Whitefall: Um invasor gelado em nosso mundo - Capítulo 9
— Hm… Terrafryano?
— Sim.
— E você veio conquistar nosso planeta.
— Sim.
— E você me chamou de mãe?
— Foi um acidente! Por que todas essas perguntas? Você não viu a maldita transmissão que eu fiz para o planeta inteiro? Você vive em alguma espécie de caverna?
As meninas aproveitaram a luta entre Rei e o cobertor para o enrolar ainda mais. Apesar de estar quase morto algumas horas atrás, ele parece bastante enérgico quando irritado.
— Ah, sério… – provocou Lilly, zombando de sua suposta loucura. – E como você fez essa transmissão global? Ondas cerebrais?
— Claro que não. Tomar controle dessa rede é quase tão fácil quanto tirar doce de uma criança. Que tipo de nações deixam seus satélites de rede expostos assim nas órbitas mais baixas?
— Ah, e como você os acessou?
— Com minha nave, obviamente.
— Pff… perdão, perdão… E onde está ela?
—… caiu.
— Como? Não ouvi direito…
— Isso mesmo!, caiu, crashou, explodiu, colidiu com o chão, se espatifou, virou estampa de armadura. Eu estou tendo algum problema de tradução?
— Lilly! Senhor Azure! Chega!
Mia teve que intervir na discussão deles. Poderia até parecer que o assunto já estava resolvido e que Rei era só um louco, mas a situação era mais complicada.
Por quê? Mia tinha acabado de conseguir alguma conexão no seu celular, e as notificações, que não paravam de chegar com sons irritantes, eram sobre uma coisa só.
— L-Lilly, olha só pra isso.
Quando a irmã mais velha olhou para o celular, sua expressão zombeteira desapareceu. Tomando rapidamente o aparelho da mão de sua irmã, Lilly descia o feed de notícias, não acreditando no que via.
Não parecia real.
Sua pele ficou pálida.
Mia não parecia se importar muito. Ela se sentou tranquilamente perto da cabeça do rapaz deitado, fazendo várias perguntas. Seu medo não era inexistente, mas sinceramente, a curiosidade era maior.
— Então, senhor, você disse que é Ter… Terrariano? O que é isso?
— Terrafryano.
— E o que que eu disse?
— Terrarriano.
— E o que que é?
A expressão no rosto de Rei? Uma de completo desprezo por essa raça desprovida de intelecto básico.
— Não é meio óbvio? Se eu sou de Terrafrya, automaticamente sou um Terrafryano. Vocês não são Terrestres porque são da Terra?
— Faz sentido… Cê tem coisas alienígenas?
— Coisas alienígenas? O que quer dizer?
— Ah, você sabe, algo muito diferente de nós. Por exemplo, teve algo que você achou estranho quando chegou aqui? Talvez esse algo seja alienígena.
Talvez ele não precisasse ser tão sério com esses seres. Na verdade, a garota até parecia engraçadinha pra ele, fazendo-o lembrar de seu irmãozinho.
Daria um belo bobo da corte.
— Hmm… acho que meu sangue.
— Sangue?
— Sim. Normalmente, é prateado. Mas o de vocês é estranho.
— Oooh, é disso que eu estava falando!
Ok, talvez mais curiosidade do que medo.
Lilly, que antes estava zombando com a cara de Rei, agora se encolheu no canto da tenda em posição fetal, pensando que iria morrer a qualquer momento. Pequenas lágrimas passavam por seu rosto, como um cachorrinho assustado.
— E-Então… você…
— Sim, caramba. Sou um alien, se é como prefere chamar.
— V-Você matou vários humanos…
— Não, eu matei soldados. Todo ser vivo que, conscientemente ergue uma arma na intenção de tirar a vida alheia, está pondo em risco a sua própria. Não aja como se eu fosse um monstro irracional.
— M-Mas e se você…
— Machucar vocês duas? Eu não quero, não tenho ordens para isso, e meramente conseguiria. Esqueceu que minha barriga foi literalmente aberta por uma espada?
Na história contada por Rei, certas coisas se encaixavam, enquanto outras faziam ainda menos sentido. Se ele realmente lutou com um dos Sete Sóis e foi perfurado, como ele não morreu instantaneamente?
Deixando o medo de lado por um momento, ela decide perguntar. Talvez estivesse ficando como sua irmã.
— Ah, isso? Bem, meus órgãos são meio inúteis.
— Inúteis? O que quer dizer?”
— Terrafryanos são termotróficos. Séculos de evolução obtendo energia do calor ambiente fizeram nossos órgãos… atrofiarem? Acho que é essa é a definição certa. E meus corações tão intactos, então levei sorte.
Corações?
De uma coisa elas tinham certeza: Esse cara não era daqui.
Por quê? Porque elas não entendiam nada do que ele dizia.
— Espera, espera um minuto. – Finalmente, a bióloga deixou sua curiosidade se destacar. – Termotrófico? Você se alimenta de calor?
— Esse termo está meio errado, mas… sim.
— Isso é impossível. Prove.
— Só sinta ao seu redor. Estamos na frente de uma fogueira, e ainda assim você está esfregando os braços de frio.
Enquanto Lily olhava para trás, ela se perguntava se a fogueira estava ao menos acesa. Com tanto frio que estava sentindo, por um momento, ela pensou que a chama tinha se apagado.
— Foi o calor dela que me deu energia para recuperar minimamente meu ferimento, já que eu não tinha com o quê me “alimentar” antes. Sabe, um rio é bem, bem frio.
Mas com um alienígena bizarro congelado na tenda, uma fogueira é o menor de seus problemas.
— De qualquer forma, se não sou seu prisioneiro, pode me soltar agora? Essa rede está me incomodando.
— Não é uma rede, é um cobertor.
— É uma armadilha! Um objeto de tortura! Deve ter sido forjada nas profundezas de Lunária! Um construto macabro e sinistro!
Lilly ainda sonhava com a pequena possibilidade de tudo isso ser uma brincadeira. Talvez ela estivesse em um programa de TV? Talvez ganhasse um prêmio em dinheiro?
Maôe, nunca se sabe.
×××
Mia se aproximou de Rei, que no momento estava sentado em sua cama improvisada dentro da tenda. O cobertor não era uma armadilha nem nada, mas limitava sua capacidade de absorver calor do ambiente, então ele o jogou para um canto.
Mas a garota não estava despreparada. Ela estava equipada com uma armadura anti-alienígena muito poderosa: uma blusa, devido ao frio dentro daquela tenda.
Em sua mão,a menina tinha uma tigela de sopa, que ela e sua irmã haviam feito na fogueira.
— Aqui, senhorito Rei.
— Hm? Veneno?
— Não! Por que eu te mataria depois de te salvar?
— Para extrair informações e se livrar do informante? Parece algo que eu faria.
Enquanto ela se sentava ao lado dele, ofereceu-lhe um pouco de sopa. Ele parecia muito desconfiado, mas talvez fosse apenas a situação. Afinal, não é fácil para o rapaz confiar em uma raça que ele veio para conquistar.
— Escute, senhor, você não parece ser uma má pessoa. Então, por que conquistar a gente?
— O que quer dizer?
— Tipo, quando alienígenas vêm para dominar nosso planeta, geralmente é porque são maus, ou querem colocar ovos nas pessoas. Você pretende coloc-
— Não ouse terminar essa frase… Espere, quantas vezes vocês foram atacados por outras raças?
— Esta é a primeira vez.
— Então como… ah, quer saber? Me dá essa sopa.
Mesmo com órgãos atrofiados, eles ainda funcionavam. Comer não ajudaria muito nutricionalmente, mas “antes uma gota de água do que morrer de sede”.
Ah, e sobre os ataques, Mia estava obviamente se referindo a filmes.
— Eu sinceramente pensei que seria uma invasão, mas essa palavra está meio… equivocada. Provavelmente será uma guerra.
— Então, você não veio conquistar tudo sozinho?
— Obviamente não. Sou mais como um mensageiro… ou mais próximo de um explorador suicida.
Gradualmente, a memória de ter sido traído retornava à mente de Rei, juntamente com a sensação reconfortante de comer aquela sopa. Uma mistura de tristeza e raiva mexeu com sua mente.
— Sabe, Mia… esse é o seu nome, certo?
— Aham.
— As guerras sempre têm seus motivos, suas causas. E se as causas fossem fáceis de resolver, elas não existiriam. Garanto que conquistar um planeta por pura malícia não é uma causa difícil.
— Mas então, tem um motivo mais profundo?
— Sim, tem. Seu planeta é rico em algo que precisamos para continuar vivos. Minerais, biodiversidade, geodiversidade e especialmente o seu núcleo.
Como seres termotróficos, os Terrafryanos são essencialmente uma sociedade que, ao contrário dos humanos, sustenta suas tecnologias por meio de energia térmica, não elétrica. Pelo menos, não em todos os casos.
— É o único planeta com um bom equilíbrio entre distância e recursos. Qualquer outro seria muito mais difícil de alcançar e transportar.
— Como assim?
— Temos conhecimentos de vários planetas com as coisas que citei, alguns até livres de população. Mas ou eles só têm um recurso, ou estão longes demais. E infelizmente temos pressa.
— Eu entendo, mas… realmente não há outro je-
Sua conversa foi interrompida por Lilly, que abriu freneticamente a porta da tenda.
— Mia! Precisamos escondê-lo! A AE está aqui!