Trupe Elemental - Capítulo 81
Mary ainda se planejava para criar o portal que os levaria até seu destino, nesse meio tempo a curiosidade de Ryutisuji só aumentou, até que o mesmo questionou sobre este lugar para qual estaria indo, e o que havia lá.
— Ei, como é esse tal Mundo Espiritual? Digo, como se parece do outro lado? Estou um pouco receoso quanto a isso. — Perguntou Ryutisuji.
— Hum? Eu não sei, na verdade, sei um pouco. Mas você deveria mesmo perguntar para Mary ou pro John, eles com certeza sabem mais do que eu e explicam melhor. Não vai querer ouvir de um tolo como eu. — Matt respondeu.
— Bem, eu posso te dizer o que eu sei. Não é muita coisa, também não me recordo plenamente do que há lá, sei que é um lugar muito volátil que tende a mudar bastante conforme o tempo passa. — Disse John.
Logo que os outros perceberam John, Matt e Ryutisuji conversando sobre o assunto, também se aproximaram para ouvir e saber mais sobre o lugar que os aguardavam.
— O Mundo Espiritual é uma terra interminável onde não há ventos, não há nada e ao mesmo tempo há tudo. Parece confuso, mas quando chegarmos lá, talvez vocês entendam. É como se a atmosfera de lá criasse uma ilusão, e cada um enxergasse o que quer ver. Quer ver uma linda cidade, um reino em ruínas? Com certeza verá, mas pense muito nisso e acabará vagando pela eternidade. — John explicou.
— Isso parece um pouco medonho. É como se fosse um labirinto que sua própria mente criou para te distrair… E quanto aos perigos? — Ryutisuji perguntou.
— Também é relativo. A primeira e última vez que estivemos lá, não houveram muitos, apenas alguns espectros. Mas garanto que são mais fortes que os que já vimos antes, e assim como o lugar eles também causam ilusões. — Disse John.
Folheando seu livro, Mary ia escutando a conversa deles, sem dizer nada ela não parecia estar tão interessada no que John dizia a eles. Até que uma das perguntas chamou sua atenção e ela resolveu entrar na conversa também.
— Ei, e quanto às plantas? Há alguma delas? — Jesse perguntou, um pouco tímida.
— Sinto muito, isso é tudo que eu consigo me lembrar. — John respondeu.
— Eu estou ouvindo, sabia? E também sei mais que John. Se quiser ouvir mais sobre as plantas, eu posso te contar, Jesse. Só vou precisar de uma pequena ajuda sua em troca, o que você me diz? — Mary perguntou.
— É claro… Se for algo que esteja ao meu alcance! — Jesse respondeu.
— Não se preocupe, não é algo complexo, só preciso que segure meu livro enquanto eu rearranjo essas escrituras rúnicas entalhadas por aqui. — Mary explicou.
Jesse rapidamente se levantou do chão onde eles estavam sentados discutindo e logo foi ajudar Mary com a questão do portal. Logo as duas já estavam perdidas no assunto, e já mal ouviam o que os outros estavam conversando, do lado delas.
— E então, o que vamos fazer depois que dermos uma boa surra naquele velho do Philip? Claramente não acaba por aí, eu suponho. — Disse Matt.
— Não tenho certeza. Vamos com calma, sequer sabemos se vamos conseguir encontrá-lo, estamos nos baseando no que Hector havia dito. — John respondeu.
— De qualquer forma, Philip será julgado e sentenciado pelos seus atos, isso que ele está fazendo não é um crime qualquer, é um crime contra a humanidade. Não vou deixar que ele saia impune dessa vez. Os outros Arquimagos e autoridades fazem vista grossa para as coisas que ele faz, mas desta vez terão que nos ouvir, nós temos provas, a justiça sempre prevalecerá! — Disse Tay, convicto.
— É isso que me deixa irritada! Mesmo sabendo onde podem encontrá-lo e das coisas horríveis que ele fez, ninguém o prendeu até hoje! O império está ciente disso e não faz nada! É simplesmente frustrante… — Sarah comentou.
— Huh, então ele ainda é o mesmo velho excêntrico que era há anos atrás? Talvez certas pessoas nunca mudam mesmo, é uma pena. — Matt comentou.
— O que me preocupa são essas aparições repentinas do Devorador, se ele tem controle sobre eles, o que o impede de criar um exército deles, e dominar não só o império, mas o continente todo? — Tay perguntou.
— Eu suponho que ele esteja os invocando de algum lugar. Se isso for mesmo verdade, não é uma tarefa fácil de se completar. E se for o caso de vários Devoradores aparecerem em lugares diferentes ao mesmo tempo, não vamos ter chance, seremos ofuscados. Por mais que esses Devoradores sejam variantes mais fracas que o original, ainda são poderosos, vimos o poder de destruição que possuem, eles podem acabar com uma cidade inteira em questão de minutos. Nosso grupo ainda não está completo, precisamos do Leon. — Disse John.
— O Leon é? Que droga… Vai saber onde ele se meteu. — Matt respondeu.
— Eu sempre vejo vocês falarem dele, mas o que eu sei é diferente. O que nos contam é como se ele fosse um líder, perfeito e sem falhas. Mas acho que não é bem assim, vocês parecem ter uma certa rixa com ele. — Disse Sarah.
John e Matt se olharam ao ouvir o que Sarah disse, para não criar mais intrigas no grupo, John decidiu que seria melhor explicar um pouco da relação que eles tinham no passado.
— É, de certa forma. Veja bem, nós não o odiamos, muito pelo contrário, é um grande companheiro nosso, mas tivemos certa diferença de opiniões no passado, isso acabou perturbando um pouco da nossa relação. Dito isso, eu gostaria muito de encontrá-lo novamente para podermos conversar direito. — Disse John.
— Isso mesmo, e também para matá-lo! — Uma voz sussurrou próximo de John.
John se virou para trás assustado, procurando pela voz que tinha dito aquilo, mas não havia ninguém. Os outros ao verem aquilo e sem entenderem nada, estranharam e perguntaram se estava tudo bem. Tay, logo o perguntou o que foi aquilo, como se ele tivesse sentido alguém atrás dele, o observando de longe. Mas logo John negou tudo que eles o disseram, e que estava tudo bem. Foi apenas coisa de sua cabeça. E que eles não precisavam se preocupar com nada.
— Hã? O que foi, John? Até parece que você viu um fantasma, hahaha! Desculpe, não consegui me segurar. — Matt comentou.
— Não… Não foi nada. Eu apenas mergulhei em meus pensamentos e acabei me assustando com coisas irreais, me desculpem. — John respondeu.
— É… Foi um pouco repentino? Haha, é um pouco bizarro você se assustar consigo mesmo, John. — Disse Ryutisuji.
A conversa fluía como a água de um rio calmo, os minutos se passavam. Mary finalmente havia terminado as preparações para abrir o caminho até o Mundo Espiritual, ela está pronta para começar.
— A ligação está terminada! Agora só preciso recitar o feitiço para que o portal se abra, preciso que vocês se afastem um pouco e não se assustem. Também vou pedir que não contem para ninguém o que irão ver a partir de agora. Absolutamente ninguém, isso fica entre a gente, por gentileza. — Mary explicou.
Assim como Mary ordenou, o restante se afastou dela. Um grande círculo mágico se fez sob seus pés, e ela começou a recitar o feitiço. Erguendo suas mãos para cima, Mary começou a falar em uma língua estranha, incompreensível para os outros, e logo as escrituras rúnicas entalhadas nas ruínas começaram a brilhar e responder ao seu chamado, transmitindo seu poder para ela.
O céu claro, escureceu e nuvens negras se formaram ao redor da clareira, ventos fortes começaram a soprar. O restante do grupo observava tudo aquilo acontecer diante de seus olhos, algo que nunca tinham visto antes. O arco no centro das ruínas foi tomado por pequenos raios que conduziam energia elemental e começavam a formar uma ruptura no tempo, se expandindo conforme os minutos se passavam. O livro de Mary era rapidamente folheado de um lado para o outro por conta dos ventos fortes, e dele, mais escrituras rúnicas eram transmitidas pelo ar por todo o lugar.
A ruptura no arco foi se expandindo e ficando mais intensa conforme Mary recitava o feitiço, até que eclodiu e uma emitiu uma grande rajada de vento ao redor. O portal para o Mundo Espiritual foi aberto. Algo tão místico e irreal que todos ficaram sem palavras para descrever o que estava acontecendo ali.
— Está pronto. Essa é a nossa passagem. Não podemos perder tempo aqui, o portal não ficará aberto por muito tempo. Se vocês tem algo para fazer aqui, que seja agora e o quanto antes. Esse ato sugou praticamente toda energia elemental do lugar. O portal vai começar a se desestabilizar daqui alguns minutos. — Mary explicou.
— Certo! Vamos lá, pessoal! Sem perder tempo. — Disse Tay, os encorajando.
— É um passo totalmente novo para nós. Eu não sei o que nos aguarda depois daquele portal. Quem sabe? Mas precisamos fazer isso, precisamos impedir Philip de recriar aquele terrível evento de cinco anos atrás. Ninguém além de nós pode fazer isso. Eu conto com vocês! — Tay comentou.
— Pode deixar, capitão. Não vamos desistir! — Ryutisuji respondeu.
— Sim! Vamos até o fim, vocês me ajudaram antes. Tem minha palavra que irei retribuir o favor agora. — Disse John.
Mary observava Tay confortando e encorajando os outros, expressando um pequeno sorriso. Matt viu naquilo a oportunidade perfeita para fazer uma piada, mas ao invés disso, ele também sentiu um pequeno aperto em seu peito e compartilhava do mesmo sentimento que ela sentia ao ver aquilo.
— Hmph. É até um pouco nostálgico ver isso. É como os velhos tempos. — Mary sussurrou.
— Você tem razão. Ele é como o Leon, um bom líder, eu gosto dele. É tão legal os ver assim reunidos, sabe, como a gente fazia… É reconfortante. — Disse Matt para ela.
Sem mais espera, eles recolheram seus equipamentos e ficaram de frente para o portal, prontos para pular direto ao desconhecido. Foram um por um, ficando para trás somente John, Matt e Mary para garantir que o portal não se fechasse e que nada os atrapalhasse.
Logo depois, Matt e John também entraram, restando apenas Mary. Quando estava prestes a cruzar o portal, ela olhou para trás e de longe, no meio dos arbustos viu aquela figura que havia se encontrado com ela antes, a máscara do corvo. Mas não se importou e deu as costas, segundos depois o portal se desestabilizou e fechou, e a misteriosa figura desapareceu ao vento.