Trupe Elemental - Capítulo 83
— Então… esse livro, Terra Chamuscada, o que ele é sobre exatamente? Eu admito, fiquei um pouco perplexo quando me entregaram, a capa é muito diferente de tudo que eu já vi na literatura. — Disse Hector.
— O quê?! Hector, não me diga que você viu o conteúdo deste livro! — Perguntou.
— Não! Eu não fiz isso, mestre Cyrus. Apesar de tamanha curiosidade, eu não cheguei a olhar o que havia dentro dele, fiz a coisa certa então. — Hector Respondeu.
— Ainda bem que não. O conteúdo deste livro não é para qualquer um. Requer uma vida inteira de dedicação para decifrar e utilizar o que há escrito. Tolos impuros que o abrem sem o conhecimento necessário são punidos severamente, você fez certo em não abrí-lo sem antes me consultar, Hector. — Cyrus explicou.
— Hmph. Você ainda me parece bem curioso, eu poderia te dizer uma coisa ou outra que sei sobre este livro, é claro se você estiver interessado. — Disse Cyrus.
— Ah! Eu adoraria que fizesse isso, mestre Cyrus! — Hector respondeu.
Cyrus vendo que seu aluno estava clamando por conhecimento sobre o misterioso livro que ele havia conseguido há pouco tempo, decidiu abri-lo para mostrar as fantásticas coisas que nele o jazem e também explicar sua origem.
— Temos um pequeno espaço de tempo até chegarmos ao nosso destino aqui embaixo, vou ser breve, então preste muito bem atenção, Hector. — Cyrus disse.
— Certo mestre Cyrus! Quando o senhor quiser. — Hector respondeu.
— Este livro não é como outros, apesar de seguir a mesma lógica que os grimórios, ele é diferente em sua essência. Ele vem de muito tempo atrás, antes mesmo que as memórias existissem, e foi passado por grandes feiticeiros de geração para geração até os dias de hoje. Suas magias e ensinamentos foram escritos por diferentes figuras ao longo do tempo, ele é capaz de criar páginas em branco para que os futuros mestres compartilhem seus feitos com as próximas gerações. Entretanto, não é qualquer feiticeiro que consegue escrever nele, há requisitos. — Cyrus Explicava.
— Um dos requisitos para conseguir escrever neste livro é dominar perfeitamente os elementos, sendo um pouco grosseiro, atualmente só há uma pessoa capaz disso, e infelizmente ela está contra nós. — Completou.
Ouvindo aquilo Hector se lembrou do que ouviu uma vez, tempos atrás os mais sábios de sua academia só falavam daquilo. Após milênios uma suposta mulher que desafiou o tear do destino e dominou todos os elementos conhecidos, a única pessoa a conseguir esse feito, tirando os grandes mestres do passado.
— Este livro guarda segredos e magias inimagináveis. Magias magníficas e terríveis ao mesmo tempo, com poder de criação e destruição imensuráveis. Tudo depende de quem o tem em mãos. Mas tudo que é bom demais vem com um preço à altura. Todos que o utilizarem serão amaldiçoados pela eternidade. Dizem que há outras variantes e continuações, mas eu nunca as encontrei… — Cyrus explicou.
— Hã? Mas se quem o usa é amaldiçoado para sempre, o que vai acontecer com você, mestre Cyrus? — Hector perguntou.
— Eu não sei. A maldição é aplicada de diferentes formas para cada pessoa. E eu também não me importo, isso é apenas um pequeno preço a ser pago para um futuro melhor. Nosso senhor tem grandes expectativas, é nosso dever cumprí-las. Seremos recompensados no fim de tudo. Eu vi com meus próprios olhos, Hector, era perfeito, não havia nenhuma impureza, nada. O mundo ideal. — Cyrus respondeu.
— Claro… eu acredito em você e nos outros, mestre Cyrus! — Disse Hector.
Concluído o debate entre os dois sobre o livro mencionado, eles continuam a vagar pelos subterrâneos da cidade. Os minutos se passavam e Hector já estava se cansando de vagar sem rumo nenhum por aquele lugar escuro. Mas Cyrus sempre o encorajava a não desistir, dizendo coisas motivacionais a todo momento.
Logo depois, os dois chegam até um grande portão com grossas barras de ferro impedindo a passagem. Mas aquilo não era um problema, já que Cyrus rapidamente utilizou uma de suas magias para derreter parte da grade para que pudessem atravessar.
Do outro lado do portão, eles chegaram até o que parecia ser uma encruzilhada subterrânea, um lugar que interligava outras passagens, para todas as direções, convenientemente a área mais aberta que eles haviam encontrado até então.
— É aqui, me ajude a preparar as coisas. Haha, estamos bem abaixo do centro comercial da capital, há milhares de lojas e pessoas logo acima de nós, o lugar perfeito para conduzirmos a magia. Vamos, Hector! — Disse Cyrus.
— Certo mestre Cyrus, só me diga o que eu preciso fazer! — Hector respondeu.
— Tome este giz. Está imbuído com magia, use ele para desenhar o círculo mágico no chão igual este do livro, está vendo? lhe direi o que fazer em seguida assim que você terminar de desenhá-lo. — Cyrus respondeu.
Como Cyrus instruiu, Hector transcreveu com o giz o círculo mágico presente no livro para o chão nos mínimos detalhes possíveis. Após isso, Cyrus pegou uma pequena adaga de seu bolso e cortou sua própria mão, derramando seu sangue sobre uma das pontas do círculo mágico.
— Muito bem, essa foi a primeira parte. Use meu sangue para cobrir o resto do círculo, ele será o catalisador principal. — Disse Cyrus.
— Certo… Farei isto! — Cyrus respondeu, um pouco assustado.
— Depois disso só preciso recitar a magia descrita no livro e em seguida atearemos fogo para que seja concluída por completo. — Cyrus explicou.
Com os preparativos prontos, Cyrus pediu para que Hector se afastasse um pouco, para dar início a magia contida no livro. Com sua mão direita, ele fez com que o livro pairasse no ar em sua frente e abrisse na página correta, e em sequência começou a recitar a magia. Logo de cara, ventos começaram a circular por todo aquele local fechado, e uma atmosfera sinistra logo tomou conta dos arredores.
Conforme Cyrus ia recitando a magia, Hector observava atentamente, coisas estranhas iam aparecendo e desaparecendo linearmente. Primeiro sussurros ecoaram, seguidos de vultos passando diante de seus olhos. O círculo mágico brilhava em intervalos regulares e os ventos ficavam mais fortes, a ponto de quase apagar o fogo do lampião que carregava, no que parecia ser o fim, as páginas do livro começaram a ser folheadas sozinhas em uma velocidade absurdamente rápida.
— Agora, Hector! Atire o lampião no círculo para que ele pegue fogo! — Cyrus, gritou.
Embasbacado com o que estava vendo, Hector hesitou por alguns segundos, mas logo fez o que seu mestre havia mandado. Ele jogou o lampião no chão, que se quebrou logo acima do círculo, ateando fogo nele. Mas o que ele viu não eram chamas comuns, e sim chamas negras e com uma aparência que lembravam rostos de pessoas agonizando no fogo. Aquilo tudo o deixou aterrorizado.
Quando Cyrus terminou de recitar a magia, as folhas pararam de se mexer, o livro estava uma página totalmente diferente. Em poucos segundos, correntes etéreas saíram do livro e foram até o pescoço de Cyrus, o acorrentando brevemente e o marcando com uma tribal do lado direito, antes de sumirem pouco tempo depois.
— Ah… Finalmente está feito, minha hora chegou… — Disse Cyrus, suando frio.
— Mestre Cyrus! O senhor está bem?! O que foi isso tudo? Eu nunca vi nada parecido assim antes! — Hector perguntou, enquanto tremia, aterrorizado de medo.
— Não se preocupe, eu estou bem. Bem até o momento. Você viu, certo? Aquelas correntes, simbolizam a concretização da magia e da maldição que agora me assola para sempre. Eu ainda não sei qual é, mas vou acabar descobrindo com o tempo, não se preocupe, ela só afeta a mim e mais ninguém. — Cyrus explicou.
— Foi um sucesso. Vou relatar isso para os outros, por enquanto só precisamos deixar o círculo mágico aqui fazendo o trabalho dele. Com o tempo ele irá armazenar energia elemental o suficiente para que possamos transferir para o mundo espiritual. Você foi de grande ajuda Hector, só nos resta ir embora agora, só preciso fazer uma coisinha antes de partirmos. — Completou.
Cyrus pegou um pedaço de pau que estava caído no chão, e usou uma pequena lasca para criar uma tocha para que Hector encontrasse o caminho de volta de onde eles vieram e pediu para que ele fosse embora na frente. Hector com medo, concordou sem dizer nada e o deixou ali sozinho.
Parte do plano havia sido concretizado, o círculo mágico estava pronto e funcionando como eles queriam. Lentamente ele drenava a energia vital das pessoas ao redor, Cyrus sabia disso e logo foi embora o quanto antes para não ser afetado. Antes de sair, na entrada, Cyrus ergueu uma barreira mágica para impedir que outros encontrassem o lugar e de destruíssem o círculo mágico.
Enquanto caminhava de volta em direção ao início, Cyrus começou a sentir um pequeno aperto em seu coração, como se ele estivesse sendo empalado por uma espada. A maldição já estava em vigor, e dali para frente só iria piorar cada vez mais.