Trupe Elemental - Capítulo 72
Deixando o acampamento, John é parado por Tay, que lhe oferece algo antes de ir.
— John, espere. Leve isto consigo, não vai querer ficar andando no escuro por esse lugar. — Disse Tay, o entregando uma tocha.
— É verdade, obrigado por me lembrar, eu tinha me esquecido. — Respondeu.
Novamente antes de sair, ele é interrompido, mas desta vez por Sarah que estava querendo ter uma breve conversa.
— Você tem um minuto? — Sarah perguntou.
— Seja breve, precisamos achar Matt o quanto antes. — John respondeu.
— Não tive tempo de perguntar, as coisas têm sido tão rápidas, mas como você tem estado, sinto que há algo de errado. E quanto ao… Sylas? — Sarah perguntou.
— Está tudo bem, não se preocupe. O Sylas, ele não tem falado muito ultimamente, mas não tem problema, as vezes ele fica quieto desse jeito mesmo. — Disse John.
Sem muito o que dizer, Sarah deixa John ir embora na procura de Matt, ela fica o observando até que ele e o brilho de sua tocha desapareça na densa escuridão da selva à noite. Ela torcia para que eles voltassem juntos, o quanto antes.
Caminhando pela floresta naquela noite escura, apenas com o pouco brilho emitido de sua tocha, John procurava incansavelmente por Matt, ele também não podia fazer muitos barulhos, não se sabia o que podia estar a espreita entre o matagal, isso de certa forma dificultava a busca. Após andar bastante, já longe do acampamento, John percebeu uma pequena luz, ainda fraca, vindo dentre as vinhas das exuberantes árvores que estavam obstruindo sua visão. Ao se aproximar, ele chegou até uma pessoa que também parecia estar acampando ali.
— Matt…? — Ele disse com um pouco de receio.
— Olá! Acho que essa é a primeira vez que nos encontramos. — A pessoa disse.
De costas para John, ela ia dizendo enquanto mexia no fogo com um pequeno galho de árvore. John estava confuso e ao mesmo tempo cauteloso. Ele pensou, como poderia uma pessoa como aquela, vestida daquela forma, estar acampando em um lugar tão hostil e inóspito como aquele.
— Quem é você? E por que está em um lugar como este? — John perguntou.
— Ah, não se importe comigo, estou apenas passando a noite aqui. — Ela respondeu.
Vestindo um terno, chapéu e máscara incomuns ela se levantou e se virou de frente para ele. Quando John viu aquela máscara, presa ao rosto daquela pessoa, era como se um flash de lembranças tivesse passado diante de seus olhos, e mesmo que breve, foi o suficiente para que ele se lembrasse de algo e se irritasse de imediato.
— Como conseguiu essa máscara?! ONDE! — Disse John, revolto.
— Ei, isso soou um pouco rude. Não seria uma das primeiras coisas que eu perguntaria para alguém que acabei de conhecer. Vamos fazer assim, que tal começarmos pelos nossos nomes, John? — Ela respondeu.
De certa forma assustado de como aquela pessoa sabia seu nome, John a encarava sem saber o que dizer. Na calada da noite, antes achando que naquele lugar só havia seu grupo presente, agora também se fazia presente alguém que ele não conhece, porém, ela também não disse nada para debatê-lo. Apenas também permanecia parada o encarando, com as chamas atrás de si, aumentando cada vez mais, ao ponto de iluminar a área ao redor deles por completo.
— O quê? Como você sabe o meu nome…? Eu nunca te vi antes! — John perguntou.
— Hum? Mas eu não sei, aquilo foi apenas… um palpite. — A pessoa respondeu.
— Ha! Não se faça de sonso, você não parece alguém ordinário para mim, só o fato de estar aqui de noite, já levanta muitas dúvidas sobre você. — Disse John.
John passou a tocha para sua outra mão, e de imediato sacou sua espada, a apontando para aquela pessoa e exigindo que ela lhe desse as respostas que queria.
— Pode começar me dizendo onde arranjou essa máscara de corvo! — Disse John.
— Oh, vamos, a última coisa que pretendo fazer é lutar. Sendo sincero, prefiro ter uma conversa amigável e que dê frutos. — Ela respondeu.
— Aliás, eu ainda não te disse o meu nome. Bem, é porque não tenho um, haha. Irônico, não acha? Eu sugeri que começasse por nossos nomes, mesmo sabendo deste pequeno problema, me desculpe. — Ela disse.
Para John, toda aquela conversa já não estava mais fazendo sentido. Aquele ser parecia dizer coisas que não tinham ligação, mas ao mesmo tempo, em sua essência queriam lhe dizer algo importante, ele só não sabia o que era de fato.
— Não me interessa qual é o seu nome, só quero que me responda. — Disse John.
— Bem, você me pegou. Se quiser, eu posso te dizer onde encontrei este, adorno para meu rosto, mas acho que você tem algo mais importante para fazer neste momento, estou certo? — Ela perguntou.
Segundos depois, eles ouviram de longe uma voz pedindo por socorro. John a reconheceu de imediato, ele sabia que era Matt. Um pouco chateado e furioso ele ficou, sabendo que infelizmente não iria conseguir retirar nenhuma informação valiosa daquela misteriosa figura que acabou conhecendo por acidente. A deixando sozinha, ele correu em direção a voz de Matt. Enquanto isso, ela o observava correr para salvar seu companheiro, expressando um sorriso no rosto, ela ficou.
— Talvez o equilíbrio do mundo esteja para mudar um pouco… Hmph, isso pode vir a ser um problema. — Ela sussurrou.
Segurando em suas mãos uma orbe que mostrava a imagem de uma pessoa ao lado de um corpo totalmente retalhado, ela riu, para em seguida desaparecer nas sombras.
Muito longe de onde John estava, do outro lado das Selvas Ardilosas, Mary e a Tuneladora tiveram seu embate final. No fim das contas, aquela terrível criatura não teve nenhuma chance contra Mary, assim como haviam dito. Em um lugar relativamente aberto, ela pôde demonstrar de fato sua real força, acabando com ela em questão de segundos. A Tuneladora, teve seu corpo completamente devastado pelas magias de Mary, não sobrou quase nada.
Do corpo da Tuneladora, Mary conseguiu recuperar o que tanto queria, um tomo mágico, que estava sendo segurado pelo pedaço de uma mão que outrora pertenceu a alguém que ela conheceu. Agora, ela possuía ambos os tomos mágicos que tanto esteve procurando por anos. Mas Mary não parecia contente por isso, pelo contrário, ela sentia uma certa culpa por ter conseguido eles daquela forma.
— Eu consegui… eu finalmente consegui! Você está vendo?! Eu te disse que iria consegui-los de volta, hahaha! — Mary dizia, olhando para o céu estrelado.
— Estão um pouco sujos, mas sua escrita ainda está legível! Ainda é possível recitar os feitiços…! Eu vou conseguir cumprir nossa promessa! — Ela disse.
— Quanto ao John e Matt…? Eles vão entender, eu espero… — Completou.
Enquanto folheava os livros, Mary já havia percebido que alguém estava observando ela, porém se manteve calada até que o indivíduo se aproximasse ainda mais. Foi quando resolveu agir.
— Não há sentido em continuar escondido. — Disse Mary.
Saindo de trás dos arbustos, a mesma pessoa que havia se encontrado com John horas antes, e anteriormente em Trópico de Kraken com Mary, havia retornado para falar com ela. Mary sentiu que havia algo diferente, talvez tudo aquilo havia sido cogitado por ela, ou que, ela tivesse sido de certa forma, influenciada a fazer aquilo.
— Olá Mary, nos encontramos novamente, que maravilha do destino! — Ela disse.
— Você…! Primeiro lá na cidade, e agora aqui, sempre aparecendo nos momentos mais “inesperados” eu diria. Deixa eu te perguntar uma coisa, tudo isso é planejado ou apenas uma coincidência muito ruim do destino? — Mary perguntou.
— Não há nada de ruim no destino, Mary. Até porque, ele já foi selado no momento em que começou. — Ela respondeu.
A misteriosa pessoa se sentou em uma pequena pedra, de frente para Mary. E ali ficou a observando, sem dizer nada. Até que Mary tomou a iniciativa de dizer algo.
— Afinal, quem é você? Eu poderia ter acabado contigo na primeira vez que te nos encontramos, também como posso aqui e agora. Mas algo está me dizendo que não deveria. O que poderia ser, eu me pergunto… — Disse Mary.
— Não tenho dúvidas que consiga. Mas voltando a sua pergunta, acreditaria em mim se eu te dissesse que uma pessoa também me fez a mesma pergunta algumas horas atrás? Infelizmente, eu não tive a chance de respondê-la, mas talvez eu possa para você. — Ela respondeu.
— Eu não tenho um nome, mas gosto bastante de observar as ações e destinos das pessoas. Acho que eu me consideraria um espectador, ou talvez, um observador. — A pessoa explicou.
Ela se levantou de onde estava sentada e observando aquela cena, Mary no chão lendo os tomos mágicos, ao lado do que havia restado da Tuneladora. Um cenário grotesco e ao mesmo tempo, único, de certa forma. Ela começou a caminhar em círculos e questionou Mary sobre o que ela havia feito.
— Diga Mary, esse esforço todo… valeu a pena? Trair seus amigos… não, negligenciá-los é a melhor forma de dizer. — Ela perguntou.
— Eu tinha que fazer isso. Foi necessário, eles vão entender! — Mary respondeu, furiosa.
— Bem, eu não vim aqui para julgá-la, e muito menos sei a importância destes tomos, porém admito que suas ações no últimos dias despertaram minha curiosidade. Você priorizou estes bens do que seus companheiros de longa data, deve ser algo deveras interessante, eu suponho… — A pessoa disse, rindo.
Naquele momento Mary percebeu uma coisa, mas ainda não estava certa da mesma. Seria o início de uma longa conversa, ou talvez, mais um combate.