo toda a atenção dela.
Ao entardecer, chega a hora de partirem.
— Está na hora, Charlotte — diz Lord Celes, parado em frente ao orfanato, pedindo para a sobrinha se despedir.
— Já estou indo, tio — responde Charlotte, levantando-se do lado de Den.
— Vamos? — Charlotte estende o braço e abre a mão, convidando Den a acompanhá-la até a entrada.
Den, ainda sem conseguir olhar nos olhos dela, aceita e a segue.
— Volte quando desejar, Lord Celes — agradece Odelia.
— Hoje foi divertido, obrigada pela recepção — curvando-se levemente, Charlotte expressa sua gratidão.
Após as despedidas, Lord Celes espera Charlotte na frente da carruagem com a porta aberta.
— Vamos, Charlotte.
Enquanto caminha, ela para de repente, olha para trás e, certificando-se de que todos podem ouvi-la, diz:
— Se algo acontecer, me avise, está bem? — Ela sorri olhando na direção de Den.
Finalmente, eles entram na carruagem e partem.
*Então aquele garoto ainda está aqui.*
Reflete Lord Celes enquanto observa o orfanato se afastando pela janela da carruagem.
Puxando o braço de Lord Celes, Charlotte implora incessantemente:
— Tio, tio, posso voltar amanhã?
— Não posso ficar vindo aqui toda hora, Charlotte.
— Mas, mas, vai ser só até a mamãe voltar de viagem — Ela olha docilmente para ele enquanto suplica.
— Está bem, pedirei aos guardas para acompanhá-la.
No orfanato, enquanto se preparavam para dormir, as crianças no orfanato olhavam para Den com desprezo e faziam comentários maldosos sobre ele.
— Por que ela fala com ele? — resmunga uma delas — Só um insecta real para conseguir aturar ele mesmo.
Após os órfãos dormirem, Den deitava-se e refletia sobre o que havia acontecido. Colocando a mão sobre a cabeça, ele recordava o gesto de carinho de Charlotte, o único ato gentil que havia recebido desde muito tempo.
Com um sorriso no rosto, ele fechava os olhos, sentindo-se reconfortado por aquele momento.
No dia seguinte, enquanto todos se preparam para o café, uma batida ressoa na porta da frente.
— Quem será a essa hora? — murmura a cuidadora Odelia, segurando uma xícara de café enquanto se dirige à porta.
Ao abri-la, ela é surpreendida por Lady Charlotte, acompanhada por dois cavaleiros de armadura vermelha.
— Bom dia, Sra. Odelia — cumprimenta Charlotte.
— Lady Charlotte! — exclama Odelia, se assustando e deixando a xícara de café manchar sua roupa.
— Me desculpe, não esperava sua visita hoje, lady.
— Posso passar a manhã com vocês? — pergunta Charlotte.
— É, é claro, minha lady — responde Odelia enquanto tenta limpar suas roupas.
Assim que Charlotte entra no salão, os órfãos começam a chamar sua atenção.
— Lady Charlotte, tem lugar aqui nesta mesa.
— Não, aqui é melhor!
No entanto, ela continua caminhando sem nem olhar para eles, dirigindo-se a Den, que estava sentado sozinho em outra mesa.
— Bom dia, Den — ela cumprimenta, sentando-se ao lado dele e pedindo para um dos guardas servi-los.
No decorrer da tarde, Charlotte e Den se divertem no gramado próximo ao orfanato.
— E foi assim que aconteceu — diz Charlotte, enquanto conta uma história sobre sua vida na mansão.
— Você é muito esperta — responde Den, surpreendendo Charlotte ao falar pela primeira vez.
Charlotte, surpresa, comenta:
— Ah, então você fala, não é mesmo?
Den sorri e desvia o olhar, envergonhado.
Nos dias seguintes, Charlotte passou a frequentar constantemente o orfanato, e o vínculo entre eles parecia se fortalecer.
— Minha mãe me deu esse vestido de aniversário. Ela disse que veio de muito longe, de um lugar chamado Umbra — comenta Charlotte com Den, exibindo seu vestido branco que parecia ser muito valioso.
— É realmente muito bonito — responde Den, admirando o vestido.
— E você, Den, já te presentearam com algo? — pergunta Charlotte.
Den abaixa sua cabeça e reluta em compartilhar a existência de sua joia, a única coisa que ele amava nesse mundo.
*Se eu não mostrar nada, ela pararia de me visitar?*
Den se cala, refletindo por um momento.
— Você tem, não é? — Charlotte gentilmente segura a mão de Den, encorajando-o a dizer.
— Mas você não pode contar a ninguém — relutantemente, Den concorda.
— Eu prometo — respondeu Charlotte.
Sem que nenhum guarda estivesse observando, Den guia Charlotte até seu esconderijo.
Enquanto segue a trilha, Den toma a dianteira, desviando os galhos para que Charlotte possa passar.
— Então é aqui? — Charlotte olha ao redor, observando todo o amontoado de folhas — Onde está?
Den começa a cavar o solo até encontrar a caixa de madeira enterrada.
— Está aqui — ele responde, abrindo lentamente a caixa, e entrega a joia a ela.
Os olhos de Charlotte se iluminam com o brilho da joia da assim que ela o pega.
*É exatamente como as das histórias que a mamãe contava.*
— Ele é muito importante para mim — comenta Den, com as mãos cobertas de terra.
— Mas já está ficando tarde, se me atrasar a Sra.Odelia vai me castigar — comenta Den, enquanto Charlotte ainda estava imersa, maravilhada com a joia.
— Lady Charlotte? — ele a chama novamente, trazendo-a de volta à realidade.
— Ah, sim, o orfanato — ela responde, sem demonstrar a animação habitual.
Den guarda novamente a caixa, enterrando-a na terra, e então os dois retornam para o orfanato. Enquanto retornam Charlotte não diz absolutamente nada, apenas caminha com passos firmes.
Como de costume, a cuidadora e os órfãos se reúnem na frente do orfanato para se despedirem de Charlotte.
— Até amanhã, Charlotte — Den se despede pela primeira vez, surpreendendo a todos.
Charlotte se afasta sem olhar para trás e sem falar com ninguém, entrando na carruagem.
No dia seguinte, Den espera ansiosamente por Charlotte na frente do orfanato, como tem feito nos últimos dias.
*Será que ela se atrasou hoje?*
Depois de várias horas de espera, Den desiste de esperar e segue para seu esconderijo sozinho.
Ao se aproximar, ele percebe sinais de galhos quebrados, folhas cortadas e buracos na terra.
Começando a ficar desesperado, ele corre até onde havia enterrado a caixa com a joia.
*Onde está? Era para estar aqui!*
Cavando freneticamente, ele entra em pânico ao encontrar a caixa aberta entre a vegetação e perceber que sua joia foi roubada. Seus joelhos fraquejam, fazendo-o cair de joelhos no chão, enquanto lágrimas não param de cair.
Então, ele lembra que a única pessoa que sabia sobre a joia era Charlotte. Sentindo uma mistura de raiva e arrependimento, Den reúne suas forças para se levantar e corre para o centro da aldeia, em direção à mansão dos lordes.
Chegando próximo à entrada, Den avista Lorde Celes em frente à mansão, acompanhado por dois de seus guardas.
— Onde ele está? Onde?! — Den grita incessantemente enquanto corre em direção ao lord.
— Ei, você aí, pare! — adverte um dos guardas, segurando a bainha de sua espada e se preparando para atacar.
No entanto, o outro guarda golpeia Den atrás da nuca, o que faz Den tropeçar e cair no chão, sendo então detido pelo guarda.
— O que devemos fazer com ele, meu lord? — pergunta um dos guardas, segurando Den ajoelhado no chão diante de Lord Celes.
*É aquele garoto…*
Pensa Lord Celes, observando-o com atenção.
— A joia… ela roubou… — murmura Den, com sua determinação e raiva gradualmente transformando-se em tristeza.
— Charlotte, o que esse garoto está dizendo? — pergunta Lord Celes.
Charlotte, que estava escondida atrás do portão, sai com o vestido coberto de barro.
Den ergue a cabeça, olhando para Charlotte enquanto ela comenta:
— Eu não faço ideia do que esse garoto esquisito está dizendo — ela responde, gesticulando seu clássico sorriso sutil.
Cruzando os braços, Lord Celes comenta:
— Agradeça à minha bondosa irmã por você ainda vivendo entre nós.
— Se não fosse por ela, você jamais seria aceito nessa aldeia, draconid.
Com isso, Den se desespera, conseguindo se soltar dos guardas e sai correndo para longe em lágrimas, em direção à floresta além dos limites da aldeia.
— Lord, devemos capturá-lo? — pergunta o guarda.
— Deixem que ele vá.
— Ele não é mais problema nosso — responde Lord Celes, mantendo sua expressão séria.
A lua da noite já iluminava os céus, transformando a escuridão da floresta em algo ainda mais assustador.
Den, porém, continuava correndo sem se importar com mais nada, apenas buscando escapar daquela realidade. Até que tropeça em teias que o fazem cair no chão.
*Por que isso está acontecendo?*
Den se questionava, deitado no solo com o rosto coberto de terra e lágrimas.
Reunindo a força que lhe resta, Den se levanta novamente e continua correndo pela floresta, sem rumo.
Mesmo sem saber para onde estava indo, Den persistia, até que ele se depara com um grande penhasco rochoso, onde embaixo corria um forte córrego de águas turbulentas.
Parado em pé de frente ao penhasco, com a cabeça turbulenta e sem forças, Den começa a ser assolado por lembranças dolorosas e palavras cruéis que ouviu ao longo da vida.
*Eu deveria mesmo existir?*
*Eu sou nada mais que um monstro.*
*Se eu não estiver aqui, todos serão mais felizes.*
Quando Den tenta dar um passo para trás, um ruído de galho se quebrando emerge dos arbustos.
— Olhe só irmã, um garotinho perdido.
— Hum, qual será o sabor da carne dele?
Duas figuras misteriosas, com seus longos cabelos negros cobrindo seus seios, corpos metade aranha e seis olhos vermelhos cada uma, surgem diante dele causando arrepios em Den, que perde o equilíbrio e cai do topo do penhasco, sendo engolido lentamente pela correnteza do córrego abaixo.
Den afunda lentamente, com uma última visão daquelas arachnas descendo pelo penhasco em sua direção, até perder a consciência.
*Então este é o meu fim…*