Venante - Capítulo 9
Era 6 da tarde quando Leonardo despertou. Na verdade, ele estava tão cansado que poderia dormir mais quatro horas facilmente. No entanto o despertador que preparou para este cochilo o acordou bem mais cedo.
O cansaço de não ter dormido o suficiente estava sobre o corpo inteiro; tão forte que sentia que a cama tivesse gravidade mais forte que a própria Terra. No entanto sabia que precisava levantar e fazer as tarefas do dia.
Se forçou para fora da cama, levemente corcunda de cansaço e foi ao banheiro arrastando os pés.
Primeiro, lavou o rosto; olhou-se no espelho, vendo as olheiras ainda presentes.
— Hah… Vou tomar um banho mesmo. — Decidiu como se livraria do sono.
Sem muito o que pensar, pegou qualquer roupa do closet e ligou o chuveiro no morno.
Toda a tensão do dia e uso constante de Energia começaram a aliviar, conforme a água escorria pelo seu corpo. Os sentidos normais estavam recobrando.
Enquanto aproveitava essa sensação, começou a formular o que deveria levar para o dormitório.
“Hmm… Meu VR, sem dúvidas. Preciso completar aquela Quest Lendária com a galera ainda… Roupas? Como o colégio exige o uso do uniforme, será preciso? Se bem que as pessoas ainda saem do campus… Melhor levar algumas mesmo.”
No meio da sua reflexão, um e-mail chegou ao Nelink.
— E-mail urgente, e-mail urgente! — Uma voz robótica fofa começou a sair do Nelink.
O Nelink era capaz de separar e-mails spams, normais, importantes e urgentes. Então, apenas se estivesse estabelecido na configuração da nuvem dos Nelinks que o e-mail de tal lugar era urgente, então realmente era urgente.
— Ler e-mail. — Leonardo deixou que o Nelink lesse por ele.
— “Caro Leonardo Klevic, este que lhe envia essa mensagem é o diretor do Colégio Marvente. Seu pedido de inscrição, através da recomendação do Sr. Rafael Tavares de Mourais, acaba de ser aprovado.”
“Por você ser um caso muito incomum, foi-se necessário que eu mesmo lhe escrevesse esse e-mail. Estarei listando os regulamentos e regras da nossa Academia, além de um guia dos objetos permitidos dentro do nosso campus. Então peço que os leia com cuidado e muita atenção…”
Leonardo ficou em choque. A sua inscrição havia sido aprovada no mesmo dia que o teste. Além disso, o próprio diretor havia respondido pelo caso dele.
Antes que o Nelink continuasse a ler o resto, ele disse: — Pode parar. — E começou a ler por conta própria. — Hmm… Entendo… Preciso mesmo levar algumas mudas de roupas, com limite de espaço… Encomendar o próprio uniforme através do site do colégio?
Enquanto enxaguava o xampu do cabelo, continuou a ler. Havia documentos listando as regras, informações relevantes aos recém-integrados, um mapa do campus do colégio, cursos, horários e por aí vai. No fim do e-mail, estava um ID de registro e senha da conta de estudante dele para acessar no site.
— Ufa… Posso levar o meu VR, ainda bem. — Depois de ler tudo, a única coisa que se importou de fato era o seu querido capacete de realidade virtual. — Nelink, acesse o site… ID… Senha… — Ele começou a dar ordens para o Nelink encomendar o uniforme.
Em seguida, um holograma surgiu, mostrando o visual do uniforme.
Era padronizado por um roxo quase preto, branco e roxo mais claro. O paletó era praticamente formado desse roxo escuro, porém a lapela tinha um contorno mais claro nas extremidades que seguia por todo o paletó. Já a gravata, tinha uma estampa estilizada diagonalmente de linhas claras e escuras, fazendo se destacar. A calça era escura, para combinar com o paletó. E, por fim, embaixo do paletó e gravata, estava uma camiseta branca.
Aproveitando o interesse, Leonardo olhou o uniforme feminino — afinal era um adolescente também — que era diferente do masculino.
O contraste de um para o outro era marcante. O foco do uniforme das garotas era a cor branca. O paletó era totalmente claro, apenas a lapela que havia a diferença de ter um contorno escuro por toda a extremidade. A gravata e a camiseta não mostraram diferença. E, finalmente, não havia calça, mas sim uma saia escura, que seguia um padrão semelhante a gravata.
— Até que é bem bonito para um uniforme… — Já conseguia se imaginar usando o uniforme, ficando todo estiloso.
Não demorou muito para que terminasse o banho e tivesse decidido o que levar para o dormitório.
Além disso, no e-mail do diretor, constava que mesmo que as aulas começassem em duas semanas, era preciso estar alocado, no máximo, três dias antes das aulas. Assim, Leonardo tomou a decisão de se mudar em 1 semana.
Após se secar, ele foi atrás de alguns salgados que sobraram da noite passada e os levou para o quarto após aquecê-los. Era hora de madrugar no VR e contar as novidades para os amigos.
Os dias passaram rápido para o garoto que não saía de casa.
No quinto dia, Leonardo ouviu a campainha tocar; retirou o capacete VR e se dirigiu à porta. Havia um display na parede, próximo da maçaneta, sendo possível ver quem estava do outro lado da porta.
“O correio? Eu pedi algo?”
Logo que pensou, do outro lado o entregador disse: — Alô? O Sr. Leonardo Klevic se encontra? — Foi dito próximo da campainha, para que transmitisse pela casa, caso o primeiro toque não tivesse sido escutado pelos residentes.
— Um momento. Já vou abrir — respondeu.
Depois de abrir a porta, Leonardo se deparou com o logo da “RapidEx” estampado na camiseta do entregador. Era uma empresa de correios particular da Associação; logo relacionou com Elisa, que sempre usava essa empresa para entregar produtos até ele.
A conversa foi rápida, pedindo apenas a digital e documento de identidade. Depois desses procedimentos, foi entregue uma caixa pequena, mas pesada.
— Muito obrigado e tenha um bom dia — despediu-se o entregador.
Leonardo apenas assentiu e voltou para o quarto. Estava ansioso para ver o que poderia estar dentro daquela caixa.
Sentou-se na cama e começou a rasgar o papelão. Dentro estava uma caixa ainda menor, mas totalmente feita de algum tipo de metal. A única coisa de destaque nela era um leitor de digital.
Na curiosidade, ele apenas colocou o polegar no leitor, e a caixa fez um som ao se abrir, como se estivesse à vácuo.
O rosto do adolescente mostrava apenas confusão.
“Mas que diabos é isso?”
Sem perder tempo, puxou a tampa para cima e viu o que tinha por baixo. Era simplesmente um anel.
“Que foda…”
Leonardo não era do tipo de usar acessórios chamativo, mas, no entanto, adorava ver os especiais que os Venantes usavam; curiosamente, esse trazia-lhe um sentimento parecido. Por mais que não usasse anéis ou brincos, ainda usava algum colar de vez em quando.
Esse chamava muita atenção, mas o fazia querer usá-lo.
Seu aro era largo, combinando com a mão masculina, feito de algum tipo de metal escuro. Também havia algumas gravuras no aro e garra, mas só se podia notar passando o dedo por cima.
O mais atraente era a sua pedra central, que exalava um brilho estranho, além de ser segurada por uma garra de metal em forma de X, fazendo-o questionar da confecção desse anel. A cor da pedra era o que mais chamava atenção — um roxo forte e vibrante.[1]
Logo que tirou o anel do pedestal que estava, uma voz começou a sair da caixinha.
— Oi, lindinho da mamãe. Como presente por sua nova vida, estou te dando esse anel. Na verdade, era para o seu pai e eu darmos a você.
— Planejavam me dar isso…? — Por mais que fosse incrível, ainda trouxe algumas dúvidas sobre o que esse anel era.
Antes de poder concluir o pensamento, a voz de Elisa continuou a falar: — É bom já te avisando. Coloque de uma vez no dedo esse anel, e, em nenhuma hipótese, deixe alguém usá-lo ou tirá-lo de você. Se bem que vai ser difícil tirar de ti depois que estiver usando. Então, coloque de uma vez. Não faça a mamãe se preocupar. — A última frase fez Leonardo arrepiar. Ele sabia muito bem que esse tom significava que era para obedecer logo.
“Em que dedo uso? Nunca pensei sobre aliança, mas… e se eu não conseguir tirar ele depois de colocar no anelar? Acho que vou usar no indicador ou no médio… Não vai ficar muito esquisito? Já que é a minha mãe que deu.. não deve ficar para sempre… Eu acho.”
Para Leonardo, anéis deveriam ser usados nos dedos anelares, então foi a decisão que tomou. Principalmente porque achava que combinava dessa forma.
Sem perder mais tempo, encaixou o anel no anelar da mão direita.
— Argh! — gritou de dor.
Assim que colocou o anel, sentiu como se dentes tivessem cravado fundo na carne dele.
— Hã? Parou de doer…? — A dor sumiu tão rápido quanto surgiu. — E o que é isso que estou sentindo…? — Algo estava muito diferente para ele.
Ele olhou para o anel, que parecia estar brilhando um pouco mais. De alguma maneira, sentia como se esse acessório fizesse parte do corpo dele.
“O que tem dentro disso…?” Uma curiosidade gigante nasceu na mente dele.
Notas:
[1] Para quem não entende de anatomia de anéis, um leve resumo: O aro é onde seu dedo entra no anel. Gravuras são entalhes feitos no metal, podendo ser palavras ou símbolos. Pedra central é a pedra em maior destaque no anel. Garra é o que segura a pedra central no lugar, para que não caía.