Vigilante Eterno - Capítulo 12
Todos na sala ficaram estáticos, com os olhos grudados na moça, que foi até a TV desligada, tirando um controle remoto de dentro de seu uniforme azul-escuro, ligando o aparelho logo em seguida.
— Você vai explicar para nós o que está acontecendo? — perguntou Vidal, agora mais tranquilo.
— Espere só mais um pouco, sim? — indagou a moça delicadamente, aumentando o volume da Televisão.
— Acho que já esperamos demais por hoje — disse Aline. — Pelo menos diga quem você é.
— Ah, sim. Que falta de consideração minha — disse a mulher, soltando uma risada descontraída logo em seguida. — Meu nome é Larissa, eu sou a secretária do diretor responsável pela administração da zona de risco.
Larissa segurou o crachá preso em seu peito, mostrando-o para os demais na sala. Maycon, ao ver o crachá, sentiu um frio na espinha.
A secretária abriu um aplicativo de chamada de vídeo na TV e fez uma chamada, atendida rapidamente por um senhor. Ele tinha por volta de 70 anos, cabelos grisalhos e barba por fazer. Vestido com um terno preto com gravata vermelha vinho, sentado em uma poltrona luxuosa.
— Alô, estão me escutando? — perguntou o homem por trás da tela, enquanto colocava os seus óculos.
— Sim, diretor, estamos te ouvindo muito bem — respondeu à secretária.
— Certo, obrigado, Larissa — agradeceu o diretor, enquanto apertava a gravata em seu pescoço enrugado. — Primeiro, quero pedir perdão pelo meu atraso. Hoje foi um dia muito conturbado, como vocês já devem imaginar. Todos nessa sala já sabem muito bem o motivo pelo qual eu convoquei essa reunião, então serei breve.
— É bom mesmo… — cochichou Vidal, olhando fixamente para o chão.
— Poti me contou tudo que sabia, inclusive sobre a atitude de Maycon de agir por conta própria. — Ao ouvir aquilo, Maycon desviou o olhar, como se estivesse levemente envergonhado em frente ao diretor. — Também recebi a notícia que um novo indivíduo foi capturado, mas essa nova captura custou a vida de outro prisioneiro…
— Ele tentou fugir junto com o outro suspeito. Além disso, ele já tinha contado tudo que sabia para mim, não servia de mais nada — disse Maycon em uma tentativa quase desesperada de justificar-se, olhando no fundo dos olhos cerrados e cinzentos do diretor.
— Isso não vem ao caso agora, vigilante! — disse o diretor em voz alta e imponente, deixando um silêncio perturbador após sua fala. Seu rosto era de um homem cansado e vivido, mas sua voz exalava confiança e imponência. — A questão é que: se o que esses indivíduos disseram for verdade, isso pode mudar completamente a situação atual da zona. Diversas vidas foram perdidas aqui, tanto de civis quanto de vigilantes, e até agora não tínhamos uma resposta para a origem dessas coisas do outro lado da cerca…
— Mas não temos certeza se o que dizem é verdade… — apontou Poti, ainda de braços cruzados.
— Certeza? Tudo isso que aconteceu não é o suficiente para provar? — berrou Vidal, claramente alterado.
— Vidal, cala a boca! — alertou Aline.
O diretor desviou seus olhos em direção ao jovem vigilante, que o encarava com uma expressão mal-encarada. Sem mudar sua expressão, o velho disse:
— Você é Vidal, certo?
— S-sim, ele é o meu parceiro na guarda da cerca. Só quero que o senhor saiba que eu assumo toda responsabilidade por qualquer coisa que ele…
— Eu perguntei ao rapaz — disse o diretor em alto tom, calando Poti. — Como você se chama, rapaz?
— … — Vidal abaixou sua cabeça, encarando os seus pés por alguns segundos antes de responder à pergunta. — André Vidal, senhor.
— Como eu imaginava. — O velho deixou escapar um sorriso de canto de boca ao ouvir aquele nome. — Você tem um temperamento igual ao do seu pai. Ele não conseguia esperar sentado e resolvia as coisas por conta própria. Eu o livrei de muitas enrascadas quando ele ainda servia como vigilante.
— É… ele me contou as histórias — disse Vidal com o rosto avermelhado de vergonha.
— Então você deve saber dos riscos de agir por conta própria, não sabe? — O velho deu uma leve tossida para limpar a garganta, antes de continuar com sua fala. — Dessa vez, apenas essa única vez, eu vou deixar passar. Você e Maycon não serão penalizados pelo que fizeram hoje.
Maycon, que até esse momento estava em silêncio absoluto, tenso com a situação e suando frio, soltou um suspiro de alívio. Não por causa de si, mas por causa de Vidal.
— Eu agradeço, de verdade — disse Maycon gentilmente.
— Não interpretem isso errado. Eu não fiz isso por generosidade, mas sim pelos frutos colhidos dessa sua ação imprudente. Querendo ou não, vocês dois capturaram um indivíduo que carrega informações de grande importância para esse caso…
— Senhor, desculpe interrompê-lo, — disse a secretária com o dedo indicador em seu ouvido direito, que estava com um fone. — mas acabei de receber uma atualização da ala médica sobre as condições do novo prisioneiro.
Todos na sala direcionaram sua atenção para a nova notícia. Maycon parecia cochichar algo muito baixo, como se estivesse torcendo por um resultado favorável.
— E então? — perguntou o diretor, também ansioso pela resposta.
— O prisioneiro acordou, mas ainda está desnorteado. Os médicos disseram que ele não corre mais risco de vida.
Ao ouvir aquilo, todos se sentiram aliviados, principalmente Maycon e Vidal.
— Ótimo, perfeito! — berrou o diretor, ansioso com a notícia. — Tudo está correndo ao nosso favor. Devo chegar até amanhã de manhã para discutirmos o próximo passo.
— Certo, diretor. Irei providenciar isso o mais rápido possível — disse Larissa com um sorriso carismático estampado no rosto.
— Por hoje é só, a melhor coisa que podemos fazer agora é descansar e restaurar as nossas energias. Principalmente vocês, vigilantes.
Todos se levantaram de suas cadeiras, cada um indo em direção a porta de metal, que tinha sido aberta pelo lado de fora logo após o término da reunião. Vidal, que era o último vigilante a sair da sala, parou em frente a porta ao ouvir a voz do diretor que disse:
— Vidal, rapaz.
O jovem vigilante virou-se lentamente em direção a TV, carregando uma expressão de cansaço, preocupação, alívio e sono, tudo junto ao mesmo tempo. Todo o seu corpo estava dolorido, como se ele tivesse sido atropelado por um caminhão, sua roupa estava surrada e rasgada, mãos marcadas por bolhas devido ao atrito com o bastão de madeira e as pernas bambas, que parecidas desabar junto com o corpo a qualquer momento.
— Seu pai está orgulhoso, pode acreditar. Continue firme. — disse o diretor segundos antes de encerrar a chamada.
Vidal sorriu.
Quando saia da sala, Vidal teve uma surpresa ao ver Poti, que estava escorado na parede ao lado da porta aberta.
— Não quero que você interprete minha decisão de forma ruim, eu não queria prejudicar nem você, nem Maycon. Apenas fiz o que achei certo ser feito, fique à vontade para discordar — disse Poti cabisbaixo. Também estava tão cansado quanto Vidal.
— Deixa isso para lá. — Ao ouvir aquilo, Poti mostrou surpresa, já que estava esperando uma resposta negativa por parte de Vidal. — Vamos comer alguma coisa, eu estou morto de fome.