Whitefall: Um invasor gelado em nosso mundo - Capítulo 6
— Seu… SEU DESGRAÇADO!
Voando como uma flecha em direção ao invasor com expressão de ódio puro em seu rosto, Cristine levantava aquela gigante espada acima de sua cabeça, desferindo um golpe cortante de cima para baixo.
Porém, era fácil para o Terrafryano apenas bater suas asas levemente, se movendo para o lado e desviando. A verdade é que ele nem levava aquilo como uma luta séria.
— Hm… Se me permite perguntar, como você voa? É algum tipo de tecnologia?
— Não interessa!! Lute, seu covarde!
Cortando o ar, ela desferiu uma sequência de golpes, de baixo, de cima, dos lados, por toda parte. Mas ele nem mesmo parecia necessitar se concentrar para se esquivar daquilo.
E o motivo tinha acabado de ficar meio óbvio. Ele estava apenas estudando Cristine: Seu modo de lutar, suas habilidades, suas falas, tudo. Para ele, aquilo era um jogo divertido.
— Hm… de acordo com minhas informações, os humanos deveriam ser fracos, mas você deve ter uns 20 nanotons de força… Uma exceção na raça, talvez?
Uma das íris azuis de Rei brilhava entre a cavidade escura que parecia sua região ocular. Em sua visão, centenas de caracteres estranhos desciam, lhe fornecendo informações.
— Seu desgraçado!! Pare de brincar comigo!!
— Mas que coisa, parece uma gralha repetindo as mesmas palavras.
Um brilho começava a se acumular na espada de Cristine, enquanto ela levantava novamente sua arma, Prestes a desferir um outro golpe.
Pensando que apenas ficar fora do alcance seria o suficiente… Ele quase perdeu a cabeça.
— Caramba… Cortes de calor? O que foi isso, um projétil?
Uma gigantesca torre de gelo que se assemelhava à ponta de um iceberg, se desmontava e derretia com metade de seu sustento evaporado num instante.
Se o Terrafryano não tivesse levantado à tempo, ele provavelmente estaria morto agora.
No cenário ao fundo, a Frostbite de Rei continuava a atirar com seus canhões de laser, contra os veículos dos soldados. Um desses tiros luminosos quase acertava Cristine, fazendo-a se afastar por um breve momento.
Alguns tiros também acertaram o antebraço de Rei, mas mal afundavam a camada de neve que cobria sua pele branca.
— Hmpf, não interfiram.
Erguendo levemente sua mão, névoa e frio se condensam em uma pequena esfera azul, do tamanho de uma bola de tênis. Pressentindo o que aconteceria, Cristine tenta impedi-lo, mas está longe demais.
— PARE! NÃO FAÇA-
— Morram, baratas.
Jogando aquela pequena bolinha no chão, várias daquelas estacas de gelo surgiam do chão, que jogavam e cortavam os soldados, atravessando um ou dois no processo.
Vendo isso, o coração de Cristine se enfurece, e se aproximando dele como uma bala, ela continuava a desferir impactos intensos, que faziam quase que sons de explosão, ao cortarem o ar.
— MALDITO! POR QUÊ CONTINUA MATANDO?
— Bem, isso é uma guerra. Normalmente é isso que o inimigo faz, a não ser que vocês não saibam muito de guerra e-
— VOCÊ É UM MONSTRO!
— Pare de gritar. Daqui a pouco você vai estar morta também.
Ao ouvir essas palavras, Cristine nota que a pele do seu rosto estava gelada, enquanto as juntas de sua pele-armadura faziam sons de estalos a cada momento.
— C-Como?!
— Apenas proximidade por tempo prolongada é o suficiente para-
— Não importa! [Blinding Light]!
— Merda!
Um clarão de luz cobriu os negros olhos de Rei, cegando-o por certo tempo.
Tirando vantagem do calor também dissipado por sua habilidade, Cristine começa a recuperar os movimentos, que estavam lentos devido ao gelo acumulado. Sem perder a oportunidade, ela tenta atravessar Rei com sua espada.
Ela tenta…
— Tarde demais.
Uma lança azul, surgida do nada, segurava a ponta da espada de Cristine antes que atingisse o peito de Rei. Ela a segurava apenas com uma mão.
Sua outra mão, que antes estava em seu rosto, soltava uma estranha fumaça cinza. Nela estava o visor do Terrafryano, carbonizado, e coberto por um líquido prateado.
O olho direito de Rei parecia derramar esse mesmo líquido.
— Maldita humana… Sabe o quão difícil é produzir esses malditos visores? O quanto de energia é gasta em cada um deles?!
Lentamente, o olho estourado pela pequena explosão, começava a se regenerar.
— Agora… você me irritou bastante.
Com um movimento de sua lança, ele empurra Cristine alguns metros no ar, usando de uma força surpreendente. Com ela afastada, o invasor levantava sua arma, apontando-a à sua oponente.
— Como um soldado Milenar Terrafryano, quero saber o nome da primeira e única humana a me machucar. Diga!
A espada dela também brilhava em luz amarela, enquanto apontava para Rei. Uma segunda “camada” de faíscas passavam pela armadura dela, tornando-a branca, junto a alguns tons e brilhos de dourado.
Brilhante também era o fio de esperança no coração dos soldados abaixo, que tiveram sua atenção captada pelo clarão, e viram que o deus gelado podia sangrar.
— Cristine Razor. Aquela que vai matar você.
×××
— Rei… o que te deixou assim?
Da janela de seu quarto, Lyu conseguia ver seu pretendente treinando, ao longe, em um vasto campo de árvores congeladas. Ele brandia sua lança, cortando várias delas a cada golpe.
— Você não lembra, não é, Lyu?
— S-Senhora Lamune? O que faz aqui? – Envergonhada, a garota fingia que não estava olhando pra nada.
— Vamos lá, não me chame assim. Também sou uma serva dos Azure, assim como você.
— Mas é que….
Lamune Linda sorria, fazendo Lyu se sentir um pouco melhor. Enquanto os Nazune eram apenas uma família de soldados, encarregados de majoritariamente cuidar dos territórios, os Lamune por gerações serviram a família diretamente, como criados.
Sendo Lyu claramente uma exceção devido ao noivado, mal existiam pessoas de outras subfamílias não mansão principal que não fossem os Lamune. E Linda era a mais respeitada deles.
— O que quis dizer com “você não lembra”?
— Bem… – Linda se sentava ao lado dela, na cama – Lembra quando você e o Jovem Mestre brincavam na infância?
— Sim… Éramos muito próximos.
— Você era tão rebelde, fufu – Linda ria, lembrando um pouco do passado – Não queria de forma alguma noivar com ele. Até mesmo o fez chorar em um certo dia.
— N-Não diga essas coisas! – Ela fica um pouco envergonhada – Eu só… achava que ele era fraco.
— Até o dia em que ele te salvou, não é?
Ah, aquele dia, Lyu se lembrava dele como se fosse ontem. Uma caverna… um monstro… o medo… a mão fria de Rei à apoiando… e o coração dela ficando mais quente.
— Eu acho que nunca reparei… que me apaixonei por ele naquele dia.
— Ah querida, todos da casa percebemos. Vocês saíram de mãos dadas, enquanto a senhora Romi os abraçava desesperada.
— Senhora Romi…
Linda diminuía seu sorriso, percebendo que não tocou num assunto bom.
— Acho que foi depois dela, que os papéis se inverteram.
— Fala do Jovem Mestre?
— Sim…
A garota se levanta, voltando novamente a olhar para fora. Lá ainda estava seu noivo, cercado de árvores derrubadas ao chão, exalando neblina em sua forma Demoníaca.
— Agora, ele sequer olha pra mim. É como se eu fosse um fardo.
— Não diga isso, Lyu. O problema não é você-
— Mas também não é culpa dele. Nem mesmo eu sei como reagiria se eu tivesse que passar pelo que ele passou… Todos os dias eu agradeço por ter minha mãe segura em casa.
— Lyu…
— Eu entendo que o luto dura muito tempo. Mas depois que ela se foi, essa casa se tornou tão… fria. Eu me pergunto se, como esposa dele, eu conseguiria ser a luz que a senhora Romi foi.
Linda, de repente, se levanta e abraça a garota. Uma pequena lágrima surge em seu olho, ou no caso, uma pequena gota de gelo.
— Por favor… Não se pressione tanto.
— Linda? O que foi?
— Eu sei o quão horrível deve ser. Ignorada e deixada de lado… Mas não desista do Jovem Mestre…
Linda abraçava Lyu fortemente, enquanto mais pingos de gelo caiam no chão, fazendo sons tristes.
Ela se importava muito com a família principal. Não só por ser serva, mas por tê-los visto crescer. Principalmente Rei.
— Ah, então é isso… – Lyu também abraça a mulher, consolando-a – Não se preocupe, senhora Linda. Nunca passou pela minha cabeça abandoná-lo.
A mulher olhava, surpresa.
— Não?
— Não, nunca. Assim como ele me salvou da escuridão aquele dia… Eu vou salvá-lo também.
Ambas olhavam para fora, e viam que, após treinar, Rei estava simplesmente sentado sobre uma rocha, acariciando um animal pequeno. Uma completa quebra de expectativa ao monstro assassino das trincheiras.
— Eu sei que ele pode ser um demônio… Mas no fundo, é uma boa pessoa.