Vida em um Mundo Mágico - Capítulo 10
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O local era um corredor de pedra, um verdadeiro labirinto. As paredes eram frias e úmidas, com rachaduras que pareciam contar histórias de tempos antigos. O cheiro de mofo e sangue impregnava o ar, criando uma atmosfera opressiva. As tochas, que pareciam nunca se apagar, lançavam sombras dançantes nas paredes, aumentando a sensação de inquietação.
Estar aqui é um pouco inusitado, mas devo dizer que estou impressionado com o quão longe estamos. Foi basicamente o dia inteiro, quando eu encontrar aquela menina devo agradecê-la. Pretendo não pensar muito em como ela sabia deste lugar, deve ter seus motivos pra me contar.
Sentil soltou um leve movimento fluido com sua espada, partindo ao meio uma corda que parecia iniciar uma armadilha.
— Este lugar é muito traiçoeiro — disse ele, guardando a espada. — Como alguém conseguiu construir isso aqui sem ninguém ter sequer suspeitado?
— Não sei, você acha que muito dinheiro foi investido?
— Provavelmente. Duvido que alguém tenha feito tudo isso sem ajuda financeira e de mão de obra. Mas por que?
Bom, era um esconderijo, isso é um fato. Mas por que um labirinto? E o pior, esse lugar está estranhamente vazio. Claro, para evitar visitantes inesperados, mas então isso quer dizer que existe outra entrada? Talvez uma forma específica de entrar sem ter que passar pelo labirinto? São muitas dúvidas.
Enquanto caminhávamos, observei bem as paredes rachadas e alguns cortes. Alguém deve ter passado por aqui em algum momento, isso foi confirmado momentos depois, pois em um lado do labirinto havia uma porta. Dentro, estavam correntes e o chão cheirava a sangue. Pessoas já foram feitas prisioneiras aqui.
— Alpinistas? — Sentil suspeitou.
— Aqui tem isso, eh? Acho que estamos entrando num ninho de cobras. Você não acha que deveria chamar reforços, ou algo assim?
— Já deve estar de noite lá fora… Não acho que seja necessário por enquanto, mas posso enviar uma mensagem telepática para eles.
Sentil fez um movimento com os dedos perto de sua orelha, provavelmente algum dispositivo ou algo assim, mas sua expressão logo mudou bruscamente.
— O que?! — ele perguntou preocupado.
Eu apenas observei curioso enquanto Sentil escutava a mensagem. Ele estava visivelmente ansioso, diferente daquele cara confiante de antes. Acho que as coisas estão mais fora do controle do que antes.
— O que foi?
— Tem alguma coisa se aproximando da cidade e… A minha irmã desapareceu faz pouco tempo, aparentemente foi culpa de um grupo de assassinos… — ele respondeu, com um olhar melancólico e preocupado, parecia que iria desabar.
Uma criatura se aproximando e a irmã desaparecida. Eu queria poder perguntar mais, mas não deve ser nada legal fazer isso agora, mas ao mesmo tempo, não sei o que responder nessa situação.
— Talvez… — eu disse para mim mesmo, mas infelizmente Sentil acabou escutando meu pensamento alto.
— Talvez…? — ele olhou para as correntes e o sangue no chão e logo ficou muito nervoso. — Eles não… Não estavam planejando matar minha irmã? Estavam?!
O ambiente ficou ainda mais frio. Sentil estava se perdendo, consigo enxergar sua raiva clara como o dia. Mas ele ainda estava hesitando.
— A criatura… Eu devo voltar pra cidade… Mas… — ele murmurava para si mesmo, não sei mais dizer o que estava sentindo, parecia estar se corroendo por dentro em pensamentos.
— [Victor, estou sentindo algo, não sei dizer o que é, mas uma enorme massa de mana está se aproximando de Cirgo pelo subsolo. Parece ser muito grande.] — escreveu Merlin, em minha mente.
Uma enorme massa de mana… Uma criatura tão grande poderia causar um estrago devastador em Cirgo, principalmente porque muitos dos moradores não são lutadores. Sentil é o cavaleiro mais hábil no momento, e sua ausência poderia ser fatal.
Eles devem ter detectado o monstro, a princesa foi sequestrada, seria coincidência? Não, isso não importa agora… Se Sentil voltar agora, talvez possa evitar danos desnecessários e uma catástrofe maior, mas ele está convencido de que sua irmã pode estar aqui. As responsabilidades como cavaleiro e como irmão estão se combatendo dentro dele neste momento. Então o melhor que posso fazer é…
— Sentil. — eu disse firmemente, da melhor maneira que minha voz permitia, o que o fez olhar para mim. — Pode deixar sua irmã comigo. Se ela desapareceu agora, pode estar ainda viva neste lugar.
Sentil parou, seu rosto uma máscara de conflito. Seus olhos, normalmente cheios de determinação, agora estavam turvos de medo e incerteza. Ele apertou o punho da espada com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos. A respiração dele estava rápida e superficial, como se estivesse tentando controlar um pânico crescente.
— Você…
Eu não sei de nada. Na verdade, não sei se acredito que ela está viva, nem sei se ela pode estar neste lugar de fato. Podem apenas ter matado ela e deixado em algum lugar, e as coisas serem completamente diferentes. Mas Sentil vai escolher acreditar que ela está aqui.
Eu prefiro não ir à cidade, pois Sentil é mais experiente. Ele com certeza pode fazer melhor do que eu lidando com uma criatura desconhecida.
— Seu reino precisa de você agora. Se você voltar agora, com toda a velocidade, pode fazer alguma coisa. Eu vou seguir sozinho daqui.
Sentil se levantou e respirou profundamente repetidas vezes para se acalmar. Com isso, a tremedeira em suas mãos parou. Ele me olhou com um olhar sério em seus olhos azuis, mas a ansiedade ainda estava lá, escondida sob a superfície. Seus lábios tremiam ligeiramente, e ele parecia estar lutando contra as lágrimas.
— … Conto com você. — ele disse, sua voz trêmula, e começou a voltar com toda sua velocidade.
Ele ia dizer alguma coisa a mais, mas parou. Eu decidi apenas continuar pelo labirinto. Mas antes disso…
— Merlin, você acha que pode ir com ele? Claro, sem ser vista?
A pequena bola lilás de luz, Merlin, flutuou ao meu lado, seu balão de fala aparecendo acima dela.
— [Posso, mas e você?] — ela disse, ficando visível novamente.
— Vou ficar bem, eu prometo. Você consegue proteger as pessoas, não é?
Merlin hesitou, sua luz pulsando levemente. — [Se você está pensando em morrer, é melhor esquecer a ideia. Não quero ser a única a ser aceita por salvar alguém…]
Eu sorri levemente com aquilo. Francamente, eu não sei o que pode acontecer agora. As coisas saíram fora do controle, não esperava por isso. Mesmo tentando manter a cabeça no lugar, estou verdadeiramente apavorado por dentro. Meu coração batia descompassado, e minhas mãos estavam suadas. A incerteza me corroía, mas eu sabia que precisava manter a calma.
Se a irmã de Sentil não estiver viva, talvez eu morra junto com ela se seguir sozinho, mas ainda assim, dessa forma, Merlin pode ficar bem, mesmo depois que eu partir. Ela realmente consegue me ler como um livro às vezes, mas apenas vou fingir que não é o caso dessa vez.
— Eu não vou morrer. Vou resgatar a princesa, igual aqueles contos de heróis medievais ou algo assim, e tudo vai ficar bem no final. — eu disse, enquanto caminhava com uma expressão simpática e confiante, tentando esconder minha própria dúvida.
Merlin flutuou mais perto, sua luz tremeluzindo de preocupação. — [Você sabe, ela pode não estar viva. E se for mesmo um grupo de assassinos que conseguiram sequestrar um membro de uma família real, eles são perigosos, mesmo para monstros de classe A. Se forem muitos, você pode estar em sérios problemas. Tem certeza que consegue salvar a princesa?]
— Desculpa, mas não tenho certeza. Mas vou fazer o possível, então por favor, apenas proteja os outros, até eu voltar, ok?
Merlin respondeu com um emoji suspirando em aceitação. — [Claro, tome cuidado hein…] — ela disse, obviamente preocupada. — [Não quero perder você…]
Ela desapareceu, enquanto eu voltei meu olhar para o corredor claustrofóbico e suspirei. O peso da responsabilidade parecia esmagar meus ombros, mas eu sabia que não podia desistir.
— Não quer… Vamos lá, nada demais…
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Há muito tempo, antes mesmo de Cirgo ser fundada, uma colônia de elfos vivia nos arredores daquele local. Com a tecnologia da época, eles faziam o possível para criar moradias e barreiras de ilusão para se defenderem do mundo exterior. As próprias montanhas eram locais perfeitos para tal coisa, oferecendo proteção natural e isolamento.
O imperador dos elfos era um mistério, uma figura envolta em lendas e segredos. Mas isso não é importante agora. O que importa é que, devido a um incidente, os elfos dessa colônia tiveram que tomar medidas drásticas, mudando-se para um local distante.
Histórias são contadas, mas nenhuma confirmação: alguns dizem que os elfos foram embora porque acharam um lugar melhor; outros acreditam que foram vítimas de um ataque dentro da própria colônia, e após conseguirem sua independência e matarem seu líder, se mudaram para restabelecer uma nova ordem. Essas eram as maiores teorias da conspiração possíveis. Na realidade, foi algo simples.
Eles foram atacados por um monstro que apareceu misteriosamente na colônia. Os elfos o chamaram de Gorlak. Uma besta sem consciência que se alimentava de mana, o que a tornava um “predador” natural dos nascidos da magia.
Gorlak era uma larva gigante de aproximadamente 45 metros de diâmetro. Sua boca era um círculo na ponta de seu corpo, repleta de milhares de dentes afiados em todos os lados. Seus olhos eram tão achatados em sua cabeça que pareciam inexistentes. Seu corpo rastejante era coberto por pelos, com pequenas pernas inutilizáveis. Era uma aberração, algo sem sentido algum. Uma criatura que apenas destruía tudo que era magia. Por muito tempo, foi vista como sem utilidade para a natureza, mas poderia ser considerada um guardião, para reduzir massas de mana. Após o incidente com os elfos, nunca mais foi visto um Gorlak novamente.
A fundação de Cirgo ocorreu apenas dois anos após o ataque, mesmo que ainda fosse território de elfos, o que abriu espaço para um tratado entre os elfos e o primeiro rei de Cirgo.
Porém, agora as coisas mudaram. Depois de tanto tempo, tantos anos, Gorlak estava se movendo debaixo da terra congelada de Cirgo. Os radares terrestres da cidade logo perceberam sua aproximação a quilômetros de distância. Havia um motivo óbvio para ele estar indo para lá especificamente: a mana de Serena, impregnada pela cidade.
Além de seus habitantes, que mesmo todos juntos não eram comparáveis às quantidades absurdas de mana que Serena liberou pelos últimos anos, Cirgo era um verdadeiro banquete para Gorlak.
A cidade de Cirgo estava em um estado de alerta máximo. As ruas, normalmente cheias de vida e movimento, estavam agora desertas e silenciosas. Os moradores se abrigavam em suas casas, temendo o pior. O céu estava escuro, e uma sensação de pavor pairava no ar.
Sentil corria pelas ruas, seu coração batendo descompassado. Ele sabia que cada segundo contava. A criatura que se aproximava era uma ameaça real, e ele precisava estar lá para proteger seu povo. Mesmo que sua irmã não saísse de sua cabeça, ele precisava ter foco.
Com toda sua velocidade, ele chegou na cidade uma hora depois de sair das montanhas, junto com seu cavalo que abandonou o resto da carruagem para aumentar sua velocidade.
Ao chegar à praça central, Sentil encontrou os guardas da cidade em formação, prontos para enfrentar a ameaça. Seus rostos refletiam a mesma mistura de medo e determinação que ele sentia.
— Sentil! — um dos guardas chamou. — A criatura está se aproximando rapidamente. O que devemos fazer?
Sentil respirou fundo, tentando manter a calma. — Preparem as defesas. Não podemos deixar essa coisa entrar na cidade. E mantenham os civis seguros.
Com isso, o guarda repetiu a ordem para todos os seus homens. Sentil, por outro lado, pensou em seu pai. Então, enquanto os cavaleiros se preparavam para a batalha, Sentil foi até o castelo.
Sentil atravessou os corredores do castelo com passos rápidos e decididos. As paredes de pedra, normalmente imponentes e seguras, agora pareciam opressivas e sombrias. Ele sabia que precisava ver seu pai, o rei, antes que a batalha começasse.
Ao chegar à porta da sala do trono, Sentil hesitou por um momento. Ele sabia que seu pai estava em um estado horrível, abalado pelas recentes tragédias e pela iminente ameaça. Respirando fundo, ele empurrou a porta e entrou.
O que viu o deixou sem palavras. O rei estava sentado no trono, mas sua postura era desleixada e derrotada. Seu rosto, normalmente cheio de autoridade e sabedoria, estava pálido e marcado por profundas olheiras. Os olhos do rei, que antes brilhavam com determinação, agora estavam opacos e cheios de dor.
— Pai… — Sentil chamou, sua voz trêmula.
O rei levantou o olhar lentamente, como se cada movimento fosse um esforço monumental. Quando viu Sentil, uma sombra de reconhecimento passou por seus olhos, mas foi rapidamente substituída por uma expressão de desespero.
— Sentil… — a voz do rei era fraca e rouca. — A cidade… Sua irmã…
Sentil se aproximou, ajoelhando-se ao lado do trono. — Eu sei, pai. Estamos nos preparando para enfrentar a criatura…
O rei estendeu uma mão trêmula, segurando a de Sentil. — Meu filho, você é nossa última esperança. Me desculpe, eu falhei…
Sentil apertou a mão do pai, sentindo a fraqueza nos dedos dele. — Não fale assim, pai. Você fez tudo o que pôde.
Era uma mentira, e ambos sabiam disso. O rei sabia que seu filho disse aquelas palavras para não o pressionar, para reduzir a culpa. Mas a verdade era outra.
Zered nunca foi presente. Quando sua esposa morreu, ele abandonou seus filhos, pelo menos era assim que eles se sentiam. Em vez de tentar conversar e ajudar Serena, decidiu prender a criança em seu quarto e nunca se deu ao trabalho de sequer visitá-la. Serena não ouviu a voz de seu pai em nenhum momento enquanto estava presa.
Sentil conversava com seu pai apenas para discussões políticas, que, naquele ponto, Zered nem sequer tratava mais com tanta seriedade. Sentil se tornou o cavaleiro mais importante de Cirgo e assumiu o papel de comandante.
Zered já foi um grande guerreiro em sua juventude, mas agora, ele estava velho e derrotado. Sentia que falhara com seu reino, com sua família, que ele próprio era uma falha. Um homem fraco, que não teve coragem nem sequer de olhar nos olhos da própria filha e dizer que ela não tinha culpa de ter nascido daquela forma. E agora, ela foi sequestrada por assassinos e uma fera colossal estava prestes a mandar toda sua cidade para os confins do esquecimento.
Sua tentativa de proteger Serena do mundo, enquanto pensava estar protegendo o mundo de Serena, foi tudo em vão. Sua filha foi sequestrada e a cidade estava prestes a desaparecer também. Nada valeu a pena. Ele era verdadeiramente inútil.
O rei fechou os olhos, uma lágrima solitária escorrendo por sua face. — Não, meu filho… Eu não fiz nada… Você é um rei muito melhor do que eu… Eu…
O rei já não tinha certeza de que sua filha estava viva, ele não sabia se passaria daquele dia. A idade avançada, o estresse diário, provavelmente ele não sobreviveria. Ele estava se segurando para não transparecer isso para Sentil.
No fundo, ele desejava ferozmente que talvez pudesse pedir perdão a Serena na pós-vida, assim como pedir perdão à sua esposa. Para que logo após, ele mesmo pudesse ir para o inferno, o que julgava ser a punição necessária para alguém como ele.
Aquele pobre velho já estava desistindo, enquanto via seu filho ajoelhado ao seu lado. Talvez não fosse um momento tão ruim para morrer.
Sentil segurou mais firmemente a mão de seu pai. O rei, com cabelos grisalhos e olhos negros, tentou olhar diretamente nos olhos de seu filho.
— Me observe, pai. Vai ficar tudo bem.
Aquelas palavras, simples palavras, tiveram um efeito em Zered. “Vai ficar tudo bem”… Ele deveria estar dizendo isso, certo? Mas o que ele podia fazer? Não conseguia mais nem empunhar uma espada. Tudo o que podia fazer era confiar em seu filho mais velho.
— … Boa sorte… Sentil… — ele disse, com uma voz trêmula.
Sentil se levantou e saiu da sala, olhando uma última vez para seu pai. Ele iria esperar mais um pouco.
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Enquanto eu continuava meu caminho, percebi que o lugar era incrivelmente mal cuidado. Quanto mais fundo eu entrava, pior ficava. Havia sangue no chão, nas paredes, passagens quebradas. Mas acho que já estou perto de sair desse labirinto maldito.
*Isso não é o que eu esperava quando cheguei aqui…* pensei, um pouco desanimado.
Eu estava esperando algo mais… Simples? Talvez uma recepção milagrosa e uma boa oportunidade? Mas não, estou andando num labirinto em um lugar onde provavelmente torturas aconteciam. Tudo é sujo, fedido, e o vento lá fora é tão forte que me incomoda também. Ter sentidos tão apurados é um saco às vezes.
O cheiro de mofo e podridão impregnava o ar, tornando cada respiração um esforço nauseante. O chão estava coberto por uma camada pegajosa de sujeira e sangue seco, que grudava nas minhas botas a cada passo. As paredes, outrora talvez majestosas, agora estavam cobertas de manchas escuras e rachaduras, como cicatrizes de um passado sombrio.
Eu não conseguia evitar olhar para baixo com uma expressão triste. Mas então, escutei algo parecido com um “clack“. O primeiro som diferente que ouvi até agora.
*Esse sentimento…* Um frio familiar. Estranhamente, a temperatura caiu ainda mais. Talvez eu já devesse estar bem fundo nesse esconderijo.
O desconforto era palpável. Cada passo ecoava no silêncio opressor, amplificando a sensação de isolamento. O ambiente parecia vivo, como se as sombras nas paredes estivessem me observando, esperando o momento certo para atacar. O ar estava pesado, carregado de uma sensação de desespero e abandono.
Com isso, fiz meu caminho pelos corredores do labirinto. Se meus sentidos estiverem certos, a saída deve ser por aqui…
Então, uma porta de metal reforçado estava no meu caminho. Claro, eu a abri sem muitas dificuldades com minhas mãos nuas. O metal rangeu e se dobrou sob minha força, ecoando pelo corredor vazio. Atrás da porta, uma enorme escadaria se revelava. Dessa vez, estava mais limpa, mas ainda assim, o cheiro de sangue impregnava as rachaduras da escada.
Eu comecei a descer a escadaria, o som da minha bota aumentando a cada passo, “tec, tec“. Quanto mais eu descia, mais escuro ficava, mas isso não era um problema, eu conseguia enxergar perfeitamente. As paredes de pedra ao meu redor pareciam fechar-se, tornando o ambiente claustrofóbico. O ar estava pesado, carregado de umidade e um odor metálico que fazia meu estômago revirar.
O ambiente era opressor, cada degrau parecia me puxar para um abismo de escuridão. As rachaduras nas paredes e no chão pareciam formar padrões sinistros, como se contassem histórias de dor e sofrimento. O silêncio era quebrado apenas pelo som dos meus passos, criando uma melodia macabra que ecoava pelo corredor.
De repente, um grito de agonia ecoou pelas paredes, reverberando na escuridão. Era um som gutural, cheio de dor e desespero, que me fez arrepiar. Parei por um momento, tentando localizar a origem do som. A criatura estava em algum lugar abaixo de mim, sua voz carregada de sofrimento.
— Aaaaahhh! — o grito ressoou novamente, mais próximo desta vez. — Por favor… me ajude…
A voz era fraca, quase inaudível, mas carregava uma carga emocional que me fez estremecer. Continuei descendo, cada passo me aproximando mais da origem daquele som horrível. O ambiente ao meu redor parecia pulsar com uma energia maligna, como se o próprio lugar estivesse vivo e consciente da minha presença.
Finalmente, cheguei ao final da escadaria. A escuridão era quase total, mas meus olhos se ajustaram rapidamente. O corredor à minha frente estava coberto de sombras, e o cheiro de sangue era ainda mais forte aqui. O grito da criatura ecoava novamente, desta vez mais fraco, como se estivesse perdendo as forças.
— Por favor… — a voz sussurrou, quase inaudível. — Não me deixe aqui…
Eu avancei cautelosamente, meus sentidos em alerta máximo. De repente, uma figura emergiu das sombras, cambaleando em minha direção. Era um humano, ou pelo menos, o que restava de um. Sua pele estava pálida e em decomposição, os olhos vazios e sem vida, com o estômago aberto, revelando seus órgãos podres. Um zumbi.
— Aaaaahhh! — o zumbi gritou, avançando para mim com uma velocidade surpreendente.
Eu reagi instintivamente, desferindo um golpe com minhas garras. O impacto cortou o ar e atingiu o zumbi, que caiu no chão com um som surdo. O corpo se contorceu por um momento antes de ficar imóvel, um líquido escuro escorrendo de sua ferida. Sua cabeça inteira foi partida em pedaços.
Respirei fundo, tentando acalmar meus nervos. O cheiro de morte era avassalador, e a visão do cadáver apenas aumentava meu desconforto. Olhei ao redor e percebi que estava em uma sala cheia de jaulas e cadáveres. As jaulas estavam enferrujadas e cobertas de sangue seco, e os corpos dentro delas… Estavam bem piores do que o zumbí que acabei de matar, eram uma visão horrível de desespero e sofrimento.
No fundo da sala, outra escadaria se revelava, descendo ainda mais para as profundezas do labirinto. Engoli seco pensando no que mais eu veria se continuasse, mas segui em frente.
Com um último olhar para a sala de horrores, segui em direção à escadaria.
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