Trabalhe! - Capítulo 9
Dia 19
7:10
Estou com sono, queria evitar tomar café todo o dia para não me viciar, mas tá difícil. Me vesti, fui pro trabalho e… tanto faz, vamos pular pra parte mais interessante.
20:40
Por fim, Caio é o último a ir embora, Ana e eu estamos sozinhos de novo. Tá, eu desisto de fazer ela usar o cérebro e mandar mensagens, parece que ela gosta de falar pessoalmente, ou sei lá.
— Então você ficou hoje também? — Pergunto e ela concorda com a cabeça. Então o que fazer?
Depois trocamos algumas palavras sem importância, então no meio da nossa conversa, decido fazer uma pequena brincadeira e pergunto:
— Se arrepende de não ter tentado fazer amigos antes?
— Um pouco… antes eu considerava relações interpessoais inúteis, mas agora… — Ainda não consegui o que queria, por isso vamos continuar com perguntas.
— E por que mudou de ideia?
Ana fica um pouco pensativa, então diz: — Fui forçada a mudar de ideia, acho… — Que saco! Mas vamos lá, paciência e vou conseguir, mais uma pergunta e tudo vai dar certo.
— Forçada… pelo quê?
— Bem, a verdade… — Ana olha para o nada, retomando memórias antigas, então volta a falar com tudo: — Humm! Acho que olhando para trás, eu sempre. — E pronto, consegui!
Como eu esperava é muito fácil fazer a Ana se empolgar e falar por horas, enquanto isso, posso dormir de olhos abertos.
Você não vai ouvir o desabafo emocional dela? Talvez se pergunte, mas a resposta é não. O motivo? Simples, não me importo muito e, mais importante, se eu ouvir e acabar me importando, vai ser um problema.
Sim, estou determinado a não me apegar mais a esse ser humano, afinal ela é frágil e problemática, se eu me importar, vou sofrer por tabela.
Que fique claro, sou impassível quanto a minha decisão! Sem mais empatia, para seguir o vagabundismo, matarei a empatia.
Entendam, se o primeiro mandamento do vagabundismo é: não faça nada, o segundo sem dúvidas é: mate a empatia.
Enfim, agora só para acabar com o assunto, vou completar minha brincadeira, por isso digo:
— O que achou, gostou de falar?
Ana me olha sem entender nada, por isso gentilmente a explico: — Não fique com cara de boba, estou apenas mostrando a aplicação prática do que falei ontem. Então?
— Então, estou me sentindo bem irritada! — Merda… deixa eu ver, alguma mentira para me salvar.
— Foi mal — digo em tom manso. — , mas relaxa, não foi só por isso, êh só que… desabafar as vezes é bom? — falo em tom de dúvida a primeira desculpa que vem na minha mente.
— Eu sei, só estava brincando. — Desde quando ela brinca? De qualquer jeito, Ana abre um grande sorriso e diz: — Obrigado, você me ajudou muito.
Ok, essa garota é estranha, ajudei no que?! Eu sem ouvi o que ela disse, sério, essa garota precisa ir num psicólogo, apesar de eu odiar eles, se for para ter alguém para a ouvir, eles são muito mais práticos, porque entendem do assunto, tem horários muito melhores que de noite e, mais importante, não dormem de olhos fechados.
Enfim, não sei como, mas aparentemente “ajudei” a Ana em alguma coisa, não que eu me importo. Vamos, repita comigo, eu não me importo com ninguém, o mundo que se exploda.
Depois ainda conversamos por mais um tempo e ela parece ter decidido ir atrás de amigos ou algo do tipo, sei lá.
Dia 20
7:40
Faço o mesmo de sempre, chego no escritório, algum tempo passa então por fim todos chegam, então começa. Contudo, hoje não é um dia comum, afinal teremos reunião de grupo, uma atividade super legal!
Resumindo, junta todo mundo e falamos como as coisas estão indo, se vai dar para acabar tudo em tempo e blá blá blá. Não tenho qualquer vontade, mas logo chamamos todos para fazer isso.
A propósito, antes de começarmos isso, preciso relatar minha genialidade. Olha a inteligência, ontem cheguei no Caio e disse: seu detalhismo e atenção aos erros o tornam especial e blá blá blá.
Primeiro deixo ele feliz com elogios, dizendo que ele repara em coisas que ninguém nota e fazendo ele se sentir especial. Logo depois faço uma pequena crítica, explicando que ele não sabe como se comunicar.
Então onde essa conversa deu? Simples, eu convenci ele a ir falando sua opinião sobre o trabalho de todos e memorizei isso. Não tenho saco para reparar nas outras pessoas, nem vontade de ficar às julgando, por isso usei caio para isso, genial, né?
Agora, some a chatice do Caio, com alguém que sabe como dizer as coisas de uma forma “gentil” e teremos um chefe decente. Viu! Sou um gênio, todos os vagabundos do mundo deveriam me admirar.
17:48
Claro, nem preciso dizer que não deu certo, não é como se Caio não fosse brigar com todo mundo, só porque eu já ia apontar as coisas que ele falou. Bem, mas nem foi tão ruim assim.
Por sorte eles até que me respeitavam e são todos adultos, então isso facilita as coisas. Não que isso mude o fato de ter que fazer isso ser um saco, que quase me levou a morte pelo tédio.
Sério, eu realmente não me importo com como as coisas estão indo! Sim, eu sei, sou o responsável por garantir que tudo dê certo, mas não estou nem aí! É muito chato isso.
Dito isso, também não precisamos olhar só pelo lado negativo. Sim, fui forçado a trabalhar um pouco, mas o Eichy também foi. Além do mais, estamos só 5 dias atrasados agora!
Podemos dizer que fui um sucesso e graças a ajuda do Perfeccionista-chan, pude até parecer alguém útil e exigente, que repara nos mínimos erros cometidos.
Inclusive, me aproveitei disso para pegar no pé do Eichy, até porque ele de fato passa muito as coisas para os outros, o que é errado. Sim, faço a mesma coisa, mas é diferente, eu…
Ahan! Sobre Ana, ela agiu como o esperado, mas pelo menos sem subestimar o próprio trabalho. Podemos dizer que ela foi neutra, o que já é um grande avanço, palminhas para ela!
Dito isso, ela ainda assim disse que tudo estava indo bem e que não tinha tido nenhum problema que a atrapalhasse. Um absurdo! É uma cláusula pétrea da vida jogar 70% da culpa de tudo em forças externas, a culpa nunca é da pessoa, mas sim da situação!
Enfim, devem ter acontecido outras coisas, mas foda-se, não quero pensar mais em trabalho.