Trupe Elemental - Capítulo 19
— Aliás, por onde anda Ryutisuji? — John perguntou.
— Ah! É mesmo, eu tinha dito para Jesse chamá-lo quando ela voltasse para cá, mas isso foi antes de Tay aparecer com Malkon, acabou que nos esquecemos dele, hehe. Mas não se preocupe, ele deve aparecer mais cedo ou tarde. — Sarah respondeu.
— Eu achei o Malkon no bosque. Ele estava caído debaixo de uma árvore, olhando em volta havia sinais claros de uma batalha entre ele e outra pessoa, eu acredito. Considerando sua localização, ele estava indo em direção ao pântano. — Disse Tay.
— Ao pântano? Mas quem ele iria perseguir para querer ir tão longe? — Sarah perguntou. — Só há uma possibilidade… — Tay respondeu.
Enquanto discutem, Jesse abre a porta do quarto, seus braços e roupas estão sujos de sangue.
— Terminei… utilizei algumas magias nele para acelerar o processo de cura e limpei seus ferimentos, acredito que ele não corre risco de vida agora, mas vai precisar visitar um médico de verdade para um veredito final… — Disse Jesse.
— Ah, graças aos deuses! — Disse Tay aliviado. — Você é a melhor que nós temos, Jesse, muito obrigado! — Completou. — Ele disse que quer conversar com vocês, mas não forcem muito, por favor. Eu vou pegar um copo d’água e limpar todo esse sangue. — Jesse comentou. — Tudo bem. — Tay respondeu.
Jesse deixa a parte da estalagem enquanto os outros entram no quarto de Malkon para conversarem com ele. Após lavar o sangue de suas mãos, Jesse se dirige ao saguão para pegar os copos d’água, e então ela ouve a porta principal se abrindo.
— Cheguei, pessoal! — Era Ryutisuji.
— Ué… pra onde foi todo mundo? — Se perguntava. — Ryutisuji, você chegou! Rápido, os outros estão esperando na estalagem! — Disse Jesse. — Ei, ei, espera um pouco, o que é todo esse sangue na sua roupa? — Perguntou.
— Longa história, depois eu te conto melhor, vamos? — Jesse respondeu.
Jesse e Ryutisuji se dirigem para o quarto onde estão Malkon e os outros.
— Olá! Perdemos alguma coisa? — Ryutisuji perguntou ao entrar.
— Não… estávamos apenas falando sobre coisas triviais enquanto esperamos por vocês dois. — Respondeu Tay. — Ótimo, eu também tenho algumas coisas para discutir com vocês… — Disse Ryutisuji.
Ryutisuji pega duas das cadeiras do quarto e se senta nela, e oferece a outra para Jesse, os outros permanecem de pé.
— Certo… vamos começar. Sobre os espectros, Malkon. — Disse Tay.
— Foi no início da noite, eu decidi fechar a guilda já que vocês tinham saído, a caminho voltando para minha loja, eu ouvi um grito, pensei que fosse um assalto ou algo do tipo, logo achei que os guardas iriam resolver como sempre, e continuei caminhando, até que na rua seguinte um homem desesperado caiu na minha frente, e em seguida aquelas coisas pularam em cima dele. Eu não sabia o que estava acontecendo, eu tentei ajudá-lo mas já era tarde demais, e quando me dei conta a cidade já estava tomada pelo caos. — Contou Malkon.
— Eu corri para buscar ajuda dos guardas, e até pedi para que alguém fosse chamar vocês, mas não adiantou muito. Fiquei ajudando quem podia, mas sabe? Mesmo podendo manipular a água, eu não levo jeito pra lutas. Então evacuei o máximo de pessoas que eu podia para a guilda. Eu acredito que o distrito nobre da cidade e o castelo não tenham sido muito afetados, já que a segurança lá é mais forte, acredito que o foco deste ataque foi o centro da cidade e áreas próximas. — Disse Malkon.
— Tsc. Eu odeio a regulação de segurança daqui… Os ricos são os mais protegidos, enquanto o restante do povo perece, eu preciso discutir isso com o governador em nossa próxima audiência. — Disse Tay enfurecido.
— Como eu estava dizendo, enquanto eu evacuava as pessoas para a guilda, em meio a multidão eu vi uma pessoa vestindo mantos negros indo em direção contrária aos demais, ela caminhava devagar, sem pressa e medo algum. Eu desconfiei na hora, pedi para um dos guardas terminar de evacuar os moradores e decidi segui-la. Quando ela me percebeu, começou a correr em direção ao bosque. Depois daquilo ficou claro para mim que ela estava de alguma forma envolvida. — Disse Malkon.
— Chegando mais fundo no bosque, ela resolveu parar e me atacar. Ela controlava o fogo, no início eu pensei estar em vantagem elemental, mas suas chamas eram poderosas demais, conseguiam evaporar todas minhas magias, eu tentei uma investido com minha espada, mas parece que ela também já havia previsto o meu ataque, e quando me aproximei, fui apunhalado, me deixando naquele estado que você me encontrou… acho que isso é tudo que eu me lembro… — Contou.
— Ha! Tudo isso que você acabou de dizer confirma minha hipótese! — Disse Ryutisuji enquanto se levantava de sua cadeira. — O que você quer dizer com isso Ryutisuji? — Tay perguntou.
— Certo, Malkon disse que viu uma pessoa misteriosa no meio da multidão, vestindo um manto negro, não é? Eu e Ignus encontramos alguns círculos de invocação pela cidade, os espectros provavelmente estavam vindo por eles. — Disse Ryutisuji.
— Mas lembrem-se, quando o Devorador atacou a cidade, John nos disse que havia visto uma pessoa vestindo também mantos negros. Dado a complexidade dos círculos mágicos que estavam espalhados pela cidade, eu fui até a biblioteca a fim de descobrir mais sobre eles. — Completou.
Enquanto falava, Ryutisuji tira da sua bolsa o livro que havia encontrado na biblioteca.
— Eu encontrei este livro, nele há uma página dedicada a círculos de invocações, e nela está presente o mesmo tipo de círculo que eu e Ignus encontramos pela cidade. O livro também diz que estes círculos precisam ser desenhados manualmente pelo invocador. Mas o curioso é que, estes círculos não são utilizados para invocações, e sim para teletransportes. E eu só consigo pensar em duas pessoas que seriam capazes de fazer e utilizá-los. — Disse Ryutisuji.
— E quem seriam essas duas pessoas? — Tay perguntou.
— O Arquimago Philip e o Hector… — Ryutisuji respondeu. — Hector? Você quer dizer o Hector que saiu da guilda por não concordar com os pagamentos das missões? — Tay perguntou novamente.
— É, ele mesmo, Hector era um feiticeiro prodígio e por coincidência ou não, ele era descendente do clã Tenebris… — Ryutisuji respondeu.
— Mas como você tem tanta certeza disso? — Sarah perguntou.
— Fácil. Mesmo o Philip sabendo executar magias complexas ele não poderia simplesmente vir até aqui para desenhar os círculos, ele seria preso imediatamente pelos guardas, já que está sendo procurado pelo império por conduzir experimentos ilícitos. — Disse Ryutisuji. — E é como o Tay disse, Hector saiu da guilda por não concordar com os pagamentos, e mesmo que ele tenha saído da guilda, ele tecnicamente não saiu da cidade, o que o torna um suspeito em potencial, já que ele sempre foi um cidadão daqui, os guardas não iriam se importar com ele saindo e entrando na cidade, e assim ele poderia desenhar os círculos de invocação pelas nossas costas sem ninguém desconfiar. Além de que não o vemos já faz um tempinho, não acham? — Explicou Ryutisuji.
— Sobre a ligação dele com Philip, eu não tenho muito o que dizer, mas aqui vai um chute: O Hector sempre se demonstrou bom com magias enquanto esteve na guilda, eu diria que ele é um dos melhores feiticeiros que eu conheço. A fortaleza do Philip não é muito longe daqui, e o que é melhor para expandir seu conhecimento sobre magia do que aprender com um dos maiores do cenário se não o próprio Philip? Mesmo o império estando atrás dele, aquelas poções que ele vende valem uma fortuna, o que lhe dá dinheiro suficiente para pagar Hector para que ele faça o trabalho sujo em seu lugar. — Explicou Ryutisuji.
— Basicamente o Hector pode ter visto uma oportunidade de aprender, e ganhar dinheiro trabalhando para o Philip. E este ataque dos espectros pode muito bem entrar na categoria de “experimentos ilícitos” dele, afinal nós não sabemos o que o Philip anda fazendo desde a última vez que ele apareceu em público na conferência anual dos Arquimagos. — Disse Ryutisuji.
— Eu ainda tenho algumas dúvidas sobre tudo isso, mas acho que a maior parte do que você disse faz sentido, Ryutisuji. — Diz Tay. — Obrigado… eu acho. — Ryutisuji responde.
— Muito bem, mudança de planos! Jesse, Sarah e John, vocês vão até a fortaleza do Philip ver se conseguem descobrir algo. Enquanto isso, eu e Ryutisuji iremos ajudar nos reparos da cidade, e preparar um funeral digno para aqueles que nos deixaram. — Disse Tay. — Todos de acordo? — Perguntou. — Sim. — Os outros responderam.
— Nossa reunião se encerra aqui, vamos deixar Malkon descansar um pouco. — Diz Tay.
Eles deixam o quarto para que Malkon possa descansar, e se dirigem ao saguão da guilda.
— John e Jesse, se preparem, iremos partir imediatamente assim que eu voltar. Vou até em casa trocar de roupa e pegar algumas coisas extras. — Disse Sarah enquanto saí da guilda. — Pode deixar! — Jesse responde.
— Ah, John, quase que eu esqueço, o que acha de se juntar oficialmente a guilda? Assim poderei te pagar pelas missões que fizer, o que me diz? — Tay pergunta.
— Hmph. Vou aceitar, estou ficando sem dinheiro e vou precisar de um pouco para depois… — John responde.
— Ótimo, deixe a papelada comigo e foque em seu objetivo atual, nós vamos descobrir quem está por trás deste ataque e do Devorador, tenho certeza! — Tay responde entusiasmado.
— Bem, eu preciso resolver algumas questões na cidade, tomem cuidado quando forem até a fortaleza do Philip, mesmo ele sendo um Arquimago reconhecido pelo império, eu ainda não confio totalmente nele… voltem vivos, é um ordem! — Disse Tay saindo da guilda. — Heh, não liga, ele é assim mesmo, eu também preciso ir, se cuida ein, e não coloque a Jesse em perigo! — Sussurra Ryutisuji para John.
— Hã, o que você quer dizer…. deixa pra lá. — John respondeu.
— Eu vou preparar algumas poções… me avise quando Sarah voltar, faria isso? — Jesse perguntou.
— É claro… pode ir, eu te aviso… — John responde.
Jesse deixa o saguão, ficando somente John presente. Que se senta em uma das mesas e começa pensar sobre tudo que Malkon e Ryutisuji disseram na reunião anterior.
“O Arquimago Philip?” Eu já ouvi isso antes… mas onde?