Vigilante Eterno - Capítulo 19
Quando o resto da tripulação chegou até o convés, encontrou Maycon de pé sobre o jovem hibrido, que teve seus membros amarrados, o impedindo de se mover.
Enquanto Maycon explicava o acontecimento aos seus parceiros vigilantes, os outros 4 irmãos observavam a embarcação ao longe, escondendo-se nas copas das árvores a beira do rio.
— Aqueles miseráveis! — berrou o hibrido graúdo, esmagando com facilidade um ganho grosso com uma das mãos. — Eu vou rachar o cranio deles no meio, de todos eles.
— Faz silencio, seu estúpido. Ou você quer que eles nos peguem também — cochichou o irmão mais velho.
— O que faremos para ajudar o nosso irmãozinho? — perguntou o bobo, com o rosto enxaguado de lagrimas e soluçando sem parar. — Não podemos deixar ele ser capturado por aqueles humanos nojentos. Eles vão torturar o nosso irmãozinho atrás de informações.
O irmão do meio, o preguiçoso, cochilava em um ganho acima do resto dos irmãos. Ele nem ao menos sabia da situação envolvendo o irmão mais novo.
— Ninguém vai ser torturado, isso eu posso garantir — afirmou o líder, com uma confiança que só ele tinha.
— E como faremos isso? — perguntou o brutamontes, respirando fundo, em uma tentativa de acalmar os nervos.
— Não tem como nós o regatarmos sem correr riscos de morte ou de captura, o que seria ainda pior do que situação atual. Por isso devemos convencer os inimigos a soltar o nosso irmão por conta própria.
— E isso é possível? — perguntou o bobo, limpando o nariz sujo de catarro.
— É o que vamos ver… — respondeu o líder, segurando a ponta do queixo com a mão, em uma pose pensativa.
No barco, Maycon balançava o jovem primata de um lado para o outro, como um troféu.
— Eu escutei ele se aproximando da embarcação, então só fingi estar dormindo para no momento certo… — O vigilante fez uma pausa dramática no meio de sua explicação, como para dar suspense. — capturar esse safado com as mãos nuas, usando apenas as minhas incríveis habilidades de combate corpo a corpo.
Vidal parecia impressionado com o feito de seu colega de trabalho, porém, os outros dois vigilantes não pareciam nada surpresos com o que Maycon havia feito. Eles estavam mais interessados nas informações que o hibrido poderia providenciar a eles. Informações valiosas que poderiam ser decisivas para o sucesso da missão.
— Temos que interrogá-lo — disse Poti, indo em direção ao inimigo atado.
— Eu estava prestes a fazer isso, cara de bagre — respondeu Maycon de forma grosseira, puxando o hibrido para o seu lado.
— Antes de tudo, precisamos nos certificar de que esse seja o único inimigo na região — disse Aline, assim, iniciando uma discussão.
Enquanto os três vigilantes de seu grupo discutiam entre si, Vidal percebeu uma movimentação entranha nas copas das árvores postadas ao redor da embarcação.
Ele tentou avisar aos seus companheiros, mas eles estavam muito distraídos com a discussão sobre o que deveria ser feito com o prisioneiro. Vidal teve que gritar para chamar a atenção da tripulação.
— Olhem! — berrou Vidal, apontando com o dedo indicador em direção a uma grande árvore a cerca de 6 metros do barco.
Antes mesmo que alguém do grupo pudesse perceber a movimentação estranha, uma voz estridente e grave disse:
— Vocês, invasores, não são bem vindos aqui! Libertem o prisioneiro e vão embora se temem por suas vidas!
Com um tempo de reação mínimo, todos os membros do grupo se puseram em modo de combate, prontos para o ataque inimigo.
— Não adianta lutar, vocês estão em menor número. Apenas desperdiçaram suas vidas em vão — disse outra voz, fanha e áspera, do lado oposto a primeira voz.
— O que vamos fazer? — cochichou Vidal, com o bastão em mãos.
— Devemos atacar primeiro! — afirmou Maycon, confiante.
— Não! — ordenou Poti, segurando o braço de Maycon, o impedindo de atirar uma de suas esferas de metal em direção a uma das vozes. — Vamos negociar, estamos em desvantagem aqui.
— Em desvantagem? Como você tem tanta certeza que não são apenas dois inimigos? — perguntou Maycon, forçando o braço que Poti havia agarrado em uma tentativa de se desvencilhar.
Uma risada interrompeu a discussão dos dois vigilantes veteranos. A gargalhada era carregada e transmitia uma sensação de poder e confiança.
— Eu superestimei muito vocês, humanos. Pensei que fossem mais inteligentes. — Essa voz não se assemelhava com nenhuma das anteriores. — Somos um grupo grande, apenas uma pequena parte da legião a serviço do grande Mestre, mas já é o suficiente para acabar com a vidinha deplorável de vocês.
— Então por que não fazem isso de uma vez? — A pergunta de Vidal pegou todos de supressa, inclusive o irmão mais velho do grupo de híbridos, dono daquela voz. — Vocês perderam a chance de nós atacar de surpresa, além disso, se o que dizem é verdade, estão em vantagem numérica e tem força o suficiente para acabar com o nosso grupo com facilidade, mas por que não fazem isso?
As perguntas de Vidal surpreenderam o seu grupo, principalmente Poti, que sentiu um certo orgulho por fazer parte do crescimento do jovem como um vigilante.
O macaco líder ficou sem reação com a ousadia daquele jovem humano. A sua ideia era, desde o princípio, intimidar o grupo de vigilantes sem ter que revelar o real poder de seu grupo, assim, os humanos ficariam tão assustados que fariam todas as suas exigências.
“O plano A não saiu como esperado… merda. Ou eles são muito estúpidos, ou muito corajosos, ou talvez… um pouco dos dois. Aquele jovem humano está certo, se os atacássemos de supressa, teríamos os matados com facilidade, mas eles estão com o nosso irmão mais novo como prisioneiro. Não me importo com a missão, apenas quero o meu irmãozinho de volta e vivo.” pensou o irmão mais velho, suando frio.
— Qual é o plano B? — perguntou o macaco preguiçoso, que estava ao lado do líder do grupo.
— Teremos que fazer uma troca — respondeu o irmão mais velho, após pensar por alguns segundos em silêncio. Enquanto pensava, ele podia ver o seu irmão amarrado no chão do convés, com a cabeça sendo pressionada pelo coturno de Maycon. O hibrido mais novo chorava descontroladamente, não por achar que iria morrer, mas por saber que havia falhado em sua primeira missão.
— E então, o que vai ser? — berrou Maycon, pressionando ainda mais a cabeça do jovem hibrido. — Já estou ficando estressado.
— Eu proponho uma troca — disse o macaco líder. — Vocês libertam o prisioneiro e em troca, nós deixaremos vocês em paz.
Por um breve período de tempo, o líder realmente achou que a sua proposto iria ser bem recebida pelo grupo de humanos, mas a realidade foi diferente. Maycon foi o primeiro a reagir à fala do híbrido, dando uma gargalhada carregada de sarcasmo.
— Você realmente acha que vamos confiar em vocês? — perguntou Poti, ofendido com uma proposta tão absurda como aquela.
— Não entendi, o que você quer dizer com isso? — perguntou o líder hibrido, genuinamente confuso pela reação dos humanos.
— Você é idiota por acaso? — berrou Vidal. Seu rosto estava encharcado com suor e suas mãos tremiam de tensão. — Como sabemos que você ira cumprir com sua palavra?
— Ah, entendo. Tinha me esquecido como vocês humanos são seres desconfiados e estúpidos — disse o irmão mais velho, cerrando os dentes de raiva. — Pois bem, eu mesmo irei até aí para a realização da troca. Desarmado, é claro. Quando o prisioneiro for liberto, o meu grupo ira se evadir e partir para longe do barco. Caso algum de nós ataquemos o seu grupo, o que não ira acontecer, vocês terão tempo suficiente para revidar, podendo me matar com facilidade. Ambos correremos grave risco nessa troca.
Após alguns segundos repensando na nova proposta, Maycon foi o primeiro a responder.
— Certo, parece justo.
— Espere — disse Aline, que até aquele momento estava em silêncio, de olhos fechados, como se estivesse meditando.
Após ela cochichar algo para o grupo, os vigilantes finalmente tomaram sua decisão. A troca seria feita assim como foi proposto pelo líder dos híbridos.