Um Alquimista Preguiçoso - Capítulo 119
Os anos passaram e Xiao Bai começou seu caminho no cultivo. Quando tinha a idade aproximada de doze anos e já havia alcançado a 4º Camada do Reino Mundano, surpreendendo muitos pelo progresso rápido, foi transferido para uma classe mais avançada dos Salões Espirituais.
Suas habilidades no cultivo e em outras áreas não eram consideradas inigualáveis, mas também era um fato que ele estava acima da média. Seus resultados excelentes nos estudos logo o renderam uma maior dedicação dos professores e mais atenção dos colegas.
Ainda assim, o desprezo que recebia do avô continuava o mesmo. Não importava quantas vezes um professor ou praticante de maior importância aparecia na mansão para elogiar o avô pela dedicação do neto, o final sempre era o mesmo.
Diversas foram as vezes que ele acabou sendo colocado de castigo, apesar de não ter feito nada que merecesse tamanha punição. O Ancião continuava rígido e aproveitava cada oportunidade para descontar suas frustrações. E foi assim também naquele dia.
Durante certa tarde, um incidente ocorreu próximo do local em que eram dadas as aulas nos Salões Espirituais e um tutor se viu obrigado a responsabilizar todos os envolvidos, incluindo o Jovem Nobre.
Na ocasião citada, o responsável pelos alunos ligados ao incidente visitou cada um dos pais e parentes das crianças. Xiao Bai foi o último e ficou muito nervoso apenas de imaginar o que lhe aconteceria.
― Como eu falei, 1º Ancião Dong ― disse o professor que se encontrava no Quarto Branco, acompanhado pelo suposto encrenqueiro. ― Seu neto estava próximo quando aconteceu, mas não teve qualquer envolvimento direto no ocorrido. Apesar dos colegas terem tentado tirar o pertence de outro menino à força, Bai não participou da ação.
― Entendo… ― murmurou o velho fitando o menino. ― Ele não fez nada.
― Exato ― confirmou o professor. ― Mesmo assim, acredito que seria melhor conversar com ele para que fique longe de pessoas desse tipo. Pode prejudicá-lo no futuro.
― Eu agradeço por ter vindo até aqui ― disse o Ancião usando de um tom que indicava o fim da conversa. ― Irei tomar as devidas providências.
O professor foi acompanhado até a saída por uma empregada enquanto Xiao Bai continuou no Quarto Branco, sendo perfurado pelos olhos de seu avô que o encarou por um período considerável. Ele queria sair dali, fugir o mais rápido possível, mas sabia que isso só iria piorar a situação.
― Então… você não fez nada. ― Por fim o velho falou. ― Enquanto seus amigos lutavam, você não fez… nada! ― repetiu.
― Eles… ― Xiao Bai abaixou a cabeça ― tentaram roubar uma Jade do Relâmpago que um menino da nossa classe ganhou. ― Sua voz era fraca, quase um sussurro, e à medida que continuou se tornou ainda mais baixa, temendo que uma frase errada pudesse levá-lo a um castigo exagerado. ― Eu falei para eles que era errado, mas não me escutaram. E… eu não queria me machucar por algo errado.
O Ancião se aproximou do menino, agarrou seu braço esquerdo e levantou, quase o suspendendo no ar.
― Não queria se machucar por algo errado? ― Seu tom carregava uma raiva profunda.
― AHHHH! ― De repente Xiao Bai começou a gritar e se contorcer, tentando se libertar. Seu braço estava sendo esmagado por uma força sobre-humana que pressionava sua carne e prensava seu osso.
― Desde quando é errado o mais forte tirar do mais fraco? Existe uma Lei que fala da soberania do mais apto. Recursos valiosos são escassos e devem ser utilizados por aqueles que podem extrair todo o seu potencial. E enquanto seus amigos faziam o natural, você ficou parado, olhando, pois estava com medo de se machucar.
“Craack!”
Xiao Bai conseguiu sentir o osso se partindo ao passo que o agonizante som da ruptura escapou de sua carne e alcançou seus ouvidos. Tomado pela dor, soltou um berro que ecoou pelo Quarto Branco e toda a mansão, levando muitos daqueles que ouviram a se contorcer só de imaginar. A dor foi tanta que as lágrimas jorraram de seus olhos, a firmeza de seus joelhos se perdeu e, quando foi solto, ele desabou, já abraçando o membro ferido.
Naquela noite, ele ficou em seu quarto agonizando e foi apenas na manhã seguinte que um praticante com experiência em fraturas colocou o osso no lugar e enfaixou o membro contundido. Quase nunca ia ao médico; seu avô não deixava. E quando chegou a hora de ir para os Salões Espirituais, faltou. Sentia-se envergonhado demais para sair. Como poderia explicar um braço que antes estava muito bem, mas agora se achava quebrado?
O constrangimento foi tanto que pelas próximas semanas o Jovem Nobre permaneceu em casa, passando a maior parte do tempo trancafiado no quarto. Os instrutores com toda a certeza ficariam chateados pela ausência prolongada, mas se inventasse que estava cultivando em isolamento, decerto não receberia uma punição severa pelo ocorrido ― já tinha pensado em tudo.
Conforme as semanas passavam e o braço quebrado se recuperava, o dia de voltar aos Salões Espirituais se aproximava. Seria mentira dizer que estava empolgado para isso, mas quando o momento chegou, ele se arrumou e saiu de casa. E como era de se esperar, alguns professores reclamaram, falando que se continuasse faltando daquela maneira jamais se tornaria um grande cultivador ― foi uma bronca daquelas, acompanhada por muito sermão. Porém, no final, ele recebeu um castigo leve, que se resumia a limpar tudo durante os fins das atividades por um mês.
Xiao Bai estaria mentindo se dissesse que não achou tudo aquilo muito injusto. Para começo de conversa, não tinha feito nada desde o princípio. Foram seus amigos que tentaram roubar de outra pessoa, mesmo assim o avô lhe quebrou o braço. Faltou porque estava machucado e envergonhado demais para explicar o motivo, mas teria de passar o próximo mês varrendo o chão, juntando equipamentos e ficando até tarde.
Queria se posicionar contra a decisão, falar que era injusto, porém, se fizesse isso, seria obrigado a explicar tudo o que aconteceu e era o tipo de coisa que desejava evitar a todo custo. E no final, como sempre acontecia, ele foi obrigado a guardar tudo lá no fundo, apenas para si.
Então, naquela tarde, no seu primeiro dia na volta aos estudos, algo aconteceu.
Como era costume dos alunos fazerem durante os períodos de intervalos, todos se reuniram nas Arenas de Combate e Treinamento para conversar, brincar e ― os mais dedicados ― repassar o que haviam aprendido, incluindo Bai. Seus amigos tinham ganhado uma punição severa pela transgressão que cometeram e por isso precisou passar o dia sozinho.
Ele estava parado em um canto, assistindo um grupo de colegas mais velhos treinar Técnicas de Combate em um boneco de madeira, quando ouviu:
― Vocês acreditam que aqueles idiotas falaram que a Jade era deles? ― dizia um menino que exibia um cristal azulado de tamanho irregular e que liberava feixes de eletricidade.
― Eles levaram uma surra e ainda estão chorando? ― gargalhou o colega do lado.
― Eu deveria era ter batido mais neles. ― Havia um toque de vaidade em seu tom, tentando parecer alguém muito forte e que não chorou por quase ter perdido o presente precioso. ― Da próxima vez, vocês vão ver, vou acabar com eles.
O que aconteceu em seguida, mesmo Xiao Bai não sabia explicar o motivo de ter feito aquilo, mas depois de ouvir as provocações e alegações, ele perdeu a cabeça e acabou provocando uma grande confusão ao iniciar uma briga contra o grupo. Sua reação foi impensada, impulsiva. Quando percebeu, já estava agarrado no pescoço do menino segurando a Jade do Relâmpago.
A frustração por ter tido um braço quebrado sem ter feito nada, por ter ficado de castigo sem ter feito nada, por ter precisado se isolar em casa sem ter feito nada, explodiu de uma só vez, levando sua mente a um estado de puro branco que era guiado pela raiva. Não pensou nas consequências, nas repercussões que teria ou no que iria acontecer quando voltasse para casa, apenas queria descontar tudo ― não importando o que fosse ― naquelas pessoas falando de seus amigos.
E naquele dia, quando foi levado para mansão por um professor de cara feia que estava bastante determinado em falar para o 1º Ancião o que o neto tinha aprontado, Xiao Bai experimentou um sentimento de profundo arrependimento e pavor. Arrependeu-se de tudo que havia feito e lamentou ter cedido para a raiva. Sabendo o que lhe aguardava, a vontade era de fugir para o mais longe possível, quem sabe até mesmo se aventurar na floresta ou na montanha ― as Bestas Demoníacas pareciam uma melhor opção. No entanto, sua punição por fazer algo do tipo seria ainda pior.
O encontro entre o tutor e o avô foi cercado por muita tensão. Embora o primeiro soubesse que estava falando do neto de uma importante figura, ele não foi miserável ao dar um longo sermão que veio acompanhado de sugestões a serem seguidas para que o incidente de mais cedo não voltasse a acontecer. A conversa foi unilateral, mas por achar que o silêncio da outra parte indicava uma atenção dedicada às suas palavras, o instrutor ficou à vontade para apresentar todas as suas queixas e relatar em detalhes o ocorrido.
Enquanto o assunto era esclarecido, Xiao Bai permaneceu de lado, cabeça baixa e ombros encolhidos, bastante acuado. Havia respingo de sangue em sua camisa, sangue esse que veio de seu atual nariz vermelho. O rosto, em especial a região ao redor dos olhos, mostrava-se um tanto inchado, como se tivesse chorado.
Parado ali, torcendo para não ser notado, ele segurava o braço, que apesar de ter se curado, parecia estar doendo como nunca. Seus pensamentos eram assombrados pela visão do quartinho, imaginando quanto tempo passaria lá dessa vez.
Apesar de apenas um lado estar falando, a conversa entre os adultos durou um tempo considerável. E então, quando enfim terminou de dizer e relatar tudo o que precisava, o professor se despediu com uma cordialidade impressionante e antes de sair, falou para o aluno:
― Espero que o que aconteceu hoje não se repita.
O Jovem Nobre foi enfim deixado sozinho com o avô e quando percebeu que não existia mais ninguém para ficar entre os dois, ele se encolheu ainda mais. Suas pernas tremiam, seu rosto ficou branco e o estômago foi assaltado por um frio anormal.
O 1º Ancião não falou nada a princípio. Continuou sentado em seu trono, fitando o garoto apavorado. Até que por fim desceu de sua elevada posição e caminhou a passos lentos rumo ao pequeno trêmulo.
― O que aconteceu com a Jade do Relâmpago? ― perguntou ao se aproximar.
Em resposta, Xiao Bai tirou um cristal de tamanho irregular que soltava feixes de eletricidade de dentro de um bolso e mostrou, estendendo a mão como se pretendesse entregar o item roubado.
O 1º Ancião Dong olhou para aquilo por um instante. Em seguida, virou-se e deixou o Quarto Branco sem ao menos dizer uma palavra de repreensão ou confiscar o mineral furtado. Não houve uma surra sem explicação como de costume. Não houve uma punição exagerada para o ocorrido. Nada aconteceu.
O Jovem Nobre estava tão preparado para apanhar que demorou para perceber que estava sozinho. Ele olhou para o simples cristal em sua mão de maneira que parecia estar vendo um grande mistério. Suas pernas ainda tremiam, possuídas pelo terror. Seu coração batia rápido e o braço esquerdo era assaltado por pontadas que rasgavam sua carne.
Tudo parecia tão estranho. Ele estava preparado para levar uma surra que o deixaria incapacitado por dias, preparado para passar fome e sede em um quartinho sujo que já deveria ter sido demolido há muito. Mas nada aconteceu.
Foi nesse dia que Xiao Bai aprendeu…
Depois do incidente envolvendo a Jade do trovão, o Jovem Nobre Bai nunca mais foi deixado sem comer ou beber água em um quarto escuro. As surras que levou foram poucas e com o passar do tempo, seu avô passou a lhe dirigir palavras que não eram apenas ofensas.
De alguma forma, pessoas passaram a segui-lo como se fosse um líder e ele não reclamou, pois em casa isso gerou um grande efeito positivo.
Quanto mais influente ele se tornava, menos era punido pelo avô. Sempre que evoluía o cultivo e ganhava batalhas contra oponentes considerados fortes, menos ofensas ouvia. Quanto mais as pessoas o chamavam de “gênio”, mais longe do quartinho ficava.
Tudo estava indo bem, até que, por uma infelicidade, o Festival da Geração do Caos chegou ― o primeiro que estava participando como um dos favoritos a campeão ― e ele foi derrotado por um garoto mais jovem que pouco tinha se ouvido falar, a não ser pela sua incrível habilidade de cultivo.
Foi uma derrota que Xiao Bai não podia prever e muito menos evitar, pois seu oponente era alguém detentor de uma força assombrosa, que deixou a todos impressionados. Mas o 1º Ancião Dong encarou aquilo como se fosse uma vergonha dele próprio. A derrota para alguém mais novo, desconhecido, era inadmissível.
E então, pela primeira vez em muitos anos, depois de apanhar na frente de diversas pessoas desconhecidas para que sentisse a mesma vergonha que o avô sentiu, o Jovem Nobre Bai foi jogado no quartinho que continuava lá, infestado de insetos, cheirando a fossa e coberto de coisas repulsivas.
Às vezes, Xiao Bai desejava perder a memória, igual acontece em romances e coisas do tipo, e nunca mais recuperá-las. Apenas pensar no que aconteceu era doloroso de uma forma que se tornava difícil colocar em palavras e ficar preso naquele lugar maldito era o mesmo que ser sentenciado a reviver imagens de tempos horrorosos.
Naquele dia, jurou que jamais voltaria a perder, que jamais voltaria para aquele quarto maldito. Porém lá estava ele, a um passo do horror ― apenas um ano depois de ter sofrido tamanha humilhação.
Caído sobre o piso da arena, perto de ser derrotado, Xiao Bai podia ver todas as imagens do terror que vivenciou voltando à sua mente. Seus pensamentos eram tomados pela miséria, a fome e a sede que experimentou por diversos dias. A dor que sentia por ter sido golpeado repetidamente por seu adversário sequer podia ser comparada a agonia que sentiria caso fosse derrotado.
Ele podia prever a fúria de seu avô o castigando pela derrota, por ter sido fraco, por não ser o mais forte, castigando-o pela vergonha que era ― a desgraça para o bom nome do 1º Ancião. O cheiro do abominável quartinho invadia suas narinas. Seu estômago se revirava apenas de se imaginar passando semanas sem comer nada.
Xiao Bai estava no meio de uma luta importante, a grande final. Deveria se concentrar para que conseguisse usar todas as forças e assim derrotar o inimigo parado à sua frente, mas seus pensamentos estavam tomados pelo desespero e o terror. Cada vez que falhava em acertar um golpe, cada vez que era atingido, ficava um pouco mais perto de ser jogado na solidão.
Por outro lado, Xu Jong continuava o mesmo de sempre; calmo, confiante. Ele olhava de cima para o rival caído logo a sua frente com uma expressão destemida, esperando pela próxima ação. E então, depois de assistir o outro lado arfando e tendo dificuldade para executar alguma reação, resolveu abrir a boca:
― Isso é tudo? ― Sua voz possuía um traço discreto de rigidez.
― Tudo? ― rugiu Xiao Bai que se sentiu afrontado. ― Eu vou acabar com você! ― Usando os braços para se impulsionar, ele se colocou de pé e assumiu uma postura ofensiva.
No mesmo instante, Xu Jong saltou para trás, abrindo uma distância segura entre os dois, e falou:
― Para ser sincero, eu esperava poder me divertir lutando na final ― admitiu. ― Mas é estranho perceber que estou chateado e não estou me divertindo nem um pouco. Essa competição deveria ser amigável, só que você conseguiu estragar isso.
― Você fala demais ― grunhiu Xiao Bai, que apesar de tentar passar confiança, tremia feito um ramo frágil exposto a uma forte ventania. Por mais que tentasse focar na luta, seus pensamentos estavam tomados pelo horror da derrota e as consequências provenientes dela. ― Se quer tanto assim uma “diversão”, eu darei uma que jamais irá se esquecer.
Nesse ponto da competição, ele já sabia e tinha aceitado que suas técnicas normais não surtiriam nenhum efeito contra o inimigo à sua frente. Assim sendo, decidiu apelar para o único recurso capaz de causar uma mudança nos acontecimentos.
Instigada por uma determinação que ainda lhe restava, de repente uma criatura misteriosa envolta em luz se manifestou. Seu corpo abrangia um espaço considerável sobre toda a arena de modo que sua cabeça quase tocava as lanternas no alto. Seu porte avantajado e suas patas dianteiras estavam posicionadas de um modo que parecia proteger aquele responsável por invocá-la.
A princípio, sua aparição foi fraca e desfocada, tanto que mal era possível ver os contornos de seu corpo coberto por uma luz esbranquiçada, era como ver um enorme borrão com patas. Mas isso logo mudou quando uma pelagem que luzia um tom azulado começou a se manifestar e um rosto animalesco ― ainda meio borrado ― dotado de presas ganhou forma.
Do outro lado, Xu Jong encarava a criatura com certa admiração. Notava-se a curiosidade em seus olhos, o desejo de vê-la em sua forma completa. No entanto…
― É assim que planeja me divertir? ― falou com uma voz que não passava confiança nenhuma. ― Sequer consegue ativá-la direito. Olhe só para você.
O corpo de Xiao Bai apresentava uma instabilidade anormal, parecia até que tinha desenvolvido uma doença degenerativa muito grave. Quanto mais Energia Espiritual ele usava, mais perto de um colapso ficava. Seus olhos assumiram um tom vermelho vivo, com os vasos sanguíneos se destacando de tal maneira horripilante.
― Desse jeito ― continuou Jong ―, eu não vou precisar fazer nada. Você irá se destruir igual Zhan Hu.
― Não preciso da sua preocupação e nem da de ninguém! ― Mesmo Xiao Bai não sabia ao certo o motivo de tanto gritar, mas ele simplesmente não podia se controlar. ― Eu vou calar sua boca! Irei mostrar quem é o mais forte e nunca mais voltarei… ― calou-se. Seus pesadelos, o medo e a emergência que sentia, estavam tomando conta de suas ações e de alguma forma, sua raiva apenas deixava tudo mais intenso.
Depois de quase falar o que não devia, o Jovem Nobre parou por um instante e respirou fundo. Sentia o coração acelerado enquanto um frio capaz de abalar qualquer pessoa tomava conta de suas entranhas. E então, após um breve intervalo, falou:
― Se está tão confiante, então tente deter isso.
Apesar da criatura ainda não ter se formado por completo, quando recebeu o comando, ela passou a se mover. Sua cabeça se inclinou para frente e a pata direita se levantou ao passo que uma fenda enorme e repleta de dentes mal formados se abriu em sua face.
Foi uma simples ação, que sequer tinha se completado, mas a arena tremeu incontrolavelmente. As tábuas começaram a ranger e quebrar, as runas que fortificavam a estrutura perdeu vigor e falhas apareceram em diversos cantos.
Xu Jong assistiu aquilo com a mesma calma de sempre e embora um simples passo da coisa fosse o bastante para alcançá-lo, nenhum sinal de medo foi projetado por ele.
― Você não é o único que tem técnicas poderosas ― declarou o garoto de cabelo lustroso. ― Vaga-lumes Cósmicos!
De repente uma luz dourada e intensa se espalhou pelo palco, obrigando muitos a desviarem o olhar e deixando temporariamente cegos os desatentos. O lampejo durou por um instante e quando desapareceu, pontos brilhantes cercavam Xu Jong, oscilando como pequenas entidades cósmicas vivas.
Tratava-se da mesma habilidade usada por Xu Xia, porém uma sutil diferença era notada em sua estrutura. Os pontos brilhantes que surgiram possuíam o dobro do tamanho, cintilando feito lumes tímidos na ponta de uma tocha improvisada.
― Espero que no próximo ano seja mais divertido ― disse o atual campeão em tom de finalização enquanto movia o braço.
Vendo seu inimigo se mover, Xiao Bai soltou um rugido imponente, como se acreditasse que o ato pudesse acelerar a execução do próprio ataque.
Diferente da demonstração exibida por Xu Xia, no instante em que Jong se moveu, os pontos brilhantes dispararam todos de uma só vez, avançando em perfeita sincronia. Alguns foram de encontro à criatura imperfeita, ao passo que outros perseguiram o Jovem Nobre.
A coisa invocada por Bai sequer havia terminado de dar um passo quando foi bombardeada pelos vestígios cósmicos que lançaram lampejos áureos, cobrindo toda a arena. Um forte estampido ocorreu e diversos buracos foram abertos no corpo da coisa que não resistiu ao impacto e começou a se fragmentar igual a um espelho se rachando.
Em poucos instantes a invocação foi despedaçada e sem nenhuma chance de reagir ela ruiu sobre o palco, desfazendo-se em um turbilhão de luz e Energia Espiritual.
Ao mesmo tempo, quando viu o ataque indo em sua direção, Xiao Bai tentou correr, mas suas pernas vacilaram, impedindo-o de fugir. Então, mudando de estratégia, cruzou os braços na frente do corpo e torceu para suportar o que viria a seguir.
Sem demonstrar qualquer misericórdia, os pontos brilhantes atingiram seu corpo em locais diferentes e todos ao mesmo tempo. A intensa luz que se espalhou envolveu todo o seu ser em um manto dourado danoso. Estrondos ensurdecedores ressoaram pelas áreas circundantes e junto a isso um grito agonizante ganhou forma, tentando resistir ao máximo à dor que lhe era afligida.
Tudo durou por breves segundos e quando a luz áurea dos pontos cósmicos desapareceu, Xiao Bai se encontrava caído na beirada da arena, a poucos centímetros de ser jogado para fora. Ele estava encolhido, numa posição indefesa, com os joelhos dobrados, os braços largados e a cabeça pendendo de lado ― imóvel.
Niveis do Cultivo: Mundano; Despertar; Virtuoso; Espirituoso; Soberano do Despertar; Monarca Místico; Santo Místico; Sábio Místico; Erudito Místico.