Trupe Elemental - Capítulo 73
— Eu ainda não estou convencida de você. Como eu disse, é muito conveniente que tenha aparecido justo quando John e os outros haviam chegado na cidade, e logo em seguida tudo aquilo que aconteceu. — Disse Mary.
— E novamente agora, você está aqui diante de mim, logo após eu ter conseguido me livrar da Tuneladora, a qual estive na perseguição por anos. — Completou.
— É verdade, você tem toda razão Mary. É uma ótima coincidência, eu admito, porém ainda tenho minha palavra de que não tenho nada a ver com esses eventos, e como havia dito anteriormente, estou apenas observando de longe. Cabe a você acreditar ou não no que eu digo. — Ela respondeu.
— E mesmo assim, digamos que eu tenha sido o catalisador, o que te faz pensar que realmente tudo isso, é de alguma forma, obra minha? Ao menos chegou a considerar que pode haver uma terceira figura por trás disso tudo? — Perguntou.
— E se houver, o que você acha que ela quer ganhar com isso? Matar vocês? Tempo? Ou quem sabe até mesmo… alterar o destino? — A pessoa disse.
Diante da pessoa, Mary conjura um círculo mágico de sua mão e o aponta em sua direção, ela recita uma magia, enquanto a pessoa apenas a observa sem questionar. Ao fim, já esperando este resultado, Mary fica menos aflita. Com sua magia ela tentou encontrar segundas intenções por trás das palavras daquela pessoa, ou alguma informação relevante, porém foi tudo em vão, sua magia não conseguiu encontrar nada sobre ele, estava tudo em branco.
— Você mesmo disse que o destino está selado desde o começo, então como ele poderia ser de alguma forma mudado? — Mary perguntou.
— Sim, de fato eu disse. Mas são infinitas as rotas que moldam o mesmo destino, e por essa vez, suas rotas podem ter sido alteradas por estes, eventos infortúnios que aconteceram. Você pode ser apenas um peão. — Ela respondeu.
— Eu não sou um peão. Eu faço o meu destino. — Disse Mary, convicta.
A pessoa se levanta de onde estava sentado, dizendo que seu tempo ali havia acabado, mas antes de partir ela diz uma última coisa para Mary.
— Espero que possamos nos encontrar novamente, Mary. Em uma situação melhor, eu suponho. Mas irei te dizer algo que talvez lhe interesse. — Ela disse.
— Ao invés de continuar com essa sua obsessão, você deveria voltar agora se não quiser que John e Matt tenham o mesmo fim que você lhes deu há cinco anos atrás, isso é tudo. Adeus, Rosemary. — Completou, desaparecendo com as folhas ao vento.
— O quê?! Como é que ele… — Mary sussurrou.
Com aquilo que a pessoa havia dito, uma faísca que havia se apagado, novamente se acendeu no coração de Mary, dominada pela incerteza e preocupada com o que aquilo significava, ela desistiu do que estava atrás e saiu correndo para tentar encontrar John e Matt que estavam em algum lugar daquela selva.
Do outro lado da selva, John corria seguindo a voz de Matt que havia ouvido, ele pulava por cima dos espinhos e se esgueirava entre as plantas e árvores para chegar onde queria, cada vez mais próximo de onde a voz vinha, John passou a sentir um odor muito diferente. Ele ia ficando cada vez mais forte e ruim conforme John se aproximava. De longe, entre o matagal, ele conseguiu ver uma pequena luz radiante no chão. Ao chegar no local, John se deparou com um cenário estranho.
Uma clareira minúscula repleta de flores das mais várias cores possíveis, e no centro delas, uma enorme flor avermelhada, logo a sua frente, estava uma pilha de galhos e pequenas toras jogadas no chão próximas de uma tocha se apagando, sem falar do enorme odor fétido que circulava na atmosfera do lugar. E o que mais havia chamado sua atenção, Matt pendurado de ponta cabeça por vinhas em uma enorme árvore. Estupefato e sem palavras para o que estava vendo, ele se aproximou de Matt e perguntou o que era tudo aquilo que ele estava vendo.
— Hum, Matt? Poderia me dizer o que aconteceu aqui? — John perguntou.
— Ah, qual é, John! Anda logo com isso e me tira daqui, não estou aguentando mais esse fedor! Algum idiota largou essa armadilha ativada! — Matt respondeu.
— O mais idiota é quem conseguiu cair nela, Matt. — John comentou.
John deixou sua tocha próxima a de Matt e com pouco esforço, subiu na árvore em que Matt estava preso pelas vinhas, e com auxílio de uma pequena adaga que tinha, ele as cortou, libertando Matt que por sua vez caiu com toda força no chão. John também percebeu que ao cortar as vinhas, elas expeliram um certo líquido verde, e se contorceram um pouco, porém não ligou muito e apenas desceu da árvore para terminar de falar com Matt.
O odor estava tão forte que eles tinham que conversar entre si tampando suas bocas, para não inalar muito, já que não sabiam exatamente o que poderia ser aquilo.
— Por que você foi tão longe só para conseguir alguns pedaços de madeira, Matt? Não poderia ter pego alguns ali mesmo, perto do acampamento? — John perguntou.
— Você é burro? Não dá para fazer fogo com madeira úmida, e aqui foi o único lugar que consegui achar esses galhos secos. Eu já teria voltado há muito tempo se não fosse por esse pequeno imprevisto que aconteceu, seu idiota. — Explicou Matt.
— Dá pra gente ir embora de uma vez? A porcaria das tochas já estão se apagando, e é impossível continuar aqui com esse cheiro! — Completou.
Distraídos discutindo entre si, John e Matt percebem um barulho vindo de trás deles, mais precisamente entre as flores que rodeiam a clareira. Eles se viram lentamente e tentam encontrar a fonte, mas está complicado devido ao escuro absoluto que se encontram, pois a luz das tochas se extinguiram. Matt cogita acender uma pequena chama de sua mão, mas logo foi impedido por John, alegando que poderiam ser emboscados por causa da luz, que isso revelaria sua posição caso fosse um inimigo.
— Idiota… você ouviu isso? O que a gente faz? — Matt sussurrou.
— Espera, eu estou tentando achar o que causou esse barulho… — John respondeu.
— Hã? Até parece! Não dá para ver nada nesse breu, vamos embora, John! Não podemos mais continuar aqui! — Disse Matt, sussurrando.
Os barulhos aumentaram, e dessa vez não era só de um único lugar, mas ao redor deles, pareciam inúmeras coisas andando entre os arbustos. Sem saber o que os rodeava, John não teve escolha e pediu para que Matt acendesse uma pequena chama para que eles pudessem ver o que estava acontecendo, mesmo que isso significasse ser encontrado pela fonte do barulho.
Quando Matt o fez, erguendo a chama de sua mão para clarear ainda mais o local, eles viram o que menos queriam. Diante deles, uma criatura nefasta com inúmeras videiras saindo de suas costas, folhas afiadas como uma lâmina e perfurantes como uma lança, a fonte do barulho e do terrível odor, todos originaram daquela criatura, terrivelmente bela, com uma flor gigante em sua cabeça, ela os encarou antes de soltar um enorme rugido que acordou as demais flores em volta dela.
— Ah, cara, só pode ser brincadeira… — Disse Matt, incrédulo.
— Seu idiota, o que está fazendo?! Vamos correr, AGORA! — Gritou John.
Eles imediatamente saíram correndo, mas ao olhar de relance para trás, viram que a criatura havia se desprendido do chão e estava os perseguindo implacavelmente. Enquanto corriam, John se lembrou do trecho que havia lido na enciclopédia de monstros, era exatamente como dito no livro. Não restavam dúvidas, aquilo era nada menos que um Rafflesia. Em um lugar como as Selvas Ardilosas, as chances de vencê-lo eram praticamente nulas, John pensou.
— Mas que droga…! Temos que avisar os outros sobre isso! Só faça o que eu mandar, entendeu Matt?! — Dizia John, enquanto corriam.
— É claro que sim! Mas tem certeza que a melhor solução é nos encontrar com o resto deles agora? Tipo… vamos levar o leão até a toca, John! — Matt respondeu.
— Não tem jeito! Nós dois não iremos conseguir vencer! Precisamos da ajuda dos outros, preciso que você os sinalize daqui! — Disse John.
Desesperados com o Rafflesia bem atrás deles, só haviam duas opções, tentar lutar contra ele ou levá-lo até o restante do grupo para que lutassem juntos. John instruiu que Matt disparasse para cima uma flecha flamejante para que pudesse servir de sinalizador para o restante do grupo que os aguardava no acampamento. Sem pensar duas vezes, Matt fez exatamente o que lhe foi dito, disparando uma flecha para o céu, que explodiu em chamas, iluminando boa parte da selva, eles torceram para que os outros tivessem conseguido ver e pudessem vir até eles.
Olhando para trás enquanto corriam pelas entranhas da selva, Matt ficou abismado com a forma que o Rafflesia andava. As enormes folhas e vinhas em seus “pés” se locomoviam de uma forma grotesca. Era inacreditável como uma criatura como aquela conseguia sequer andar daquela forma. Matt teve uma ideia, para tentar atrasá-la, ele começou a disparar flechas flamejantes em sua direção, na esperança que ele tivesse medo do fogo. Algumas delas até chegaram a atingi-lo e queimá-lo, porém as demais flores que andavam com ele, rapidamente o curavam. Enquanto outras flores disparavam venenos de volta.
— Mas que merda! Aquelas flores são curandeiras! — Disse Matt.
— Pare já com isso e continue a correr, não podemos lutar contra ele aqui! Se formos atingidos pelo veneno estamos acabados! — John respondeu.