Venante - Capítulo 1
Foi dito e noticiado como qualquer outro dia.
Nada incomum estava acontecendo, era apenas mais um dia pacifico no mês de setembro, sem qualquer indício do que estava por vir. Contudo este dia pacífico viria a ser conhecido como o “Dia Zero”, no novo calendário — o nosso atual calendário Venante — também vulgarmente conhecido como a “queda demoníaca”…
Um particular meteorito caiu no país da Romênia, devastando alguns de seus pequenos estados.
A queda, a explosão e a tristeza das pessoas foi documentada ao mundo. E dito que, mesmo em países diferentes, as pessoas puderam ver aquele misterioso meteorito descer pela atmosfera.
Contudo isso não foi de longe o acontecimento mais chocante naquela época.
Quem quer que tenha arriscado ir investigar o meteorito acabou por desaparecer. Ninguém conseguiu, até o presente momento, se aproximar da cratera.
E, isso, despertou dúvida e mistério, pois, com o passar dos dias, uma névoa esverdeada começou a sair da Romênia, vazando para os países próximos.
Cientistas tentaram de toda maneira identificar o que poderia ser este gás, mas não importava quantos experimentos fizessem, o resultado era o mesmo: Não tinha qualquer variação química, era literalmente o ar comum.
Meses após a sua queda, sem uma pessoa conseguir ver de perto o meteorito — mesmo indo de avião, o resultado fora o mesmo — foi noticiado ao mundo, não apenas um caso, mas diversos casos absurdos de pessoas apresentando capacidades inumanas.
O vídeo da reportagem mostrava um rapaz erguendo uma chama em pleno ar, acima de sua mão… Outro que conseguia emitir eletricidade de seu corpo e uma garota capaz de levantar a terra sem esforço físico. Foi um espetaculoso nascimento de poderes.
E não parou nisso. A cada dia que se passava, mais pessoas demonstravam outras capacidades anormais. Caos ergueu-se durante este ano inteiro. Era como se todos esses mistérios estivessem diretamente ligados à névoa verde e ao meteorito.
Porém, não havia como confirmar tudo isso. Por muito tempo, fora uma incógnita para todos.
Um ano havia se passado, e o nevoeiro verde já não era mais visível no ar, como se tivesse sumido, ou misturado com o ar.
Então, no Ano 1 Venante, os “velhos portões demoníacos” passaram a aparecer.
Simplesmente, buracos, alçapões, portas, portões e outros tipos de entrada, todos estranhamente rudimentares, surgiram, em meio de cidades, mares e florestas. Ou seja, em qualquer lugar do mundo, essas aberturas foram levantadas — Que, hoje em dia, definimos como “Portais”.
Alguns países estavam em caos… Pessoas com superpoderes, com suas fés em seus deuses perdidas, estavam atacando. Seus poderes deram-lhes a capacidade de conseguir tudo o que sonhavam; riquezas, controle, superioridade.
Outros países mantiveram a ordem das pessoas com muita sabedoria, mas esses foram raros os casos no primeiro ano.
Estes países, que conseguiram manter a ordem, foram os primeiros a investigar os Portais. Obviamente, os primeiros registrados formalmente na história. Muitos civis curiosos entraram, apenas para ver o que poderia ser — óbvio que acabaram por nunca mais retornar.
E foi durante essa primeira investigação que o mundo parou o seu caos.
Um pelotão militar havia entrado em uma dessas “portas”, que ficava no centro da cidade de Chicago, nos Estados Unidos da América, e, dos quarenta homens e mulheres que entraram, apenas três retornaram, cobertos por feridas quase mortais. Um deles acabou voltando sem uma das pernas. E, seu relatório foi assombroso.
“— Monstros…! Monstros por todos os lados…!”
A informação não viria a público, deixando todos os Portais sob supervisão militar dos países. Era de máxima urgência, e tal confirmação jamais deveria ser vazada para as pessoas… Entretanto, não mais de algumas horas após o relatório dos três sobreviventes, algo horripilante estava sendo noticiado.
Era na Arábia Saudita, em gravação de helicóptero, pequenos monstros verdes escapavam em milhares de um buraco que se abriu no centro cidade e estavam atacando as pessoas.
Gritos e mais gritos estavam sendo transmitidos ao vivo.
Após o exército da Arábia chegar, a situação ficou em impasse. Por mais que as muitas armas pudessem matar essas criaturas, as munições convencionais não pareciam fazer efeito contra aquelas criaturas verdes.
Esse embate continuou até a manhã do outro dia, quando finalmente os monstros pararam de sair daquele Portal.
Muitos das forças armadas tiveram que utilizar seus poderes contra essas criaturas, o que se mostrou mais efetivo do que atirar sem parar nelas — mais tarde conectando ao misterioso meteorito.
Nesse dia, foi popularizado o termo “Portão Infernal” para se referir às portas.
Na época, foi muito questionada a informação que um civil havia pulado no buraco onde esses monstros saíram, acusando de ser assim o modo como “estourar” um Portal.
Entretanto outros lugares do mundo começaram a ter ataques de monstros diferentes.
Mais e mais questões foram abertas.
E, sem dúvida, levou meses e anos para que tivessem a resposta exata para elas.
O meteorito causou toda essa mudança na terra? Na época, era uma possibilidade, mas hoje em dia sabemos que sim.
Por que os monstros saíram dos Portais? Porque o timer foi quebrado.
O que os poderes representam? Talvez, uma proteção entregue para combater esses inimigos. Talvez, um teste…
Por que a visão do mundo mudou tão repentinamente? Crenças foram quebradas após o Dia Zero. O inimigo surgiu do nada, era necessária uma adaptação imediata, senão, perderíamos o nosso espaço.
Devemos entrar nos Portais? A história prova que sim. Dependendo o Grau do Portal, pode levar de dias até semanas para que irrompa e comece a liberar seus monstros ao mundo.
E, mais uma vez, agradeço os esforços de nossos predecessores.
— Por Léric Thomas Osvald, no ano 86 Venante.
Um jovem estava deitado em sua cama, deslizando o dedo pela tela holográfica que estava sobre seu corpo. Tinha acabado de ler um E-book, com áudios e vídeos, contando praticamente a história inicial do surto do Ano 1 até o Ano 50 Venante.
Para ele, que nasceu no Ano 119 Venante, sabia de muitas conclusões de pesquisas, embates e termos que o próprio autor, Léric, não fazia ideia em sua época.
Assim que terminou de ler, um pop-up animado de um despertador surgiu na tela holográfica, dando um susto no rapaz.
— Está na hora de acordar, Leonardo! Está na hora de acordar! Está…! — Na terceira tentativa, o reloginho foi explodido, virando apenas peças, pelo dedo de Leonardo.
Nesse momento, ele olhou para o horário que listava na tela e soltou um suspiro.
— Parece que chegou o dia — comentou insatisfeito.
Todos adolescentes, ao completarem 14 anos, deveriam decidir a carreira que seguiriam no primeiro dia de março. Por mais chocante que pudesse parecer, esses jovens da atual Terra tinham a capacidade para pensar em coisas tão importantes. Tudo isso por causa das novas possibilidades e de um único teste…
— O teste de medição e definição — disse com certo incômodo, esfregando a cabeça.
Leonardo havia madrugado, lendo o “Dia Zero, por Léric Thomas Osvald”, um documento popular para quem gostava de história, principalmente porque Léric foi uma figura icônica na história. Agora, com olheiras escondidas detrás dos óculos e já vestido — porque sabia que não dormiria — o jovem se dirigiu à cozinha.
Após fazer um sanduíche e tomar um gole de café, comentou como um resmungo: — Preciso dizer para ela trazer aquele café de novo… — Estava falando da própria mãe, que estava viajando no exterior por conta do trabalho.
Levantando da cadeira, largou o prato e caneca sujos na pia e se espreguiçou.
Seu cabelo preto estava bagunçado, sua pele branca indicava que não tinha costume de sair e seu modo de vestir mostrava que não ligava muito para o que pensavam sobre ele. Uma jaqueta, camiseta branca, jeans e um tênis comum que sempre usava. Esse era o estilo de Leonardo.
Sem pensar muito, colocou as mãos no bolso da jaqueta e se dirigiu para a porta.
Assim que ia abrir a porta, seu olhar foi direcionado à estante da sala, onde estava o retrato de seu falecido pai.
— Tch… — Estalou a língua e continuou: — Ainda não quero isso, pai. — E saiu pela porta, trancando-a com a digital.
O sol não tinha se erguido muito, então estava levemente ameno.
— Espero que não faça mais de 25ºC hoje — falou com descontentamento.
Sua pele branca era a maior prova da sua evasão do calor do sol. Ele odiava os dias quentes, ou mesmo de sair.
Assim que saiu de casa, estava preparado e já tinha pedido para que um transporte viesse até a sua casa, para levá-lo aonde desejava. Isso havia se tornado uma prática comum no cotidiano de qualquer um. Além disso, a mãe de Leonardo sempre depositava uma certa quantia para que seu filho ficasse bem pelos meses que não o veria.
Dessa forma, esperou dois minutos e um carro parou na frente dele.
— Sr. Leonardo? — perguntou com educação.
Em resposta, o garoto apenas assentiu com a cabeça e entrou no banco de trás.
— A coordenada está correta? — questionou o motorista.
Sem rodeios, respondeu: — Sim, é no Colégio Marvente. Hoje é aquele dia.
O motorista sorriu, sabendo que ele não parecia feliz com esse dia, do contrário, abriria uma boa conversa e falaria do teste que fez quando mais novo.
O percurso continuou silencioso, quinze minutos foi o necessário para chegar até o colégio.
— Chegamos — disse o motorista ao estacionar.
Sem pensar muito, Leonardo passou o cartão em cima do leitor que tinha no carro e pagou o custo.
Quando saiu do carro, suspirou. O que seus olhos viam era o portão de um colégio gigante, com diversos prédios, pessoas e avisos.
Vozes altas enchiam o lugar, incomodando-o, mas tudo o que podia fazer era suspirar muitas vezes.
Agradecimentos:
Ilustrações feitas pela incrível Andie, a artista oficial de Venante, graças aos padrinhos/apoiadores do Padrim e Apoia-se. Se você gostou da leitura e quer ver ainda mais qualidade no projeto, sinta-se convidado a olhar os benefícios de ser um apoiador/padrinho. E se você gostou das artes de Venante, passe no perfil da Andie, seja para comissionar ou apenas seguir.
A equipe de Venante lhe agradece por desfrutar da leitura até o final do capítulo, agora, nos vemos no próximo capítulo.