Um Alquimista Preguiçoso - Capítulo 121
Camila, Xiao Mei e as outras garotas tinham ficado muito felizes por terem conseguido um lugar próximo do palco depois de precisar se espremerem no meio das pessoas, mas quando a multidão começou a se dispersar depois das palavras do Patriarca Tengfei, essa alegria se transformou em arrependimento.
Elas tentaram de todas as maneiras se afastar da movimentação repentina, porém, no final, foram obrigadas a acompanhar o caos até que enfim ― depois de muito custo ― conseguiram alcançar uma área mais calma.
― Ai! Alguém pisou no meu pé e nem se desculpou! ― resmungou Xiao Yu, curvando-se para massagear os dedinhos doloridos enquanto se escorava no ombro de uma de suas amigas.
― Vocês viram a surra que o “Jovem Nobre” tomou? ― desdenhou Mei com um sorriso divertido no rosto. ― Depois de hoje ele nunca mais vai se chamar de “Jovem Nobre”.
― Mas o Xu Jong é muito forte ― alegou Li-Fen, bastante reservada em sua tentativa de apresentar uma defesa.
― É verdade ― concordou Mei, que continuava surpresa com o desempenho do praticante da outra Família. ― No entanto, o mais incrível mesmo foi ver Xiao Shui evoluir ― afirmou, empolgada. ― A arena ficou toda congelada. Eu estou tremendo de frio até agora.
― Porque será que ela fugiu depois daquilo? ― Camila levantou a questão. Ainda estava muito curiosa para descobrir o motivo da filha do 9º Ancião ter saído correndo.
― Eu não sei, mas ela parecia triste ― comentou Li-Fen, expressando uma nota de sentimento pela amiga.
― Não sei o que aconteceu, mas… é uma pena eu ter perdido a luta do Xiao Ning. Queria ver como ele se saiu ― confessou Camila, mudando de assunto. Apesar de ter chegado atrasada e sem muita motivação para participar do festival, ela tinha um grande interesse em ver o seu chefe em uma luta.
― Você não viu!? ― grunhiu Yu, surpresa. ― Foi incrível!
― Para mim, aquela foi a melhor batalha! ― concordou Mei, que logo tratou de tomar a frente da narração. ― Foi uma luta feroz. Xiao Ning conseguiu desviar de alguns golpes e acabou sendo atingido por outros. Sempre que o Zhan Hao lançava um contra-ataque parecia que tudo ia acabar, mas então ele girava a lança e… “Paa!”, “Pum!”, “Boom!”. ― Socou e chutou o ar, tentando reproduzir as cenas que continuavam vivas em sua mente.
― Foi muito engraçado no começo, quando ele deixou a lança cair fora da arena ― lembrou Li-Fen, deixando escapar um sorriso divertido. ― Eu ri muito.
― A minha parte favorita foi quando o Zhan Hao usou aquelas cordas brancas para prender os pés dele ― acrescentou Xiao Yu. Em seus olhos existia um brilho discreto de inspiração. ― Naquela hora eu pensei: “acabou!”, mas o Ning destruiu os fios como se não fossem nada e escapou.
― Ah! É verdade! ― A citação despertou a lembrança em Xiao Mei, que exibiu certa admiração pelo ocorrido. ― Ele inclinou o corpo em pleno ar enquanto estava sendo puxado e usou o fogo para se libertar. Acho que eu não conseguiria fazer aquilo. Iria acabar me desesperando.
― Então o Xiao Ning lutou contra alguém do Reino do Despertar e ganhou? ― Camila estava espantada. Ela tinha uma grande curiosidade para saber como seu chefe se portava em batalha, mas não esperava que ele tivesse tanta força. Por ser um Alquimista com talentos incríveis, era de se imaginar que sua habilidade em combate não fosse tão excepcional.
― Sim! ― confirmou Mei, balançando a cabeça. ― Todo mundo ficou surpreso.
― Eu estou faminta. ― A conversa das garotas estava ficando animada e parecia que elas debateriam o assunto por algum tempo. Porém Xiao Yu resolveu mudar a pauta depois que sentiu o estômago roncar. ― O cheiro vindo daquela barraca ali está me dando mais fome ainda.
E assim, as garotas saíram à procura de algum lugar que servisse comida boa e não estivesse tão cheia. A conversa referente à luta de Xiao Ning e Zhan Hao continuou um pouco depois, entretanto, desta vez, foi acompanhada por molhos, temperos e o barulho da chapa de metal cozinhando.
Enquanto isso, a modesta família Chen andava pela cidade, visitando as numerosas barracas e aproveitando algumas das coisas que o festival tinha a oferecer.
Os médicos recomendaram que Bolin e Bohai permanecessem nas tendas recebendo os devidos tratamentos, mas os garotos se recusaram a escutar a razão, pois estavam ansiosos demais para esse momento. E o mesmo podia ser dito de Meiling, que quando escutou o anúncio sobre o fim das disputas, começou a pedir e fazer pirraça para irem se divertir.
A pequena demonstrou ter um grande apetite, comendo tudo que o estômago pedia através de seus roncos audíveis, mas eram os jogos e os brinquedos que mais despertavam seu interesse.
― Olha, mamãe! Uma boneca! Compra pra mim? ― grunhiu ela, apontando para um brinquedo que se encontrava sobre um balcão. Tratava-se de um objeto feito de pano marrom-acobreado muito bem trabalhado, com cabelo cacheado e roupas tradicionais que exibiam cores vibrantes, como o vermelho e o amarelo que combinavam, formando uma harmonia marcante. A única coisa mal trabalhada na representação de uma garotinha eram os olhos opacos, mal costurados e um pouco desalinhados.
― Aquela boneca parece ser muito cara, querida. A mamãe não tem muito dinheiro ― disse Chen Niu, sentindo-se um tanto consternada por decepcionar a filha que pulava de empolgação em seus braços.
E nesse ponto, o sujeito tomando conta da barraca ― muito atento, vale ressaltar ―, escutou o pedido da criança e foi logo falando, antes que a família partisse para outro lugar:
― Se quiser ganhar o brinquedo, basta fincar a maçã no espeto. ― Toda sua fala foi dita com extremo entusiasmo e acompanhada de gestos que imitavam o jogo a ser seguido. Ele apontou para o fundo da tenda no qual existia um painel de madeira que cobria a parte de trás e nele se encontravam sete espinhos feitos a partir de lascas de bambu, posicionados estrategicamente.
Instigando seus possíveis fregueses a se arriscarem, ele pegou uma bacia contendo dez maçãs e colocou sobre o balcão.
― Dez tentativas por uma moeda de bronze. Vinte e cinco por duas. Cultivadores acima do Reino do Despertar não podem participar.
― Deixa eu tentar, mamãe! Por favor! Eu vou acertar. Eu juro! ― A empolgação tomou conta de Meiling, que, para o azar dos pais, entendeu muito bem as palavras do sujeito. Ela começou a pular no colo da mãe e a implorar como sabia fazer muito bem, com seus olhos marejados e o beiço estufado.
E Chen Niu, por sua vez, precisou se esforçar para não deixar a menina cair. A filha já não era tão leve quanto na época que tinha dois anos, apesar de ainda gostar muito de ser mimada.
― O que você acha, querido? ― perguntou, virando-se para encarar o marido.
― Tudo bem se meus filhos também participarem? ― Chen Ye decidiu checar antes de dar uma resposta. ― Eles ainda são Mundanos.
― Claro! Claro! ― respondeu o sujeito em um tom animado. ― Toda a família pode tentar se quiser.
― Ha! Desse jeito vai ser muito fácil! ― gabou-se Bohai, que se adiantou e pegou uma maçã, antes mesmo de entregar a moeda de bronze. ― Vou acertar todas! ― garantiu.
Mas como ele logo descobriu, acertar uma fruta em um pequeno espeto de bambu localizado a mais de dois metros de distância era mais difícil do que parecia e fazê-la continuar fincada era quase impossível.
No final, toda a família tentou. Meiling, a mais motivada, precisou ser erguida pelo pai para conseguir jogar as frutas, pois sequer alcançava o topo do balcão no qual ficava a bacia. Mas apesar da ajuda que recebeu, seus braços minúsculos nem ao menos conseguiram alcançar o painel de madeira durante o arremesso. Já os irmãos passaram perto algumas vezes, porém o resultado foi o mesmo.
O grupo precisou de três tentativas para enfim conseguir acertar uma maçã no alvo. Mas o esforço e o dinheiro gasto foram recompensados, dado que Meiling agradeceu a todos da maneira que foi ensinada pelo pai e ainda distribuiu muitos abraços.
Depois disso, eles continuaram passeando, comendo e bebendo. Sem dúvida alguma, os que mais aproveitaram foram os filhos do casal, que tiveram a chance de desfrutar de coisas que não podiam em dias normais.
Eles vagaram por algum tempo, até que uma coisa chamou a atenção de Bolin.
Em um canto afastado do festival, no meio de uma rua larga, onde não podia oferecer perigo para as pessoas e nem colocar em risco as estruturas de madeira, uma cena peculiar despertava o interesse de quem passava por perto. Diversas pessoas estavam ao redor de um longo tapete feito de brasas que se estendia por cinco metros de comprimento e um de largura.
Quando viu aquilo, Chen Bolin parou por um instante e fitou as pessoas se divertindo ao redor do corredor de fogo com certa curiosidade. Foi quando um homem descalço tomou a frente e começou a atravessar as brasas crepitantes, equilibrando-se sobre o calor.
― Aquele cara é louco! ― comentou, deixando transparecer uma expressão de surpresa.
― Oh, isso parece interessante! ― disse Bohai, que seguiu a linha traçada pelos olhos do irmão até encontrar aquilo responsável por prender sua atenção. ― Eu também consigo fazer. ― Cheio de confiança nas próprias habilidades, ele se afastou da família e foi em direção ao grupo que tinha escolhido uma maneira bastante peculiar de festejar.
No entanto, antes que seu filho fizesse alguma estupidez, Chen Niu agiu.
― Aonde você pensa que vai?! ― Ela entregou Meiling para o marido e se colocou na frente do mais velho, impedindo-o de prosseguir. ― Você ainda está machucado e até parece que vou te deixar fazer uma idiotice dessa. Anda logo e vai carregar sua irmã. É a sua vez de cuidar dela.
Chen Bohai resmungou um pouco e tentou argumentar, mas sua mãe foi bastante rigorosa ao proibi-lo de queimar os pés. E assim, o grupo voltou a aproveitar o que o festival tinha a oferecer.
Ao mesmo tempo, em um canto qualquer do centro da cidade, Ma Yao Yan, que tinha conseguido uma vitória custosa na primeira rodada da competição e não participou da segunda por causa da lesão que sofreu, estava junto do pai e outros familiares, como sua tia, o seu tio e alguns primos. Apesar da festividade acontecendo ao redor do bando, a conversa os privou de qualquer outro acontecimento.
― Isso é verdade? ― dizia o homem, assombrado com o que tinha acabado de ouvir da filha.
― É sim ― confirmou Yao Yan através de um sussurro. ― Foi o Supremo-Ancião Yanlin que falou.
― Um garoto tão novo… ― balbuciou a tia, chocada. Seus olhos estavam arregalados e a boca tão aberta que poderia engolir um pássaro inteiro. Era difícil acreditar no que tinha acabado de escutar.
Enquanto isso, em outro lugar cercado por tendas de comidas e bebidas que se encontravam dispostas uma do lado da outra, coladas de uma maneira que era possível ver todo o trabalho do concorrente vizinho, um grupo de cozinheiros rivais conversavam aos gritos conforme preparavam a próxima porção a ser servida.
― A Família Xiao foi muito abençoada este ano! ― berrava um.
― Além de ter conseguido dois novos Despertados jovens, agora eles tem um Alquimista ― citava o outro.
― Eu tenho até pena das outras Famílias ― comentou um terceiro.
― Você acha mesmo que elas não vão fazer nada? ― indagou o primeiro através de um tom desdenhoso. ― Ha! Aposto que vão tentar alguma coisa.
No palanque, Ning e os outros assistiam as pessoas transitar na parte de baixo enquanto os mais velhos discutiam algo logo atrás.
― Ainda vai demorar para a cerimônia de encerramento começar ― informou Xiao Chan. ― O que acham de a gente ir dar uma volta?
― Parece uma boa ideia ― disse Xiao Li, animando-se com a sugestão. ― Eu não como nada desde que chegamos aqui. Estou morrendo de fome.
― Meu estômago ainda está um pouco ruim, mas acho que se não comer nada estranho ficarei bem. ― Chan estava ficando animado por enfim ter uma oportunidade de fugir dali. Permanecer tanto tempo parado num só lugar não era uma coisa que o agradava muito. ― O que você acha, vovô Ning?
― Vovô é? ― grunhiu o Alquimista, franzindo as sobrancelhas e fazendo uma pausa dramática, mas que não durou por muito tempo. ― Bem, para ser sincero, não aguento mais essa secura na minha boca ― brincou, esboçando um sorriso divertido. ― O que me diz, pequena Shui? ― Cutucou a amiga, que continuava ao lado do irmão, com o cotovelo. ― Quer dividir uma ou duas garrafas de vinho comigo?
Xiao Shui estava de cabeça baixa, os ombros encolhidos e seu rosto havia sido tomado por uma expressão melancólica. Mesmo quando foi empurrada de leve e recebeu o convite inapropriado, ela não esboçou nenhuma reação.
― Eu… eu quero ir pra casa. ― Sua voz saiu fraca e abatida, quase um murmúrio soprado por alguém distante.
― Sei… ― Xiao Ning exprimiu um sorriso fraco e não voltou a insistir.
Nesse meio tempo, logo atrás do grupo, o Patriarca Enlai, o 9º Ancião, a 7ª e a 2ª Anciã estavam reunidos bem próximos uns dos outros em um círculo, de uma maneira que tornava difícil para quem se encontrava distante ver o que faziam, o movimento dos seus lábios ou o franzir de testas. Sabendo das audições apuradas que os cercavam, eles falavam através de sussurros quase inaudíveis.
― Perceberam? ― indagou o tio Chang, trazendo na voz certa urgência.
― Normalmente aquelas pessoas costumam ficar até depois do festival para recrutar os jovens promissores, mas assim que a final acabou, elas deixaram a cidade ― disse a Anciã Huo.
― Além do mais ― acrescentou o Patriarca Enlai ―, as outras Famílias estão se contendo por enquanto, mas logo começarão a fazer barulho.
― E daí? ― grunhiu Ah-kum, a única que não se esforçou para manter a voz baixa. ― Se alguém tentar fazer alguma coisa, eu acabo com ele.
Todos olharam para ela com olhares julgadores. Acreditavam ser uma coisa imprudente de se falar, ainda mais levando em consideração os níveis elevados de cultivo que podiam ser encontrados ao redor de toda a cidade.
― Acho melhor irmos embora agora ― sugeriu o tio Chang. ― Quanto mais tempo ficarmos, mais oportunidade daremos para algo acontecer. Irei levar Ning e meus filhos de volta para casa. E isso pode até ser bom para Shui. Ela não parece estar muito bem.
― Eu também irei voltar com vocês ― disse o Patriarca.
― Se querem tanto assim se esconder, eu vou junto. ― Por fim, Ah-kum cedeu. ― A Jiao precisa descansar um pouco.
― Eu irei ficar ― informou a 7ª Anciã. ― Como uma das organizadoras, preciso participar da cerimônia de encerramento.
Chegando a uma decisão, o grupo se dispersou com bastante sutileza, tentando evitar de chamar ainda mais atenção. Enlai e a 2ª Anciã, acompanhados por Xiao Jiao ― depois de se despedirem brevemente dos líderes das demais Famílias ―, foram até a saída do palanque e aguardaram próximos da escada. Já o tio Chang ficou com a difícil tarefa de informar aos jovens que precisavam partir ― difícil, pois eles estavam animados, pensando em continuar aproveitando as alegrias do festival.
― Pequeno Ning, Chan ― aproximou-se, chamando a atenção para si. ― Nós vamos voltar para casa agora ― informou, usando um tom decidido e que não aceitava contradições. Acreditava ser o melhor jeito de não receber oposições.
E como era de se esperar, Xiao Shui não retrucou o pai, que ainda segurava sua espada. Ela foi logo se juntando a ele, demonstrando que estava pronta para ir. No entanto, os outros dois resistiram.
― Mas já!? ― grunhiu Xiao Chan, insatisfeito com a ordem.
― Eu ainda nem provei o vinho amarelo que vendem aqui ― protestou Ning.
― Deixa eles ficarem mais um pouco ― pediu Xiao Li. ― A gente estava planejando ir encontrar as garotas e depois procurar algum jogo para brincar.
― Li! ― disse a Anciã Huo, chamando a atenção da filha. ― Eles precisam ir agora e depois do encerramento nós também vamos.
Embora nenhum deles, com exceção de Shui, estavam dispostos a encerrar a noite, o Ancião não voltou atrás com sua decisão. E depois de alguns resmungos, os garotos enfim cederam e aceitaram deixar o Festival da Geração do Coas mais cedo. E apesar de não se importar em seguir as exigências do tio, Ning achou que não seria tão divertido aproveitar o resto da noite sozinho.
E assim o grupo se reuniu com o Patriarca e a 2ª Anciã e juntos rumaram de volta para casa.
Niveis do Cultivo: Mundano; Despertar; Virtuoso; Espirituoso; Soberano do Despertar; Monarca Místico; Santo Místico; Sábio Místico; Erudito Místico.