Trupe Elemental - Capítulo 68
Caminhando pelos extensos túneis do despenhadeiro, o grupo segue adiante no caminho para o outro lado do lugar. Apesar de estar de dia, os túneis ficam tão abaixo da terra que a luz do Sol é quase nula lá. Eles também precisam tomar cuidado por onde pisam, pois os caminhos são cheios de pedregulhos e partes frágeis. Um passo em falso e você acabará no abismo profundo para sempre.
— Ei. O que há no final desses abismos à nossa volta? — Matt perguntou.
— Eu não sei. Quer descobrir? Será a primeira pessoa. — Mary respondeu.
— Haha, você é muito engraçada. E eu aqui pensando que alguém já havia descido neles para ver o que tem no fundo, mas pelo visto não…. — Disse Matt.
— Certo, estou falando sério agora. Não há nada além de pedras e talvez alguns veios de minérios nos fundos deles. A questão é que não vale a pena ficar descendo por eles, é mais conveniente fazer túneis direto para baixo do que se pendurar em uma corda e ir descendo pelo abismo, e também não é tão seguro. — Mary explicou.
— Mas então, se o despenhadeiro é um lugar tão importante para a economia da cidade, por que ninguém veio resolver essa questão dos monstros ainda? Não deve ser algo tão complicado para um grupo de aventureiros. — Tay perguntou.
— O problema é que… — Disse Mary, antes de ser interrompida.
Antes que Mary pudesse completar sua fala, ela foi interrompida por Ryutisuji que correu um pouco à frente do grupo e apontou para um lugar que parecia ser iluminado por raios solares naquela vasta escuridão em que se encontravam.
— Eu consigo ver uma luz logo à frente, talvez seja uma brecha onde o Sol conseguiu passar! Vamos dar uma olhada! — Disse Ryutisuji.
Chegando no local, de fato era uma pequena área em que o Sol conseguia iluminar, por mais pouco que fosse. Também era possível avistar um pequeno pedaço das Selvas Ardilosas, algumas vinhas e raízes de árvores que cresceram até o nível dos túneis do despenhadeiro. Mas ainda sim, não era o destino final do grupo.
— Ah! Eu estava certo, nós não passamos tanto tempo aqui embaixo, mas sinto como se fosse uma eternidade, já estava sentindo saudades dos raios solares batendo em minha cabeça. — Disse Ryutisuji.
— Fique tempo demais na escuridão e você acabará se tornando ela. — Disse John.
— Hã? Que merda é essa, John? O que isso significa afinal?! — Disse Matt, confuso.
— Ok, ok, sem mais metáforas estranhas e conversa fiada. Andando! Precisamos chegar do outro lado até o anoitecer. — Disse Mary, os colocando para andar.
Uma breve pausa de alguns segundos, e eles já estavam de volta a caminhar pelos túneis, até que um evento os fez parar novamente, mas desta vez todos ficaram em alerta com os arredores.
— Vocês também…? — Disse Tay.
— Sim, acho que todos nós ouvimos esse barulho. — Sarah respondeu.
Um grito, de uma criatura misteriosa ecoou pelos túneis. Como se ela soubesse que havia alguém caminhando por seu território, uma provocação ao grupo. Eles sacaram suas armas, mas nada nem ninguém apareceu. Mesmo assim, a cautela deles, que já era grande, só aumentou ainda mais após este evento.
— Eu temo que sejam os monstros que são atraídos pelos minérios que eu citei anteriormente, fiquem atentos. — Disse Mary.
— Isso é estranho, não há nenhum minério diferente por perto. Só consigo ver alguns veios de ferro e cobre. Será que ele sentiu nossa presença? Mas ele também não deu as caras… talvez não queira lutar. — Matt comentou.
— Pode ser ou não. Nós podemos estar dentro do seu ninho e nem sabemos. O minério que eu citei, esse que atrai os monstros, é uma pedra que lembra muito um cristal avermelhado brilhante, saberemos na hora se virmos um. — Mary respondeu.
Enquanto conversavam, mais gritos ecoaram pelos túneis, desta vez vários ao mesmo tempo. Não era apenas um monstro, porém inúmeros deles indo na direção do grupo. Ao perceberem eles imediatamente agiram.
— Corram, AGORA! Eles estão vindo! — Gritou Mary.
— Não podemos lutar aqui, se não os túneis irão desabar! Precisamos achar um lugar aberto o quanto antes! Não olhem para trás e continuem correndo! — Completou.
Alguns pedregulhos caíam enquanto eles corriam pelos túneis, devido ao fato dos monstros que estavam atrás deles criarem uma intensidade sísmica no ambiente enquanto se locomoviam. Eles precisavam desviar dos destroços enquanto corriam por caminhos traiçoeiros feitos pelos antigos trabalhadores do despenhadeiro.
— Mas que droga! Por que toda vez que eu saio junto com vocês, acaba sempre em alguma furada?! — Matt perguntou enquanto corria.
— É porque você é um imã de problemas, Matt. — John respondeu.
Mais a frente, na correria, um monstro surgiu diante do grupo. Uma espécie de minhoca gigante com inúmeras fileiras de dentes afiados em sua boca, ela emitia o mesmo grito que eles ouviram antes, porém mais fino. John rapidamente passou por todos do grupo em questão de segundos como uma rajada de vento, e avançou contra a criatura, cortando sua cabeça antes que pudessem ver.
Quando a cabeça do monstro caiu, os tremores pararam quase que instantâneamente, ninguém entendeu ao certo o que havia acontecido, mas parece que eles tinham conseguido um tempo para respirar brevemente.
— Euh. Que coisa mais nojenta é essa? Está respingando essa gosma verde para todos os lados! — Disse Matt olhando para o monstro morto.
— É um verme da areia… eles costumam vagar no deserto em busca de comida e presas fáceis, um monstro ordinário da região. Mas isso não é bom… — Disse Mary.
— O que você quer dizer com “não é bom”? — Tay perguntou.
— Normalmente, eles não costumam ser encontrados em torno do despenhadeiro, na verdade eles sempre mantiveram distância de lugares com atividade humana, eles só aparecem quando há algo que os atraem. — Mary explicou.
— O minério que atrai monstros! — Tay respondeu.
— Isso mesmo. Eles devem ter sido afetados e por isso invadiram o despenhadeiro no momento em que as pessoas foram embora. Deve haver mais deles por aí, não baixem a guarda, eles podem parecer fracos, mas seu veneno pode ser letal. Evitem ser atingidos a todo o custo. — Disse Mary.
— Eu tenho alguns antídotos comigo na minha bolsa, se for o caso de precisarmos, são bastante efetivos contra esse tipo de veneno! — Jesse comentou.
— Uhum, eu espero que sejam. — Mary respondeu.
As coisas pareciam ter se acalmado, assim eles retomaram sua caminhada. No final do túnel, eles chegaram em um lugar com vários pontos pequenos iluminados pelo Sol, mas ainda não haviam chegado de volta à superfície. Logo à frente estava uma grande subida que os levaria ao destino final, mas logo Mary sentiu que havia algo errado com o lugar. Uma presença maligna espreitava as sombras.
— Esperem! Tem alguma coisa nos observando de algum lugar! — Mary sussurrou.
— Huh… eu também senti algo parecido agora que você mencionou. — Disse Tay.
Os tremores que eles sentiram anteriormente, começaram a surgir novamente e cada vez maiores conforme os segundos se passavam, de todos os lados, começaram a brotar do chão vários vermes da areia, rapidamente cercando o grupo.
Na frente deles, rachaduras começaram a aparecer no solo, o chão foi se abrindo aos poucos e diante deles um monstro enorme apareceu, um verme da areia gigante de três cabeças com uma aura assassina que todos puderam sentir na hora.
O grupo se preparava para mais um embate, porém Mary pareceu estar ignorando o que estava acontecendo a sua volta, ela parecia obcecada com aquela criatura enorme a sua frente, seus olhos brilharam ao vê-la.
— Mary! O que você tá fazendo?! — John gritou ao ver Mary caminhando em direção ao gigantesco monstro a frente.
— Acorda, John! Temos outros problemas para cuidar aqui atrás! Me ajude a acabar com esses desgraçados logo! — Disse Matt, pedindo assistência com o restante dos vermes da areia que os cercavam.
O grande verme da areia gritou novamente, porém desta vez seu grito estava imbuído com magia, a qual ele a concedeu para os demais vermes ao seu redor. Eles ficaram ainda mais agressivos e rápidos, o grupo lutava bravamente tentando matá-los o quanto antes, enquanto Mary e aquele grande monstro se encaravam. Mary estendeu seus braços para cima, criando círculos mágicos em suas mãos.
— A Tuneladora! Finalmente te encontrei, maldita! — Disse Mary, com um olhar amedrontador e sorrindo, olhando para aquela criatura gigantesca à sua frente.