Whitefall: Um invasor gelado em nosso mundo - Capítulo 10
Armados até os dentes com fuzis brilhantes e exoesqueletos, dezenas de homens vasculhavam a floresta em toda a sua extensão. Esses soldados faziam parte do esquadrão especial da AE.
Depois de encontrarem o local da queda da nave, a Associação de Exterminadores apreendeu muita coisa. Fragmentos de tecnologia desconhecida, algumas armas, alguns cristais brilhantes estranhos… Mas nenhum resto mortal.
Eles acreditavam que haviam mais invasores à bordo, mas não havia nenhum tipo de sinal que indicasse a fuga desses invasores. E pelo relato de Cristine, são seres orgânicos.
Se morreram, deveria haver algo entre aquele amontoado de fogo e ferragens.
Por isso, buscas incessantes por sobreviventes começaram. Para a população, aquele invasor já estava morto, mas a Associação sabia a verdade.
— Senhor! – Um soldado se reportava – O radar mostra algumas pessoas por perto.
— São quantas? Alguma anomalia?
— Parecem ser duas. E não, o radar não detectou nada demais
— Senhor, se me permite a intromissão, essa é uma área de trilhas. Talvez seja alguém acampando.
— Está certo, mas por via das dúvidas, vocês dois vão lá conferir.
— Sim senhor!
Os dois soldados de nível mais baixo se separam dos outros, indo em direção ao acampamento.
Caso fossem mesmo apenas civis, seria bom inventar uma desculpa para aquelas buscas. Afinal, a informação de soldados da AE fazendo buscas podia ser mal interpretada.
Lilly, que estava ainda em choque com a situação do alienígena, viu os homens chegando enquanto estava sentada em frente à fogueira. Rapidamente, foi até a tenda chamar sua irmã.
— Mia! Nós temos que escondê-lo! A AE está aqui!
×××
Os dois soldados se aproximavam, com as armas baixas. Afinal, assustar civis é a pior coisa que poderia lhes acontecer. Mas um deles, mesmo mirando no chão, ainda segurava seu fuzil com firmeza, morrendo de medo.
— Jura? Pra ser um medroso por completo, só faltou você mijar nas calças.
— Escuta aqui! Não é minha culpa se tem um alien assassino vivo e solto por aí! E se ele nos devorar!
— Pare de frescura e mantenha a compostura. Vamos apenas conferir aquelas pessoas e dar o fora daqui.
Entrando mais a fundo na floresta seguindo pela trilha, eles finalmente alcançam um acampamento, que parecia normal. Em frente à fogueira, haviam duas garotas fazendo…
“Sopa? Que estranho, é muito tarde pro almoço e muito cedo pro jantar, não? Além disso, por que uma fogueira durante o sol quente ? Essas garotas por acaso sabem acampar?”
— Com licença, meninas – Um dos homens se aproximava, tentando uma abordagem amigável.
— A-Ah, olá s-senhor
— C-Como está? O que faz aqui?
Obviamente estavam nervosas, já que não é todo dia que se vê soldados tão profissionais como eles, falando com simples civis.
Afinal, eles eram bem, bem importantes.
— Bem, só temos algumas breves perguntas, tudo bem?
Lilly suava como um porco, pensando na possibilidade de serem descobertas. E se ela fosse tratada como traidora da humanidade? E se ela for morta na guilhotina? Ela amava seu pescoço.
Quanto à Mia, seu nervosismo era obviamente por medo de encontrarem Rei. Depois de uma breve conversa, ela não mais acreditava que ele era perigoso ou mal, e não queria que ele fosse preso. Talvez fosse sua inocência agindo, ou seu instinto.
— Claro, pode perguntar, senhor.
— Obrigado. Então, gostaria de saber se vocês viram algo estranho na floresta, ultimamente?
— Estranho? Estranho como?
Eles obviamente não podiam dizer que “estranho” era “vocês viram um alienígena por aí?”. Então, ele tentava desconversar e inventar algo.
— E-Então… existem alguns relatos de… Monstros! Isso, alguns monstros mutantes estão cercando essa floresta.
— Monstros? Mas essa não deveria ser uma floresta controlada? – Diz Mia, pressionando o homem com palavras
— S-Sim mas, erros acontecem, não é? Estamos desconfiando que alguma dessas criaturas tenha passado por aqui.
Entendendo o jogo que sua irmã queria fazer, Lilly também deixa o seu nervosismo um de lado, e tenta ajudar sua Mia a criar uma situação para que os homens vão embora.
— Oh, então o certo seria evacuarmos, não é? – Lilly diz, olhando para sua irmã.
— Sim! É melhor até eu avisar as pessoas! Vou postar nas minhas redes sociais, que a floresta está perigosa e-
— Esperem! Tenham calma!
Não apenas sobre informação não vazar, mas acabar com o turismo no local mesmo que temporariamente, poderia ser um grande peso nas costas do soldado mais tarde.
Se o seu colega tinha medo de ser atacado por um alien, ele tinha mesmo medo de ser demitido.
E falando do seu colega, ele estava fazendo uma busca superficial pelo acampamento. Mia, o olhando de canto de olho, garantia que ele estivesse procurando em lugares onde não havia nada.
Porém, o homem medroso repentinamente aperta um botão em seu capacete, e olha em volta. Quando seus olhos se encontram com a tenda onde Rei estava, a expressão dele muda.
Ele se aproxima do primeiro soldado e das garotas, e cochicha algo no ouvido de seu amigo. Este também clica em um botão que abaixava seu visor, enquanto seu rosto fica mais sério.
— Com licença, senhoritas. Me desculpe ser rude, mas o que há naquela tenda?
— Hã? N-nada! Por que a pergunta?
Soldados da AE usavam os mais avançados termo-radares do mercado, e o grupo principal, só conseguiu detectar duas pessoas aqui.
Então por que dentro daquela tenda havia uma anomalia termal… Não de calor, mas de frio?
— Aquela tenda parece bem gelada… Vocês têm um refrigerador ou algo assim?”
— Sim! Exatamente! – Mia diz, aliviada por achar uma desculpa.
— Ah, sério? E por quê? Vocês nem estão na tenda, então por que mantê-la fria?
Nervosismo de novo.
— Ah, isso é óbvio, não? São bebidas.
— Isso, bebidas! Trouxemos bastante
— Hmm – o soldado parece desconfiado. Até faria sentido, mas estava muito frio ali, e a bebida provavelmente é só para as duas, logo uma tenda inteira não seria necessária… – São alcoólicas?
— Também, mas as alcoólicas são só pra mim. Minha irmã é menor de idade, e não pode.
O soldado medroso arregala os olhos. Ele, cansado de andar por tanto tempo, merecia pelo menos uma cervejinha, certo? Afinal, ele era um cara importante.
Se aproximando com passos rápidos, ele coloca a mão na porta da tenda.
— É melhor conferir pra ver essas bebidas e…
— Espere! – Lilly rapidamente se levanta, segurando-o pelo braço.
Irritado, o homem tenta levantar sua arma, mas o primeiro soldado o impede. De forma alguma civis deveriam ser machucados, principalmente se o motivo for birra.
— Eu sei o que você está querendo, senhor – Lilly diz, com uma expressão fria no rosto – Mas soldados não devem beber em serviço, certo? Ou pretende nos roubar?
O rosto dele se contorce de raiva.
— Escuta aqui sua-
— Já chega! – Seu colega o interrompe. – Vamos embora. Essas garotas provavelmente não viram nada, e ficar aqui pode nos complicar ainda mais.
— M-Mas-
— Mas nada. – Agora quem o segurava pelo braço era o primeiro soldado, que o arrastava de volta até a trilha, fora do acampamento.
×××
Finalmente, as duas meninas podiam se sentar, aliviadas. Foi por pouco, mas nenhuma guilhotina foi acionada, e nenhum alien amigo foi preso.
Dentro da tenda, elas podiam ouvir a voz de Rei.
— Obrigado… as duas… – Ele abria o zíper e surgia da pequena porta de pano da tenda, se movendo com dificuldades.
— Moço! Cuidado! – Mia rapidamente o apoiava, visto que ele ainda estava muito ferido.
Olhando para o rosto de ambas por alguns segundos, Rei diz talvez as suas palavras mais simpáticas depois de anos mergulhado na frieza de ser um soldado.
— Vocês antes me salvaram, e agora me protegeram. Pela honra do meu sangue, eu peço que me permitam retribuir isso algum dia. A casa Azure tem uma dívida com vocês.
— Não se preocupe com isso! – Mia sorri, enquanto o ajuda a sentar em frente à fogueira, junto com elas – Nós fizemos uma boa ação, e boas ações não são feitas esperando algo em troca.
— Mas eu causei problemas pra vocês e-
— Já disse pra não se preocupar! – Mia cala a boca dele, enfiando uma colherada de sopa quente, enquanto ria baixo, para que os soldados não escutassem novamente
Olhando para aquilo, Lilly também dava um leve sorriso, vendo que talvez aquilo tenha valido a pena.