Vigilante Eterno - Capítulo 11
A dupla de vigilantes observou os criminosos em silêncio, com Maycon mantendo a esfera de metal em sua mão apontada o tempo todo para a cabeça de Snitch, que estava imóvel.
Vidal tirou o bastão preso em suas costas com cuidado para não fazer barulho e revelar sua posição.
Daquela distância, ambos conseguiriam escutar a conversa dos criminosos, não importasse o quão baixo eles conversassem.
— E então… você trouxe o bagulho? — cochichou Snitch, evitando contato visual com o escavador.
— Sim, está logo ali, no túnel. A caixa é muito pesada, então eu preciso que você me ajude — respondeu o escavador.
— Foi mal, não vai dar dessa vez. Hoje eu acordei com o meu pé direito dolorido e não posso fazer muito esforço — cochichou Snitch, o mais baixo que pode.
“Pé direito machucado? Como assim? Ele estava caminhando perfeitamente até pouco tempo atrás. Até conseguiu correr quando eu o persegui mais tarde” pensou Vidal, se esforçando para escutar a conversa.
Ao olhar para seu parceiro, Vidal percebeu que Maycon também tinha achado aquele comentário suspeito.
Após isso, os dois criminosos não trocaram nenhuma palavra, ficando imóveis onde estavam, até que o escavador moveu seu braço bruscamente para baixo, atingindo o chão com força, fazendo uma nuvem de poeira se levantar em volta dele e de Snitch.
Antes que a poeira cobrisse completamente o roedor, Maycon atirou a esfera de aço, que voou com extrema velocidade, mais rápida que uma bala, atingindo a cabeça do criminoso, abrindo um rombo em seu crânio.
— Vidal, agora! — berrou Maycon, tirando outra bola de aço de sua bolsa.
Vidal prontamente obedeceu às ordens de seu parceiro, ficando o bastão no chão, fazendo raízes brotarem bem no local onde o escavador saiu minutos antes, impedindo sua fuga.
Vendo que a entrada do túnel fora obstruída, o escavador usou suas enormes unhas para criar uma rota alternativa, cavando a terra com uma velocidade assustadora.
Quando a nuvem de poeira se dissipou, os dois vigilantes conseguiram ver apenas o corpo de Snitch jogado no solo. O escavador tinha desaparecido, deixando apenas um buraco no chão.
— Droga, ele fugiu! — berrou Maycon em um tom de frustração.
Vidal correu em direção ao túnel criado pelo criminoso, usando sua habilidade de transmutar a forma de seu bastão para transformá-lo em um enorme martelo de madeira, tão grande e pesado que Vidal mal conseguia segurá-lo direito.
Usando todos os músculos de seu corpo para manusear aquele martelo, Vidal desferiu um golpe avassalador em direção ao solo, mirando no buraco que o escavador usou para escapar.
Aquele golpe desferido por Vidal, fez a terra tremer, fazendo as estruturas antigas e decrépitas do local irem ao chão.
O local foi tomado por imensa nuvem de poeira, que quando foi dissipada, revelou uma cratera bem onde Vidal havia golpeado, e, no fundo dela, encontrava-se o escavador, atordoado pelo golpe.
Maycon foi até a cratera, com uma expressão de surpresa estampada em seu rosto, nunca imaginou que Vidal tivesse aquela força monstruosa.
Os dois ficaram de pé, na beira da cratera, olhando para o criminoso, que estava começando a recuperar a consciência.
Após perceber a situação em que encontrava-se, o escavador não hesitou em tirar o que parecia ser uma pílula de dentro de uma bolsa presa na sua cintura, colocando-a na boca logo em seguida.
— Ele engoliu alguma coisa! — berrou Vidal.
Após engolir aquilo, o híbrido começou a ter convulsões e a espumar pela boca.
— Merda… — Maycon correu até onde o escavador se encontrava e rapidamente pôs seus braços envolta de sua barriga, forçando o seu estômago várias vezes até ele cuspir o que tinha engolido. — Isso provavelmente é uma pílula de cianeto.
— Cia o quê? — indagou Vidal, sem entender o que Maycon havia dito.
— Ele tentou se matar! — berrou Maycon, arrastando o híbrido para fora da cratera. — Contate a central agora, precisamos levar ele para um médico o mais rápido possível!
Maycon entregou o seu rádio nas mãos de Vidal, que entrou em contato com a central, exigindo ajuda médica o mais rápido possível.
Minutos depois, um helicóptero chegou até o local onde o grupo de vigilantes estava, levando-os com os dois híbridos até a base mais próxima que ficava a quilômetros da vila. No caminho, Vidal decidiu entrar em contato com Poti para atualizá-lo da situação.
— Você o quê? — berrou Vidal, chamando a atenção de Maycon, que estava sentado ao seu lado.
— Eu já estou na base, esperando por vocês — respondeu Poti em um tom sério. — Logo após vocês dois saírem para sua missão, eu e Aline fomos até a base junto com o prisioneiro, ao chegar lá, eu conversei com o diretor pessoalmente e expliquei toda a situação, incluindo tudo o que envolve o ultra e esses tais de “híbridos”.
— Você não podia ter feito isso! — exclamou Vidal, claramente indignado com a decisão de Poti. — Nós tínhamos tudo sob controle. Você sabe que isso pode fuder com a carreira do Maycon, não sabe? Quando vocês dois vão deixar o passado de lado?
— O que você quer dizer com “deixar o passado de lado”? Maycon te contou algo? — indagou Poti em um tom de surpresa.
Maycon tomou o rádio das mãos de Vidal, o desligando logo em seguida e colocando-o de volta em seu bolso.
— Nós resolvemos isso quando chegarmos lá — disse Maycon, que parecia estar muito tranquilo, o que incomodava Vidal. — Veja só, já estamos chegando na base!
Vidal olhou pela janela do helicóptero, em uma tentativa falha de esquecer tudo aquilo que acontecera naquele dia, se deparando com uma vista de tirar o fôlego: a imensa bola de fogo marcava o horizonte, fazendo com que o céu assumisse um tom alaranjado, enquanto desaparecia por entre as nuvens.
O helicóptero sobrevoava um enorme e extenso rio, o maior do mundo, tão grande quanto aquele que ficava ao lado da cerca, e flutuando sobre ele, um navio colossal iluminado pelos raios do pôr do sol, o maior que Vidal tinha visto em toda sua vida.
Ao pousarem em um dos heliportos do navio, a dupla de vigilantes foi recebida por um grupo de soldados trajados em uniformes camuflados verdes, sendo que alguns deles portavam fuzis.
— Fique calmo — avisou Maycon a Vidal, que estava claramente tenso com a hospitalidade incomum.
Os soldados colocaram o escavador desacordado em uma maca e o levaram para dentro, fazendo o mesmo com Snitch, enquanto o restante cercava os dois vigilantes.
— Me acompanhem — ordenou um dos militares, que parecia ser de maior patente que os outros.
A dupla seguiu os militares pelos corredores apertados da embarcação, sendo vigiados a todo o momento.
— Aqui, podem entrar — disse o militar de alta patente, apontando para a uma porta de metal, que levava a uma sala mobiliada com diversas cadeiras de metal e uma grande TV presa na parede.
Ao entrar na sala, Vidal ficou surpreso ao encontrar Poti e Aline, cada um sentado em uma cadeira. Poti estava de braços cruzados olhando fixamente para a TV desligada, não desviando o olhar em nenhum segundo.
— Por que você expôs a gente? Tínhamos tudo sob controle… — berrou Vidal, indo em direção a Poti.
— Calma, calma, Vidal. Você vai entender daqui a pouco — disse Aline, empurrando o peito de Vidal para trás. — Até lá sente-se em uma cadeira e come alguma coisa, vocês devem estar famintos.
Maycon não disse nada em nenhum momento, apenas foi até uma mesa, onde pegou um grande pedaço de bolo e um copo com café fervendo, sentando-se em uma cadeira logo em seguida.
Vidal, por sua vez, apenas se sentou logo atrás de Poti, sem nem ao menos olhar para os diversos aperitivos espalhados na mesa no canto da sala, apesar da fome esmagadora que sentia.
— Quanto tempo vamos ter que esperar? — perguntou Vidal, levantando da cadeira abruptamente, quebrando o silêncio monótono da sala. — Eles simplesmente me trancam nessa maldita sala sem falarem nada e esperam que eu fique de boa com isso? Mas que merda!
Vidal foi até a porta de metal, desferindo um chute, amassando-a. Aline levantou-se e foi até ele, agarrando-o pelos ombros em uma tentativa de acalmá-lo.
— Para com isso, você está agindo que nem um moleque birrento! — berrou Aline, puxando Vidal para longe da porta, que estava marcada por diversos amassados provenientes dos chutes. — Come alguma coisa, a fome deve estar te deixando estressado.
— Aline, deixe o garoto extravasar — disse Maycon. — Ele precisa descontar a raiva em alguma coisa.
— E você fique quietinho aí! — ordenou Aline a Maycon. — Você também tem sua parcela de culpa nisso tudo.
— O que caralhos eu fiz além do meu dever como vigilante? — indagou Maycon, enquanto limpava a boca dos vestígios da torta que acabara de devorar.
— O que você fez?! — gritou Poti, olhando nos olhos de Maycon. — Você agiu de forma imprudente, isso foi o que você fez!
— Fica na tua ai, ó cara de tilápia — respondeu Maycon de forma irônica. — Eu já tava agradecendo pelo seu silêncio, porque sabia que você só ia falar merda.
— Escuta aqui seu bosta! — gritou Poti, se levantando de sua cadeira e indo em direção a Maycon, que fez o mesmo.
Quando os dois estavam prestes a se confrontarem, a porta de metal abriu, entrando uma mulher vestida com o uniforme da organização.
— Boa noite, pessoal! — disse a moça com um sorriso amistoso no rosto. — Mil perdões pela demora.