Vigilante Eterno - Capítulo 16
Os preparativos já haviam sido finalizados. O grupo estava reunido nas docas da marinha, onde um barco já havia sido reservado clandestinamente para a jornada.
Não foi difícil para Maycon convencer Poti e Vidal a participarem da missão, já que ambos compartilhavam o mesmo desejo de justiça contra os híbridos, que causaram tanta destruição e morte durante tantos anos.
— Você sabe pilotar isso? — perguntou Maycon de maneira provocativa.
— Se você prometer ficar de boca fechada durante a viagem inteira, sim. — A resposta de Poti veio de forma imediata, atiçando ainda mais a rivalidade dos dois.
O barco em questão já era bem velho. A pintura gasta na lateral de seu casco, revelava que ele fora usado para patrulha, e levando em conta as marcas de tiros e arranhões, era de se imaginar que ele já tinha passado por muita coisa. Uma máquina guerreira aposentada, que agora voltava a ativa para uma última missão.
O grupo partiu do porto à noite, com as luzes da embarcação desligadas para não chamar a atenção ou levantar suspeitas.
— E então, onde fica essa passagem secreta? — indagou Vidal, debruçado sobre a amurada do barco, observando as luzes da doca se extinguirem à medida que avançavam.
— Se o velho estiver certo, não devemos estar tão longe. — respondeu Maycon, usando uma lanterna para iluminar um pedaço de papel com a localização da passagem.
Quando o grupo já estava longe da doca, Poti acendeu as luzes da embarcação, iluminando as águas turvas do rio e a mata que os cercavam. Se guiando pelo mapa, o grupo seguiu pelos afluentes do rio, adentrando cada vez mais na floresta.
— Quais são as chances dessa passagem secreta ainda existir? — perguntou Poti, observando o horizonte com os olhos cerrados.
— Eu diria que as chances são de 50/50 — respondeu Aline, enquanto observava o céu estrelado. — Segundo o diretor, esse e outros acessos foram criados por mercenários, exploradores e até mesmos cientistas, que estavam dispostos a arriscar a própria vida se aventurando no paraíso perdido.
— E por que alguém em sã consciência iria querer ir para um lugar tão desolado como esse? — A pergunta de Vidal disfarçava um sentimento genuíno que ele guardava desde que descobriu a existência do paraíso perdido. Uma tentação incontrolável de se aventurar nessas terras abandonadas e mortíferas crescia em seu coração toda vez que ouvia histórias sobre.
— Existem diversos motivos. Muitos vão com o objetivo de documentar e estudar a região e sua natureza única. Outros, vão atrás das lendas: frutas que saciam a maior das fomes, a fonte da vida eterna, minérios tão valiosos quanto diamante, entre outras estórias contadas pelos moradores da região. — Enquanto falava, Alina conseguia ver, mesmo com a luz escassa na obscuridade da noite, o brilho nos olhos de Vidal, que escutava atentamente cada palavra dita pela vigilante.
Após 15 minutos navegando, eles finalmente chegaram até o ponto marcado no mapa. O local era distante de qualquer resquício de civilização que ainda existia na zona. A base da cerca tinha sido engolida pela vegetação, sendo impossível ver qualquer sinal de uma passagem.
— Estão conseguindo ver alguma coisa no meio desse matagal? — indagou Poti, usando uma lanterna em direção a cerca.
— Porra nenhuma — respondeu Vidal de imediato. — Não dá para ver nada com tanto mato na frente.
Após xeretar nos diversos utensílios que levavam no barco, Maycon brandiu um enorme facão de lâmina negra, cortando a relva que barrava o avanço da embarcação. Poti manobrou a embarcação, adentrando na mata, em direção a cerca. À medida que avançavam, a forma de uma passagem se formava diante de seus olhos. Um buraco feito a mão, grande o suficiente para permitir a passagem da embarcação.
— Aquele ancião safado estava certo! — berrou Maycon, exalando animação em sua voz.
Vidal não conseguia esconder o sorriso em seu rosto. Por mais que soubesse que não iria ser uma missão fácil, ele não conseguia controlar a empolgação de se aventurar em um lugar desconhecido e inabitado. Poti e Aline eram os dois únicos que demonstravam certo desconforto e receio ao passar pela abertura.
À medida que adentravam no paraíso perdido, uma névoa começou a surgir, rodeando a embarcação e limitando ainda mais a visão, sendo impossível para Poti prosseguir com a viagem.
— Acho que já está bom por hoje. — A voz de Poti transmitia o sentimento de preocupação que sentia em relação àquele local.
Eles atracaram a embarcação na beira do rio, a mais ou menos uns 200 metros da cerca. Vidal, que mesmo estando ansioso com relação à jornada, sentia o ar pesado e sombrio que aquele local transmitia. A sensação que o paraíso transmitia era fúnebre. A morte rodeava aquele local, apenas esperando algum resquício de vida para poder ceifá-la.
Todos se acomodaram dentro da cabine, um espaço bem restrito para 4 pessoas, mas era isso ou dormir do lado de fora da embarcação. Os vigilantes mais jovens ficaram no beliche, sendo que Vidal ficou na de cima e Aline na debaixo. Já os vigilantes mais velhos, ambos dormiram em redes que armaram dentro da cabine. Maycon foi o primeiro a cair no sono, sendo o Poti o próximo. Os dois roncavam feitos porcos, fazendo a tarefa de dormir ainda mais desafiadora para os dois vigilantes mais novos.
— Você ouviu isso? — indagou Aline a Vidal.
— O ronco desses dois mamutes? Sim, estou ouvindo muito bem.
— Não estou falando disso. Estou escutando algo além dos roncos.
Vidal fechou os olhos, tentando ignorar o som estridente dos roncos, conseguindo perceber o que parecia ser o som de algum animal que não conseguia identificar. Com o tempo, os roncos foram ficando cada vez mais fracos até cessarem por completo, porém, o sonido estranho foi ficando cada vez mais alto e próximo da embarcação. Ele parecia vir debaixo do barco, trazendo ainda mais estranheza para a situação.
— Essa merda está me assustando, é sério — disse Aline, com uma voz tremula.
— Tente ignorar o barulho e vá dormir. É a única coisa que podemos fazer agora — propôs Vidal.
Aline tapou os ouvidos com o travesseiro, e após alguns minutos de ruídos incessantes, ela finalmente pegou no sono.
Logo pela manhã, quando o sol ainda se erguia no horizonte, o grupo voltou para a sua jornada. Porém, a neblina não havia se dissipado, muito pelo contrário, ela parecia ainda mais densa e impenetrável pela luz. Era impossível ver qualquer coisa que não estivesse a menos de 10 metros a frente do barco.
— Essa neblina não é normal — ponderou Poti, concentrando ao máximo, enquanto pilotava a embarcação.
— Nada aqui é normal — afirmou Maycon, de pé na proa do barco, tentando reconhecer alguma forma no meio daquele véu branco que cobria o horizonte.
O barco seguiu descendo o rio. De vez em quanto, Poti tinha que manobrar o barco para desviar de um obstáculo que aparecia subitamente, fazendo a tarefa de pilotar a embarcação ser extremamente estressante.
— Vidal, está escutando? — indagou Aline, apontando o dedo indicador para o horizonte neblinoso. — É aquele som esquisito novamente.
— Verdade, também estou escutando. — confirmou Vidal, cerrando os olhos, enquanto encarava a neblina.
Foi então que, de relance, Vidal conseguiu ver uma figura enorme se mover dentro da neblina, logo à frente do barco. Por ter sido muito rápido, Vidal não pode reconhecer que tipo de criatura poderia se tratar aquela coisa. Apenas sabia que era enorme e que estava logo à frente deles.
— V-vocês viram aquilo? — perguntou Vidal, com o medo estampado em sua face.
— Eu também vi — disse Maycon, tirando 5 esferas de metal de dentro de uma pochete presa na sua cintura. — Poti, desvia para a direita!
Ao ouvir o aviso, Poti prontamente virou o barco com tudo para a direita, mas antes mesmo da manobra ser concluída, a embarcação se chocou em algo, parando abruptamente e jogando toda a tripulação para frente. Maycon, que estava na beira da proa, teve que se agarrar na amurada para não cair no rio.
— A embarcação encalhou! — berrou Poti, que bateu sua testa no para-brisa do barco durante a batida, causando um corte que não parava de jorrar sangue.
— Batemos em alguma rocha? — indagou Aline, levantando do chão.
— Não, — respondeu Vidal, embainhando o seu bastão. — batemos em alguma coisa.