33: Depois de Salvarem um Mundo - Capítulo 199
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- Capítulo 199 - Quadragésima Página do Diário – parte 2
Quadragésima Página do Diário – parte 2
— Você teme a morte?
Uma voz etérea me alcançou enquanto minha alma se esvaia para fora do meu corpo. Não era bem uma voz audível, mas de alguma forma eu conseguia sentir o que ela dizia.
Tentei responder, mas não consegui falar. Não sentia minha boca, nem qualquer parte do meu corpo que fosse. Enfim compreendi que eu não tinha mais um corpo, e tudo que me restava era uma alma flutuando no vazio da existência.
—E se você tivesse a oportunidade de viver mais uma vez? — A voz misteriosa continuou — Se eu te der essa oportunidade única, você poderia me ajudar com uma coisa?
Eu queria perguntar com que eu poderia ajudar, mas nem havia essa possibilidade, então suspeitei que, seja lá quem estivesse falando comigo, talvez pudesse ler a minha mente.
— Quando você acordar, não vai lembrar de nada, e estará em um mundo diferente de tudo que você conhece, mas um dia vai se lembrar do que eu estou te falando. Quando recuperar suas memórias, você entenderá o que realmente está acontecendo e o motivo de tudo ter chegado a esse ponto.
Eu não entendi o que deveria fazer, mas continuei prestando atenção àquelas palavras etéreas.
— Você possuía o que restou do poder adormecido da chave, sua morte abriu uma brecha entre os mundos. Além de você, outras crianças com a mesma idade que você, também foram convocadas. — Ele continuou — Os escolhidos para proteger esse mundo eras atrás, achando que são deuses, escolheram seus heróis para a guerra que está chegando.
Guerra? Eu estava morto, como iria para uma guerra?
— Você encontrará pessoas que vão te ajudar e pessoas que tentarão te atrapalhar, não desista, encontre aqueles que são abençoados com a minha sabedoria e, no final, faça a escolha certa!
Escolha? Como saberia qual a escolha certa? Eu era apenas uma criança.
— A escolha certa é sempre a mais difícil!
Com aquela resposta, fui deixado em meio ao vazio, e quando percebi, estava acordado sobre a grama em uma planície, rodeado de outras crianças.
Quando voltei a mim, estava suado e trêmulo.
Zita havia carregado meu corpo até um canto e me apoiado na parede, ela parecia muito preocupada por eu ter perdido a consciência do nada. Um sorriso leve se formou em seus lábios ao ver que eu estava de volta.
— E-eu… — Tentei dizer algo.
— Não. — Ela me interrompeu — Você apagou por meia hora ou mais, melhor não fazer esforço.
— Eu lembrei…
— O quê!?
Me ajeitei contra a parede, deixando a posição mais confortável. Nunca tinha percebido o quanto “falar” com aquela voz misteriosa me desgastava, já que eu geralmente estava dormindo quando acontecia.
— Eu lembrei quem eu sou. — expliquei — Lembrei da minha família, de tudo que aconteceu para eu chegar aqui…
Zita me olhava, meio assustada, meio feliz.
— E o Haroldo… Eu lembrei dele. Ele é o meu pai!
— Não é possível. — Zita franziu a testa — Aquele cara é mais velho que qualquer pessoa…
Vi na pausa que ela fez, que havia uma ideia passando em sua mente.
— Ele viajou no tempo! — Ela concluiu — Por isso ele sabe de coisas do nosso mundo, e por isso ele te ajudou… E foi ele que deixou todas essas coisas porque sabia que só você conseguiria entender.
— Ele brincava comigo de esconder palavras em meio a desenhos quando eu estava aprendendo a ler, assim estimulando meu aprendizado, por isso consegui achar as palavras na parede.
— E os nomes… — Zita estendeu a mão e chamas correram pela parede formando quatro palavras — André e Haroldo são vocês, mas quem são Sônia e Julia?
— Sônia é a minha mãe, e Julia é minha irmã. — expliquei — Ele sabia que eu conseguiria ler e isso ajudaria a trazer a minha memória de volta!
— Eu te falei que aquele cara é muito inteligente. — Zita sorriu — E pensar que você levaria exatamente quatro anos para se lembrar de quem é.
— Como assim?
— Não lembra? — Zita deu uma piscadinha fofa — Hoje faz quatro anos que chegamos aqui, e que eu prometi que voltaria por você. E cá estamos nós…
— Então hoje eu faço 16 anos! — Sorri — Agora sei também quando é meu aniversário…
— Então você tem 16? — Zita comentou — Sabia que eu sou a mais velha dos 33? Em uma semana eu faço 17.
— E por uma semana teremos a mesma idade.
Ela veio para o meu lado.
— Fico feliz em poder saber mais algumas coisas a seu respeito…
— Achei que ser misterioso atraísse mais atenção. — Brinquei.
— Mas é sempre bom saber um pouco sobre a pessoa por quem somos apaixonados…
A partir daquelas palavras, um silêncio se formou, vi Zita corar de uma forma que nunca tinha visto.
— Sabia que eu te amo? — falei, antes que ela corresse ou tentasse mudar de assunto — Amor de verdade, eu meio que… Meio não! Eu me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi, e quando dançamos três anos atrás foi perfeito, um dos momentos mais felizes da minha vida. Quando eu soube que você estava em perigo, não pensei nas consequências, apenas corri para te salvar…
Vi uma lágrima descer pelo rosto dela, mas não era uma lágrima de tristeza. Ela sorria de forma gentil, e seus olhos esverdeados brilhavam de forma intensa.
— Eu te amo… muitão! — Ela disse.
— Muitão? — perguntei.
— Muitão, muitão…
— Oba!
Percebi que nossos rostos estavam bem próximos, e tudo aquilo aconteceu naturalmente. Senti sua respiração, o seu cheiro de perfume doce misturado com suor, não resisti.
Tomei a iniciativa e beijei.
Minhas mãos se prenderam à cintura dela, ao passo que nossos lábios se procuravam. Senti seus braços se entrelaçarem em volta do meu pescoço, seu corpo se forçar em minha direção e sua respiração ficar mais pesada.
Subi um pouco as mãos, passando pela lateral da barriga dela, indo em direção às costelas, enquanto nossas línguas dançavam um balé caótico. Meu cérebro parou de funcionar totalmente.
O que veio a seguir foi a mais pura mistura do belo e do obsceno. Onde dois corpos apaixonados conversavam sem roupas, alimentando o mais selvagem dos instintos.
Naquele dia, nos entregamos um ao outro de corpo, alma e coração.