As Paredes do Céu Negro - Capítulo 2
Uma onda de cansaço inundava a sua mente com pensamentos confusos. Sofridamente, lutou para reconhecer a sombra sobre seus olhos: a marca da inconsciência.
Ou melhor, de uma etapa intermediária entre ela e os pés no chão, no mundo real. Lembrava-se de ter sentido isso por várias vezes no passado.
“Confortável… Está como me lembro. Confortável como era naqueles tempos…”
Distinguir o real do imaginário era difícil naquele momento. Cores, vozes, luzes e memórias dançavam no ar ao redor e dentro da sua cabeça.
Cores que não faziam sentido, apareciam em regiões aleatórias somente por diversão; via-as como “cores perversas”.
Vozes que mais pareciam os zumbidos de moscas circunvoando a carcaça encantadora de um animal morto; por que não o largavam?
Luzes que tentavam iluminar um dos tantos passageiros do humilde Caronte; cobrava barato demais por uma viagem tão incomparavelmente bonita, poderia pensar o passageiro.
E memórias. Essas eram as piores, com certeza. Teve a ambição pessoal de eliminá-las da face da Terra, varrê-las das mentes dos indivíduos sofredores, como em um lapso odioso, um rancor inapagável.
“É o fim…? Não, eu mereço. Se for aqui que tudo acaba… eu acho que levarei algumas maldições comigo pro Inferno. Fico feliz por ser útil uma vez na vida. O que… o que me entristece é saber que–”
E quando pensou que iria adormecer, o tempo piscou.
Vuuuuush~
— …está aí? Enos? Enos…? — chamava uma voz preocupada mas desgastada. — …a impressão de ele… por um… instante… — falava, cortada em pontos críticos.
Pouco a pouco, ele recobrava a consciência. Levou algum tempo até abrir os olhos cansados.
A grandiosidade da luz que explodiu em seu rosto quase o cegou. Recuperando-se do baque, abriu os olhos e olhou para a pessoa mais próxima.
De pé, ao seu lado, estava um homem alto, e um tanto velho, vestido com jaleco médico e camiseta violeta. Uma barba falha e malfeita cobria o seu rosto, dando-lhe um aspecto desleixado. Apesar das poucas rugas, as marcas de expressão cravavam sua idade na casa dos cinquenta.
Longos e lisos cabelos brancos tampavam uma parte da sua visão. Quando afastou-os com a mão, Enos pôde observar um olho da cor das violetas e outro totalmente branco, ambos com olheiras fundas e esmaecidas. Era caolho, portanto.
Dois enfermeiros o acompanhavam de perto.
— Doutor Fagundes? É o senhor?
— Então você me reconhece. Ótimo sinal, Enos. Como se sente?
Enos baixou o olhar para o próprio corpo e constatou que estava ferido, muito ferido. Ataduras abraçavam as suas pernas, braços e, pelo que sentia, o rosto também. O gesso duro e frio em seu braço direito complementava o desenho de um quadro grave.
As dores no estômago eram constantes. Ergueu a camisa, encontrando ainda mais ataduras naquela região. Ainda não sabia dizer o que causava as dores. Pelo menos, tinha certeza de que os arrepios eram por conta do soro fluindo por suas veias com medicações.
— Dolorido. Onde eu estou? — perguntou, olhando ao redor. — Ei… estou aqui de novo? Depois de tanto tempo…
— Você sofreu um acidente de carro na manhã de 3 de janeiro. Conseguiria me dizer que dia é hoje?
— Não, eu acho que não.
— Entendo… Está se sentindo perdido?
— Um pouco. Já que… já que o senhor tocou no assunto, que dia é hoje? Há quanto tempo estou aqui?
— Hoje é dez de janeiro. — Desviou a sua atenção por um momento e checou o relógio no pulso. — Para ser exato: dez de janeiro, às cinco e doze da manhã. Eu fui chamado pra cá pelos enfermeiros que estão comigo, me disseram que viram você acordando.
Enos não pôde acreditar.
— Dez de janeiro? Eu dormi… por uma semana…?
— Sim. Não se sobrecarregue, essa sensação de estar perdido é totalmente normal na sua situação — tranquilizou o doutor. — Eu preciso que responda a algumas perguntas, se estiver disposto.
— Eu… eu… — Pensou um pouco e respondeu, a mente confusa: — Sim, sim, claro. É claro. Que coisa… estranha…
— Vamos lá. Nome, sobrenome e ano de nascimento?
— Enos Silveira. Eu nasci… nasci no dia 6 de março de 1996. Certo? Acho que estou certo.
— Ótimo. E tem certeza de que sabe onde está? Desculpe, é o protocolo.
— Unidade de Pronto-Atendimento vinte e quatro horas de Vinhedo, estado de São Paulo. Ainda tem dúvidas, doutor? Eu sei onde estou.
Fagundes suspirou pesarosamente e continuou:
— Sobre o acidente, se lembra de alguma coisa? Alguma memória do dia? — perguntou. — Não responda se não quiser.
— Memória do dia… memória do dia… Memória?
— Enos? Enos, está tudo bem? Eu disse que não precisa responder se não quiser. Não se esforce demais.
O semblante de Enos ficou distorcido de repente.
— Memória. Memória. Sim, eu me lembro.
Fagundes recebeu a notícia com um misto de interesse e preocupação:
— Do que se lembra?
— Isso não importa agora. Não mais do que outra coisa, doutor…
— Pode dizer.
— Cadê ele? Cadê o meu filho?
Fagundes sentiu um arrepio correr a espinha.
— Se o que quer saber é o mesmo que estou imaginando, não, ele não está aqui. Mas pode ficar tranquilo que o garoto não corre perigo.
— Onde?
— Você não vai vê-lo agora, eu conheço sua impulsividade.
— Onde?
— Não insista nisso ou serei obrigado a sedá-lo.
— ONDE?! — gritou, pulando da maca e agarrando Fagundes pela gola do paletó branco com força. As agulhas injetadas no seu corpo soltaram-se de uma vez, derramando sangue e medicações no chão.
Crack! Crack!
Enos sentiu uma dor imensa por todo o seu corpo. Na hora, tratou de ignorar.
Os enfermeiros pularam de susto, prontos para intervir.
— Em outro hospital. E do que essa informação vale para você? Eu não vou deixá-lo sair assim. Você ainda está ferido demais para ter alta! CONTROLE-SE!!!
Sem reagir, Fagundes complementou, a voz baixa:
— E você sabe melhor do que ninguém por que ele não está aqui. Não dificulte as coisas para mim e para você, Enos. Nós não somos amigos?
— VAI SE FOD…
A dor de antes, enfim, cobrara o preço de ser ignorada. Muitos dos curativos grudados pelo corpo foram rompidos pelos movimentos súbitos, aumentando ainda mais a poça de sangue no chão.
Drip! Drip!
Os músculos estavam destruindo a si mesmos a cada movimento. O atrofiamento não foi gentil com Enos. A dor já estava se tornando insuportável.
— Ugh… — grunhiu, para então cair desacordado.
“Que idiota eu sou…”
…
Meio-dia e dezessete. Dez de janeiro.
Outra vez aquele sentimento de ter perdido dez anos de sua vida em um instante. Reuniu forças e abriu os olhos sem demora.
Dores vinham de todas as partes do seu corpo: pernas, braços, tronco, cabeça. Assim que conseguiu vencer a luminosidade dos fachos de luz das janelas abertas, deu uma boa olhada em si mesmo.
O leito era o mesmo de antes, um lençol branco sobrepunha-se a um colchão azul. Deitava-se ali, com o corpo recoberto de ataduras. Um soro intravenoso conectado ao seu braço esquerdo foi a terceira coisa que viu após despertar.
O gesso ao redor do seu braço direito estava da mesma forma: duro e frio. E um pouco mais pesado, talvez por conta da fraqueza generalizada nos músculos.
“O que houve pra eu ficar assim, afin–”
As memórias voltaram de uma só vez antes que terminasse o pensamento.
Sentiu fortes náuseas antes de ser atingido por pontadas na cabeça. Segurou-a para tentar mantê-la no lugar, fortes que eram as pontadas.
Desesperado, meio angustiado, olhou em volta à procura de alguém. Ninguém, nem uma única alma viva além dos enfermos que dormiam.
“Isso é preocupante, o que houve comigo? Perdi a cabeça, isso sim. Eu… eu ataquei o doutor Fagundes sem motivo. Devo desculpas a ele. Até lá, o que é que eu faço…?”
Mas algo chamou a sua atenção quando virou a cabeça para o lado.
“Hein?”
Sobre o criado-mudo próximo ao leito repousavam dois objetos: um pequeno caderno e um envelope lacrado. Mesmo com as suas dificuldades, Enos reconheceu o diário de Daniel embaixo do envelope.
A maior surpresa veio a seguir, quando conseguiu ler os dizeres no selo do envelope:
— “Remetente: Bruna Conte” — leu em voz baixa. Seu nervosismo já disparara nesse momento. — Logo abaixo…
O corpo de Enos tremeu por inteiro, revelando mais angústia do que surpresa.
— “Destinatário: Enos Silveira”. É pra mim. Por que ela faria isso?
Começou com a hesitação. Depois, a expectativa. O desfecho foi a decisão de abrir e ler a mensagem ou o que quer que ali estivesse.
“Talvez ela esteja preocupada. Isso… é estranho, muito estranho, mas também é bom. Faz tempo que não conversamos e não achei que receberia algo dela nesta situação. Bom, eu vou escrever um pedido de desculpas assim que estiver um pouco melhor, pra compensar o trabalho que ela teve escrevendo para mim. Eu sei que não conserta nada, só preciso dizer que estou vivo… e saber como ele está. Vamos lá…”
Ele começou tentando agarrá-lo com sua mão livre, mas quase derrubou o suporte do soro sobre si mesmo. Aquilo não daria certo.
Percebendo que a mão esquerda não alcançaria o envelope, optou por usar um método alternativo — a boca. Com calma, segurou firme no leito com a mão livre, inclinou-se na direção do pequeno móvel, foi descendo, descendo e descendo até que…
Nhack!
“Consegui! Beleza, agora é só jogar no meu colo pra poder abrir.”
E assim o fez.
O envelope entre as pernas, usou a mão esquerda para tirar o lacre ao mesmo tempo que o segurava com os dedos do pé direito.
— Ugh!! — e ouviu-se um rasgo no lacre do envelope. — Consegui. Hora de olhar do que se trata, afinal…
Enos ajeitou o envelope no colo e pegou o seu conteúdo com a mão. No entanto, não foi nada do que ele esperava.
— O que é isso? — disse, os olhos fixos nos inúmeros recortes na sua mão. Inspecionando um pouco mais de perto, concluiu que já sabia o que era. — Recortes de fotos? Mas… por quê?
Tentou juntar os pedaços em uma imagem familiar. A certa altura teve a impressão de ver o seu rosto em um dos recortes, e em outro, o de Bruna. Não entendeu a princípio, mas continuou.
Vez ou outra conseguia conectar os pedaços. Bruna e ele lado a lado, abraçados, comemorando a virada do ano de 2013 para 2014; um de suas centenas de beijos, em um fundo repleto de árvores, numa chácara fora da cidade; ele e o pai rabugento de Bruna dividindo funções no churrasco em família. Nada daquilo fazia o menor sentido.
“Estranho. Fotos rasgadas?”
Fisgou mais recortes de dentro do envelope, vez após vez. Demorou um bocado até ele encontrar algo diferente.
Dessa vez era um papel comum, com uma mensagem na face oposta. Desdobrou o papel e leu-o em pensamento:
“Para Enos Silveira, o meu maior erro.
Me sinto na obrigação de começar esta carta com uma pergunta: você não se cansa de fracassar? De ser um inútil em todo e qualquer aspecto? Eu te entreguei aquilo que mais amo na vida, e você conseguiu falhar em protegê-lo. Conseguiu mesmo. Nem era tão difícil, só precisava agir como uma pessoa normal — N-O-R-M-A-L — por menos de um dia. Eu sei como é complicado para você agir normalmente, mas eu garanto que teria conseguido se tentasse. Agora não importa mais.
Talvez você tenha uma tara ou algo assim em perder as coisas que a vida te oferece. Nem acredito que fomos casados por tanto tempo. Ou melhor, nem acredito que já consegui te amar. Mas o que esperar de você? Não, sério mesmo, eu ainda não sei o que estava esperando. Sou tão culpada quanto você nesse sentido. Nenhuma mãe amorosa de verdade entregaria seu tesouro nas mãos de um degenerado, mas foi o que eu fiz.
Enfim, espero que esteja aproveitando sua estadia aí sendo bancado pelo pobre coitado do doutor Fagundes. Quer dizer… ele me pediu para não te contar, mas veja: ele mesmo bancou a cirurgia que precisaram fazer no seu estômago depois do acidente. Por volta de oito a dez mil. Enquanto isso, mamãe, papai e eu pagamos o que pagamos com o NOSSO dinheiro. Vinte e sete anos e desempregado, que piada. Que bom que eles não sabem sobre a sua “verdade suja”, senão te tratariam como o lixo que você é.
As pessoas ainda insistem em te ajudar. Só fico aliviada de poder contar com um homem de verdade como o Manoel agora. Eu nunca fui tão feliz em um casamento, honestamente. E pode ficar tranquilo que não vou te levar pra Justiça, porque tenho medo que você faça um vexame na frente do juiz.
Se entendeu o que eu quis dizer com as fotos, até nunca mais. Você está proibido de ter contato com a nossa família para sempre.
Com nenhum amor, Bruna Conte.”
Um choque de realidade. Nenhuma lágrima, nenhum grunhido. Ele se limitou a devolver tudo aquilo ao envelope, tomado por uma catatonia imperturbável.
Enos começou a pegar os recortes e guardá-los no envelope. Junto deles, colocou a carta de Bruna.
Os recortes, reunidos em uma única fotografia, formavam mesmo imagens do passado feliz de Enos e Bruna. Ele se perguntou como não notara a armadilha antes.
Quando terminou, devolveu o envelope ao criado-mudo e voltou-se para a frente.
— Ah… certo… eu não esperava algo diferente. Tá tudo bem — murmurou, o semblante inalterado. — Tá tudo… absolutamente… bem… Muito bem…
Drip! Drip!
Sem suportar o peso das lágrimas nos seus olhos, Enos desatou a chorar, segurando o peito com força e inclinando o corpo para a frente.
Chorou, chorou e chorou. Até tentou engolir o choro no começo, só que a angústia era mais forte do que ele naquele momento.
Angústia. Arrependimento. Tristeza.
“Eu causei tudo isso. Ela tá certa, eu causei tudo isso. Eu tô cansado de dar problemas pros outros. Se eu só não tivesse desmaiado!! Se eu fosse um pai melhor!! Por que eu estrago tudo o que toco? Fui abençoado com tanta coisa e não fiz bom proveito de nada. Eu sou um inútil. Eu vou–”
Pak!
Uma mão tocou o ombro de Enos.
Virou-se de supetão e viu Fagundes ao seu lado.
— Está tudo bem, Enos?
— Doutor… sniff, sniff… — Ele enxugou as lágrimas no braço, sem parar de soluçar. — S-Sim, tudo b-bem.
— Certeza? Eu nunca te vi chorar, nem naquela época. Quer compartilhar algo comigo?
— T-Tudo bem mesmo, doutor.
— Hum… — Deu um tapa no ombro de Enos e afastou a mão. Depois, acomodou-se na cadeira ao lado do leito. — Sabe, Enos, eu não tenho como imaginar o que você está sentindo com tudo isso. Tanta dor assim pra uma pessoa só e ainda vejo um bom homem na minha frente. Isso é mais admirável do que qualquer diploma, dinheiro ou status. Só posso te aconselhar a confiar que as coisas melhorarão. Como eu disse antes, somos amigos; pode contar comigo para o que precisar.
Enos segurou o choro o mais forte possível. As palavras de Fagundes significavam tanto para alguém como ele, que talvez nem o doutor pudesse imaginar.
— Obrigado… obrigado por cuidar de mim depois de tanto tempo, doutor. E depois do que eu fiz. E me desculpa por aquilo, eu não estava muito bem. Não, melhor, ainda não estou, e você sabe disso. Talvez nunca mais consiga ficar bem. Apesar disso, eu ainda vou te compensar pelo que fiz.
— Compensar? Pelo quê?
— Eu te agredi, doutor. Isso é imperdoável.
— Não use essa palavra de forma tão banal, por favor. Sabe o que é realmente imperdoável? Homicídio, estupro, tortura — explicou, a voz firme. — Mas já que faz tanta questão dessa besteirinha, acho que eu conheço um jeito. Vá até a recepção e pegue o pacote que está no seu nome, assim você estará me compensando como deseja.
— Não posso aceitar seu presente, doutor.
— Não é meu, foi outra pessoa que mandou deixar pra você. Acredite em mim, você vai sentir falta se não buscar agora.
— Outra pessoa…? Mesmo assim, por que insistem em me ajudar?
— É porque amamos o que fazemos. Amor é a base da profissão de qualquer pessoa.
Silêncio. Enos pensou sobre isso.
— Bom, vá buscar o pacote antes que estrague. Você também está liberado para dar uma volta no hospital, contanto que leve o soro com você. Só peço que não saia da vista dos enfermeiros, certo?
— Eu… É, tudo bem, doutor. Obrigado. E novamente, desculpa por aquilo e por te machucar.
— Você não me machucou.
O hematoma no pescoço dizia o contrário. Enos fingiu não ver, desviando o olhar; se sentia mal por tê-lo ferido.
Enos precisou da ajuda de Fagundes para se levantar sem derrubar o suporte móvel do soro. Pisou no chão e deu os primeiros passos desengonçados depois de sete dias.
— Vou fazer o possível para entrar em contato com o hospital onde o seu filho está internado e saber como ele está. Posso demorar um pouco, mas confie em mim, eu tenho bons contatos.
— Isso significa muito pra mim, doutor. Obrigado de novo.
— Não é nada.
Antes de sair, Enos perguntou:
— O diário perto do meu leito, eu posso lê-lo?
— Achamos com você. É todo seu.
— Eu não sei se é assim que funciona…
— É claro que é. A quem pertence esse diário?
— Ao… ao meu filho — falou, a voz trêmula.
— Então é dele? Bom… vejamos… se ela fizesse tanta questão assim do diário, teria vindo buscá-lo uma semana atrás, não acha? — explicou. — Mas ela não teria saído com ele daqui nem se quisesse, eu o esconderia por você. Estava no seu carro, é seu — piscou em cumplicidade para Enos, esboçando um sorriso de canto de boca.
— Ha…! Parece que somos uma dupla imbatível, então.
Fagundes parou de responder. De longe, Enos teve a impressão de vê-lo sorrindo.
Mas não podia mais ficar preso ali e foi embora.