Trupe Elemental - Capítulo 63
Após caminharem de volta, John, Ryutisuji e Matt retornam para o alojamento preparado pelo governador, onde o restante do grupo estava. Já era tarde da noite, então eles precisavam manter silêncio enquanto se dirigiam para seus quartos.
— Hum, parece que todos já estão dormindo. Bem, o seu quarto fica na primeira porta virando a esquerda. — Explicou Matt.
— E quanto a vocês dois? — John perguntou.
— Ah… sobre isso, nós acabamos dividindo um quarto, não entenda errado! Foi necessário, ugh. Err… a gente se fala amanhã está bem? — Matt respondeu.
Parado em frente a porta de seu quarto, John chama de volta por Ryutisuji e Matt que já estavam prestes a fechar a porta de seus respectivos quartos quando ouviram John chamar por eles.
— Esperem, vocês dois! — Disse John.
— Hã? O que foi agora? Dá para ser rápido com isso? — Matt perguntou.
John abaixou sua cabeça por um breve momento, mas logo em seguida voltou a olhar para eles e os respondeu.
— Obrigado… por me ajudarem lá trás, talvez eu não teria conseguido escapar daquilo sem vocês. — John respondeu.
— Ha! Que nada, somos todos companheiros aqui, certo? É claro que pode contar comigo para essas coisas! Agora, descanse um pouco, vai ser um dia agitado amanhã, parceiro. — Disse Matt, acenando de volta.
Entrando no quarto, John contempla o ambiente por alguns segundos, pensativo.
— É melhor do que eu estava esperando. Pelo menos tenho um teto sobre minha cabeça para dormir por hoje. — John pensou consigo.
Ao deixar suas coisas de lado para dormir, Sylas aparece brevemente para John.
— E então? O que foi tudo aquilo lá trás? Você me deve uma boa explicação senhor John! E é melhor que não desvie de assunto desta vez! — Disse Sylas.
— Sylas! Você sempre aparece nas piores horas, o que você quer desta vez? Eu já estava quase indo dormir. — Disse John.
— Já virou um hábito meu. Enfim, o que deu em você? Está tendo alucinações? Lutando contra o nada, na minha visão você estava apenas falando sozinho balançando essa sua arma para lá e pra cá. — Sylas respondeu.
John sentou-se na cama, sentindo uma leve dor de cabeça, ele tenta explicar para Sylas resumidamente o que havia acontecido com ele horas atrás, quando aparentemente havia enlouquecido, achando que havia alguém além dele no lugar.
— Hum, é bem isso. Ryutisuji e Matt também disseram a mesma coisa. Aparentemente, somente eu vi realmente o que estava acontecendo. Não importa mais, já aconteceu. — Disse John.
— Então quer que você estava “lutando” contra algo que ninguém além de você mesmo podia enxergar? Um pouco intrigante, mas eu acredito em ti. Aliás, eu creio já ter visto algo parecido no passado. — Sylas respondeu.
— Algo parecido? O que quer dizer com isso, exatamente? — John perguntou.
Sylas riu de John, tentando o provocar por sua ignorância, e logo começou a contar para ele sobre o que sabia.
— Alguma vez já ouviu falar da história do “Metamorfo”? — Sylas perguntou.
— Nunca ouvi falar. — John respondeu.
— Bem, eu não te culpo, não creio que seja uma história do seu tempo, na verdade, ela é bem antiga até. E também a versão completa dela é bastante extensa, então vou tentar resumi-la sem perder os detalhes importantes e a mensagem que quero te passar sobre ela. Então continue sentado e me escute! — Disse Sylas.
— Basicamente é sobre um homem que vivia em uma vila de camponeses e fazendeiros, todos gostavam e sabiam quem ele era. Durante o dia, ele trabalhava em uma pequena loja, vendendo carnes e outras peças de animais, mas quando a noite caia, ele se transformava em outra pessoa, completamente diferente de quem ele realmente era. — Sylas explicou.
— Na calada da noite, ele matava as pessoas da vila em segredo. Quando começaram a desconfiar que o número de mortes estava aumentando na vila, logo desconfiaram dele e em seguida descobriram seu segredo. Ele foi sentenciado para morrer, mas antes que pudesse ser morto, alguns “médicos” que passavam pela vila o “compraram” das autoridades locais, ao ficarem sabendo o que ele havia feito. Eles o prenderam em um lugar e passaram anos estudando sua mente, no fim concluíram que ele possuía algo que chamam de dupla personalidade. As pessoas da sua antiga vila passaram a chamar ele por esse nome, por conta de sua capacidade de mudar drasticamente, assim como monstros que mudam suas formas. — Sylas completou.
— Hã? O que toda essa história tem a ver comigo? Eu não tenho dupla personalidade! O que aconteceu comigo hoje, é totalmente diferente! Eu estou completamente ciente das minhas ações! — Disse John.
— Eu não disse que você tinha, na verdade eu não sei. Quem sabe? Mas ainda sim é um bom paralelo, não acha? — Sylas respondeu.
— Isso é uma tremenda besteira! Não sei ainda porque fui dar ouvidos a você, francamente. Vou até dormir depois dessa. — Disse John, com um pouco de raiva.
— Uhum, tudo bem. Nós falamos outra hora então, boa noite. — Sylas respondeu.
Depois da longa conversa com Sylas, John acabou ficando um pouco enfurecido com o que ele havia dito. Mesmo sabendo que era um bom conto, John ainda não acredita que aquilo de fato poderia ser a mesma coisa que estava acontecendo com ele. Cansado de tentar achar uma resposta para si mesmo, John se deitou em sua cama para finalmente descansar, depois de tudo que havia passado naquela noite.
Finalmente um momento de paz, preciso descansar um pouco para o dia de amanhã, estaremos partindo para o próximo ponto de nossa jornada, logo logo. Mas logo quando me dei conta, estava novamente naquele lugar, um campo repleto de flores, onde não é possível ver o fim, nada além do horizonte infinito, cercado por uma luz ofuscante vindo de todas direções, ao mesmo tempo que é aconchegante, é também assustador e caótico.
— O tempo se esvai. — Ele disse.
— VOCÊ! — Eu disse.
Aquela coisa, com a mesma aparência que a minha, se aproximou de mim. E em um tom sarcástico começou a falar, desta vez ela parece diferente das outras vezes que nos encontramos.
— Sim, sou eu. Sou você. Somos nós. Olá, John! — Ele respondeu.
— Fico feliz que tenha vindo me ver novamente, de verdade. — Completou.
— Eu não quero te ver, nunca quis. O que você quer afinal? — Perguntei.
— Hum? Que estranho, você sabe, eu não tenho controle para te chamar aqui, na verdade, você é que vem até mim. Sobre o que eu quero? Muitas coisas, e muitas delas eu não posso ter. Ainda. — Ele respondeu.
— Sabe muito bem do que eu estou falando! Por que você apareceu diante de mim aquela hora?! O que você quer de mim?! — Eu continuei a perguntar.
— Ninguém com quem falei viu você. Eu fui taxado de louco, só eu te vi. Todos me disseram que eu estava batalhando sozinho. — Completei.
— Ah, certo, certo. Não suporto mais te ver assim. — Ela disse.
— Eu quero deixar bem claro. Você e a Mary, sou grato por terem me libertado novamente, e agora preciso dizer que sou mais forte que você. Eu posso sair daqui quando eu quiser, você não tem mais controle sobre mim, John. Mas assim não tem graça, não tem. — Completou.
— Eu quero que você peça minha ajuda, caso contrário, não vou te salvar quando você precisar. Só tem graça quando os tolos desprovidos de habilidade clamam pelo meu nome, assim como você. — Ele disse.
— E porque eu precisaria da sua ajuda? Eu sei lutar, não preciso de alguém que se esconde nas sombras como você, covarde. — Eu disse, tentando provocá-lo.
— Você quem sabe, John. Só estou te avisando. — Ele disse.
— Afinal, a culpa é toda e unicamente de seu mestre. Se ele não tivesse lhe dito para carregar este fardo que você chama de espada, nós nunca teríamos nos conhecido, e talvez… você nunca teria se tornado o assassino que um dia foi. — Completou.
Eu fiquei horrorizado com o que ele disse, ele ria de mim sem parar, me dizendo como minha expressão de alguém que tenta ser sério foi para uma de sem esperança e tomada de medo por si próprio, eu não quero acreditar nele, mas temo que tudo isso seja verdade…