Vida em um Mundo Mágico - Capítulo 34
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Às 10:45 da manhã, no reino de Bahad, o curso da vida cotidiana foi interrompido. Um fenômeno surpreendente desdobrou-se nos céus da vasta cidade, fazendo com que o reino inteiro se detivesse em espanto.
Uma imensa tela surgiu, semelhante a uma televisão gigantesca, exibindo imagens, esquemas e documentos sobre clonagem. Era como se um portal para o desconhecido tivesse sido aberto.
A perplexidade rapidamente se transformou em pânico à medida que a população tentava decifrar o que se desenrolava diante de seus olhos. Então, uma mensagem em letras vermelhas pulsantes iluminou a tela, portando palavras que penetraram nos corações daquelas pessoas: “Abandonem a cidade. O rei que vocês conhecem não é quem parece ser. Vocês têm uma hora para escapar. Caso contrário, serão apanhados no fogo cruzado.”
O alerta ecoou com um impacto avassalador. A certeza de um destino ameaçador varreu a multidão. Sem hesitação, as pessoas irromperam em um frenesi de atividade, mães e pais agarrando seus filhos e correndo em direção aos portões da cidade, determinados a buscar segurança.
A mensagem não era apenas um comando a ser seguido cegamente; era uma proclamação de guerra. Não todos possuíam a força necessária para resistir. A fuga tornou-se a única escolha sensata em meio à incerteza que se abatia sobre Bahad.
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No recanto distante do reino, Victor observava o firmamento, decifrando a mensagem de San e Sen.
— Esses dois têm uma pontualidade impressionante…
— Eu insisto que devemos atacar agora, é o momento mais vulnerável de Bahad — disse Sariel, impaciente.
— O decreto acabou de ser promulgado; precisamos permitir que as pessoas evacuem. — Eloá respondeu, serena.
Os três se reuniram em círculo, aproveitando a oportunidade para discutir seus próximos passos.
— Bem, a revelação sobre o rei não ocorreu exatamente como eu imaginava. Parece que os cidadãos estão fugindo por nossa causa, não por causa dele… — lamentou Eloá.
— Gostemos ou não, somos os agressores. No entanto, você terá tempo de sobra para esclarecer tudo, explicar melhor. Se eu conseguir trazer Killisviel Graal para o nosso lado, teremos uma vantagem considerável; o povo confia muito nela. — disse Victor.
— Eu irei para o castelo. — anunciou Sariel.
Uma pausa desconfortável se instalou com a decisão de Sariel; não fazia parte do plano.
— Eu imaginava que iria nos ajudar na batalha contra os heróis.
— Eloá, a luta será reduzida se eu eliminar a fonte do problema.
— Ou seja, terei que enfrentar os heróis sozinho… — lamentou Victor, um tanto desanimado.
— Eloá estará ao seu lado. Além disso, acredito que Sen e San vão precisar de um resgate.
Nesse momento, um estalo de compreensão iluminou a mente de Victor. Ele tinha esquecido que Sen e San ainda estavam no castelo. Então ele aceitou a decisão de Sariel, apesar de sua aversão por eles, reconhecia a utilidade de ambos no governo de Eloá.
— Está certo. Vou assegurar que minha mana transborde para facilitar o encontro com os heróis. — disse Victor, afastando-se do círculo.
— Por favor, tentem não causar muita destruição no reino. Senão, teremos que usar todos os recursos de Sariel. — Eloá pediu.
— O dinheiro é o que menos me importa. — Sariel respondeu, com orgulho.
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Após alguns minutos, o portão Sul de Bahad cedeu, deixando escapar uma nuvem de fumaça e destroços. Do meio dessa cortina, surgiram duas figuras.
Victor liderou o caminho, segurando a cabeça de um dos robôs guardiões do portão. Eloá seguia logo atrás.
— Pensei que seriam mais resistentes.
— Victor, por que escolheu essa forma pequena e não a sua aparência adulta?
— Fique tranquila, Eloá. Minha aparência não influencia minha força, apenas me sinto mais à vontade desse jeito.
Victor observou ao redor, o lugar era familiar. Foi por aquele portão que ele adentrou Bahad pela primeira vez, depois de uma longa viagem de carruagem, ao lado de sua melhor amiga. No entanto, agora tudo parecia vazio, e ele não podia evitar sentir uma ponta de tristeza.
As muralhas que outrora eram imponentes agora pareciam meras pedras para ele. Era quase cômico perceber o quanto havia evoluído.
— Vamos, Eloá. Um herói logo deve nos encontrar… — uma explosão ecoou no local onde estavam.
Uma enorme nuvem de fumaça subiu, revelando um homem alto com uma armadura negra imponente no centro. Quando ele se ergueu, parecia ter mais de quatro metros de altura.
— Não esperava por isso, pequenino?
Então algo atingiu sua cabeça. Ele olhou para o chão e viu que era a cabeça de um dos robôs de segurança. O homem olhou para cima de um dos prédios, onde Victor o observava enquanto segurava Eloá com um de seus braços.
— Já previ isso antes mesmo de você nascer, filhote.
O homem não conteve uma risada vigorosa. Ninguém jamais teve a audácia de falar assim com ele, mas naquele momento, um monstro com menos da metade de seu tamanho o fez parecer um tolo.
— Você é bem arrogante, não é?
Victor não respondeu, apenas colocou Eloá no chão e voltou sua atenção para o homem lá embaixo.
— Eloá, siga em frente. Eu te alcanço assim que terminar aqui.
— Tudo bem. Boa sorte na luta. — disse Eloá, pulando do telhado.
Assim que seus pés tocaram o chão, ela correu pela rua em direção ao castelo.
— Não vai escapar! — rugiu o homem.
Em um piscar de olhos, ele estava ao lado de Eloá, pronto para atacá-la com a intenção de matar. No entanto, seu soco não a atingiu. A garota sequer olhou para seu punho, mesmo estando a centímetros de seu rosto.
O homem foi arremessado contra uma casa, causando destruição por onde passou. Ele não enxergou o que o acertou, mas logo ficou claro: Victor o chutou na cara com muita força.
— Quero te alertar sobre algo: sinta-se à vontade para me atacar, mas não permitirei que encoste um dedo na Eloá. Entendido?
Do amontoado de destroços, o homem se ergueu, esticou-se e soltou estalos de seus ossos.
— Sim, senhor. Um golpe impressionante — exclamou, animado.
Jarabahad estendeu a mão direita, apontando o indicador para o homem, com o polegar erguido, assemelhando-se a uma arma.
Ao perceber o que estava prestes a acontecer, o herói se defendeu com os braços, mas uma explosão ocorreu. Seus braços foram perfurados, quase atingindo sua cabeça. O orifício era pequeno, como se uma agulha o houvesse atingido.
— Você não morreu, interessante, não é? — disse Jarabahad, adotando um tom sarcástico.
“O que foi isso? Gelo?” pensou o homem, mas a confirmação veio logo em seguida.
— Talvez esteja se perguntando o que acabei de fazer, certo? Vou te explicar. Não costumo fazer isso, mas não fará mal desta vez. Chamo essa técnica de “Mana comprimida”. Entende?
— “Mana comprimida”, entendi. Você utiliza uma habilidade, mas, na hora da liberação, comprime sua mana ao máximo, criando um movimento circular enquanto ela se forma para potencializar o impacto.
Jarabahad ficou impressionado. O homem compreendeu perfeitamente apenas ouvindo o nome da técnica, a qual ele próprio desenvolveu.
— Certo, o que testemunhou foi uma habilidade de gelo, com minha mana comprimida. Quanto mais mana eu usar, mais forte e mortal será o golpe, mas claro, essa não é a forma mais adequada de usá-la. Afinal, o princípio da técnica é derrotar o oponente com o menor gasto de mana possível.
*Esse sujeito parece resistente; talvez eu deva acabar com ele rapidamente*, refletia Jarabahad enquanto seus olhos se esforçavam, evidenciando sua expressão preocupada.
— Bem, você é forte, admito. Mas agora vou começar a lutar a sério. — o homem pisou firmemente no chão.
*Que som é esse? O solo está se movendo?* Enquanto Jarabahad ponderava, o terreno começou a se elevar, fragmentando-se em pedaços de rocha e terra que se reuniam no ar.
Aquilo era uma habilidade de manipulação de terra, do grandioso herói da fortitude, poderoso fisicamente e destrutivo com suas habilidades. Graças ao seu poder, toda a área num raio de 1 quilômetro estava sendo elevada ao céu, deixando uma enorme cratera no reino.
Jarabahad tentou se mover, mas seu braço estava aprisionado entre as pedras. Ele ficou intrigado; quebrar aquilo não deveria ser difícil para ele, mas havia algo ali, como se aquele pedaço de pedra estivesse mais resistente do que o normal.
— Hahahahaha! O que foi, monstro?! Não fique tão surpreso, minha habilidade nem começou a funcionar ainda!
O homem ria por trás de sua armadura negra. Ele estava excessivamente confiante; a luta, sem dúvida, o estava divertindo.
Jarabahad por outro lado, não estava se divertindo com aquilo, aquela situação era o completo oposto do que ele realmente queria. Mesmo não lutando com tudo ainda, ele estava incomodado com aquilo, mas……
— “Crucifixo!” — bradou o homem, e uma cruz de luz desceu dos céus, transformando pedras em ouro que caíram com impacto ao solo.
Um círculo dourado cobriu a área, vazia mas circundada por destroços. Jarabahad estava soterrado. O homem marchou na terra dourada e, estalando os dedos, proferiu: — “Barreira do céu celeste”.
Uma barreira envolveu o grande círculo, transformando-o em um céu estrelado, um refúgio distinto do campo de batalha anterior. Este é o conjunto de habilidades do herói da fortitude, »A Terra Iluminada«, causando danos devastadores nas fases iniciais e reduzindo as capacidades físicas do oponente após a barreira surgir.
— Isso doeu…..
O tom calmo de Jarabahad ecoou nos ouvidos do homem enquanto as pedras iam ao ar. Jarabahad saiu de seu “caixão” e voltou a ficar de frente com o herói da fortitude.
— Acredito que essa seja sua carta na manga? Me sinto estranho nesse lugar, é algum tipo de limitação?
— Exatamente. Essa habilidade funciona com todo tipo de espécie e seres, mas tem seus efeitos dobrados quando é usado contra monstros, por ser de atributo sagrado.
Olhando de fora, Jarabahad estava em desvantagem naquele espaço, principalmente porque seu oponente era alguém forte. Mas Jarabahad não parecia demonstrar preocupação, ele estava confiante, uma característica que ele adquiriu nos últimos anos.
Ele já não era mais um iniciante, inclusive era um monstro bem acima da média. Mesmo sendo uma situação complicada, ele não via problemas.
*Eu posso vencer!* Ele exclamou em sua mente.
*Eu vou vencer!* Pensou o herói no mesmo instante.
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Em outra região do reino, o estrondo provocado pela habilidade do herói da fortitude ecoou até os ouvidos de Eloá. A jovem interrompeu seus passos, voltando-se para trás, indagando-se sobre o que acontecia com seu companheiro.
Graças às suas experiências passadas, Eloá não cedia ao desespero naquela situação, mas a inquietação a dominava. Preocupava-se não apenas com a força dos inimigos, mas também com a possível destruição que seus companheiros poderiam causar.
*Preciso me apressar.* Enquanto concluía seu pensamento, um borrão lilás invadiu seu campo de visão, levando seu corpo a se esquivar automaticamente de um ataque surpresa.
*O que foi isso?* O corpo de Eloá reagiu antes de sua mente compreender, graças a seus olhos afiados.
— Desviou do meu ataque surpresa. Ei, pirralha, como diabos fez isso?
Uma mulher de estatura média, cabelos cor de rosa, trajando roupas de corrida com uma bota metálica da mesma cor de seus cabelos.
Eloá identificou imediatamente o “herói da velocidade”.
Retomando sua postura, Eloá encarou a mulher. Sem alterar sua expressão serena, analisou sua adversária.
*Agora que a vi, não terei problemas.* Pensou Eloá, afinal, tudo que aquela mulher era, Eloá agora também era. Não poderia enganar os olhos de uma divindade.
— Não preciso te responder isso. — Eloá respondeu sem rodeios.
— Você… Acha que é mais rápida do que eu?! — a mulher expressou com irritação.
Enquanto isso, duas lutas se desenrolam, com o paradeiro de Sariel ainda desconhecido, mas um evento grandioso se aproximava. Os nomes dos heróis permaneciam desconhecidos, mas isso se tornava secundário.
Bahad enfrentava o maior ataque das últimas décadas no evento conhecido como “Chamas em Bahad”, destinado a mudar o curso do mundo.
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