Vida em um Mundo Mágico - Capítulo 1
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Foi do nada. Eu estava levantando da minha cama para começar o meu dia. O de sempre: levantar, comer alguma coisa e sair para procurar um emprego. Desempregado aos 25, esse sou eu, Victor. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, tudo ficou escuro.
Quando abri os olhos, estava em um lugar desconhecido. Nunca havia visto tal paisagem. Árvores brilhantes espalhavam uma luz suave e vagalumes com mãos e pernas humanóides estavam em zigue zague pelo ar. O que inicialmente parecia assustador, logo se revelou inofensivo. Eles simplesmente coletavam folhas como formigas operárias, ignorando completamente minha presença.
Tentei me lembrar de algo antes daquele momento, mas minha memória estava nebulosa. Tudo que sabia era que meu nome era Victor e que, de alguma forma, após levantar da cama, tudo ficou preto e eu apareci aqui. Levantei-me lentamente do chão e, ao ficar de pé, percebi algo alarmante: eu estava pelado. Instintivamente, cobri minhas partes íntimas, mas notei algo ainda mais perturbador. Não havia nada lá embaixo.
“De fato, tem algo muito errado aqui.”
Por um momento, a possibilidade absurda de ter sido castrado passou pela minha mente. Humanos pensam em coisas estranhas em momentos de choque. Mas, ao examinar melhor minhas mãos, vi que estavam menores, minhas unhas eram longas e negras, e eu me sentia incrivelmente mais ágil. Esse corpo não era o meu. Movi-me rapidamente, testando minha nova flexibilidade e força. Era pequeno, mas surpreendentemente poderoso.
Sem palavras para descrever a situação, caminhei até a margem de um lago próximo. Ali, finalmente pude ver meu reflexo. Pele pálida, cabelos médios e negros, olhos dourados e uma expressão feminina. Não havia rugas ou imperfeições, minha pele era lisinha. Eu parecia mais bonito do que antes, e eu já não era exatamente feio.
Olhei em volta, não havia ninguém além das criaturas insetoides que continuavam com seu trabalho. Eu estava perdido.
“Fui mandado para outro mundo em pleno 2021? Parando pra pensar, não foi um mau negócio! Muito obrigado, senhor!”
Ainda assim, eu precisava me manter vivo. Decidi procurar comida. As árvores ao redor não pareciam frutíferas, então me embrenhei mais na floresta. Logo percebi que não foi uma boa ideia. Um homem com uma armadura estranha correu em minha direção. Ele me agarrou com força e apontou uma espada para meu pescoço.
– Finalmente encontrei um. Está difícil achar mais da sua raça nos dias atuais. Você vai me dar muito dinheiro.
A ficha caiu. Ele era um caçador, e eu era a presa. Precisei pensar rápido.
– Normalmente, os da sua espécie são violentos e selvagens. Você é o primeiro que não está me atacando mesmo estando tão perto.
– Me solta.
Ele abaixou a espada por um momento, surpreso com minha fala.
– Oh! Você fala? Você é o primeiro que vejo falando, os outros apenas rosnavam. Seria você um monstro raro? Se for, vou ganhar o dobro de dinheiro!
– Estou te avisando. Me solta.
– Eh? Você não está em posição de me dar ordens. Sua escória monstruosa!
E então, um som semelhante ao de um trovão ecoou. Fechei minha mão, me virei e golpeei o homem com toda minha força. As árvores atrás dele foram varridas quando ele foi lançado em alta velocidade.
Talvez eu tenha socado forte demais. Este corpo é mesmo muito mais forte do que o meu original. Não sei se fico chocado ou feliz com minha força. Espero que ele não tenha morrido, mas acho impossível sair ileso disso. No mínimo, ele não vai mais voltar aqui.
Agora, o mais importante: comida. Certo, vou ignorar o que aconteceu aqui e vou procurar algo para comer.
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Enquanto Victor procurava alimento na floresta, uma conversa curiosa estava ocorrendo no grande castelo dos humanos.
O rei, sentado em seu trono, levou uma taça de vinho aos lábios. A porta da sala se abriu com um ranger suave, revelando um homem de aparência suspeita. Ele usava um tapa-olho no lado direito do rosto, uma máscara cobrindo sua boca e um chapéu luxuoso. Suas roupas, em tons de cinza e preto, eram perfeitas para alguém que queria se manter nas sombras.
– Finalmente você chegou. Vamos direto ao ponto, como foi sua missão? – perguntou o rei, sua voz carregada de impaciência.
O homem se ajoelhou, baixando a cabeça em reverência antes de começar a relatar.
– Ele não está na mansão, continua abandonada. Nenhum sinal de mudança ou de vida inteligente lá dentro, e sem passagens secretas – ele terminou, mantendo a cabeça baixa.
O rei pousou a taça de vinho vazia na mesa e suspirou alto.
– Então não está lá. É uma pena. Aquilo aumentaria nosso poder militar em 600% – disse o rei, desapontado.
– Majestade, eu continuarei procurando. Os Gejer não devem tê-lo escondido fora da fronteira do nosso reino – respondeu o subordinado, com determinação.
– Mas já fazem vinte anos! Como alguém consegue esconder algo tão poderoso por tanto tempo?! Eles já estão todos mortos!
Perdendo a paciência, o rei socou o balcão com força, quebrando-o em pedaços. Ele estava procurando por um item poderoso que havia sido escondido há duas décadas. Mesmo depois de tanto tempo e recursos gastos em busca de pistas, nenhum vestígio do item havia sido encontrado.
A luta pelo item não era exclusividade dos humanos. Todos os outros reinos também estavam à procura, cada um competindo ferozmente para ver quem o encontraria primeiro. Muitos acreditavam que o artefato ainda estava escondido em algum lugar no reino humano, o que levou os outros reinos a enviarem espiões. Embora todos soubessem disso, os reis fingiam ignorância, mantendo a aparência de diplomacia.
Além dessa busca frenética, a situação era complicada pelos ataques cada vez mais frequentes de monstros. O comércio estava prejudicado; exportadores muitas vezes não chegavam ao destino, e as encomendas se perdiam nas estradas. Os cidadãos estavam com medo de sair do reino. Se a situação não mudasse, uma crise financeira se aproximava.
– Enfim, obrigado pelo seu trabalho. Continue procurando. Sei que conseguiremos contornar esta situação difícil – disse o rei, tentando manter a compostura.
– Sim, Majestade – respondeu o homem, desaparecendo da sala em um piscar de olhos.
O rei olhou para os restos de seu balcão quebrado.
– Servos! Tragam-me outra bancada e venham retirar este lixo daqui! – ordenou ele, com a voz autoritária.
Os servos rapidamente obedeceram, removendo os destroços e trazendo uma nova bancada. O rei voltou a sentar-se, os olhos fixos em um ponto distante, pensando em alguma coisa, ele sempre está pensando em alguma coisa.
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Eu andei um pouco e consegui encontrar algumas frutas, se é que posso chamar aquilo de “fruta”. Era do tamanho de um pêssego, mas verde, muito verde, e tinha umas bolinhas rosas dentro. O sabor era bem amargo, mas foi tudo que encontrei. No começo achei que fosse venenoso, mas vi alguns animais comendo e decidi arriscar.
Subi em uma árvore com surpreendente facilidade. Os animais daqui parecem ser bem dóceis; nenhum deles me atacou. Talvez eles só ataquem quem os ameaça. Bem, eu não pretendo descobrir isso.
Também notei que meus sentidos estão bem aguçados. Consigo identificar essa fruta pelo cheiro a metros de distância. Minha visão alcança muito longe, mas não consigo calcular exatamente até onde. Não há nenhum ponto de referência claro.
Minhas unhas, longas e negras, são excelentes para escalada e também servem como armas defensivas. Se alguém chegar perto demais, vou arranhar, e não vai ser bonito! Meus dentes agora têm pequenas presas, capazes de morder pedras, e minha mandíbula se abre muito mais do que antes. Eu diria que posso morder metade de um leão. Evito abrir a boca demais para não assustar ninguém.
Minha audição é tão sensível que consigo ouvir minhocas debaixo da terra. Sons altos não me incomodam muito, mas me deixam um pouco zonzo.
Analisando tudo, concluí que me tornei algum tipo de animal selvagem. Bom, tenho algumas vantagens para sobreviver, mas preferiria minha velha e boa vida normal, muito obrigado.
Agora devo ter cerca de 1,64 de altura. Rebaixado, o mundo é cruel mesmo. Não poderia ser um pouco mais alto? Todos vão achar que sou uma criança.
– Cansei disso… – murmurei enquanto jogava a fruta no chão.
*Talvez eu deva procurar algum lugar para passar a noite.*
Enquanto pensava, ouvi um som alto vindo de longe. Pássaros coloridos começaram a voar e gritar, passando por cima de mim. Ouvi algo parecido com uma panela caindo e vidros se quebrando. Preocupado, segui o som, temendo encontrar outro caçador como o anterior.
Quando cheguei lá, percebi que não era um caçador. Encontrei uma mansão velha, caindo aos pedaços, com um portão rangendo ao vento. Tive um pressentimento ruim, mas parecia ser o abrigo mais próximo.
Passei pelo terreno morto e vi uma casinha de cachorro destruída. Ignorei a casinha e fui direto para a porta de entrada, que estava quebrada. Passei pelo vão e entrei na mansão.
Logo na entrada, havia um tapete vermelho luxuoso, agora destruído. Ao lado, uma bancada com uma gaveta e uma foto caída com o vidro quebrado. Peguei a foto e vi um casal com três crianças, uma delas de colo.
Pelas roupas, pareciam ricos. Os pais tinham cara de nariz empinado, mas talvez eu esteja julgando mal. Nunca julgue alguém pela aparência, Victor, lembre-se disso.
Na primeira porta à esquerda, uma sala com uma lareira. O teto estava quebrado, e eu podia ver o pôr do sol pelo buraco. Vasos quebrados e papéis com desenhos infantis estavam espalhados pelo chão. Os desenhos eram melhores do que os que eu fazia. Que triste.
Nada mais notável além de algumas taças de vinho, algumas inteiras, surpreendentemente. Dizem que o vinho fica melhor com o tempo, mas eu não vou arriscar. Pode ser alguma macumba.
Olhei para fora do cômodo e vi mais algumas portas no andar de baixo, mas também havia um segundo andar. Os quartos provavelmente estavam lá, mas sentia um desconforto toda vez que pensava em subir. Algo me avisava para não ir lá. Embora estivesse tudo quieto, o vento que soprava me assustava. A ideia de ter alguém ou algo lá me impedia de subir.
Decidi ficar na cozinha. Encontrei alguns panos velhos e toalhas de mesa em gavetas, e usei-os como cobertor. Encolhi-me debaixo da mesa e me preparei para dormir.
Na parte de baixo havia uma porta que levava para uma despensa sob a escada, com ferramentas, lâmpadas, papéis e canetas. Era o único lugar do primeiro andar que não estava destruído, só desorganizado.
Havia também um banheiro, mas estava tão destruído que nem podia ser chamado de banheiro. Mas isso não importa, parece que não preciso de um, afinal.
Enquanto me arrumava debaixo da mesa, ouvi barulhos vindos do segundo andar. Parecia ser apenas o vento, e confiei na minha audição para não me enganar. Consegui ficar tranquilo.
Mesmo assim, não consegui fechar os olhos. O sono nunca chegava. Talvez pelo medo de algo acontecer ou porque meu novo corpo não precisava de descanso. Sentia que poderia andar dias sem parar.
*Vou ficar de olho na porta. Se algo aparecer, pulo pela janela imediatamente. Ou posso tentar comê-lo. Afinal, dormindo aqui, este lugar é meu território, certo?*
Falar de matar casualmente me deixou estranho, então decidi que fugir era melhor do que matar alguém. Mas ainda estava confuso com tudo. Não poderia evitar a possibilidade de matar em algum momento, mas tentaria ao máximo evitar.
E assim passei a noite. Escondido debaixo de u
ma mesa, coberto com toalhas de mesa, meu primeiro contato com este novo mundo não foi nem um pouco acolhedor.
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