Vigilante Eterno - Capítulo 14
Após alguns minutos de discussão sobre o que deveria ser feito, Aline conseguiu convencer a todos que deveria ser ela a responsável por interrogar o prisioneiro, menos Maycon, que desaprovava a ideia da jovem vigilante.
— Deixa que eu cuido disso. Você viu como eu convenci aquele rato a falar tudo que sabia com apenas algumas “palavrinhas” — insistiu Maycon, enquanto estalava os dedos.
— Dessa vez é diferente, esse cara não vai ceder tão fácil. Você sabe disso, viu com seus próprios olhos. Ele está disposto a morrer do que falar qualquer coisa. — Aline falava com confiança, como se soubesse o que passava pela cabeça do prisioneiro. — Além disso, ele já te conhece, duvido que vai querer falar alguma coisa com o cara responsável pela sua prisão.
— Desde que acordou, ele foi interrogado por horas ininterruptas pelos nossos agentes especializados em interrogatórios. Ele não falou nada, nem uma mísera palavra. Para ser sincera, eu acho que mesmo que ele fosse torturado por dias, ele continuaria calado — disse Larissa, com os braços cruzados olhando para o criminoso através do vidro.
— Então está decidido. Vamos deixar a jovem vigilante interrogar esse tal de escavador. Caso ela não consiga, podemos considerar ele como um caso perdido — disse o diretor com uma voz cansada, enquanto se sentava em uma cadeira de frente para a janela de vidro.
Maycon, ainda relutante em relação à decisão de Aline, foi até o fim da sala, encostando as costas na parede, onde permaneceu estático enquanto assistia a sua parceira entrar na sala do outro lado.
Aline, por sua vez, foi até a porta de metal, que levava até ao compartimento onde o escavador estava aprisionado.
Maycon, assistiu tudo de longe, vendo sua parceira chamar a secretária para perto, cochichando algo em sua orelha. Após isso, a secretária foi até um painel preso ao lado da porta, onde após digitar alguns números em sequência, a porta abriu-se, permitindo a passagem de Aline.
Ao pisar dentro do compartimento, Aline sentiu uma brisa congelante cobrir todo o seu corpo, fazendo a jovem vigilante hesitar por alguns segundos antes de entrar completamente no local.
O escavador não reagiu em momento algum a entrada da vigilante na sala. Ele permaneceu estático como uma estátua, com o olhar vidrado no vidro espelhado, encarando o seu próprio reflexo.
O som da porta se fechando por trás de Aline quebrou o silêncio monótono da sala. Agora, a jovem moça estava a sós com o criminoso, mas sendo vigiada pelo resto do grupo do outro lado da tela do vidro espelhado.
— Você sabe que estamos sendo vigiados, não sabe? — perguntou Aline gentilmente ao escavador.
— … — O escavador permaneceu em silêncio, não movendo um músculo sequer. Parecia um cadáver.
— Esse aí vai dar trabalho… — falou o diretor desanimado.
Vidal e Poti assistiam à cena um do lado do outro, enquanto comentavam sobre o caso.
— Maycon parece nervoso — apontou Vidal baixinho.
— Eu também estaria se visse a minha irmã em uma sala fechada junto a um criminoso — disse Poti, enquanto puxava os longos cabelos para trás das orelhas.
— Irmã? — berrou Vidal com uma expressão de surpresa.
O grito de Vidal chamou a atenção de todos na sala, inclusive de Maycon, que o olhou de canto de olho, voltando sua atenção à irmã logo em seguida.
— Você realmente não vai abrir a boca, não é mesmo? — indagou Aline, aproximando-se do escavador a passos curtos. — Isso vai ser muito doloroso para ambos, espero que você aguente até o final.
Aline pôs ambas as mãos na cabeça do criminoso, que reagiu, forçando a sua cabeça para trás em uma tentativa fútil de desgrudar as mãos delicadas da vigilante de sua testa.
— Abra a porta agora! — ordenou Maycon, correndo até a porta de metal trancada.
Após a reação inesperada de Maycon, Aline emitiu um berro de agonia, como se estivesse sendo perfurada por centenas de milhares de agulhas por todo o seu corpo.
Ela contorcia-se de forma rigorosa, porém, suas mãos não se desgrudaram da cabeça do escavador, que após alguns segundos, também começou a berrar e a debater-se em agonia.
— O que está acontecendo? — perguntou Vidal assustado com aquela cena medonha.
— Era isso que eu temia. Eu já imaginava que ela iria tentar isso, por isso eu estava receoso com a decisão dela de fazer o interrogatório — disse Maycon aos berros, enquanto força a porta de metal, em uma tentativa falha de abri-la.
— Seja mais direto, explique o que está acontecendo! — ordenou o diretor, levantando-se de sua cadeira com um certo esforço.
— Ela está usando sua habilidade de telepatia para ler a mente do escavador. O problema é que, por se tratar de uma mente humana, a ação de ler os pensamentos do indivíduo vai exigir muito de ambas as mentes. — Maycon tremia e suava frio, enquanto falava. — Os efeitos colaterais de fazer algo assim podem ser fatais e permanentes na mente dela.
— Então o que estamos esperando? — berrou Vidal com uma expressão de medo e preocupação profunda. — Abra a porta e impeça isso.
Os gritos de Aline estavam ficando mais intensos, seus olhos começaram a revirar. O seu corpo contorcia-se com ainda mais violência, como se fosse quebrar-se a qualquer momento. O mesmo acontecia com o escavador, que tinha os seus espasmos limitados pelas tiras de couro que o atavam.
— O que você tá esperando? — berrou Maycon com todas as suas forças. O seu rosto vermelho rubro estava marcado por uma mistura de emoções, desde raiva a desespero. — Abra a porta!
— Me perdoe, Sr. Maycon, mas eu fiz uma promessa para Aline, uma promessa que estou disposta a manter independente de qualquer coisa — respondeu Larissa com um pesar na voz.
— O que ela pediu para você fazer? — perguntou o diretor com um tom manso, tentando abrandar a situação.
— Ele pediu para que eu não abrisse a porta, não importasse o que acontecesse e que deveria confiar nela — explicou Larissa, mostrando sinais de nervosismo em sua voz. — Ela explicou que era o único jeito de resolver isso e que…
— Não importa o que ela disse — esbravejou Maycon, interrompendo Larissa. — Se você não abrir a porta agora, será responsável pela morte da minha irmã!
Vidal deu um passo à frente. Ele estava determinado a usar sua força sobre-humana para arrombar a porta, mas após entender a situação e os motivos de Aline, ele ficou hesitante se deveria ou não fazer aquilo. Não fazia nem 24 horas desde que conhecera Aline, mas o seu jeito meigo e, ao mesmo tempo, confiante, o fazia acreditar que ela sabia o que estava fazendo.
— Deixe. — Poti agarrou os ombros do jovem vigilante, que se virou com surpresa. — Ela sabe o que está fazendo.
Maycon continuou a tentar abrir a porta à força, o que foi inútil. Até que os gritos cessaram abruptamente. Aline desgrudou suas mãos da cabeça do escavador e cambaleou para trás, claramente desorientada.
— O que… o que você fez? — perguntou o criminoso ofegante, recuperando-se da dor extrema que sentiu.
Todos assistiam em silêncio e com espanto. Até mesmo Maycon parou suas ações ao ouvir a voz do prisioneiro.
— Thomaz — disse Aline ofegante. Ela apoiava-se na parede como se estivesse prestes a desmaiar a qualquer momento. — Esse é o seu nome, não é?
Pela primeira vez desde que tinha sido feito prisioneiro, o escavador mostrou alguma reação. Seus olhos esbugalhados e mandíbula caída, transmitiam surpresa e medo ao ouvir aquele nome.
— Ela conseguiu? — berrou Vidal com um sorriso no rosto. — Ela leu a mente dele?!
— Seu nome é Thomaz Henrique. Seu pai chama-se Roberto, e sua mãe Elena. Antes de virar essa coisa que é hoje, você era uma golpista. — Aline falava com grande dificuldade, mas com um sorriso no rosto. Durante sua fala, sangue começou a jorrar de seu nariz, escorrendo até o seu queixo antes dela limpá-lo com a mão. — Eu sei tudo sobre você, tudo. Os seus pensamentos, desde quando era um bebê até agora, passaram pela minha cabeça como um filme interminável. Você é inútil para nós agora.
O escavador ouviu tudo aquilo atônito. Tudo que ela falava era real e isso o perturbava profundamente. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto congelado pelo choque. Enquanto isso, Aline foi cambaleando até a frente da porta, fazendo um gesto em direção ao vidro espelhado.
Ao ver o gesto, Larissa foi até o painel, abrindo a porta. A jovem vigilante, abatida, entrou na sala onde o restante do grupo estava, dando de cara com seu irmão, que a encarava com um olhar tristonho.
Assim que a porta fechou atrás de si, Aline desabou desacordada nos braços de Maycon.
— Médico. Ela precisa de um médico, agora! — gritava Maycon desesperadamente, enquanto se ajoelhava delicadamente no chão, apoiando a cabeça de sua irmã em seus ombros.
Vidal viu aquilo sem saber como reagir. Sangue não parava de escorrer do nariz de Aline. A tonalidade da jovem começou a assumir um tom pálido e os seus lábios começaram a ficar roxos e
Soldados entraram na sala junto a uma maca, onde deitaram Aline e a carregaram até a enfermaria. Maycon acompanhou a irmã.